Negócios do Esporte

Vivendo e aprendendo a torcer
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Erich Beting

São Paulo, 12 de junho de 2014, por volta de 12h. No Parque do Ibirapuera, Vitor, 4 anos, e José, 3 anos, brincam. Um é brasileiro. O outro, mexicano. Falam, a seu modo, de seus ídolos. Neymar e Chicharito. José veio com a família para acompanhar a Copa do Mundo. Vitor estava com os avós passeando no parque enquanto aguardava a hora de acompanhar a estreia do Brasil.

Em diversos outros pontos da cidade de São Paulo, torcedores com as mais diferentes camisas de seleções mundiais se encontravam e confraternizavam. É esse o espírito, e o grande barato, de uma Copa do Mundo. Encontrar pessoas de outras culturas, vestindo outras camisas, e tratá-las como grandes e antigos amigos, unidos por um mesmo propósito, que é a paixão pelo futebol.

São Paulo, 12 de junho de 2014, por volta de 17h. Vitor e José estão com suas famílias assistindo ao jogo. Assim como boa parte do país está ligado na tela da TV. Dentro do estádio, são 62 mil torcedores. Maioria brasileira, algumas centenas de croatas e diversos outros de diferentes nacionalidades. É exatamente a mesma situação das ruas paulistanas. Uma salada de nações, unidas pelo amor ao futebol.

A bola começa a rolar e, em menos de 10 minutos, a Croácia sai na frente do placar. Logicamente, para delírio da minoria croata no estádio. Imediatamente, torcedores localizados ao lado dos croatas começam a xingá-los e pedir para eles silêncio. Os argumentos, em sua maioria, são o de que eles precisavam respeitar o Brasil, que aqui era a nossa casa, etc.

Voltemos à experiência vivida pelas crianças no parque pela manhã.

Quando estamos fora dos estádios, somos civilizados, confraternizamos, celebramos. Por que, ao passarmos a catraca, mudamos tão radicalmente de estilo? Por que não respeitar o direito do outro de torcer?

Durante todo o período pré-Copa, as marcas procuraram enfatizar a qualidade brasileira em receber bem as pessoas. Pelos primeiros dias de contato das seleções com os torcedores, isso foi uma realidade. Fizemos festa, colocamos os jogadores estrangeiros para sambar, fizemos uma festa como poucas nações conseguem fazer.

Mas o clima beligerante que existe dentro de um estádio é uma das coisas mais esdrúxulas, e amedrontadoras, do futebol no Brasil. Não sabemos respeitar o direito do outro de torcer. Tratamos, desde o princípio, o adversário em campo como inimigo na arquibancada. Esse é um dos principais motivos para termos uma violência endêmica nos estádios.

Não conseguimos permitir que um croata celebre o gol do time dele só porque foi contra o nosso? Isso não é torcer, mas sofrer.

A Copa do Mundo pode ensinar, e muito, o torcedor brasileiro a ser um torcedor, não um guerreiro. Para isso, a própria mídia precisa entender seu papel como formadora de opinião. Sim, é mais do que ''só um jogo''. Mas é preciso fazer com que o torcedor vá ao estádio como quem vai incentivar o seu time. Assim como dentro de campo vence aquele que for mais eficiente, na arquibancada todos devem ter direitos iguais a demonstrar seu amor, e não o ódio, com o torcedor ''diferente''.

A Copa deixa claro que o problema dos estádios no Brasil não está só nas torcidas uniformizadas. Não sabemos a torcer. Precisamos nos lembrar mais da tolerância fora das arquibancadas e levá-las para os estádios. Do contrário, o que seria o evento de maior celebração de amor ao futebol se transformará numa reprodução da guerra. Com o que tem de pior no ser humano dentro de uma guerra.

É preciso aprender a torcer. E isso só será possível se vivenciarmos melhor o que é torcer.


A Copa, 16 anos depois…
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Erich Beting

A última lembrança que tenho de uma Copa do Mundo no Brasil é em 1998. Sim, não endoideci nem mesmo você, caro leitor. O fato é que o Mundial da França foi o último que, para mim, teve aquele sabor de ''Copa do Mundo no Brasil''. Algo que é tão característico e cultural no nosso país e que, para mim, sempre foi o que mais me magnetizou e me levou a trabalhar com isso.

E é justamente por conta do trabalho que, só agora, consigo reacender a chama de ver uma Copa no Brasil.

Em 2002, com a bola rolando lá do outro lado do mundo, o país não parava para assistir aos jogos. Apenas acordávamos mais cedo, ou nem dormíamos. Mas interromper o trabalho, mudar o planejamento do dia por conta daquele Senegal x Dinamarca imperdível, achar um jeito de esticar o pescoço na mesa de reunião para ver a TV colocada na recepção… Tudo isso ficou anestesiado na conquista do penta. Não aconteceu. Chegávamos às 12h para trabalhar, com aquelas olheiras de quem dormiu menos que o Luis Roberto, se é que isso era possível.

Aí veio o grande sonho de infância realizado. Em 2006, consegui carimbar, aos 45 do segundo tempo, o passaporte para realizar a primeira cobertura in loco de uma Copa! Embarquei cinco dias antes de a bola rolar na Alemanha, com a alegria de uma criança indo para uma viagem em férias. Quatro anos depois, cheguei a Johanesburgo seis dias antes de o Tchabalala fazer aquele golaço na abertura do Mundial sul-africano.

Essas duas experiências me ensinaram um pouco a dificuldade que deve ser viver como um expatriado. Ficar longe da cultura que marcou sua vida, dos amigos, da família, das celebrações. Ainda mais numa Copa do Mundo, evento que sempre moldou e guiou grandes acontecimentos do ponto de vista pessoal, desde o rojão estourando no ouvido no maldito Brasil x França de 86, ou na bronca da Tia Márcia por não falar de outra coisa a não ser de Copa em maio de 1990, passando pela festa adolescente em 94 e a de início de fase adulta em 98…

Uma Copa do Mundo longe do Brasil é muito legal, mas completamente diferente de tudo o que nos acostumamos a viver desde pequeno. Esqueça a rua pintada de verde e amarelo. Nem pense que tudo vai parar para ver o Brasil jogar. Nem mesmo nas ruas os comentários são só sobre o que realmente importa naquele momento…

Reencontrar-me com a Copa do Mundo no Brasil, 16 anos depois, é poder relembrar um pouco da infância. Colocar a bandeira no carro, na janela, no vidro do banheiro. Fechar a rua e pintá-la. Tudo isso faz parte da nossa cultura. É algo com o qual nos deparamos desde que nos conhecemos por gente.

Celebrar a Copa não é ser alienado. É ser genuinamente brasileiro. Reencontrar com o clima de Copa, mesmo que tardio, 16 anos depois, é poder voltar a celebrar a brasilidade muitas vezes sufocada pelos dilemas e definições que temos pela frente.

A Copa chegou. Nunca vivemos a situação de ter de construir o evento no país. Aprendemos bastante com isso e precisaremos usar esses ensinamentos para evoluir como nação. Não podemos descarregar só no técnico da seleção brasileira ou na Fifa a nossa indignação com as coisas que são erradas. Um país evoluído é crítico. Uma pessoa evoluída é crítica.

Mas para podermos cobrar, temos também de conhecer nossa cultura. E, pelos próximos 32 dias, viveremos uma manifestação que é parte de nossa raiz. A Copa chegou e a festa vai se espalhar por todo canto. Foram 16 anos para voltar a viver essa sensação. Com todos os defeitos típicos de nosso país, vai ter uma baita diversão. Ou melhor. Ela já começou. E o clima vai ficar ainda mais quente nos próximos dias. Em


Flu x Itália triplica receita de Volta Redonda de 2013
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Erich Beting

O amistoso entre Fluminense e Itália, disputado no último domingo no estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, provou aquilo que já falamos há tempos por aqui. Não é só a falta de bons estádios que afasta o torcedor. O produto apresentado para o público é o que, essencialmente, precisa ser modificado.

O jogo amistoso levou pouco mais de 17 mil pessoas ao estádio em Volta Redonda. Na bilheteria, a arrecadação foi de R$ 1,3 milhão.

O desempenho significa a maior lotação do Raulino de Oliveira e a maior receita do estádio nos últimos tempos. Mais ainda. Na comparação com todos os jogos feitos por Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro no local em 2013, o amistoso de domingo arrecadou o triplo em bilheteria e levou o triplo de pessoas para o estádio.

Foram 11 jogos no estádio pelas duas principais competições nacionais em 2013, com uma receita total de R$ 407 mil. Dessas partidas, cinco foram do Botafogo, duas do Vasco, duas do Flamengo, uma do Volta Redonda e uma do Resende. Pela Copa do Brasil foram sete jogos, enquanto quatro duelos foram pelo Brasileirão. Em nenhum desses 11 confrontos a bilheteria terminou com saldo positivo. Sim, todas as vezes que foi jogar lá, a equipe mandante teve de pagar.

Numa única partida, o faturamento foi o triplo de todo o ano de 2013. Nada mudou no Raulino de Oliveira desde o ano passado para este. A única ''novidade'' foi a presença de um time que nunca vimos jogar por lá. Para isso, nem mesmo o preço salgado dos ingressos (o tíquete-médio ficou perto dos R$ 90) foi um empecilho. Nos jogos de 2013, o valor médio mais caro cobrado foi de R$ 20, e apenas 22% do estádio estava preenchido.

A conclusão é óbvia. O torcedor até pode pagar mais por um jogo de futebol. Desde que o produto tenha apelo. O amistoso entre Flu e Itália mostrou isso. Gente disposta a consumir futebol existe. Só que é urgente que o futebol seja digno do dinheiro que se gasta.

Enquanto não mudarmos o produto, por melhor que seja o estádio, ninguém vai querer estar nele…


Os novos dilemas que a Fifa terá com os atletas
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Erich Beting

A Copa do Mundo se tornou um evento desproporcionalmente gigante para a Fifa. Em 40 anos, o evento saiu de uma competição entre países europeus e Brasil e Argentina para ser um acontecimento mundial. Muito graças à transmissão da TV cada vez mais massificada, a Copa chega, em 2014, representando uma espécie de encruzilhada para a Fifa.

O evento se tornou tão grandioso que é praticamente impossível controlar quem pode ou não pegar carona com ele. É só ver a quantidade de propagandas que surgem neste momento pré-Copa. Se, há 20 anos, a preocupação da Fifa era em assegurar que os direitos de transmissão não seriam violados, agora o problema é outro. A entidade precisa tentar proteger seus parceiros da ''carona'' que os concorrentes pegam por conta da grandiosidade do evento.

Nesse novo embate, os jogadores assumem um papel importante. Sem a verba – ou o espaço – para patrocinar o evento, as marcas vão atrás dos protagonistas do Mundial. Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo e afins viram a alternativa para que as empresas falem com os consumidores de um modo a tirar uma casquinha da Copa do Mundo.

Ontem, a Beats lançou um interessante clipe, chamado ''O jogo antes do jogo'' (detalhes aqui). Nele, diversos atletas que estarão na Copa do Mundo usam o fone de ouvido da marca. Em 2010, na África do Sul, a Beats foi uma das empresas que mais se beneficiou da exposição gerada pela competição. Muitas vezes só promovendo a entrega de produtos, conseguia ter a marca exposta nos fones de ouvido dos jogadores. De olho nisso, a Fifa proibiu, agora em 2014, que os atletas usem aparelhos que não sejam da Sony, patrocinadora do torneio (detalhes aqui).

Vamos ver, a partir do dia 12, como será esse duelo entre as empresas. É bem provável que os jogadores que têm patrocínio abram mão de usar qualquer fone de ouvido. Até por uma questão contratual. As chuteiras continuam a ser a única barreira permitida pela Fifa para que os jogadores possam atuar na Copa do Mundo. A justificativa é de que ela ainda interfere na performance, e que a qualidade do jogo precisa ser preservada. Se os atletas resolverem fazer valer o fato de serem ''donos'' do espetáculo, a ''dona'' da Copa do Mundo terá de sentar à mesa e negociar. Em

2018 deveremos ver uma nova batalha envolvendo o Mundial e a Fifa. Depois da TV e dos patrocínios, os atletas passam a ser um novo dilema para a entidade. E nessa queda de braço é difícil prever quem conseguirá barganhar mais…


Até tu, São Paulo?
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Erich Beting

A maior repercussão da fabulosa parceria do São Paulo com a empresa Busca Serviços Digitais até agora foi a gafe cometida por Renan Lemos Villela, dono do novo parceiro do São Paulo Futebol Clube, e não Esporte Clube São Paulo, como ele teimou em chamar. 

Mas, muito mais curioso, é fazer uma busca pelo nome de Renan Lemos Villela pela internet e descobrir que o Grupo Villela, que ele representa, tem um passado, no mínimo, questionável. O Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul tem Ação Civil Pública contra o grupo, acusado de discriminação religiosa. Villela obrigava seus funcionários a irem a cultos religiosos para ''tirar o diabo do corpo''.

Os detalhes dessa história estão na Máquina do Esporte (clique aqui).

O clube que sempre se vangloriou de fazer excelentes negócios e ser vanguarda e exemplo de gestão não poderia, nunca, cometer um erro tão primário quanto esse.

No afã de buscar receita, os clubes estão esquecendo o primordial, que é o retorno financeiro que uma marca forte pode trazer.


Vai ter Copa!
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Erich Beting

E o brilhante recado é dado por esse grupo de italianos, cantando o hino nacional com a convocação de Cesare Prandelli.

Só falta, agora, esse tipo de atitude chegar ao Brasil. Pelo menos as ruas aqui em São Paulo estão começando a ficar mais verde-amarelas. Em dez dias tem tudo para ferver o país. Com ou sem protestos.


O legado de Copa que não se soube vender
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Erich Beting

Uma das maiores crises relacionadas à Copa do Mundo está no fato de que soubemos aproveitar nem um pouco o projeto de legado positivo que o evento realmente trará. Promessa de campanha de Fifa e Comitê Olímpico Internacional quando vendem a ideia de um país se candidatar a sede de seus eventos, o legado é hoje o Calcanhar de Aquiles no discurso referente à Copa e, muito provavelmente, será a bandeira levantada dos anti-Olimpíada a partir de agosto.

O fato é que não soubemos, desde o começo, a vender o projeto de legado. O que é legado? De que foma ele pode existir e em quanto tempo realmente sentimos os benefícios de um megaevento em nosso país?

Um dos grandes sucessos de Londres foi conseguir mostrar ao povo local que os quase 9 bilhões de libras que estavam sendo empregados para os Jogos Olímpicos de 2012 seriam convertidos em benefício direto às pessoas (às vuvuzelas de plantão, vale lembrar que o orçamento original da Olimpíada londrina era de 2,4 bilhões de libras). A entrega do maior parque público europeu em mais de cem anos, numa região desvalorizada da cidade, era um dos pilares mais repetidos pelos organizadores dos Jogos.

Por aqui, nunca nos preparamos para sequer saber responder à questão básica. O que é que queremos de retorno com Copa? Quase sempre repetimos as frases de COI e Fifa, sem ao menos perceber que a realidade de entidades baseadas na Suíça é, necessariamente, bastante distinta daquilo que temos por aqui. O que é vendido como legado para o dia-a-dia europeu não pode ser visto com os mesmos olhos por aqui.

 

O fato é que nunca tivemos um roteiro definido para determinar o que haveria, realmente, de legado para o Mundial. Atrasamos na construção do projeto da Copa. A começar pela politicagem que fez com que quase dois anos se passassem até que as 12 sedes estivessem definidas. Depois, levamos mais muito tempo discutindo assuntos distintos, como o estádio de abertura do evento, as requisições da Fifa para um ou outro local ser ou não aceito na Copa, etc. Mais uma vez perdemos meses preciosos para realizar licitações, começar obras e produzir, realmente, tudo o que era preciso para trazer um legado palpável para as pessoas.

Se o país da Copa tivesse ficado pronto há um ano e meio, como era previsto, estaríamos aproveitando terminais novos de portos, aeroportos, rodoviárias, ferroviárias e metrôs. Usaríamos transportes mais modernos e ágeis nas cidades. Faríamos jogos em estádios novos em folha, sem ajustes, remendos ou instalações provisórias. Estaríamos, agora, focados em discutir como fazer a festa, e não se o palco dela estará pronto.

O maior legado que uma Copa do Mundo pode trazer, para o país-sede, é a transformação da mobilidade urbana. Para atender a uma demanda reprimida no transporte público, as obras necessárias para receber no mínimo 50 mil pessoas por jogo, entre público e profissionais que trabalham no evento, seriam um grande benefício para a população.

Outras benesses intangíveis estariam nas construções de estádios em locais mais afastados dos grandes centros, levando maior população para regiões menos povoadas, reduzindo densidade demográfica e proporcionando o desenvolvimento de novas áreas urbanas. Em todo o caso da Copa, talvez Itaquera e a Arena Corinthians sejam, daqui a alguns anos, o maior exemplo dessa transformação provocada pelo estádio. Mas também pode acontecer isso em Recife, Cuiabá, Natal e Manaus, em escalas menores.

Para quem acha que isso é balela, basta ver o que significou para a cidade de São Paulo a construção do Aeroporto de Congonhas, em 1936, a 11km do centro, então região mais habitada da cidade. Ou do estádio do Morumbi, no fim dos anos 60, levando para o bairro paulistano uma grande massa de pessoas onde antes só haviam chácaras.

Por fim, a Copa do Mundo ainda pode significar um grande incremento no setor de serviços. O turista que vem para o Mundial precisa se hospedar, se alimentar, se locomover, etc. É dinheiro que entra, emprego que é gerado, aprendizado que é adquirido pelas pessoas que vão trabalhar, e muito mais coisas. E, na parte final do negócio, o impacto posterior no turismo.

Mas paramos no primeiro passo. Não terminamos o projeto da Copa. Não conseguimos entregar o projeto de mobilidade urbana. Nem mesmo os estádios estão, a 14 dias do evento, 100% prontos!!! Como dá para querer vender um legado se o presente não está pronto?

Só que esses são os problemas que nos atingem em nosso cotidiano. Durante a Copa, a pessoa que vier para cá vai vivenciar uma experiência espetacular. Elas não sabem o que significam esses nossos problemas. Elas com certeza esperam protestos a cada esquina e falhas em todos os cantos. Mas provavelmente voltarão encantadas com a beleza natural do país e a alegria contagiante do brasileiro em receber as pessoas. Porque isso é diferente por aqui.

Estive na Alemanha, em 2006, e na África do Sul, em 2010. Os alemães, naturalmente, cumpriram todo o roteiro. A Copa foi impecável dentro e fora de campo. Parecia inacreditável como tudo estava em ordem, no lugar, funcionando. Só na final, em Berlim, quando mais de 1 milhão de turistas de Itália e França chegaram por todos os meios de transporte possíveis à capital alemã, que a cidade entrou em colapso. Mesmo assim, o metrô levava você, sem grandes sobressaltos, ao estádio.

Na África, o cenário foi completamente diferente. As casas que foram alugadas estavam ''quase'' prontas (mudei de moradia no condomínio que a Band havia alugado por conta de problemas num dos quartos, depois vivíamos com vários blecautes se ligássemos luz, televisão e aquecedor ao mesmo tempo). Além disso, alguns estádios ainda tinham o pó da construção nos assentos, a tinta fresca na parede, o entorno com cara de semi-pronto. Os prestadores de serviço não estavam capacitados para atender à demanda, o que gerava falta de produtos nas lojas e restaurantes, demora excessiva para ser atendido, etc. O transporte público era inexistente, e todo trajeto que percorríamos eram em vans ou carros alugados (quando havia carro para ser alugado).

Seremos muito mais África do que Alemanha. Isso, para o turista, não é de se estranhar. Para o brasileiro, é de se lamentar. Deveríamos, pelo país que queríamos que fôssemos, estar mais próximos dos alemães do que dos africanos. Só que não temos a menor cultura de planejamento e execução de grandes projetos.

Não é um erro do país. É um fato. Durante décadas nos acostumamos a ter de colocar e tirar dinheiro de aplicações do banco para não ver nosso patrimônio se esvair em menos de um dia. Num mês, a inflação galopante obrigava-nos a comprar tudo quando entrasse o dinheiro e, a partir daí, ver no que ia dar para chegar até o dia 30. E por aí vai.

O que ninguém parou para perguntar é se tínhamos capacidade de receber uma Copa do Mundo com 12 sedes. Não tínhamos mão-de-obra capacitada para colocar o Brasil em pé. Ou melhor. Uma Copa em pé aqui no Brasil. Era muita obra para pouca gente apta a fazê-la. Era muita execução para pouco planejamento, etc.

Esses foram os erros primários que minaram a ''Copa das Copas''. E esse é o erro que o governo ainda insiste em cometer, de vender um projeto que não se realizou. Faremos uma baita Copa. Inesquecível para todos nós que teremos a chance de viver uma Copa do Mundo no país, feito que provavelmente não teremos a chance de vivenciar tão cedo. Mas ela não será a melhor da história.

Esse foi o legado que não soubemos vender. Por que, por todos os atrasos e erros cometidos, não será na Copa do Mundo que vamos perceber os benefícios que ela trará ao país. Precisávamos ter tido uma visão de longo prazo do evento, algo que nossas diferentes gerações nunca souberam ter porque nunca puderam viver pensando no longo prazo. Tentar vender benefícios com a Copa agora é continuar a procurar água no deserto. E a dar mais corda para que os movimentos de protesto tenham mais força.


Djokovic mostra que o lado humano é que forma o ídolo
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Erich Beting

Novak Djokovic é uma dessas figuras raras de se encontrar no esporte. O sérvio número 2 do mundo do tênis consegue unir talento com um carisma impressionante. Mais uma vez Djokovic deu um show. Dessa vez, ao usar a pausa da chuva em Roland Garros para ''fazer um novo amigo'', como ele mesmo resumiu ao relatar o motivo que o levou a convidar o pegador de bolas a se sentar ao lado dele enquanto esperavam o término da chuva na quadra central do complexo francês.

A reportagem de Felipe Kieling, repórter do Bandsports, resume perfeitamente o que aconteceu (veja abaixo). De forma espontânea, Djokovic fez o seu gesto virar a grande notícia do dia numa primeira rodada sem graaandes surpresas assim no Grand Slam francês.

O grande ídolo é formado, principalmente, pelos gestos que o aproximam do que há de humano na gente. Djoko é hoje o cara mais apto a fazer isso no circuito do tênis. No atletismo, Usain Bolt tem também esse magnetismo. Num momento em que o esporte é cada vez mais automatizado pelos gestores de imagem, o sérvio e o jamaicano são lufadas de esperança de que ainda há espaço para ser humano dentro do esporte. Mesmo que o ser humano tente robotizar todas as relações.

Em tempo. Aos que veem teorias da conspiração em tudo, Djokovic não é patrocinado das águas Perrier. Ele apenas ofereceu a água que está disponível aos atletas para o garoto.


Copa vira palco para “desfile” de 350 empresas
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Erich Beting

O número impressiona. Na Copa do Mundo de 2014, as 32 seleções e a Fifa vão representar, direta e indiretamente, pelo menos 350 empresas de diferentes segmentos de atuação. Esse é o resultado de um levantamento exclusivo feito pela Máquina do Esporte com todos os patrocinadores das seleções que estarão por aqui no próximo mês (Leia aqui).

O que mais chama a atenção nessa história é que a importância da Copa do Mundo se tornou tão grande que as marcas tentam, de todas as formas, se associar ao evento. A situação que vemos hoje no Brasil, em que diversas empresas tentam pegar carona no momento do Mundial e criam alguma coisa com essa temática, é ainda mais clara quando passamos a lupa nas empresas que estão envolvidas com as seleções.

Bancos e Seguradoras são os maiores patrocinadores. Entre as empresas, a Coca-Cola lidera a lista, patrocinando a Copa e mais 12 seleções (mais de 30% do total de times que estarão no Mundial). E, um dado interessante, os principais segmentos envolvidos são de empresas que são concorrentes dos patrocinadores da Fifa.

Esses números evidenciam a importância que a Copa do Mundo passou a ter para o patrocínio esportivo. As seleções se tornaram um meio de as marcas não perderem espaço para os concorrentes que tiveram acesso ao Mundial. É o que fazem, por exemplo, Guaraná e Pepsi com Brasil e Estados Unidos, respectivamente. Para tentar bater na Coca-Cola, patrocinam a seleção local.

Só que, com uma média de quase dez empresas por time, a Copa também representa uma grande confusão de marcas na cabeça do consumidor. É tanta empresa, tanta campanha de mídia e tanta comunicação com a temática do futebol que a lembrança de quem patrocina fica cada vez mais escassa. Soma-se a isso o cenário de fragmentação de mídia que vivemos e é ainda mais complicado o esforço que as empresas têm de fazer para gravarem um pedaço na memória do consumidor.

Ao virar um grande palco para o desfile de tantas marcas, a Copa do Mundo sofre com o próprio sucesso. É tão desejada que tem tanta gente querendo conhecê-la. Daqui a pouco será difícil para a Fifa convencer os patrocinadores a pagarem tanto por ela. Em 2006 foi a primeira vez que a entidade precisou rever a política de patrocínios que tinha. Não é absurdo pensar que, num futuro próximo, a Fifa precise adotar a medida do COI e vetar qualquer exposição de marca dentro dos estádios. Assim ficará ainda mais limpo a comunicação de quem é verdadeiramente patrocinador do evento.

Menos, em marketing esportivo, quase sempre é mais.


Com ação no Brasil, Heineken se aproxima da Europa
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Erich Beting

A Heineken do Brasil conseguiu, nesta semana que antecede a final da Liga dos Campeões da Europa, se aproximar da estratégia de comunicação que norteia as ações de ativação de patrocínio da marca de cervejas no Velho Continente. A empresa criou uma parceria com a rede de lojas de sapatos Shoe Stock e vai oferecer uma liquidação de sapatos para mulheres no horário da decisão da Liga, entre 15h e 18h do próximo sábado (leia os detalhes aqui).

A grande graça do negócio é brincar com a eterna rivalidade entre homens e mulheres quando o assunto é o futebol.

O ponto mais bacana da história toda, porém, foi a empresa, no Brasil, ter se aproximado daquilo que é feito lá fora. Mundialmente, a Heineken tem ativado a Champions League usando essa brincadeira entre homens e mulheres. Em 2010, ganhou repercussão mundial a brincadeira antes de Real Madrid x Milan, na Itália. E, no ano passado, foi feita uma divertida ação para promover a final que seria disputada no estádio de Wembley, em Londres.

Um dos grandes segredos do sucesso da Heineken na ativação do patrocínio à Liga dos Campeões é que a marca tem uma consistência muito grande no plano que ela conduz mundialmente. A novidade é que essa uniformidade de pensamento chegou também ao Brasil. E de uma forma bem divertida. Veja abaixo os vídeos. O de 2014 no Brasil, o de 2013 para Londres e o de 2010, na Itália.