Negócios do Esporte

A aula do Dortmund para o futebol no Brasil
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Erich Beting

O Borussia Dortmund deu uma aula para os clubes de futebol no Brasil. Nesta quarta-feira, a Máquina do Esporte publicou com exclusividade o vídeo em que o clube alemão agradece a João Pedro, um torcedor de 10 anos de idade que desenhou um modelo de camisa para o time atuar (veja aqui).

O garoto brasileiro enviou uma carta para a Netshoes, que agradeceu enviando um pôster com os jogadores vestindo a camisa proposta pelo torcedor e um kit com a camisa oficial do Dortmund. A empresa de comércio eletrônico fez um vídeo contando essa história. A partir dele, o Dortmund tomou conhecimento do caso e, então, decidiu fazer seu agradecimento para João Pedro.

O desenrolar da história Netshoes-Dortmund é daqueles típicos enredos que são exemplo para todos. Qualquer um que pretende trabalhar relacionamento com o consumidor deve olhar a lição embutida nesse caso.

A Netshoes soube dar atenção para alguém que não tem idade nem permissão para ser seu cliente. O garoto pode até querer comprar na loja virtual, mas precisa dos pais para fazer um pagamento. Possivelmente, a família de João Pedro vai ter um carinho especial com quem deu atenção ao sonho de alguém com 10 anos de idade.

Já o Borussia Dortmund, ao tomar conhecimento do que aconteceu após a divulgação da história do João Pedro, passou a dar ainda mais bola para os torcedores do exterior.

O caso mostra o quanto os clubes europeus entenderam que a essência deles é se comunicar com o torcedor. Da mesma forma que a Netshoes sabe a importância do cliente, os clubes de lá sabem que só serão grandes e terão capacidade de criar times competitivos se olharem para o fã.

Quando um menino brasileiro de 10 anos de idade tem como sonho desenhar um novo uniforme para um time da Alemanha, é sinal de que os clubes no Brasil precisam acordar.

Urgentemente.

Por aqui, o torcedor tem o dever de consumir o clube, mas não é dado a ele qualquer motivo para alimentar esse amor. Uma paixão só tem sentido quando é correspondida. E os times do Brasil não dão bola para isso.


Até no diálogo a Copa teve atraso*
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Erich Beting

* Por DUDA LOPES, gerente de novos negócios da Máquina do Esporte

Na última semana, a presidente Dilma convidou alguns jornalistas esportivos para um jantar no Palácio da Alvorada. A iniciativa contou com presença de nomes como Juca Kfouri (Folha de S.Paulo), Tino Marcos (Globo) e Renata Fan (Band). Sem nenhuma dúvida, o evento é louvável, mas, a dias para a Copa do Mundo, ele acontece com um absurdo atraso.

Parece que só agora, aos 48 do segundo tempo, o poder executivo entendeu o peso político, além do econômico, de colocar o país como sede da maior competição de futebol do mundo. Vinte e seis bilhões de reais depois e alguns milhões de pessoas nas ruas, a presidente chamou a mídia especializada para uma conversa.

A falta de diálogo foi uma das principais razões da Copa do Mundo ser um fracasso político. Existiu a clara impressão de que tudo fora feito na base de acordos que deixavam a população fora da conversa. O modo de operar acentuou as duas grandes promessas mentirosas do governo brasileiro: o legado de infraestrutura e a ausência de dinheiro público em estádios.

Dilma deixa, pelo menos, a ideia de que as coisas podem ser diferentes. Por que não ouvir o esporte de vez em quando? Trata-se de uma indústria crescente que movimenta cerca de 1% do PIB e que, claramente, pode causar um enorme prejuízo de imagem. E o diálogo, seja com jornalistas, Bom Senso FC ou clubes, é o pilar fundamental de qualquer Estado democrático.

Coluna publicada originalmente no Boletim Máquina do Esporte


Futebol precisa, ao menos, lustrar o sapato
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Erich Beting

Com a inauguração da Arena Corinthians, no domingo, tivemos uma rodada de Campeonato Brasileiro com cinco dos dez jogos sendo disputados num estádio recém-inaugurado. Mineirão, Maracanã, Arena Corinthians, Arena do Grêmio e Arena Pantanal foram responsáveis por levar 122.958 torcedores aos estádios, ou uma média de 24.591 pessoas por arena.

O número está acima da média do campeonato (cerca de 15 mil torcedores por partida). E segue a tendência já vista no ano passado, quando finalmente passamos a usar novos estádios no Brasil. As arenas novas costumam levar mais torcida e, consequentemente, tem as melhores médias de público dos estádios brasileiros.

Só que a velha máxima de que basta fazer um estádio novo para o torcedor ir aos jogos é parcialmente verdade. Isso vale quando o novo espaço ainda é novidade. Prova disso foi o Cruzeiro, que voltou a campo sábado após ser eliminado da Copa Bridgestone Libertadores e levou apenas 11.603 pagantes ao Mineirão, o menor público dentre aqueles das novas arenas.

Quando o estádio é novidade, como foi o caso do Corinthians, é natural que haja um interesse prévio do torcedor. Ir ao jogo é conhecer a casa nova, ver como ficou, comparar como era (no caso de estádios remodelados), etc. Isso dura um, dois, no máximo uns cinco jogos. Depois, o torcedor volta a acompanhar o time conforme o desempenho dele dentro de campo.

Para acabar com essa máxima, o futebol precisa deixar de fazer com que apenas a caixa do sapato seja nova. O sapato precisa deixar de ser o velho e surrado conhecido do público. Ou, pelo menos, precisa ganhar uma graxa, um lustre. Na partida de estreia da Arena Corinthians, evento-teste da Fifa para a Copa do Mundo, se teve alguma coisa que com certeza ficou abaixo do padrão exigido pela entidade, foi o futebol. Os dois times maltrataram, e muito, a bola. Da mesma forma, em diversos outros estádios, o que se viu foi um belo estádio para um futebol pífio.

Se quiser realmente aproveitar os novos estádios do país para mudar o panorama do futebol, o Brasil precisa entender que o problema não está apenas no palco em que jogamos, mas na qualidade do evento que é apresentado ao torcedor. Para conseguir fazer um estádio dar lucro, é preciso colocar gente dentro dele o tempo todo. Mas, hoje, do jeito que está a qualidade do futebol, apenas com preços baixos é possível atrair mais torcedores.

O mais difícil está por vir, que é fazer um espetáculo no mesmo nível do estádio que é entregue aos jogadores. Do jeito que está, seguimos a vender sapato velho em caixa nova. O sapato precisa passar por um brilho, urgentemente. Do contrário, a caixa será colocada de lado rapidamente…


Maradona ainda é um bom garoto-propaganda no Brasil?
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Erich Beting

Em 2006, quando o Guaraná Antarctica decidiu lançar uma campanha com Diego Maradona protagonista de um comercial sobre a seleção brasileira, o impacto foi tão grande quanto o maior ídolo do futebol argentino. Era, realmente, audacioso demais fazer com que Dieguito vestisse a camisa canarinho. O retorno foi imediato. Muita repercussão sobre o anúncio e uma simpatia tremenda com a marca de refrigerantes, que estava havia pouco mais de dois anos na parceria com a CBF.

Desde então, porém, a publicidade brasileira continua a insistir, a cada quatro anos, com o eterno camisa 10 argentino. O lançamento da vez foi o da Bom Negócio, site de venda de produtos usados, que tem apostado em figuras do imaginário bizarro brasileiro, como Sérgio Mallandro, Cumpadre Washignton, Supla e Narcisa Tamborindeguy nas propagandas em TV ultimamente.

Antes, sem aparecer, Maradona ''contracenou'' com Romário na propaganda das Havaianas. E não será muita surpresa se ''El Diós'' aparecer em outras criativíssimas propagandas de embosada às vésperas da Copa do Mundo.

Maradona assumiu o papel de garoto-propaganda quadrienal desde 2002, mas a pergunta é, será que ainda vale apostar nele como uma figura que vá de fato fazer a diferença para uma marca?

A julgar pelas duas propagandas que já fizeram uso de Dieguito, seja com a cara dele ou com a mera menção de seu nome, ele ainda é o protótipo ideal para marcar o duelo Brasil x Argentina de cada quatro anos. Maradona ainda parece ser um bom negócio. Pelo menos é algo que foge da trinca Neymar-Felipão-David Luiz que inundou a propaganda brasileira nas últimas semanas…

Maradona, em 2006…

 

… e sua volta, em 2014!

 


A amnésia seletiva de Nizan Guanaes
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Erich Beting

Nizan Guanaes é, há quase uma década, um dos principais responsáveis por propagar e promover a marca do Brasil pelo mundo. O publicitário dono do grupo ABC talvez seja uma das figuras mais influentes no exterior naquilo que diz respeito à promoção do Brasil. A audácia de Nizan em levar suas agências para fora, em exportar o Brasil, em cultivar aquilo que há de melhor no país e em colocar seu trabalho e, consequentemente, o país em pé de igualdade com o que há lá fora é louvável.

Mas, no que diz respeito à Copa do Mundo, o publicitário parece sofrer de uma amnésia seletiva.

Na última terça-feira, em artigo publicado na ''Folha de São Paulo'', mais uma vez Nizan convoca as pessoas a usar o Mundial como plataforma para impulsionar o país e promovê-lo mundialmente. Sob o título de ''Enchendo a bola do Brasil'', o artigo procura defender que o Brasil tem um grande legado com a Copa do Mundo, que é o evento ter aflorado a nossa capacidade de reclamar, protestar.

É lícito e absolutamente válido esse pensamento. O ''despertar'' do gigante talvez seja, realmente, o melhor benefício palpável que exista neste momento pré-Copa do Mundo. Ainda que muito do discurso anticopa seja vazio, ou maquiado, é fato que nos tornamos muito mais críticos a partir do momento em que questionamos se todo o esforço que está sendo feito é válido ou se temos outras prioridades atualmente.

Só que, ao defender o direito de reclamar e conclamar para que as pessoas, nos 30 dias de Copa, esqueçam as mazelas e tratem tudo numa muito boa, como se não houvesse problema em absolutamente nada, Nizan peca pela amnésia.

Não foi a mesma agência África, da qual ele é dono, que criou a campanha ''Imagina'', para a Brahma? Não era essa agência que defendia que os ''pessimistas de plantão'' tinham de parar de reclamar do caos que haveria na Copa e substituir o bordão ''imagina na Copa'' por ''imagina a festa''? Como pode, então, a mesma pessoa que defende isso numa propaganda vir dizer que o legado do evento é termos aprendido a protestar?

Isso não é ser pessimista de plantão? Ou será que defender os protestos não é apenas aproveitar o momento para não levar bordoada por ser ''ufanista de plantão''?

Se tivesse comparecido, a negócios ou a lazer, em outros megaeventos, Nizan saberia que eles são, em qualquer rincão do planeta, excelente e importante plataforma para protestos. Os grandes eventos esportivos são momentos muito bem apropriados por minorias para exporem suas necessidades. É uma espécie de ônus que eles pagam por terem se tornado tão poderosos. A mídia de todo o mundo está lá. E, como boa mídia que é, está no evento ávida por notícia, a favor ou contra, mas que cause repercussão.

Em 7 de julho de 2005, o metrô de Londres foi atacado por uma série de atentados a bomba. Dois dias antes, a cidade havia sido escolhida sede dos Jogos Olímpicos. No verão de 2012, tudo transcorreu em paz na cidade britânica, mas diversos pequenos protestos, de diferentes etnias, eram presença constante na estação de Stratford, ponto de parada do metrô que levava ao Parque Olímpico. Ainda bem!

Em março de 2008, pré-Jogos Olímpicos de Pequim, uma série de protestos pró-independência do Tibete eclodiu não apenas na China, mas em diversos outros países. Algumas dezenas de mortos foram contabilizados oficialmente pela sempre obscura ditadura chinesa. Fazia muitos anos que não se dava tanta voz e mídia para isso.

Por aqui, o que acontece no Brasil desde junho de 2013 é não só a conscientização de que temos de protestar por melhorias no dia-a-dia. É, mais importante, a certeza de que temos ainda muito a evoluir como nação. Ainda temos muitas falhas, assim como temos gigantescas virtudes. Felizmente nossos protestos são, comparativamente, muito mais tupiniquins, com bastante festa e pouca violência. Ou, pelo menos, menos violência do que em outros países.

O discurso de que é preciso empurrar essas mazelas para debaixo do tapete enquanto as visitas estão em casa é de uma tremenda ignorância. Tão ignorante quanto aqueles que discursam que a Copa do Mundo só teve roubalheira de dinheiro e foi um desperdício de dinheiro público.

O país investe, e muito, no Mundial. Cerca de 90% da conta está nas nossas costas. Mas essa é a realidade de qualquer organização de megaevento esportivo. Desde 1998, entre Copas do Mundo, apenas a Alemanha teve investimento público próximo dos 50% para realizar o evento. As demais sedes precisaram, e muito, do dinheiro do povo para deixar a Copa em pé. No Japão, na África, no Brasil. Países completamente distintos, mas que não escaparam do óbvio. Para dar infraestrutura suficiente para a demanda do evento, é preciso investir. E construir estadas, aeroportos, etc. é função de governo, na maioria dos casos.

Podemos e devemos, logicamente, protestar contra a péssima condução da construção do país da Copa. Deveríamos estar com novos aeroportos já há pelo menos dois anos. Com o trem-bala ligando as duas cidades mais populosas da nação. Com várias e várias outras obras de infraestrutura que atenderiam às necessidades já estranguladas de um país em crescimento, mas que tem ficado estagnado pela falta de ampliação da capacidade em absorver mais gente, mais consumo, mais conhecimento.

Nos tornamos mais críticos, e isso é um legado concreto da Copa do Mundo. Mas que o ímpeto em manter a crítica não desapareça só porque temos visita na sala. Os bons amigos nos conhecem nas virtudes e nas fraquezas. Fingir que tudo é uma maravilha quando poderia ser muito melhor é fazer uma grande – e falsa – festa. Nós não precisamos imaginar a festa. Sabemos fazê-la como poucos países no mundo. Mas não podemos deixar os problemas de lado. Festa boa tem bebida gelada e música até o fim. Se não tem, é preciso protestar. Do contrário, faríamos papel de idiotas.

E, se a amnésia seletiva de Nizan Guanaes voltar a atacar, vale um dado curioso.

Enquanto os protestos nas ruas atualmente envolvem cerca de 1.500 pessoas, nas estimativas mais otimistas, o Tour da Taça da Copa do Mundo, que tem passado por todas as capitais do país desde 22 de abril, está com uma média de 10.000 visitantes por dia, com ingressos numerados. Mas esse evento é promovido pela concorrente do cliente de Nizan. Aí, talvez, não tenha havido interesse em usar como argumento de que protestos e Copa do Mundo podem conviver em perfeita harmonia…


Em 2014, Valcke ajudou a Copa virar “vilã” no Brasil
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Erich Beting

Jérôme Valcke ajudou, conscientemente ou não, para que a repercussão da Copa do Mundo na mídia brasileira ganhasse um tom negativo neste ano de 2014. Essa é uma das conclusões do estudo ''A Copa em nova perspectiva'' produzido pelo núcleo Análise & Perspectiva da agência de comunicação Inpress e obtido com exclusividade pelo blog.

Nos primeiros três meses do ano, a Inpress monitorou todo o material produzido sobre a Copa do Mundo por sites e jornais do país, além de repercussão em mídias sociais. Nesse levantamento, um dado chama a atenção. Valcke, secretário geral da Fifa, foi responsável por 25% do conteúdo produzido pelos porta-vozes do evento. Em segundo lugar está Dilma Rousseff, presidente da República, com 11%.

O problema é que além de o executivo da Fifa ser quem mais fala sobre o Mundial, ele também é quem mais traz repercussão contrária à Copa. De tudo o que Valcke disse, 63% eram frases negativas. Dilma, por sua vez, tem a proporção inversa. De tudo o que a presidente falou, 68% era discurso positivo. Mas, na proporção, ela apareceu muito menos do que Valcke, o que levou para baixo a percepção das pessoas sobre o evento.

Aí entram dois pontos importantes.

O primeiro deles é a própria estratégia de comunicação adotada pela Fifa após todas as confusões antes e durante a Copa das Confederações. A entidade decidiu fazer com que o ''Padrão Fifa'' não se tornasse o vilão do evento, mas um ícone da excelência dele. Sendo assim, Valcke passou a criticar, diretamente, a gestão brasileira para organizar a Copa. É só lembrar o episódio do ''chute no traseiro'', que pré-Confederações causou tanta repercussão contra a Fifa e que, agora, vira a favor da entidade, já que dois estádios ainda não estão prontos a quase um mês do evento, para ficar nos exemplos mais claros da nossa indigestão no Mundial.

O segundo ponto é a própria cobrança que a imprensa faz sobre o evento com o porta-voz da Fifa. Valcke é quem mais dá a ''cara a tapa'' para responder a todo assunto relacionado ao Mundial. Ele teve de falar sobre fan fests, situação de Curitiba, estruturas provisórias, atraso de obras, críticas de torcedores, etc.

No fim das contas, premeditadamente ou não, Jérôme Valcke virou uma figura central da Copa do Mundo no Brasil. Ele, hoje, é o principal portador de más notícias relacionadas ao Mundial. Muito por culpa da incompetência brasileira em gerenciar o evento. Se tivéssemos, por exemplo, entregue os estádios no período previsto pela Fifa, estaríamos desde janeiro de 2013 com o futebol rolando nas novas casas.

Agora, com tudo no limite, falamos muito mais sobre a preparação do país para a Copa do que dos atletas, como sempre aconteceu. E isso gera, por incrível que pareça, a véspera de Copa do Mundo com o menor clima de Copa do Mundo dos últimos tempos. Justamente quando ela acontece no país…

A convocação de Felipão para a Copa teve grande espaço no noticiário. Mas isso durou apenas dois dias. Hoje nossa maior preocupação não é se o time brasileiro estará pronto, mas se o estádio em que ele vai jogar estará…


Investir em atleta é um enorme risco
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Erich Beting

A Copa do Mundo representa uma oportunidade única para os atletas do Brasil. Nunca antes na história desse país os jogadores tiveram tantos patrocinadores pessoais como agora. É só dar uma olhada no levantamento exclusivo feito pela Máquina do Esporte para perceber. Os 23 convocados de Luiz Felipe Scolari vão representar 35 marcas no Mundial, além das empresas fabricantes de material esportivo (detalhes aqui).

A lista só não é maior porque algumas apostas, que pareciam certas, tornaram-se barcas furadas. E é isso o que mais chama a atenção. Desde sempre, investir em atleta, salvo algumas exceções, é um risco.

Basta lembrar um caso emblemático envolvendo essa seleção brasileira.

A Copa das Confederações foi um evento teste não apenas para Fifa e Comitê Organizador Local. Às marcas, o torneio serviu para direcionar os investimentos tendo em vista as ações de ativação na Copa do Mundo. Todos olhavam com carinho o que iria acontecer com a seleção e seus jogadores para direcionar, depois, a verba e errar o mínimo possível.

Em Brasília, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, cidades que receberam as partidas da seleção, a torcida brasileira mostrou que aquele time tinha um xodó. Em todo jogo, os gritos de “Lucas” eram ouvidos, numa espécie de clamor popular por uma figura que era, até então, tão midiática quanto Neymar no país.

Antes da Copa das Confederações, Lucas era a segunda opção comercial para as marcas. Adidas, Volkswagen, Gillette, Gatorade e Guaraná tinham no jogador contratado a peso de ouro pelo Paris Saint-Germain do São Paulo uma aposta segura. Os gritos da torcida eram mais uma prova disso.

Mas Lucas não foi a campo e, depois da conquista brasileira, paulatinamente foi perdendo espaço na cabeça de Felipão e da própria mídia, com quem ele se relacionava tão bem.

De uma hora para outra, era estranho olhar as campanhas em que lá estava ele falando com propriedade sobre seleção brasileira e Copa do Mundo. Na quarta-feira, simplesmente ninguém se lembrou de pedir por ele na lista dos convocados de Felipão.

Investir em atleta é uma aposta de alto risco para as marcas. Apesar de barato em comparação a outros investimentos, o risco de insucesso é diretamente proporcional à performance e conduta do jogador dentro e fora de campo.

A gangorra vivida por Lucas em um ano é só uma prova de que o tiro, muitas vezes, pode sair pela culatra…


Por que falta patrocínio no futebol justo agora?
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Erich Beting

Milagres não acontecem. Qualquer história por trás de um acordo de patrocínio tem, necessariamente, um pouco de suor, de esforço, de trabalho para que aquele negócio saísse. Pode ser um trabalho meramente de influência política, ou um esforço gigantesco para provar que aquele investimento vale o quanto se paga. O caminho para se conseguir um patrocínio é árduo. E a prova disso é que, até mesmo no futebol, está difícil para os clubes terem sucesso na busca por um patrocinador.

Mas como isso pode acontecer a quase um mês do início da Copa do Mundo?

Esqueça o discurso de que o Mundial afeta na busca pelo patrocínio. Nunca, e repito para reforçar mesmo, nunca foi tão fácil conseguir um patrocínio no esporte brasileiro. Vivemos, hoje, um momento muito mais aquecido e interessado das empresas em investirem em esporte. Em diversas modalidades, não apenas no futebol.

E isso é exatamente o principal motivo para que esteja mais difícil arranjar um patrocinador. As empresas começaram, como nunca, a pensarem antes de agir. Ainda pensam menos do que deveriam, mas pelo menos já é um alento. Sabe-se que investir em esporte é preciso, então começa-se a calcular melhor o passo que será dado dentro dessa indústria.

Hoje, na Série A do Campeonato Brasileiro, dos 20 clubes que lá estão, quatro não terão, após a pausa da Copa do Mundo, um patrocínio máster na camisa. Palmeiras, Santos, São Paulo (a partir do Mundial) e Sport não encontraram ainda alguém disposto a pagar pelo espaço mais nobre no uniforme.

Num país que não está em crise econômica como o nosso, o número preocupa. Pode-se dizer que 20% dos clubes não tem patrocinador principal. Nos outros 16 times, cinco tem acordos relativamente menores e 11 estampam a marca de uma instituição bancária no uniforme (detalhes aqui).

Os bancos, sem o perdão do trocadilho, são quem bancam a elite do futebol no Brasil. Pior ainda. São apenas três instituições em 11 clubes e todas elas com risco enorme de, até o fim do ano, mudarem de projeto. A Caixa possui sete times. O Banrisul, os dois do Rio Grande do Sul. E o BMG, os dois de Minas Gerais. Todos, sem exceção, são patrocínios calcados em decisões políticas. Seja do governo federal ou dos locais ou até mesmo da política de boa vizinhança do banco mineiro, que não deixou na mão os times (e credores) locais.

Com o cenário das eleições a caminho, é possível que haja um rearranjo nesses investimentos a partir de 2015. E, aí, a conta pode saltar assustadoramente. Dos 20 clubes de Série A, possivelmente 15 estariam sem um patrocinador. Justo agora?

Da mesma forma que o futebol não aprendeu ainda a precificar seus ingressos, falta ter a noção exata de quanto vale o patrocínio de uma camisa. Se o critério de venda continuar a ser a exposição da marca, o preço que os clubes querem cobrar está completamente fora de propósito.

Em cinco anos, triplicou-se o valor cobrado para o patrocinador máster, enquanto a incidência dos times na TV aberta só caiu. Como as empresas estão mais exigentes antes de colocarem dinheiro no esporte, as diferentes realidades estão distantes.

Falta patrocínio justamente agora no futebol porque as empresas começaram a estudar melhor qual deve ser o valor de um patrocínio, em vez de agir por impulso. Gente interessada não é problema. Desde que o futebol entenda que é preciso baixar a bola. Não é incompetência o problema de quem está sem patrocínio.

É muito mais a soberba que atrapalha…


O show vale, mas não tanto quanto se pensa…
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Erich Beting

A pergunta ''Quanto vale o show?'' era entoada nos domingos dos anos 80 por Silvio Santos durante o massacre psicológico de seu ''Show de Calouros''. Na ocasião, seu Silvio pressionava o público a determinar se um calouro tinha ou não chance de prosseguir e tentar fazer sucesso com sua arte.

Hoje, quase 30 anos depois, a mesma pergunta é a que mais tem martelado na cabeça dos clubes brasileiros. Dois acontecimentos recentes acabaram levando a isso.

O primeiro é o advento dos novos estádios. Com eles, esperava-se que o público naturalmente aceitaria pagar mais pela novidade e, assim, teríamos lugares mais cheios e com maior arrecadação. Em parte, isso aconteceu, mas o encanto se quebrou com o fim da ''novidade'' dos estádios prontos para a Copa do Mundo, e o público parou de pagar tanto. O resultado mais prático disso é o quanto 2013 teve um estouro na arrecadação dos novos estádios e como esse número parece ter estagnado e até regredido em 2014.

O segundo fator que contribuiu foi o sucesso do São Paulo ao adotar a estratégia de reduzir de R$ 26 para cerca de R$ 10 o tíquete-médio durante o Brasileirão de 2013. Com o time na zona do rebaixamento, o Tricolor paulista não só passou a encher o Morumbi como aumentou até mesmo o lucro ao receber seus torcedores. O sucesso foi tão grande que o clube paulista passou a atuar com a lógica do varejo básica. Ingresso mais baixo para ter mais gente consumindo a marca. O lucro, no fim das contas, pode até ser maior.

Agora, é o Fluminense quem adota estratégia similar. O Tricolor do Rio abaixou o preço dos ingressos e, em duas partidas, colocou quase 80 mil pessoas no Maracanã. No ano passado, segundo levantamento exclusivo da Máquina do Esporte, o Maracanã teve 51% dos assentos ocupados nas partidas da Copa do Brasil e do Brasileirão. Com ingresso limitado a R$ 30, o Flu começa a dar outra resposta na arquibancada (detalhes aqui).

Até hoje, sempre foi na base do ''achismo'' que determinamos as causas para o torcedor ficar afastado do estádio. Preço do ingresso, quase nunca, foi levado em consideração, uma vez que outros fatores sempre foram determinantes, como a má qualidade dos estádios, a falta de infraestrutura em transportes e até mesmo o horário dos jogos.

Com as novas arenas, aos poucos o futebol brasileiro começa a perceber o óbvio. O produto que é oferecido nos gramados vale R$ 10, e não os R$ 30 ou R$ 40 que pretensamente imaginávamos ser o preço ''justo'' para uma partida de futebol. O show vale alguma coisa, mas está cada vez mais claro que não é tanto quanto se pensa.

Olhar a realidade europeia sem levar em conta que estamos com 20 anos de atraso no quesito relacionamento com o torcedor é não ter noção da evolução histórica da ida de público aos estádios do Velho Continente. No começo dos anos 90, os europeus debatiam o esvaziamento dos estádios e a necessidade de atrair o torcedor. Só agora é que, com as arenas constantemente lotadas, debate-se a majoração no preço dos ingressos, especialmente na Inglaterra, onde o show está cada vez mais valioso.

Por aqui, começamos a achar a solução para o estádio vazio. O próximo passo é começarmos um projeto para melhorar a qualidade do espetáculo. E, só então, vamos perceber que será necessário mudar mais estádios além dos 14 que vão surgir até o fim do ano. O valor do evento, quem determina, é o público. E, hoje, ele tem certeza de que o futebol, por mais bonita e reformada que esteja a casa, não é digno de mais do que seus 10 a 20 contos…


Neymar, à beira do risco de passar a ser artificial
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Erich Beting

O episódio do ''#somostodosmacacos'' não foi o tiro certeiro que deveria. Quando Daniel Alves comeu a banana para tripudiar sobre o torcedor racista, teve uma atitude corajosa e digna. Quando Neymar publicou a foto com o filho, os dois comendo uma banana e viralizou o #somostodosmacacos, a sacada foi da mesma forma inteligente. Não tão agressiva quanto a do amigo de time, mas pareceu o tiro certo, na mídia certa, da forma certa.

Até que veio a revelação de que a foto e a criação da ''hashtag'' por Neymar tinham, por trás, um conceito de criação da agência Loducca, que já cria diversos trabalhos em conjunto com o brasileiro. Quando isso aconteceu, boa parte das pessoas deu uma banana para a história de ser macaco, e passou a desmerecer a atitude de Neymar por ''ser propaganda''.

Como já havia exposto aqui antes mesmo de essa história das bananas premeditadas ter sido revelada, acredito muito mais em sermos seres humanos do que macacos. Racismo é crime, e deve ser punido dessa forma. Se somos humanos, é assim que devemos agir, como a própria NBA deu o exemplo nesta semana ao banir o dono racista do LA Clippers.

Ao tornar o que seria uma ação espontânea em algo premeditado, Neymar faz cair por terra qualquer argumento de autenticidade na história. Foi esse, exatamente, o problema da história envolvendo as bananas. Era uma ação que parecia espontânea, mas se revelou premeditada. E, aí, a sensação de manipulação das pessoas revelou o lado ruim da publicidade.

Fazer uma campanha de publicidade não é nenhum demérito, muito pelo contrário. Ninguém é contra a boa ideia criativa de um publicitário, desde que ela convença as pessoas, não as manipule.

Neymar ganhou fama mundialmente por ser um cara extremamente autêntico. A boa forma como ele conduz suas atitudes dentro e fora de campo moldam o perfil de um ídolo carismático. O estilo do cabelo, a forma agressiva como parte para cima dos adversários, a ''ousadia e alegria'' que ele consegue transformar em símbolo, até mesmo a atitude extremamente madura que mostrou ao assumir a paternidade não planejada…

Tudo o que Neymar faz causa repercussão. Hoje, no Barcelona, é repercussão mundial. Isso é fantástico, motra que ele já conseguiu chegar aos níveis de Cristiano Ronaldo e Messi, mesmo sem ainda alcançar o auge de performance deles.

O que Neymar não pode correr o risco, agora, é de que tudo o que lhe é autêntico comece a parecer artificial. A grande força de um ídolo é a autenticidade que ele representa para as pessoas. É isso que os transforma em mitos.

Num patamar muito mais alto, o que mais decepcionou as pessoas no passado recente com Lance Armstrong e Tiger Woods foi descobrir que os ídolos eram falsos. Armstrong, que vendia a sua pureza nas provas, foi comprovadamente flagrado no doping, mesmo que anos depois de ter se dopado. Woods, que sempre apareceu como um ''cara família'', colocou isso por terra ao ter dezenas de casos extraconjugais revelados.

Num mundo cada vez mais dominado pelo marketing e pela propaganda subliminar, o que mais queremos ter é pessoas que sejam naturais e espontâneas. Nada contra o marketing e a propaganda, mas tudo a favor daquilo que é autêntico.

O ídolo não pode, nunca, ser artificial. Neymar, ao dar mostras de que pensa muito antes de dar qualquer passo, começa a flertar com aquela tênue linha que o separa de ser um exemplo para as pessoas para se transformar num ídolo artificial, com cada passo planejado e pouquíssima autenticidade.

Neymar tem de ser apenas Neymar. Ou Neymar Junior, como ele tem orgulho em ser. Autêntico, natural e, sobretudo, exemplo. Se cada passo que ele der for milimetricamente calculado, por mais bem intencionado que seja, vai parecer ''propaganda'' para as pessoas. Com tudo o que pode existir de aspas nela.