Negócios do Esporte

Corinthians prepara “invasão do bem” ao CT
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Erich Beting

O Corinthians encontrou uma maneira divertida de virar o jogo a seu favor após a crise instaurada pela invasão ao Centro de Treinamento do clube no sábado passado. O departamento de marketing do clube preparou uma ''invasão do bem'' ao CT na tarde desta sexta-feira. Dois ônibus com cerca de 70 crianças estão neste instante na porta do CT Joaquim Grava para ''invadir'' o local. Isso deve acontecer em até meia hora.

Cada uma das crianças entregará uma flor branca, simbolizando a paz, a jogadores e funcionários do Corinthians presentes no CT. Desde as 16h, o perfil do clube no Twitter tem enviado mensagens alusivas à ação.

A ideia, com a iniciativa, é dar, literalmente, um tapa com as flores na violência do torcedor que na semana passada decidiu protestar contra a má performance da equipe dentro de campo invadindo o CT e ameaçando os atletas. A selvageria dos torcedores acelerou algumas saídas de jogadores do clube, como Alexandre Pato e Douglas, recentemente negociados.

A ''invasão do bem'' foi planejada esta semana, e tem como objetivo resgatar o sentimento de amor do torcedor pelo clube. Além disso, a diretoria corintiana acredita que, ao demonstrar carinho aos jogadores, consiga dar mais energia a eles para virar o jogo dentro de campo e ajudar o clube, que perdeu os últimos quatro jogos.

No fim das contas, é muito mais eficiente do que ir para a greve. E vai, com certeza, sensibilizar muito mais as pessoas no meio da selvageria que insiste em rodear o futebol brasileiro…

Meninos aguardam para entrar no CT corintiano

Meninos aguardam para entrar no CT corintiano

 

Jogadores e torcedores trocam bola dentro de campo

Jogadores e torcedores trocam bola dentro de campo após a ''invasão''

 

Torcedores ao lado dos jogadores, já com a rosa na mão

Torcedores ao lado dos jogadores, já com a rosa na mão


A democracia da arquibancada deu um show no Pacaembu
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Erich Beting

A arquibancada é o espaço mais democrático que existe. Essa é uma máxima imortalizada pelo futebol já de muito tempo, na era Rodriguiana, quando Nelson Rodrigues cunhou algumas expressões fundamentais para o desenvolvimento da cultura futebolística brasileira.

Mas se tem uma ''máxima'' que se tornou ''mínima'' nos últimos anos foi essa. A democracia da arquibancada deixou de existir a partir do momento em que foram se formando grupos representativos de alguns perfis de pessoas dentro de um estádio. Organizados sob o prisma da ''torcida organizada'', esses grupos foram, aos poucos, tolhendo a liberdade de livre expressão numa arquibancada.

Primeiro foi o direito de torcer pelo adversário. Foi a partir da união do torcedor em grupos que os torcedores tiveram de ser, a exemplo de animais incontroláveis, separados dentro do espaço físico de um estádio.

Depois, passou a ser o direito de torcer cada um a sua maneira, mesmo que fosse pelo mesmo time!

Ir a uma arquibancada e dividir o mesmo habitat de uma torcida organizada significa, necessariamente, ter de obedecer às regras desse grupo. Você tem de cantar aquele determinado hino naquela determinada hora. É preciso ''seguir a corrente'', mesmo que para isso você tenha de ir contra algum de seus princípios. E a regra, seja na Rua Javari ou na Fonte Nova, é sempre a mesma. Siga a voz de comando da ''organizada'' e vai com a turma.

Isso é bonito para o espetáculo. Permite que tenhamos música, festa, incentivo. Faz de um estádio de futebol uma alma pulsante. Mas a realidade é essa. Não é uma democracia. É a ditadura, quase sempre à força, de ir com a ''torcida''.

Só que a democracia voltou a vencer na noite da última quarta-feira, no estádio do Pacaembu. O torcedor ''comum'' não quis seguir a torcida ''organizada'', que pedia para não incentivar o time. O registro feito pela Globo do comportamento dos torcedores é um daqueles trabalhos jornalísticos de dar gosto. Captou onde estava a notícia dentro do modorrento Corinthians 0x2 Bragantino. Registrou exatamente onde está a tensão dentro da torcida alvinegra (veja aqui).

O conflito de ontem no Pacaembu mostrou que a democracia pode superar a ditadura, mesmo dentro de um estádio em que a força opressora da organizada é quase sempre maior que a paixão do torcedor comum pelo clube.

O torcedor que invade o centro de treinamento para cobrar os atletas não tem legitimidade para falar em nome de milhões. Da mesma forma que, não necessariamente, representa os milhares de uma torcida organizada. Mas uma coisa é certa. O espaço de uma arquibancada tem de ser democrático. A resposta dada ontem pelos corintianos é um sinal de alerta para as torcidas organizadas.

Cada dia que passa, a legitimidade dos ''organizados'' para falar em nome da torcida de um clube é menor. Estrategicamente, os clubes precisariam perceber isso para virar o jogo em seu favor. É o melhor jeito de, sem brigas, acabar com algo que, se no passado ajudava a promover o espetáculo, hoje é em parte responsável pela baixa atratividade dele.

Afinal, a conexão do clube com o seu torcedor não precisa de intermediários.


Santos e Corinthians provam que esporte supera o marketing
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Erich Beting

Uma das máximas inabaláveis do marketing esportivo é a de que, quando é preciso pesar os prós e os contras de um bom projeto, tem de se dar um peso maior para o respeito à performance esportiva em detrimento de uma grande ideia. Basicamente o grande segredo de uma boa sacada no marketing esportivo é a de que o esporte sempre terá de superar o marketing.

Dois exemplos recentes, um positivo e outro negativo, provam exatamente isso.

O Santos lançou, no dia 28 de janeiro, uma promoção com o site Palpiteros. A ideia era fazer um bolão para que o torcedor adivinhasse quem seria o autor do gol de número 12.000 da história do clube. Nas contas do clube e do site, durante pelo menos um mês a promoção estaria em vigor, aumentando o relacionamento de ambos com os consumidores (leia aqui). A campanha envolveu até a instalação de um relógio com contagem regressiva para o feito.

Em dois jogos, porém, o Peixe marcou dez gols e, assim, encurtou o projeto, que teve duração de apenas uma semana. Nesse caso, a boa ideia de marketing foi ''atropelada'' pela performance esportiva muito boa do time. Santos e Palpiteros, muito provavelmente, terão de pensar numa nova estratégia para atrair de novo o torcedor e, assim, conseguir atingir o número de pessoas planejado, já que em uma semana o time atingiu a meta de gols prevista para cerca de um mês.

Já o Corinthians apresentou, na última terça-feira, o novo modelo de terceiro uniforme do clube. Ao lado de Bahia, Coritiba, Internacional e Santos, o Timão usará a cor amarela na terceira camisa, seguindo estratégia adotada pela Nike de vestir os seus clubes patrocinados com a mesma cor da camisa principal da seleção brasileira (leia aqui).

A apresentação da camisa seguiu um planejamento anual da fabricante americana. Até aí, nenhuma novidade. O problema foi que, nas redes sociais, o clube decidiu promover a pré-venda do uniforme. No momento de maior crise na história entre o time de futebol e sua torcida, a ação teve efeito imediato. Com a equipe mal em campo, diversos comentários sobre o lançamento do novo uniforme pediam para, entre as análises publicáveis, que o time deixasse de amarelar nos jogos…

A afobação do gestor das redes sociais do Corinthians em promover o produto superou a cautela que deveria ter sido tomada. Era melhor esperar a poeira baixar, os resultados aparecerem e, aí, entrar com tudo na promoção da camisa. A estratégia de marketing seguia o curso normal, mas não poderia nunca ter entrado em ação por conta do momento do time dentro de campo.

Da mesma forma que o Santos teve de entender que a estratégia foi abreviada por conta da boa performance esportiva, o Corinthians precisava entender que a estratégia teria de ser adiada por conta da má performance esportiva. Os dois casos provam que para um projeto de marketing esportivo atingir o máximo de potencial possível, o esporte, sempre, terá de prevalecer sobre o marketing.


O Brasil hoje é a Inglaterra de 25 anos atrás
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Erich Beting

Estádios obsoletos. Violência dentro e fora dos campos. Baixo nível técnico das partidas. Insegurança para quem trabalha com isso. O aparente retrocesso do futebol brasileiro nos dias de hoje tem uma pequena luz no fim do túnel. Somos, atualmente, o que era o futebol na Inglaterra há 25 anos, ou um pouco, mas bem pouco, mais do que isso.

A realidade inglesa do fim dos anos 80, começo dos 90, era tenebrosa. Nos estádios, bandidos travestidos de torcedores tocavam o terror na arquibancada e pressionavam os jogadores por resultados dentro de campo. Nos clubes, havia pouco preparo entre os gestores para conseguir racionalizar os gastos e montar um futebol competitivo. Os gramados eram feios, o futebol dentro dele idem, a seleção inglesa tinha algum lampejo de bom futebol por alguns talentos naturais que brotavam, como Lineaker e Gascoine.

Não havia um sentimento de debate único dentro do futebol inglês. Cada um olhava para o seu problema e tentava seguir adiante. Proibidos de atuarem pelas ligas europeias, os clubes do país não despertavam o interesse dos jogadores e da mídia estrangeiros. O país que inventou o futebol era, naquela ocasião, uma espécie de túmulo do esporte.

Até que veio a decisão, do governo, de reorganizar a modalidade. O famoso Taylor Report, de janeiro de 1990, foi o primeiro divisor de águas. A partir dele, os ingleses exigiram padrões mínimos para os estádios, regras de comportamento dentro deles e, mais importante, mecanismos de punição (e cumprimento das penas) aos maus torcedores.

Isso tudo gerou o início de um movimento de melhorias dentro do futebol da Inglaterra. Quem largou na frente foi o Manchester United, que profissionalizou completamente a gestão do clube em 1992. Na mesma época, não por acaso, os clubes perceberam que, juntos, poderiam obter melhores contratos do que em negociações separadas. Foi a criação da Premier League, a primeira divisão, baseada naquilo que havia nas ligas esportivas americanas e que se adaptava para a realidade do futebol.

Hoje, após 20 anos desse início de movimento, a Inglaterra tem o melhor campeonato de futebol do mundo. É o mais competitivo, o com maior movimentação de receita, maior venda de direitos de transmissão, melhores gramados, melhores jogadores, etc. Tudo isso conquistado após o futebol inglês chegar ao fundo do poço. Nenhum outro torneio na Europa é tão disputado quanto na Inglaterra.

Logicamente isso só é possível de acontecer hoje pela mudança de comportamento em toda a cadeia produtiva do futebol inglês. Mudança que apresenta muitos erros, logicamente (como os donos mais do que suspeitos de muitos clubes), mas que ainda assim chegou ao melhor patamar de competitividade e promoção do evento no futebol mundial.

A cada novo episódio que acontece dentro do combalido futebol brasileiro, fica claro que o fundo do poço se aproxima.

O último movimento mais rígido do governo para tentar melhorar as coisas via lei, como na Inglaterra, foi em 2002, quando foi gerido o Estatuto do Torcedor, que virou lei no ano seguinte, no primeiro ato do governo Lula. Na ocasião, a resposta dada pelos clubes foi a ameaça de paralisar o futebol em maio, quando começava o Campeonato Brasileiro.

Estavam à frente do movimento Eurico Miranda, Ricardo Teixeira, Fábio Koff, Mustafá Contursi, entre outros. Há dez anos, eles eram a liderança do futebol no país. Hoje, dos quatro, apenas Teixeira, que brigou com Joseph Blatter, deixou de ser figura influente dentro do futebol. Eurico volta com força ao Vasco, Koff preside o Grêmio, Contursi segue ativo nos bastidores do Palmeiras.

Como se vê, o futebol brasileiro segue com muitas caras e mentalidades do passado no presente. Isso tem uma relação direta com o que acontece hoje dentro do esporte, em que a truculência é regra. Seja na invasão de um centro de treinamento, seja na pergunta e na resposta de uma entrevista coletiva para a imprensa, seja na maneira como se aceita a derrota ou se comemora a vitória.

O lado positivo de tudo isso é que é possível achar um caminho para sair dessa aparente areia movediça em que se meteu o futebol do Brasil. Mas, para isso, é preciso uma radical mudança de atitude. Que pode, muito bem, começar com uma paralisação, mais do que legítima, daquele que é o principal responsável por fazer o futebol ser um grande barato, que é o jogador.

Sem matéria-prima não há produto. E esse parece ser o único caminho, agora, para fazer com que o Brasil volte para os anos 90 e passe a agir como os ingleses. Mas, dessa vez, aprendendo com os erros lá cometidos para fazer aquilo que não é impossível, embora pareça, que é construir um dos melhores campeonatos de futebol do mundo. Consumidores ávidos para isso existe. É preciso, porém, despertá-los.


A principal aula do Super Bowl
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Erich Beting

, Esqueça o valor do comercial de 30s na televisão. Isso não é, nem de perto, o grande segredo do Super Bowl. Mesmo com a cifra recorde de US$ 4 milhões pelo tempo mínimo de publicidade na TV, a grande final do futebol americano é uma aula em tempo real de como deve ser tratado o esporte para, assim, ser capaz de gerar o segundo mais valioso da publicidade mundial.

Para começar, engana-se quem pensa que a TV fatura horrores com essa publicidade. Porque a conta dela para transmitir o evento é muito mais salgada. A Fox, que foi quem exibiu a decisão deste ano, amealhou cerca de US$ 360 milhões com os comerciais. Para ter os direitos de transmitir a temporada da divisão da NFC e ter a exclusividade sobre o Super Bowl, porém, a emissora desembolsou três vezes mais do que isso: US$ 1,1 bilhão.

O sistema de venda de direitos de transmissão da NFL é, aliás, a primeira aula a ser dada para o mercado pelos americanos. Os direitos pertencem exclusivamente à liga. Não é dos clubes, mas do campeonato. A liga é responsável por produzir todas as imagens dos jogos. As emissoras de TV são meros reprodutores dessas imagens. Elas são, assim, o meio de propagação do futebol americano, e não o fim.

Esse modelo, que é usado pelos principais campeonatos do mundo, permite à NFL duas coisas fundamentais para a promoção de seu torneio. A primeira é ter controle sobre o conteúdo levado ao torcedor, valorizando o evento do qual ela é dona. A segunda, e fundamental, é endurecer a negociação com as emissoras de TV, tornando-se menos dependente delas e lucrando mais nas negociações.

Só para se ter uma ideia, a NFL tem seis diferentes emissoras transmitindo seus jogos para o mercado americano. Isso sem falar nas redes locais e na própria rede própria da NFL, que desde 2006 exibe uma partida às quintas-feiras. A venda dos direitos para emissoras distintas, além de dar mais opção ao consumidor, engorda os cofres da liga. São cerca de US$ 5 bilhões de receita ao ano apenas com os direitos de transmissão. Todo esse dinheiro, aliás, dividido igualmente entre os clubes da liga, com o intuito de manter ao máximo o nível competitivo dos clubes por meio da maior equidade financeira possível.

O valor pago por essas emissoras dá a elas alguns direitos, mas um deles não lhe compete, que é gerar as imagens das partidas. Isso é uma propriedade exclusiva da TV da liga, que dessa forma faz com que a entrega dada aos patrocinadores do evento seja limpa e cristalina (e que permite a ela aumentar o valor cobrado por esse patrocínio). O resultado pode ser visto no último domingo, quando a transmissão aqui no Brasil exibia, a cada espaço de tempo, o MetLife Stadium em sua totalidade, dando clara entrega comercial para o detentor do naming right do estádio. Isso sem falar nas exibições das placas de publicidade dentro do próprio estádio e diversas outras imagens que faziam parte de um acordo que ia além da transmissão jornalística do evento.

Por aqui, a NFL pode ser comparada ao futebol, pela força de mídia, público e atração de patrocínio. Nem mesmo a venda de direitos de transmissão dos eventos no Brasil é feita coletivamente. Desse jeito, é impossível pensar que, algum dia, chegaremos a produzir algo próximo do Super Bowl. Pelo menos pela próxima década…


Federação, ainda vai ficar só na bandeira?
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Erich Beting

A iniciativa foi interessante. No Paulistão Chevrolet, todos os jogos terão bandeiras brancas sendo usadas pelos auxiliares do árbitro. O projeto, chamado de ''Para a paz, não há impedimento'', tenta sensibilizar o torcedor para que haja menos violência dentro de campo.

Aí vem o primeiro clássico do Paulistão, a primeira goleada e o mundo cai. No sábado, o Centro de Treinamento do Corinthians é invadido, jogadores são agredidos moral, verbal e fisicamente. Os atletas se reúnem e passam a debater se entram ou não em campo no final de semana. A diretoria corintiana pede cancelamento da rodada.

Chega a noite, os times entram em campo. No domingo, o que ainda resta do time do Corinthians enfrenta a Ponte Preta, outra equipe que foi ameaçada pelos torcedores.

Mas e aí, cadê a tal da bandeira pela paz? Em campo, os auxiliares dos árbitros seguem com o instrumento levantando a bandeira pela paz. Mas e fora dele, o que faz a entidade que organiza o campeonato atingido diretamente pela barbárie?

Pois é, a iniciativa parece ter ficado só na bandeira…

A situação está atingindo o nível do insustentável, para dizer que o copo já não transbordou há tempos.

A bandeira pela paz parecia uma boa iniciativa. Quando ela fica apenas na iniciativa, de nada adianta. Até quando a Federação Paulista de Futebol vai ficar só no discurso, sem fazer nada que realmente mude a cara do futebol do qual ela depende para existir?


Super Bowl deve superar US$ 200 milhões em vendas
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Erich Beting

Dois finalistas relativamente populares, uma cidade internacionalmente reconhecida e ávida pelo consumo e um clima frio, que leva as pessoas para dentro de centros de consumo. Em meio a esse cenário, a NFL, liga de futebol americano, projeta vender mais de US$ 200 milhões (R$ 482 milhões) em produtos alusivos ao Super Bowl XLVIII, que acontece no próximo domingo, em Nova York.

A cifra, segundo a liga, é factível. Há três anos, as vendas chegaram aos US$ 200 mi. Agora, turbinada por Nova York, a expectativa é de, pela primeira vez, quebrar essa barreira.

Para isso, os organizadores criaram uma espécie de ''Experiência do Super Bowl'' em plena Broadway, um dos pontos mais movimentados e visitados de Nova York. Em alguns quarteirões, as pessoas passam e se divertem com várias brincadeiras ligadas ao evento. E, claro, consomem. Só os sete dias em que esse parque a céu aberto funcionará devem gerar uma parcela desses milhões para a NFL.

No dia do jogo, o frio é o aliado da liga. A expectativa é de que a loja no Metlife Stadium seja um abrigo para boa parte dos fãs. Com isso, aumenta-se o consumo pela necessidade de o torcedor se esconder do frio.

A situação reflete bem o que é a essência do esporte como negócio. Em apenas um jogo, a NFL conseguiu um faturamento que é maior do que a receita anual de qualquer entidade esportiva no Brasil…


Santos usa goleada para conversar com 5óc1o
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Erich Beting

Uma mensagem pelo telefone celular para os mais de 54 mil sócios foi a maneira encontrada pelo Santos para provocar seu torcedor após a goleada de 5 a 1 sobre o Corinthians. Nesta tarde, o clube enviará três diferentes mensagens de texto para os sócios-torcedores para comentar o resultado obtido na última quarta-feira.

Todas elas fazem um trocadilho da palavra sócio com o placar do jogo. Na mensagem, o torcedor é chamado de 5óc1o, em ligação direta com os 5 a 1 da partida. O mais interessante é a mensagem para o torcedor inadimplente do programa, que é instigado a voltar a contribuir com o clube (veja detalhes aqui).

A ação, simples, é a típica prova de como é importante, hoje, o departamento de marketing dos clubes ser pró-ativo na relação com o torcedor. Não apenas quando as coisas acontecem bem, como é o caso de agora do Santos, mas para criar um vínculo permanente de canal aberto com o consumidor.

Foi esse um dos segredos do Inter na escalada dos sócios-torcedores, lá em 2006. À medida que o clube ganhava, o sócio-torcedor recebia SMSs do presidente do time na época, Fernando Carvalho. As mensagens foram criando uma corrente, o que fez com que mais pessoas se aproximassem do clube.

A paixão do torcedor pelo clube faz com que o futebol seja um dos poucos meios em que o nível de fidelidade do consumidor seja tamanho que, aquilo que facilmente seria considerada uma mensagem indesejada caso fosse enviada por qualquer empresa, vira motivo de orgulho para o receptor da mensagem.


Fifa tenta apertar o controle sobre transferências
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Erich Beting

A Fifa divulgou no início desta quarta-feira o seu relatório anual de transferências de atletas. O resumo da ópera é o seguinte: em 2013, foram 12.309 transferências internacionais de jogadores, que movimentaram US$ 3,7 bilhões. Nesses negócios, as comissões pagas a intermediários dos negócios somaram US$ 216 milhões.

A divulgação dos números, coincidentemente um dia após o pai de Neymar ir à ESPN tentar explicar a inexplicável equação da transferência do jogador do Santos para o Barcelona, faz parte de um trabalho cada vez maior da Fifa para tentar impedir casos como o que envolveu o atleta brasileiro.

Desde 2007, a Fifa criou uma empresa que é responsável pela fiscalização de todas as transferências internacionais de jogadores. Como a entidade é quem valida essas transações, ela passou a fazer um controle mais rígido sobre os negócios. A ideia é, entre outras coisas, começar a reduzir um dos grandes problemas que existem na transferência de atletas, que é, como prova o caso de Neymar, o pagamento a terceiros de somas vultuosas de dinheiro sem o devido registro disso. Afinal, pensando com a cabeça da entidade que é responsável pelo futebol, não faz sentido um dinheiro sair de um clube e ir parar na mão de alguém que não reinvestirá essa grana no desenvolvimento do esporte. Isso, no médio e longo prazo, joga contra o próprio futuro da modalidade.

Por conta dessas e de outros fatores, a Fifa tem estudado, sistematicamente, a transferência de jogadores pelo mundo. Mais do que isso, a entidade estuda um meio de controlar de forma ainda mais precisa o que entra e o que sai na ida e vinda de um atleta de um clube a outro. Até mesmo parceiros comerciais foram chamados nos últimos tempos para conversar sobre o tema. A ideia é usar o conhecimento de algumas empresas em organizar transações para que se regulamente ainda mais qualquer transferência.

Mas o caso de Neymar ilustra bem como o controle é muito falho, por mais que ele tente ser melhorado. Quando o presidente de um clube aceita pagar 40 milhões de euros por fora para assegurar que terá um atleta, não há controle de transferência que faça esse negócio ser regulamentado. Por mais legal que ele seja, é amoral. E não haverá software capaz de garantir que isso não aconteça.

Só para se ter uma ideia, a ''indenização'' paga a Neymar pai pela saída do seu filho para o Barcelona representa 25% de todo o montante registrado como intermediação de negócio em mais de 12 mil transferências!

Não por acaso, a negociação de jogadores é hoje um dos negócios mais lucrativos do mundo, tanto que há diversos fundos de investimento criados com esse propósito. Por mais controle que a Fifa tente fazer sobre isso, a solução só vira quando os clubes estiverem profissionalizados num nível que não permita a transação de atletas fora de um ''marco regulatório'' universal.


Get Lucky
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Erich Beting

A febre de compartilhamentos nas redes sociais dos últimos dias é a apresentação feita no último domingo pelo grupo Daft Punk (em conjunto com Pharrell Williams, Nile Rodgers e Stevie Wonder) da música ''Get Lucky''. A performance sensacional de todos durante o Grammy, a maior festa de premiação do universo da música, foi daquelas de deixar gravado na memória de quem pode acompanhar um momento desses (para quem não viu, vai o link no fim do texto).

Mas o que raios isso tem a ver com marketing esportivo?

O fato é que a maneira como rolou o show para ''Get Lucky'' mostra que todos ali se ''deram bem'', como pede a música em seu título, mas dentro de um conceito completamente diferente daquele ao qual estamos acostumados. Para se dar bem, houve ensaio, testes, preparação, concentração, antecipação de ideias, junção de ritmos, etc.

E aí entra a questão do marketing e da gestão do esporte no Brasil como estamos acostumados a ser. Culturalmente, somos o país do improviso. Talvez nenhuma outra nação no mundo seja tão hábil em usar o talento para superar as adversidades. Nós nos damos bem em cenários em que o restante dos povos, quase sempre, não consegue sequer sair do lugar. É o tal do ''jeitinho'' brasileiro, que pode ter diversas interpretações, mas que, no fundo, é algo que revela de forma cristalina a forma com a qual estamos acostumados a trabalhar.

E nessa base do improviso, chegamos, após seis anos e meio, à Copa do Mundo. A primeira grande prova pela qual teríamos de ter passado enquanto nação. E, a menos de cinco meses do Mundial, o que apresentamos? Só temos um estádio pronto dos seis que ainda faltam para o evento. Não cumprimos a agenda prevista para a melhoria na mobilidade urbana, também deixamos de lado reformas importantes que poderiam acontecer no setor hoteleiro e, também, não soubemos projetar de forma positiva a imagem do Brasil a partir do evento.

Ficamos à espera de ''nos dar bem'', sem entender que, para isso, é preciso ser mais eficiente no dia-a-dia, sem confiar tanto no improviso, sem deixar tanto para o talento superar a falta de planejamento. A performance de ''Get Lucky'' no Grammy só confirma o estilo americano de planejar um evento de entretenimento. É preciso ser impecável, do começo ao fim, para que na hora, em vez de ''tudo dar certo'', tudo ser ''simplesmente fantástico''.

Domingo boa parte dos televisores nos EUA estarão ligados na final do Superbowl, o campeonato de futebol americano. Uma parte maior ainda de pessoas estará com o olhar grudado na tela na hora do show de música no intervalo da partida. Faz parte do negócio, é uma forma a mais de entretenimento, é um jeito de ampliar o alcance do evento, que se torna a cada dia mais mundial, apesar de o esporte só ser de fato popular em terras americanas.

Não interessa se é no Superbowl ou no Grammy, o americano sabe como poucos trabalhar para gerar nas pessoas o maior entretenimento possível. Esse seria um dos grandes aprendizados brasileiros com a Copa do Mundo. Levar, a um novo patamar, a nossa relação com o futebol. Preocupar-se com a qualidade do espetáculo, com a qualidade do serviço oferecido ao público, trabalhar para fazer do evento uma festa sem igual.

Só assim é possível se ''dar bem'', sem qualquer alusão pejorativa ao termo. Enquanto isso, o único jeito é olhar o ''Get Lucky'' e procurar entender de que forma fazer para nos darmos melhor no segundo teste que teremos, em 2016. Para este ano, infelizmente, a Copa do Mundo sairá ainda com a característica do ''jeitinho'' brasileiro. Sem dúvida será um evento muito legal. Mas duvido que provocará, nos jogadores, o mesmo que essa apresentação de ''Get Lucky'' conseguiu fazer nos grandes nomes da música popular mundial.

Era com esse pensamento que deveríamos ter começado a jogar a Copa do Mundo, lá no fim de 2007, quase comecinho de 2008. Temos capacidade para realizar, mas só com o talento, é impossível se dar bem. Alguém acha que Daft Punk, Pharrell Williams, Nile Rodgers e Stevie Wonder só foram sentar no mesmo palco naquela hora de fazer a performance para o show? Por mais talento que eles tenham, seria impossível sair algo de tamanha qualidade assim. E esse foi o grande bonde perdido pelo Brasil na Copa de 2014…