Negócios do Esporte

A TV influencia o esporte. Em qualquer lugar
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Erich Beting

Uma das grandes reclamações que existem no mercado brasileiro é a influência que a Globo exerce sobre o esporte. Sem sombra de dúvida, a emissora hoje é um dos se não o principal ator do esporte no país. Mas o fato é que a força da televisão sobre o esporte é gigantesca. E em qualquer lugar.

Na última segunda-feira, o ''Sports Business Journal'', principal publicação especializada em negócios do esporte dos Estados Unidos, publicou sua tradicional lista das 50 personalidades mais influentes do esporte por lá. O ranking é uma espécie de acariciador de egos da indústria esportiva mais desenvolvida do mundo, mas também serve para explicar, bastante, o jogo de poder que existe no esporte por lá.

Pois bem. O ranking divulgado nessa semana traz como pessoas mais influentes do mercado esportivo americano Randy Freer e Eric Shanks, presidentes, respectivamente, do Grupo Fox e do Fox Sports. Os dois foram eleitos como personalidades que mais poder exercem sobre o futuro do esporte nos EUA neste último ano. Em terceiro lugar do ranking está o presidente da ESPN por lá, John Skipper.

A presença de personalidades da mídia na liderança dessa lista não é novidade. Desde 2004, quando ela foi criada, diversos membros de diferentes veículos de comunicação estiveram no topo. A TV é, em todo mercado em que o esporte esteja mais ou menos evoluído no esporte como negócio, a principal financiadora e, logicamente, maior meio de divulgação e massificação do esporte.

Mas a diferença básica desse ranking é que ele mostra que, no mesmo nível de competitividade em influência da mídia nos Estados Unidos estão as entidades esportivas. O vice-líder este ano da Sports Business Journal é Roger Goodell, manda-chuva da NFL. Em quarto lugar estão David Stern e Adam Silver, da NBA, e em quinto Bud Selig, da MLB, a liga de beisebol.

Esse é o grande abismo que existe entre o esporte nos EUA e no Brasil. Por lá, o negócio se tornou muito maior porque quem está no comando das entidades esportivas são pessoas que têm compromisso em rentabilizar o negócio, atrair mais torcedores e, claro, gerar maior entretenimento a partir do evento. 

Por aqui, a balança do profissionalismo pende muito mais para os detentores dos direitos de transmissão. A influência não está apenas no dinheiro, mas também no grau de conhecimento técnico para negociações. Se, lá, as ligas forçam ao máximo para ganhar mais verba e exposição da TV, por aqui aceita-se o dinheiro que se tem a oferecer e não se consegue impor as regras do jogo. Fala mais quem paga mais.

Se houvesse um ranking das personalidades mais influentes do mercado esportivo no Brasil, provavelmente os cinco primeiros lugares teriam executivos de televisão. Se não todos os postos, mas a maioria deles estaria com a mídia.

A balança precisa, urgentemente, ficar mais equilibrada. Não há nada de errado em a TV ser forte. Pelo contrário. Ela é quem traz muito dinheiro e promove grande exposição para um esporte. Só que ela não pode, como acontece no Brasil, ser quem determina o que é visto e quando é visto na telinha.

Afinal, isso faz com que ela não seja apenas influente, mas também a principal dona do negócio…

Tags : Globo TV


Até quando?
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Erich Beting

Hoje seria dia para falar sobre os erros e acertos de quem ganhou e perdeu no Brasileirão. Ou, então, de enfatizar o estágio ainda de semiprofissionalismo em que alguns times do futebol no país se encontram e que explicam, em parte, como o campeão de 2012 é rebaixado em 2013 no campeonato. Ou como um clube recém-promovido da Série B consegue chegar em terceiro lugar no ano seguinte apenas por fazer o dever de casa, enquanto os clubes, na sua maioria, enchem os cofres de dinheiro, mas os esvaziam com a rapidez e a irresponsabilidade de um estagiário em seu primeiro salário.

Mas, para variar, uma briga generalizada na arquibancada de uma partida tirou o brilho de um campeonato que teve a constelação cruzeirense campeã, mas que pouco, ou quase nada, brilhou.

Campeonato que ficou marcado pelos jogadores sentados nos chãos, de braços cruzados, trocando bola por quase um minuto, dando um recado mais do que sabido a quem (des)gerencia o futebol brasileiro.

Campeonato que teve como eclipse um jogo paralisado por mais de meia hora por conta de uma briga que terminou em feridos hospitalizados e cenas que chocaram quem ainda acha que futebol é algo para se divertir.

O problema não é essas imagens rodarem o mundo e colocarem mais uma vez em questão o que acontece com o país que abrigará a Copa do Mundo daqui a quase sete meses.

O problema é que essas imagens não são novidade há pelo menos 20 anos no país que se orgulha de ser ''do futebol'' e único pentacampeão do mundo.

Para quem é fanático pelo esporte, como sempre fui desde pequeno, não serve o rótulo de que ''é só futebol''. Mas para quem é fanático em trabalhar com esporte, como me tornei ao longo dos últimos 13 anos, não serve também o rótulo de que ''isso é o futebol''.

Em 2000, quando as arquibancadas de São Januário cederam na final da Copa João Havelange, parecia que aquele seria o início do fim.

Fim das gestões amadorísticas e popularescas personificadas na figura de Eurico Miranda.

Fim do descaso com o conforto e a segurança daquele que é o financiador do futebol, que é o torcedor.

Fim do ''diz-que-diz'' da mídia que posa de boa moça e paladinos da justiça quando essas brigas rolam pela arquibancada, mas que é a primeira a querer criar polêmicas vazias às vésperas de jogos só para ''dar audiência'', sem se preocupar com o peso das palavras, escritas ou faladas, que arrotam antes das decisões e criam o clima beligerante para quem vai ao jogo.

Fim do despreparo de quem vai trabalhar com a segurança de uma partida de futebol, seja ela pública ou privada, sempre tratando o torcedor como transgressor antes mesmo de uma pretensa infração à lei.

Fim dos torcedores que atuam em bando, transformando-se de garotos responsáveis em bárbaros sanguinários, no melhor estilo ''O Senhor das Moscas'', escrito em 1955 (!) por William Golding.

Mas já se vão 13 anos de São Januário e, ao que tudo indica, o futebol no Brasil continua parado no tempo. Sim, evoluímos consideravelmente em diversos aspectos, mas alguns princípios básicos de gestão continuam num Período Pré-Cambriano.

As receitas dos clubes infladas por novos acordos de televisão e material esportivo mascaram o que há de mais arcaico na gestão do futebol, que é o relacionamento com o torcedor. Ir a um estádio de futebol é, antes de um programa, uma aventura. Não há conforto, não há segurança, não há tratamento do torcedor como consumidor, mas como um operário dentro de uma fábrica inglesa do século XVIII, sem quaisquer condições humanas de tratamento.

Em 15 de abril de 1989 (!), a Inglaterra teve de assistir à morte de 96 torcedores por negligência policial e despreparo de relacionamento com o público para começar a mudar a realidade do tratamento com a torcida de futebol no país.

Reportagem de hoje do diário Lance! mostra que já são, desde 1988, 234 mortos em confrontos de torcedores no pretenso ''país do futebol'' (leia aqui). Já temos quase três tragédias de Hillsborough nos últimos 25 anos e nada, absolutamente nada, foi feito para melhorar e conter esses números.

Está claro que o problema não é só da torcida organizada. Hoje, a epopeia de um torcedor para conseguir chegar a um estádio de futebol para acompanhar seu time já dá motivos suficientes para ele adentrar a arquibancada com a cabeça cheia, querendo extravasar todo o mau trato sofrido pelo caminho. Dentro do estádio, nada é feito para melhorar o humor desse torcedor, que só tem a partida em si e o torcedor rival para descarregar a angústia, a frustração e o stress ao qual ele foi submetido nas horas anteriores.

O torcedor briguento não é vítima, mas também não é o único vilão nessa história.

Até quando teremos mortes e violência povoando um ambiente que pretensamente deveria ser de confraternização?

A história da evolução humana mostra que o esporte é um meio de representar, de forma civilizada, o que antes era manifestado em guerras e conquista de povos. Hoje parece que o meio não consegue mais absorver esse conceito.

A história da involução do futebol no Brasil mostra que o esporte é, cada vez mais, um reflexo do processo de desconstrução da vida em sociedade que boa parte do país vive. A intolerância ao outro que encontramos nas grandes cidades é refletida na arquibancada de um estádio.

O problema é que ela é transmitida ao vivo para milhões de pessoas, enquanto que nos faróis, no trânsito, no pedido de esmola, não há narração, comentários e mesas-redondas para debater os principais lances da barbárie.

A violência no futebol tem de acabar, mas é preciso, antes de mais nada, que o país passe a ser mais consciente de que a sociedade tem de dar um basta na violência.

No futebol, há 25 anos que mortes e confusões são parte de uma dura realidade. Para quem trabalha com isso, parece que é hora de dar um basta. Se não for pelo princípio básico de vida em sociedade, que seja pelo bem de quem quer continuar a trabalhar nessa indústria.


Acidente em Itaquera reduz contato da mídia com empresas
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Erich Beting

O acidente com vítimas fatais na Arena Corinthians no último dia 27 de novembro afetou uma série de eventos que estava programada para a imprensa na Costa do Sauípe (BA), onde acontece o sorteio dos grupos da Copa do Mundo. Durante os três dias de relacionamento mais intenso da mídia com os patrocinadores e executivos da Fifa, quase nenhuma empresa teve oportunidade de realizar eventos com os jornalistas.

A única exceção foi a Sony, que ontem (quinta-feira) fez uma apresentação do ''Campo Sony'', projeto idealizado pela empresa para o Mundial. Todos os demais parceiros comerciais da Fifa não tiveram a oportunidade de realizar eventos para os jornalistas, que é um dos meios de as marcas propagarem suas campanhas relacionadas à competição.

Segundo o blog apurou com diversas empresas presentes no Sauípe, a Fifa e o COL (Comitê Organizador Local) acharam mais prudente não proporcionar tantos momentos de contato dos jornalistas com as marcas. A ideia, assim, era evitar que fossem feitas muitas perguntas relacionadas ao acidente que matou duas pessoas e paralisou por alguns dias a obra no local.

A ''blindagem'' aos jornalistas frustrou algumas marcas. Pelo menos dois parceiros tiveram de repensar os planos para relacionamento com a imprensa no Sauípe pela decisão, o que deve fazer com que novos eventos sejam feitos para apresentar seus projetos.

Mesmo com a decisão, diversos patrocinadores aproveitaram o centro de mídia instalado no complexo de hotel para poder se relacionar com jornalistas. Na quinta-feira,vários executivos estavam no espaço concedendo entrevista para os diferentes veículos.

A medida de segurança, porém, não impediu que perguntas sobre Itaquera fossem feitas nas coletivas de imprensa com executivos da Fifa. Durante os três dias em que houve um relacionamento direto entre dirigentes e jornalistas, perguntas sobre o acidente foram feitas constantemente.


Rio recua, e Fan Fest deve ir para o Sambódromo
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Erich Beting

Uma reunião na semana que vem no Rio de Janeiro deve selar a mudança de local do Fan Fest do Rio de Janeiro. A praia de Copacabana, que já abrigou o espaço para torcedores sem ingresso durante o Mundial de 2010, deve ser substituída pelo Sambódromo.

O motivo para a mudança envolve diretamente o receio do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de que o local seja tomado por manifestações.

Há cerca de dois meses há uma disputa nos bastidores envolvendo a prefeitura fluminense, a Fifa, o Comitê Organizador Local da Copa e os sete patrocinadores do espaço.

Com medo dos protestos, Paes decidiu tirar o investimento que seria feito pela prefeitura para que o local esteja apto a receber turistas e brasileiros sem ingresso para os jogos. Nos últimos meses, tentou repassar a conta, principalmente com a segurança, para os patrocinadores.

Paes argumenta que não é possível gastar mais dinheiro público com a Copa do Mundo. Com isso, tentou repassar aos patrocinadores a conta que seria da esfera pública, segundo o contrato firmado com a Fifa. Há poucos dias, os patrocinadores se reuniram e decidiram que não cederiam à pressão do Rio. Com isso, bateram o pé de que não iriam colocar mais dinheiro do que haviam colocado no Fan Fest.

A solução que agora se aproxima é mudar o Fan Fest para o Sambódromo, local em que o controle do acesso das pessoas é mais fácil de ser feito do que na praia.

O problema, agora, é convencer os patrocinadores. O Fan Fest em Copacabana era considerado um cartão postal para a Copa do Mundo no país. Se mudar para o Sambódromo, além de deixar mais difícil o acesso do turista estrangeiro, diminuirá bastante o impacto midiático da ação.

A decisão deverá sair nas próximas semanas.|


Visa coloca Paolo Rossi e Zidane para campanha da Copa
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Erich Beting

A Visa decidiu radicalizar a comunicação para a Copa do Mundo de 2014. A empresa de cartões de créditos decidiu colocar como principais protagonistas da campanha publicitária para o Mundial os dois maiores carrascos do futebol brasileiro nas últimas décadas.

O italiano Paolo Rossi (Copa de 82) e o francês Zinedine Zidane (Copas de 1998 e 2006) são os protagonistas da campanha que começa nesta quarta-feira por meio de um comercial de televisão e se espalha via redes sociais.

O vídeo, ao qual o blog teve acesso, traz um barbeiro que recebe Rossi como cliente. O dono da barbearia só reconhece o jogador italiano quando ele lhe entrega o cartão de crédito. Ao ler o nome no cartão, o barbeiro volta ao passado, e se recorda de, naquele mesmo local, ter presenciado a decepção dele e de seu pai com os três gols que tiraram a seleção de 1982 da Copa. Ao voltar para o ''mundo real'', o personagem devolve o cartão e diz ''Volte sempre, Paulinho''. Em seguida, entra outro cliente no estabelecimento. Para espanto do dono, é o francês Zidane, que é recebido com certa resignação pelo barbeiro.

A brincadeira com os dois maiores carrascos do Brasil tem dois objetivos principais. O primeiro é fazer com que a campanha consiga ter alcance mundial e fazer a Visa ser reconhecida como patrocinadora do Mundial. O segundo é reforçar o conceito da marca, de que todos são benvindos.

''A Copa do Mundo do Brasil é a Copa das Copas. Os ingleses podem até não concordar muito com isso, mas é isso o que o mundo espera, afinal aqui é o país do futebol. O conceito criativo dessa campanha tenta captar aquilo que o Brasil oferece ao torcedor e o que a Visa também pode oferecer. O brasileiro é muito hospitaleiro, ele trata bem todo mundo. Até mesmo o Zidane ou o Paolo Rossi. A mesma coisa acontece com quem usa nosso cartão. Ele está seguro, se sente bem recebido'', afirmou ao blog Adrian Farina, vice-presidente sênior de marketing da Visa para América Latina e Caribe.

A ideia da marca é fazer com que a Copa sirva de trampolim para que as pessoas lembrem-se dela após o torneio. Líder no mercado nacional e tendo o Brasil como o segundo maior mercado das Américas após os Estados Unidos, a Visa aposta no torneio brasileiro para ampliar a liderança e, também, contar uma história.

''Queremos impactar o consumidor a partir do conteúdo. E fazer com que ele se lembre da marca. Hoje, o consumo da informação mudou radicalmente. A pessoa não se lembra mais como ela consumiu um determinado conteúdo, mas se lembra do que ela viu. É isso que queremos fazer'', complementou Farina.

Por conta disso, a agência de publicidade Almap desenvolveu um processo criativo que tinha como base criar as redes sociais. A ideia é fazer com que a campanha tenha alto potencial de compartilhamento pelos meios virtuais, especialmente YouTube e Twitter. Tanto que, no orçamento do projeto, 30% da verba será gasta com ações pelas redes sociais.

''Quando pensamos na campanha, tentamos sempre imaginar se ela tem o potencial de compartilhamento. Eu sempre olho e penso se é o tipo de produto que eu repassaria aos amigos e qual o papel da marca para contar essa história. Se as pessoas não falam, não vai para a frente. Por isso a campanha tem de ir além da mídia paga. Ela tem de ser uma história legal que as pessoas associam à marca da Visa quando veem'', disse Ricardo Fort, diretor global de patrocínios da Visa e que negociou com Zidane e Rossi para serem os garotos-propagandas.

Coincidentemente, a campanha da Visa bebe da mesma fonte do ''Fantasma del 50'' criado pela Puma. A marca também se vale de momentos trágicos do Brasil na Copa para tentar captar a atenção do consumidor e, mais do que isso, tornar a história engraçada e, dessa forma, viral na internet.

Numa publicidade recheada de dribles, pedaladas e gracejos desde os anos 90, mexer com a dor do brasileiro nos Mundiais parece ser a grande novidade para 2014.

E, com certeza, é o tiro mais do que certeiro para que não se fique na mesmice. Assim como no caso da Puma, a grande sacada da Visa não foi apenas fazer humor ao recontar histórias trágicas do Brasil em Copas. Foi conseguir unir o que a marca oferece para o consumidor e transmitir uma mensagem.


Corredor de rua vira o “garoto mimado” das marcas
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Erich Beting

A venda de calçados costuma ser o maior negócio de uma empresa de material esportivo. No balanço dessas empresas, a comercialização de tênis corresponde a uma fatia importante do faturamento. No mercado brasileiro de esporte, isso causa uma interessante situação. O corredor de rua se transforma num ''garoto mimado'' pelas marcas. Ainda mais se ele for um atleta com performance acima da média.

Com o crescimento das corridas de rua no país, impulsionadas pela marca de mais de 3 milhões de atletas amadores, o corredor de elite vira o objeto de desejo das marcas. Falar com esse cara é, na estratégia para a venda de calçados, uma parte importante do negócio.

Há cinco anos, o mercado brasileiro para esse atleta era basicamente dividido em duas marcas. Asics e Mizuno. As duas fabricantes de origem japonesa eram as reconhecidas pelos corredores como fabricantes de tênis bom para corredor. Adidas e Nike, que quase sempre lideram os diferentes segmentos e modalidades esportivas, ficavam num segundo plano.

Em 2009, com a criação da Nike 600k, o cenário mudou. Ao fazer uma prova que saía de São Paulo e chegava no Rio de Janeiro, a marca americana obrigou esses atletas de ponta a testarem, na prática, seu produto. O negócio deu tão certo que participar da ''maior prova de revezamento'' do mundo passou a ser objeto de desejo de muitos desses caras ''da elite''.

O aparecimento da 600k revolucionou esse mercado. As marcas japonesas precisaram começar a sair da inércia e redobrar a atenção com o corredor considerado ''formador de opinião''. O resultado foi o surgimento de ideias cada vez mais malucas para que esses atletas testassem as marcas e os próprios limites.

A Asics criou o circuito de meias-maratonas rápidas, o Golden Four. Nesse desafio, os atletas se pegam para ver quem é mais veloz nos 21km, em quatro corridas nas cidades que mais têm corredores de rua (São Paulo, Rio, Brasília e Porto Alegre). A prova vai, em 2014, para a sua quarta edição. Nos quilômetros acumulados na bagagem, o atleta geralmente coloca uma dessas etapas da Golden Four como a responsável pelo melhor tempo da vida numa prova de 21km.

Agora, a novidade ficou por conta da Mizuno, que realizou no último sábado a Mizuno Uphill. A prova foi uma maratona em que o desafio foi subir a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina. Coisa de maluco. A inclinação da serra, as curvas em 180° e, para piorar, o frio e a garoa que tomaram conta da região no sábado foram ingredientes para que o corredor não apenas testasse os produtos da marca como os próprios fantasmas em suas cabeças. Na prova, apenas 50 atletas convidados. Todos conseguiram terminar, alguns não tão inteiros, mas sobreviventes, como fazia questão de destacar a marca na camisa comemorativa pós-prova.

A briga entre as marcas acabou criando uma nova geração de atletas de corrida de rua no país. São os ''garotos mimados'', que são a todo instante procurados pelas empresas para testarem seus produtos e levarem suas impressões para a massa maior de corredores. Ter o respeito desse atleta é o caminho para uma marca aumentar as vendas no médio prazo.

Nos países em que a corrida se tornou popular, como Estados Unidos e até mesmo Inglaterra, esse tipo de ação já não faz mais parte da estratégia das marcas. Por aqui, ainda é importante falar com a elite da corrida. Não por acaso, muitos dos participantes da Uphill eram ex-corredores da 600k e de outras provas programadas para o atleta de ponta da corrida.

A dúvida é se, com tanta marca na cabeça, ele vai se lembrar de recomendar uma de preferência para os pés. Até lá, as fabricantes seguem buscando ideias mirabolantes para atrair o corredor. Quase como uma avó que tenta ganhar o neto pelos mimos que só ela é capaz de dar…


Camisa amarela do Palmeiras acaba. E não deve ser reposta!
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Erich Beting

Em meio à polêmica sobre o uso de uma camisa muito similar à da seleção brasileira, Adidas e Palmeiras celebram o sucesso de vendas do modelo amarelo, lançado no jogo em que o clube comemorou a volta à Série A do Campeonato Brasileiro, contra o São Caetano, dia 26 de outubro.

Só que o estouro das vendas está próximo de causar um problema para a fabricante e o clube.

Em diferentes movimentos nas redes sociais, torcedores reclamam que não conseguem mais ter acesso ao modelo. Nas principais lojas de comércio eletrônico, apenas o tamanho P da camisa está disponível para adultos. Já no site oficial da Adidas, não há mais a camisa amarela à venda, apenas algumas modelagens infantis e feminina.

Oficialmente, a Adidas informa que o estoque de camisas acabou. A empresa diz que não há, por enquanto, previsão para que novas camisas sejam produzidas.

Procuradas pelo blog, duas marcas poderosas de e-commerce no mercado brasileiro confirmaram ao blog que solicitaram à empresa novas remessas do uniforme. Nos dois casos, a Adidas não informou se haverá mais camisas para serem vendidas.

O caso revela o quão amadora continua a relação do clube com o fornecimento de material esportivo para o mercado.

A menos de um mês do Natal, um produto é sucesso de vendas, a demanda pela compra continua a existir e simplesmente o fabricante não planeja colocar novamente o produto à venda. Nessa equação, fabricante, clube e torcida saem perdendo.

Se ainda estivéssemos no período em que Adam Smith escreveu ''A Riqueza das Nações'', tal comportamento seria aceitável, apesar de já condenável por alguns olhares mais atentos do que foi o berço do capitalismo. Como já se vão 237 anos desde que Smith começou a lançar esse conceito, é um tanto quanto surreal acreditar que isso ainda exista. Ainda mais quando envolve a marca esportiva líder do mercado de futebol no mundo e o clube com a quarta maior torcida do país.

Como sempre falamos aqui no blog, há um problema grave na indústria do futebol brasileira de falta de conhecimento do mercado. Quem são, de fato, os consumidores de um clube? O quanto eles consomem? Em que épocas? A quais valores?

Essas respostas simplesmente não existem para um clube de futebol no país. Afinal, quanto dinheiro a Adidas e o Palmeiras deixam de ganhar por não ter o produto disponível para o consumidor? O sucesso das vendas é ótimo, sem qualquer dúvida. Mas o fracasso do planejamento da demanda de compra é muito mais assustador.

No Brasil, o fornecimento de material esportivo não é um negócio. A marca está num clube apenas para a exposição na camisa. O que os clubes ainda não perceberam é que isso é péssimo para eles.


Clubes enxugam ganhos em busca de renegociação de dívidas
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Erich Beting

A CBF decidiu iniciar um contra-ataque ao movimento Bom Senso FC e também iniciar uma tentativa de deixar mais suave o pagamento das dívidas que os clubes possuem. No último dia 24, a entidade publicou um relatório assinado pela ''Comissão Especial dos Clubes de Futebol Brasileiros'', encabeçada por Atlético-MG, Corinthians, Coritiba, Flamengo, Internacional e Vitória.

O documento (disponível neste link) faz uma projeção sobre as receitas dos 24 principais clubes de futebol do país e propõe um reparcelamento das dívidas da seguinte forma: 5% até 2015; 25% até 2021; 30% até 2027 e os 40% restantes até 2034. Além de considerar o ''enxuto'' prazo de 20 anos para o pagamento dessas dívidas, os clubes fazem uma projeção ao mínimo curiosa de elevação de receitas para os próximos anos.

Segundo o estudo, a projeção baseia-se em estudo recém-divulgado pelo Itaú BBA tendo como base os balanços financeiros de diversos clubes do Brasil e da América Latina.

O curioso, porém, é a projeção de receita futura que o estudo faz.

O primeiro item engraçado é o quanto os clubes consideraram como ''receita de TV'' nesse levantamento. O valor é referente apenas ao contrato com a TV Globo relativo ao Campeonato Brasileiro, excluindo-se o dinheiro recebido das demais competições.

Mas consideremos, então, apenas a previsão de receita geral apresentada no estudo. Por ela, em 20 anos os clubes de maior arrecadação do país vão apenas conseguir dobrar o quanto arrecadam atualmente. Nem o mais pessimista dos gestores poderia fazer tal projeção. Só para se ter uma ideia, desde 2008 o futebol brasileiro aumentou em cerca de 80% a sua arrecadação, sendo que o Corinthians saltou de R$ 181 milhões para R$ 358 milhões num período de quatro anos, um dos maiores saltos ao lado do Santos.

Num cenário com abertura de novos estádios, fortalecimento dos programas de sócio-torcedor e profissionalização dos departamentos de marketing dos clubes, é simplesmente absurdo achar que serão necessários 20 anos para dobrar a arrecadação atual dos times brasileiros.

Detalhe importante do estudo revelado pela CBF é que ele justifica que é preciso deixar menos duro o plano de renegociação das dívidas dos clubes uma vez que a capacidade de geração de receitas é baixa perto da proposta já apresentada.

É a velha história. A interpretação dos números pode muitas vezes trabalhar em favor de quem detém a informação. Nesse caso, claramente os clubes, que quase sempre são os mais otimistas na previsão de receitas, tentam mostrar que o cenário do futebol nacional não é esse conto de fadas que se imagina.

Seria interessante observar quais números seriam apresentados se a proposta não fosse para pagamento de dívidas, mas para ter um sócio-investidor dentro do clube…

 


Com invasão ao Rio, Nike tenta escrever o futuro. Para 2016
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Erich Beting

O evento de lançamento da camisa da seleção brasileira promovido pela Nike no último domingo, no Rio de Janeiro, teve um objetivo além de simplesmente preparar o terreno para a Copa do Mundo. Não é à toa a escolha da empresa americana pela Cidade Maravilhosa para apresentar as novidades relacionadas à seleção desde o começo do ano, quando Copacabana já havia sido escolhida como cenário para apresentação da camisa do Brasil na Copa das Confederações.

Patrocinadora dos Jogos Olímpicos de 2016, a Nike já prepara, a dois anos e meio do evento, o terreno para dominar a sede do maior evento esportivo do mundo. A estratégia é exatamente para evitar o que a empresa se acostumou a fazer em outros megaeventos esportivos.

Desde 2000 a Nike sempre viu a Adidas ser a patrocinadora das edições de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. As Olimpíadas de Sydney, em 2000, foram o último evento em que a marca americana teve relação direta com o comitê local. Em 2016, ela voltará a patrocinar uma equipe olímpica.

Nos anos em que esteve ''ausente'' dos eventos como patrocinador oficial, a Nike sempre adotou uma estratégia de ganhar terreno sobre locais estratégicos da sede. A tática consiste em chegar ao local muito antes de qualquer concorrente e, a partir daí, fazer com que o público tenha a impressão de que ela é soberana sobre aquele território.

Agora, a estratégia de usar o Rio de Janeiro como palco para as grandes ações da marca tem como objetivo exatamente evitar que, em 2016, outras empresas do segmento possam fazer a festa na praia da Nike. O evento de lançamento da camisa da seleção para milhares de pessoas no Aterro do Flamengo tem como objetivo não apenas apresentar o uniforme do time anfitrião da Copa do Mundo de 2014, mas já deixar o território marcado para a sede das Olimpíadas de 2016.

A Nike já escreve, agora, o roteiro do que fará em 2016. E o Rio, nesse sentido, parece que já começa a ter um dono.

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A mesa não vira mais. Mas se virar…
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Erich Beting

A mesa não deve mais virar no futebol brasileiro. Lá em 2003, quando Palmeiras e Botafogo tentaram, mas não conseguiram virar o jogo para corrigirem na marra o que não souberam fazer dentro de campo no ano anterior, o futebol brasileiro parece que entendeu que não caberiam mais viradas de mesa.

Não cabe porque não é bom para o futebol. Hoje, uma derrubada à força de Criciúma, Ponte Preta e Portuguesa, como revelou a repórter Camila Mattoso no site da ESPN (leia aqui), seria um estúpido tiro no pé de quem tenta subverter a lógica da bola com a (i) lógica da lei.

Desde a estraçalhada de mesa do Fluminense, em 1996, complementada com o Caso Gama, em 1999, que o futebol entendeu que pior do que ser rebaixado é tentar mudar as regras no meio do caminho para se beneficiar de uma ''não-queda''.

No atual cenário do futebol no Brasil, em que as marcas reduziram os investimentos por conta do alto preço que se paga pelo baixo retorno que se oferece, uma virada de mesa representaria jogar no lixo o restante de credibilidade que existe no futebol.

Para o mercado, a impressão que existe do futebol no Brasil é que hoje ele caminha da era amadora para uma era semiprofissional. Ou seja. Algumas, apenas algumas instituições começam a buscar um modelo gerencial mais profissionalizado, mas a grande maioria dos dirigentes e principais executivos segue com a mentalidade clubística, sem qualquer comprometimento com a gestão em si, apenas com o resultado esportivo. E a qualquer custo.

Virar a mesa é impensável nos dias de hoje pelo passado perverso que ela revelou após ser virada. A grande crise de investimentos em 2001 e 2002 no futebol do Brasil deixou claro que virar a mesa é um péssimo negócio. Mas, se os clubes decidirem virar a mesa, penarão pela próxima década tentando, de novo, recuperar uma imagem mais do que arranhada da confiabilidade de investir no futebol.

O futebol brasileiro não pode mais virar a mesa. Se sem ela já está mais difícil conseguir patrocínios, imagine depois?