Negócios do Esporte

Kalil, seu concorrente não é o Cruzeiro!
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Erich Beting

Caro Alexandre Kalil, se o senhor me permite, por favor leia essa singela carta a você.

Nós nos conhecemos em 2001, quando o senhor começou o que parecia ser um movimento de mudança no status quo do futebol brasileiro. Não sei se o senhor vai se recordar, mas fui um dos primeiros jornalistas de fora das Minas Gerais a querer fazer um perfil sobre o que pensava aquele que parecia ser um dirigente de uma nova geração da bola carcomida por duas CPIs, viradas de mesa e quetais.

Lembro-me, cristalinamente, que no meio da entrevista por telefone, de quase duas horas, o senhor me fez uma excelente pergunta. ''Por que eu?''. Era assim, simples e direta, com todo jeito de mineiro matuto desconfiado. Quando expliquei os motivos que nos levaram a nos interessar pela matéria, o senhor ainda brincou: ''Ah, então é jornalismo do bem, não é para me detonar''.

Na época o senhor andava desconfiado de que Eurico Miranda tentava de todas as formas criar arapucas para que o senhor caísse. O senhor implodia o Clube dos 13, acabando com a mamata de alguns executivos que não executavam e ainda comiam uma boa porcentagem do contrato de TV, lembra-se? Pouco depois que o senhor conseguiu derrubar um feudo, derrubaram-no, com uma ridícula punição imposta pelo STJD dominado pelos Zveiter, não é mesmo?

Lembro-me que fiquei muito feliz com sua volta triunfal ao mundo da bola na eleição à presidência do seu amado Atlético Mineiro, assim mesmo, sem a abreviação do MG. Era para mim o reaparecimento de uma figura que tinha desempenhado um importante papel para arejar as ideias arcaicas do Clube dos 13 lá no início do século. Mas o conto de fadas teve seu lado ruim ao anunciar uma de suas primeiras medidas, que foi a extinção do departamento de marketing do Galo, um dos mais pulsantes do Brasil até então.

O seu argumento era o de que ''marketing não serve para nada''. Tanto serve que nesta sexta-feira o senhor deu uma prova de quanto não ter um departamento de marketing atuante pode fazer mal para um clube. Por meio de seu perfil no Twitter, o senhor bradou: ''Bom Atleticano que sou, nunca mais entro no supermercado SuperNosso. Vamos radicalizar!''.

O senhor, pelo visto, ficou magoado pelo fato de o supermercado ter feito uma festa para o Cruzeiro apresentar o Dedé, seu novo contratado. Mas o que há de mal nisso, presidente? Veja só, o estabelecimento fez essa ação com um propósito muito claro. O senhor deve saber, já que não tem mais departamento de marketing no Atlético e é o senhor quem resolve tudo, que o Galo, assim como o Cruzeiro, faz parte do ''Movimento por um futebol melhor'', criado pela Ambev para tentar aumentar a receita dos clubes por meio da adesão de pessoas ao programa de sócio-torcedor dos clubes.

Pois bem, presidente, o SuperNosso é um dos supermercados mineiros que fazem parte dessa promoção. Quando o sócio-torcedor vai a ele, pode encontrar produtos com descontos para fazer compras. Com isso, ele se sente motivado a ser associado do clube. Na ponta final, ele dá dinheiro ao Atlético para poder ter vantagem de consumo no SuperNosso. Como é que o senhor pode querer incentivar a massa atleticana a não mais consumir, se isso pode trazer dinheiro para o clube?

É uma atitude furiosa no mínimo curiosa, não é mesmo? Além disso, presidente, o senhor não teria motivo para se preocupar com o Cruzeiro. Afinal, ele não é, em hipótese alguma, um concorrente do Atlético. Ele é, no máximo, um rival na disputa de um ou outro campeonato. Desconfio, aliás, que neste começo de ano nem isso preocupa, já que o Cruzeiro está ''relegado'' a disputar o Campeonato Mineiro que o senhor mesmo tanto despreza, e com razão, pelo objetivo mais apetitoso da Libertadores.

Por que privar-se de usar um supermercado só porque ele recebeu um time adversário? Por mais que seja O adversário, isso é o de menos. Afinal, nunca, em hipótese alguma, você vai disputar com o Cruzeiro a mente de um consumidor. Voltando à entrevista em que nos conhecemos, lembro-me do senhor dizendo como havia começado sua relação com o Galo, no momento em que veio ao mundo no dia do aniversário do clube.

Acho impossível que, alguma vez, o senhor tenha ficado em dúvida sobre qual cor de camisa iria escolher numa loja de esportes. O azul não passava nem perto, não é mesmo?

O seu concorrente, Kalil, é o cinema, é o teatro, é o videogame que faz o torcedor decidir investir seu dinheiro em outra atividade de lazer que não o Clube Atlético Mineiro. O Cruzeiro é mais um motivo para o torcedor desejar ainda mais o Galo. Leve o Ronaldinho a um supermercado, mostre que o atleticano é quem mais vai dar retorno para o estabelecimento e, assim, movimente a paixão do torcedor não apenas pelo resultado dentro de campo. Tudo isso seria facilmente aplicado caso o senhor tivesse um departamento de marketing dentro do Galo, presidente.

Mas, pelo visto, aquela ridícula punição do STJD levou embora a lufada de vanguarda que havia no senhor. Achar que um clube de futebol concorre com outro é tão arcaico quanto o Clube dos 13 que o senhor conseguiu modernizar ao criticar as absurdas comissões que eram pagas a pessoas que nada faziam pelos clubes.

Kalil, em vez de não ir ao supermercado, tente criar mais coisas para o torcedor do Galo. Pode apostar que ele estará ávido para consumir. E, com certeza, não terá a menor dúvida sobre qual cor de produto ele tem preferência…


O Cruzeiro inaugura a era da ativação no futebol?
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Erich Beting

O Cruzeiro apresentou Dedé numa loja de supermercado. O Cruzeiro justificou a apresentação com números. Desde o anúncio da contratação do zagueiro, o clube ganha cerca de 500 novos sócios-torcedores ao dia.

Como hoje a moda no futebol é tentar cumprir a meta estipulada pela Ambev de que os clubes consigam elevar para 3,5 milhões o número de sócios-torcedores, todas as ações das entidades têm sido voltadas para esse fim. Por isso a ideia cruzeirense de levar para o supermercado que é parceiro do projeto ''Movimento por um futebol melhor'' a apresentação de seu badalado jogador.

Mais do que apenas tentar turbinar o projeto dos sócios, o Cruzeiro pode ter inaugurado uma nova era para o futebol, muito comum no exterior e que por aqui ainda é muito pouco explorada. Cada vez mais os clubes precisam ativar suas propriedades. Ir à rua e levar para o cotidiano do torcedor seus acontecimentos.

Também nesta sexta-feira, na Inglaterra, o Chelsea e a Uefa fizeram uma ação para promover a chegada da taça da Liga dos Campeões da Europa a Londres. No próximo dia 26 de maio a cidade receberá a decisão do campeonato. Três dias antes do jogo, uma exposição montada pela Uefa estará aberta ao público. Hoje, pelo sistema de transporte público londrino, a taça deu o ''ar da graça'' ao consumidor local.

Esse tipo de ação abre um mercado gigantesco para o marketing esportivo no Brasil, uma vez que as instituições precisam de agências especializadas em realizar esse tipo de negócio. Por aqui, a expectativa é de que com a Copa do Mundo e as Olimpíadas o esporte aprenda como tirar melhor proveito de símbolos poderosíssimos que só ele tem e que pode ajudar, e muito, as marcas a faturarem mais.

Na Inglaterra, a agência Ear To The Ground foi quem fez toda a ação da taça da Champions, que fica até a final em Wembley em poder do Chelsea por ser o atual campeão do torneio.

No Brasil, o Cruzeiro e a Ambev prepararam a ação dos sócios. Uma mostra evidente de que há muito espaço para caminhar no mercado brasileiro.

Abaixo tem o vídeo com a ação feita por Chelsea e Uefa.


Banco do Brasil “abre” vôlei de praia para JAC
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Erich Beting

A JAC Motors será apresentada hoje como nova patrocinadora do Circuito Banco do Brasil de vôlei de praia (detalhes aqui). O negócio é o típico acordo que mostra o quanto o Banco do Brasil se tornou vítima do próprio sucesso que tem com o vôlei.

Com um dos mais antigos relacionamentos no esporte brasileiro (são 22 anos de aporte à CBV), o BB dominou de tal forma o esporte que precisa, agora, ''abrir espaço'' para outras marcas. Na seleção principal da quadra a necessidade é menor, mas na praia, o banco precisa trazer novas empresas para conseguir desafogar a modalidade.

Prova disso é que foi o próprio BB quem participou ativamente da negociação com a JAC para fechar o negócio. Para o banco, era preciso trazer uma nova marca para o vôlei de praia. O negócio atrai outras empresas para o esporte, injeta mais dinheiro para os atletas e, na ponta final do negócio, torna o evento mais atrativo tanto para o público quanto para a mídia. Como tem muitas propriedades sobre o circuito, naturalmente o banco pode abrir mão de algumas delas para ''lucrar'' mais com a aproximação de novas empresas.

Para a JAC, o acordo ajuda a construir a marca da empresa de forma mais efetiva. Patrocinadora do rúgbi, a JAC pouco consegue fazer em termos de massificação de sua marca. Com o vôlei de praia, consegue uma excelente plataforma de relacionamento com o público e também de exposição de seu produto. Como o circuito roda o país todo, a montadora consegue fazer ações locais, incentivando vendas e levando clientes para uma experiência diferente. Além disso, com a transmissão pela TV fechada, o carro da montadora exposto na arena ganha alcance nacional, gerando curiosidade sobre o produto.

Nesse processo de reconstrução do circuito brasileiro de vôlei de praia, a tendência é de que o BB abra ainda mais o esporte para outras marcas. E, no caminho de construção de marca no Brasil, a JAC provavelmente levará outras montadoras chinesas a investirem no esporte.


A imagem que denigre o futebol aos poucos
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Erich Beting

Aqui em São Paulo, a capa do diário ''Lance!'' desta quarta-feira, dia do decisivo jogo do São Paulo contra o Atlético-MG pela Copa Bridgestone Libertadores, evoca o personagem Jason, da famosa série de terror ''Sexta-Feira 13'', para fazer com que o Tricolor ''siga vivo'' na competição.

A ideia é ''ressuscitar'' uma brincadeira que deu certo em 2008, quando o São Paulo parecia que não conseguiria ser campeão brasileiro e conquistou o hexa. Mas o problema é exatamente esse. Ao mesmo tempo que apregoa uma brincadeira, ela incita, indiretamente, à violência.

Jason é um personagem agressivo. Nada parecido com o que sempre caracterizou o São Paulo. Historicamente, o Tricolor ficou conhecido como o ''Time da Fé'', aquele que consegue milagres e assim ganha títulos.

O símbolo usado para marcar essa ''fé'' foi o santo Paulo mesmo, simpático ''vovô'' com a camisa do clube. Ok, não é um personagem que hoje se aproxima do público jovem, mas também será que o Jason é o mais adequado? Afinal, a série de terror fez sucesso nos anos 80. Hoje, um jovem na faixa dos 20 anos de idade mal sabe o quão pavoroso era pensar em ''Sexta-Feira 13'' e Jason.

O fato é que a capa do jornal, em si, mostra o quanto os clubes de futebol abandonaram algo que sempre foi bem explorado no passado.

Por incrível que pareça, numa era em que o marketing está muito mais em voga dentro das instituições esportivas, o conceito de criação de identidade de uma marca e sua consequente  exploração está completamente em desuso. Os clubes simplesmente não trabalham suas marcas e subprodutos com os torcedores.

Era até concebível que, nos anos 60 e 70, a mídia embutisse apelido aos times. Sem um departamento de marketing, tendo os veículos de comunicação como únicos formadores de opinião e meios de consumo da informação, era até natural que a mídia fizesse ''pegar'' alguma característica do clube.

Hoje, com os clubes tendo em seus sites oficiais mais audiência do que muito portal de notícias, com departamentos de marketing estruturados, com oportunidade de lançamento de produtos licenciados e mais uma infinidade de temas relacionados ao consumo e formação de torcedores, o clube não pode largar à deriva sua marca.

Do jeito que está hoje, com raríssimos movimentos de preocupação em trabalhar o conceito de marca dentro dos clubes brasileiros, o futebol no país deixa uma sensação de que poderá, em breve, perder muito com esse sentimento violento que mesmo de forma subliminar o acompanha.

Não são apenas horários esdrúxulos, dificuldade em acesso ou pouco conforto que tiram o torcedor dos estádios. O local que deveria ser de confraternização das pessoas foi se transformando ao longo dos anos em pequenos reprodutores de períodos de guerra. Torcidas separadas por policiais, segmentação de espaço, insegurança dentro e fora do estádio… Sim, muito já melhorou, mas o abalo de imagem já está feito, ainda mais quando temos relatos recentes como os que envolveram torcedores nos últimos meses.

O futebol precisa de um choque na gestão de sua imagem. Os clubes quase sempre se preocupam em saber quantos torcedores têm, sem querer entender melhor como essas pessoas enxergam suas instituições.

Foi isso que fez, por exemplo, o Manchester United deixar em segundo plano o conceito de ''Diabos Vermelhos'' para enfatizar o ''Teatro dos Sonhos'' de seu estádio Old Trafford. É uma imagem muito mais receptiva às pessoas. Sim, os Red Devils continuam a existir e a gerar negócios (um deles, ótimo, com o vinho chileno Casillero del Diablo). Mas não são mais a principal característica do Manchester, que com isso tirou a imagem de violência que ainda hoje afeta o futebol na Inglaterra.

O futebol no Brasil está chegando num limite de abandono de imagem. Precisa repensar, urgentemente, de que forma são tratadas as marcas do clube e do próprio futebol. Do contrário, o Jason ressurgirá e seguirá assassinando as pessoas de bem que só querem curtir um momento de lazer quando pensam em futebol.


A grande mudança na CBF
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Erich Beting

Houve uma grande mudança no comando do futebol brasileiro com a troca de Ricardo Teixeira por José Maria Marin. Não me refiro, obviamente, ao tipo de presidente que passou a ocupar a cadeira na CBF, nem a uma nova mentalidade sobre como gerenciar o esporte mais popular do país e que por conta disso é o que mais movimenta dinheiro.

Afinal, a CBF continua a ser uma entidade controlada por poucos e para poucos, amparada por um sistema político que atrapalha, diretamente, na sustentabilidade do futebol como o mercado exige hoje, que não dá bola para nada a não ser para o time principal do Brasil, que faz conchavos entre presidentes de 27 federações para garantir um status quo moldado e viciado desde os tempos da ditadura militar.

O que mudou realmente desde o momento em que Teixeira concedeu a Marin o bastão de soberano do futebol no Brasil é a sensação de que todos podem ''chegar lá''.

Durante duas décadas, especialmente desde as inconclusivas CPIs sobre o futebol no início dos anos 2000, o poder de Ricardo Teixeira era inabalável. Resumido, talvez, pela frase do próprio ex-chefão, de que ele ''cagava de montão'' para as críticas e denúncias que pipocavam aqui e acolá. Teixeira envergou na ambição de se tornar mais influente na Fifa apoiando, veladamente, a candidatura de oposição a Joseph Blatter.

E aí entrou Marin. Como grande mudança, ficou aquela sensação no meio de que uma dinastia havia acabado. De uma hora para outra, muitos passaram a ver que o mundo da bola no Brasil não se resumia mais a ter de pedir alguma permissão a Teixeira para fazer qualquer coisa. E essa sensação de hiato no poder já começa a mostrar sua faceta mais clara, e perversa, para Marin.

Ele parece ser condenado a ter novamente uma breve passagem por um alto cargo de poder. Há questão de dois meses começou a série de denúncias, ampliada hoje por reportagem da ''Folha de São Paulo'' mostrando um superfaturamento de cerca de R$ 30 milhões na compra do novo edifício-sede da CBF. Parece cada vez mais nítido que o caminho a seguir por ele pode ser encontrar uma luxuosa e confortável casa em Boca Ratón para fazer companhia a Ricardo Teixeira.

A grande mudança na CBF é que hoje há disputa pelo poder. E será assim até que alguém assuma o controle e consiga conciliar clubes, federações, governo brasileiro e Fifa. Pelo visto, lá por 2015, um novo reinado deve começar no futebol brasileiro.

Até lá a cadeira da CBF parece que estará sempre quentinha…


A atração terrorista pelo esporte
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Erich Beting

Ainda não dá para dizer que é um atentado terrorista. Mas muito provavelmente as duas explosões sequenciais na linha de chegada da Maratona de Boston são fruto de alguma reivindicação terrorista. O fato é que, mais uma vez, o esporte serve como plataforma para ações extremistas.

Desde Munique-1972, a força de atração da mídia pelo esporte faz com que, invariavelmente, manifestações terroristas aconteçam tendo a grande exposição que o esporte proporciona como plataforma de ampliação de seus atos.

Em 2005, um dia após Londres ser eleita sede das Olimpíadas de 2012, um atentado terrorista no metrô matou mais de 50 pessoas, num claro aviso de que a segurança seria um ponto a se considerar no evento.

A reunião de grandes aglomerações de pessoas, a extensa cobertura da mídia e o fato de os espectadores e participantes geralmente estarem em momentos de lazer reúnem ingredientes perfeitos para um ato que tenha como propósito chamar a atenção das pessoas.

Isso vale tanto para quem vai investir em campanhas milionárias de comunicação quanto para quem quer, simplesmente, chocar. Qualquer evento esportivo de grande porte precisa, obrigatoriamente, de um extensivo plano de segurança.

Impressionante perceber que, em Boston, foi possível fazer um estrago como o desta segunda-feira…


E o mercado, hein?
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Erich Beting

A pergunta é cada vez mais trazida à tona em muitos encontros com pessoas que fazem parte da indústria do esporte. Um dos privilégios de ser um ''representante da mídia'' é poder conversar com os profissionais que têm construído o mercado esportivo brasileiro e, assim, poder trocar ideias, conhecer projetos e perceber o movimento da indústria como um todo.

E, chegando cada vez mais perto de Copa do Mundo e Olimpíadas, todo mundo começa a olhar com certa desconfiança não só para o agora, mas principalmente para o futuro do esporte no Brasil. E aí fatalmente a sequência de perguntas é: ''E o mercado, hein? Não está meio estranho?''.

De fato o mercado não está no ponto que se imaginava. Mas também isso é um reflexo da morosidade do esporte brasileiro em se profissionalizar. Entenda-se por isso um movimento que faça com que não seja ''errado'' trabalhar dentro das entidades esportivas recebendo altos salários. Só assim começaremos a equiparar o nível dos investimentos feito pelas empresas com o nível dos profissionais que gerenciam essa verba.

Um exemplo claríssimo disso é a construção de novos estádios, motivada pela Copa do Mundo. Se tivéssemos seguido à risca o cronograma estabelecido pela Fifa, teríamos desde janeiro 12 estádios de alto padrão em funcionamento no Brasil. Qual seria o impacto disso na receita do futebol?

Só para se ter uma ideia, apenas na partida inaugural a Itaipava Arena Fonte Nova alcançou a maior arrecadação da história do futebol na Bahia. Da mesma forma, assegurou um contrato que lhe dá R$ 10 milhões por ano da Itaipava pelo naming right. Isso sem entrar no mérito de aumento da arrecadação com Mineirão e Castelão já reinaugurados, ou com a Arena do Grêmio gerando mais receita.

Hoje o esporte vive uma bolha de crescimento. Nunca se priorizou investir tanto nele quanto agora. A partir de dezembro, quando tivermos definidas as partidas da Copa do Mundo, os investimentos só tendem a aumentar. Mas esse fluxo de dinheiro, é claro, vai sofrer um decréscimo quando terminarem os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

O mercado não estará tão valioso quanto agora, mas também não estará tão desvalorizado como era. Mas saber qual o patamar exato que ele vai ficar pós-2016 depende, e muito, do que será feito agora para absorver esse aumento de investimentos. Do contrário, vai ficar aquela estranha sensação de quem está trabalhando há anos com isso de que o bonde passou e nós estávamos na estação errada…


Após quase 800 jogos, Red Sox não lota o estádio
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Erich Beting

Crise no Boston Red Sox. Após quase dez anos e 794 partidas, o time de beisebol americano não viu todos os lugares do Fenway Park estarem ocupados numa disputa do time pela Major League Baseball. É, caro leitor, não é delírio deste que vos escreve ou mesmo seu que tenta acompanhar com certa credulidade essas linhas.

Foram quase dez anos de casa lotada. Não é cheia. É lotada. Sem um ingresso que tenha ''encalhado''. Num clube que faz em média 81 jogos em seu estádio ao longo da temporada, muitos deles ''inúteis''. Mas o número histórico acabou na noite de quarta-feira, quando o Red Sox anunciou via Twitter que não teria o estádio lotado para o jogo contra o Baltimore Orioles.

O fim desse recorde histórico talvez evidencie uma preocupação cada vez mais frequente nos esportes americanos. Com a crise econômica, a tendência é o americano ser mais precavido na hora de gastar. E isso implica, necessariamente, em cortar os gastos com atividades de lazer. Como a ida a eventos esportivos é um dos programas mais caros que existe, um reflexo natural da crise é diminuir a presença de público nos jogos das diferentes modalidades.

Num primeiro momento, nos anos de 2009 e 2010, o esporte nos EUA acusou o golpe. Passou a reduzir o número de eventos em algumas modalidades e, claro, a reduzir o tíquete médio dos ingressos para o torcedor.

Mas agora o pesadelo dos americanos é a televisão.

Um dos principais meios de financiamento do esporte, a TV é hoje vista também como uma espécie de vilã do esporte. Sim, ela continua a pagar a maior parte da conta. O problema, porém, é que a experiência que o torcedor tem hoje em frente à televisão evoluiu muito mais do que aquela dentro do estádio.

Ir a uma partida hoje é quase a mesma coisa de quando o Fenway Park começou a receber os jogos do Red Sox, nos anos de 1910. Pouca coisa evoluiu de fato para o torcedor. Já na televisão, a cada temporada existe uma inovação. Seja a qualidade de transmissão, a possibilidade de interagir com o torcedor ou o simples conforto do tamanho da tela de televisão, o programa só melhora.

No beisebol, algumas franquias decidiram apostar no compartilhamento de imagens dos torcedores que estão presentes ao estádio para aguçar nos seus amigos o interesse de participar do jogo ao vivo. Para isso, decidiram colocar sistema de Wifi gratuita para os torcedores.

No Brasil, o jogo inaugural da Itaipava Arena Fonte Nova convidava o torcedor a compartilhar fotos e tuítes de dentro do estádio. O problema? Não existia um sistema de conexão sem fio e muito menos havia qualidade no sinal de transmissão do telefone celular. Espero, daqui a dez anos, ver um estádio brasileiro com 100% de lotação durante bons anos. Sonhar ainda é possível…


Por que o problema não é a Globo
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Erich Beting

Quando escrevi há certo tempo que o vôlei tinha de diminuir a dependência de viver de um só patrocinador, muita gente levou a questão para a influência da TV Globo no insucesso de algumas empreitadas das marcas. A velha reclamação é a de que, quando não fala o nome do patrocinador, a emissora desestimula a empresa a investir no esporte.

Nesta semana tivemos um novo exemplo que mostra com clareza que o problema não é a Globo. O técnico Bernardinho deu uma interessante declaração ao jornalista Eduardo Ohata, da ''Folha de São Paulo'', sobre sua situação na multicampeã Unilever e o acúmulo de trabalho com a seleção brasileira masculina.

''Sou patrimônio da Unilever. Vou continuar como técnico'', declarou.

A frase é a síntese de como o vôlei ainda continua a depender de projetos únicos, independentemente de a Globo falar ou não o nome da empresa na transmissão. A equipe da Unilever, por exemplo, é chaamda de Rio de Janeiro não só pela emissora, mas pela grande maioria da mídia na cobertura do vôlei nacional.

Mas para a Unilever, ter o respaldo da Globo é o de menos. Afinal, seu projeto no vôlei começou em 1997, no Paraná, ainda com a bandeira da Rexona. Idealizado por Bernardinho e Ana Moser, a ideia era fazer com que jovens pudessem praticar vôlei e basquete no tempo livre da escola e, assim, poder ter um norte para uma eventual carreira como atleta. A ideia cresceu, virou uma equipe profissional de vôlei extremamente competente e, há quatro anos, passou a ser um projeto institucional da Unilever, não representando mais apenas marcas da empresa, mas a companhia como um todo.

Nesse caminho, Bernardinho tornou-se, como ele mesmo define, ''patrimônio'' da empresa. O sucesso dentro das quadras do seu projeto foi bem apropriado pela Unilever, que a partir daí tratou de fazer de sua equipe de vôlei um exemplo de responsabilidade social da marca e, também, a usar o treinador como porta-voz disso dentro e fora da companhia.

A função de Bernardinho não é meramente treinar jogadoras. Ele representa uma importante bandeira para a Unilever, usando sua habilidade como palestrante e gestor de equipes para motivar os funcionários da empresa. Da mesma forma, sua capacidade de gerar negócios ajudou a levar a Sky, que o patrocinava, a investir na equipe de vôlei.

Com tudo isso, a pergunta que fica é preocupante. O que acontecerá quando Bernardinho deixar esse projeto? Será que a Unilever vai continuar a olhar para a conta que paga e ficar satisfeita? E, quando ela sair, realmente alguém ainda achará que o problema foi a Globo dizer ou não, durante quase duas décadas, o nome da empresa que faz o time?

O vôlei brasileiro tem um diamante que precisa ser só um pouquinho lapidado para construir um produto esportivo praticamente sem restrições para o mercado. Cobertura da mídia não falta, interesse do público jovem, também. Patrocinadores estão à disposição para investir, só não se pode pensar num modelo baseado em investidores únicos para manter toda uma estrutura.

O time da Unilever é uma mostra disso. Em 16 anos de existência, ganhou metade dos títulos nacionais da modalidade. Mas ainda depende da capacidade de liderança de Bernardinho para existir sem muitos percalços no caminho. Imagine se os gestores do clube tivessem, nesse tempo todo, investido na construção de uma estrutura de excelência  para construir um clube de vôlei modelo no Brasil, em vez de só conseguir fechar a conta para manter uma excelente equipe profissional?

O problema, sem dúvida, não é a Globo falar ou não o nome da empresa. Afinal, o patrimônio da Unilever não pode ser Bernardinho, mas sim o time de vôlei octacampeão que ela ajudou a construir com a ajuda de um dos treinadores mais vitoriosos do esporte nacional.


E também teve jogo!
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Erich Beting

Bahia e Vitória inauguraram a Itaipava Arena Fonte Nova no último domingo. Quer dizer. Os dois clubes baianos fizeram parte da grande festa de abertura do estádio. Porque, na realidade, o jogo foi o pano de fundo para uma grande festa. E, para o torcedor do Bahia, é melhor esquecer que teve jogo.

Apesar da goleada, como qualidade de futebol a dupla Ba-Vi deixou a desejar. Na realidade, foi o conteúdo que ficou mais distante do nível dos eventos de abertura do estádio baiano. Show com Ivete Sangalo e Claudia Leitte, duas torcidas entusiasmadas, apaixonadas e deslumbradas com o novo espaço, apresentação simples e direta da nova Fonte Nova para o público.

No fim das contas, o Ba-Vi era o menor dos motivos para o torcedor comparecer à partida. Ia ter show, ia ter festa, está pronto um novo lugar para o torcedor conhecer. A paixão pelos clubes levaria, de qualquer jeito, o torcedor para o estádio. Quando há ótimos outros motivos para comparecer, fica ainda mais fácil se deslocar até lá.

Foram quase 38 mil torcedores. Poderia ter tido até mais, mas a nova cultura ainda claramente requer um tempo de aprendizado para todas as partes.

A partida de inauguração da Fonte Nova é mais uma que traz uma nova realidade para o futebol. O jogo, em si, não precisa ser o melhor em nível técnico. Desde que tenham vários outros motivos para que a pessoa deixe o conforto de casa e se desloque a um estádio.

Lugar confortável, clima de festa, serviço bom de comida e bebida. Soma-se a tudo isso a emoção de poder ver um jogo entre dois clubes que possuem uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro e tem-se um casamento perfeito.

O torcedor merece novas fontes de lazer no esporte. E o esporte vai precisar, naturalmente, oferecer um evento à altura para essa nova expectativa que vai ser criada na mente das pessoas. É o oposto do que seria a lógica de fortalecimento do futebol. Mas é o que parece que vai acontecer com a modalidade no Brasil nos próximos anos.