Negócios do Esporte

O vôlei não pode ser refém do patrocínio
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Erich Beting

Há algumas semanas abordei aqui o quanto o vôlei estava dependente do dinheiro. Desempenho de ponta só nas equipes com muita verba disponível para gastar, às vezes até a fundo perdido. O problema é que esse modelo, no médio prazo, não se sustenta. Prova disso foi a saída da Medley do time de Campinas após três anos (leia os detalhes aqui).

Na história do marketing esportivo brasileiro, o vôlei teve um papel importantíssimo para turbinar os ganhos de toda a indústria. Foi por pressão de Carlos Arthur Nuzman, então presidente da CBV, que no início dos anos 80 o governo brasileiro permitiu a publicidade na camisa das equipes que disputavam esportes coletivos.

À época, isso teve impacto direto no vôlei. Empresas viram no esporte que começava a se profissionalizar a chance de fazer uma grande estratégia de marketing. Os atletas, por sua vez, conseguiram passar a se dedicar apenas para o esporte, quando até cinco anos antes, dividiam sua vida entre estudos, trabalho e treinos. Foi o salto que precisava para o país passar a ter competitividade mundial, tanto que em 1984 conquistou a prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

Só que o modelo que consagrou o início do profissionalismo do vôlei no Brasil é ainda o que clubes, federações e confederações acreditam ser o mais bem sucedido para o esporte. Há ainda a crença de que uma empresa ''envelopar'' um time vai trazer resultados diretos para a marca.

O problema é que o mundo mudou só um pouco nos últimos 30 anos. O vôlei raramente está na TV aberta, como era antes. Além disso, as opções de entretenimento da população é variadíssima. Investir hoje num time de vôlei custa caro para um retorno relativamente baixo. Isso, claro, se apenas uma empresa tiver de pagar toda a conta.

O tamanho alcançado pelo vôlei hoje no Brasil é muito maior do que uma empresa apenas pode suportar. Investir no relacionamento com o torcedor, buscar a prefeitura local para trabalhar a divulgação do time na cidade, criar projetos que não dependam de apenas uma empresa e, muito menos, vender a ela a exposição de marca como maior benefício são algumas das atitudes necessárias a serem tomadas pelas equipes de vôlei no Brasil.

Outro aspecto que hoje parece sub-aproveitado é o potencial do ídolo. Jogadores carismáticos e com enorme apelo ao público estão em atuação no Brasil. O que os clubes preparam aos torcedores com esses atletas? Como as empresas podem usá-los para obter retorno que vai muito além de batizar o time?

A Medley tinha tudo isso em Campinas, mas o projeto acabou assim que o interesse da empresa em patrocinar o vôlei acabou. É normal o patrocínio ter um fim. Não é normal o esporte não se preparar para quando esse fim chegar. Ainda mais o vôlei, que tem esse histórico de entradas e saídas constantes.

Enquanto seguir refém do patrocínio, o vôlei seguirá numa meia-profissionalização. E seguirá tornando o esporte cada vez mais disponível só para quem tem muito dinheiro. Nesse caminho, porém, enfrentará um grande concorrente, que é o futebol. O primeiro passo para mudar está num questionamento primordial, que foi o ponto de partida para uma nova mentalidade no basquete brasileiro.

Qual é de fato o papel da CBV na gestão da Superliga? Só a partir do momento que essa resposta ficar clara para clubes, atletas e a própria confederação é que o entra-e-sai de marcas poderá mudar.


O jeito Heineken de pensar
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Erich Beting

''A Heineken não quer ser só uma patrocinadora, ela quer fazer algumas coisas para os fãs''.

A frase resume exatamente o comportamento que a marca de cervejas holandesa tem no mercado de patrocínio esportivo. O autor é Hans Erik, diretor global de marketing da Heineken em conversa com o blog nesta sexta-feira.

Neste fim de semana, a Uefa e a Heineken promovem no Rio de Janeiro a exibição da taça da Liga dos Campeões da Europa. O mais cobiçado troféu do futebol europeu estará na Cidade Maravilhosa para reforçar a imagem da competição e também da marca de cerveja. O evento poderia se resumir a isso, mas o jeito Heineken de pensar impede que ''apenas'' isso seja feito.

A marca trouxe ao país Guy Luchting. Quem? Ok, vamos refrescar a memória de todos nós.

Guy é ''O Candidato''. Lembra daquele garoto que venceu um concurso feito pela Heineken para escolher o próximo empregado da área de marketing da empresa? Se não souber, clique aqui para conhecê-lo. Se souber, clique mesmo assim para relembrar e repensar a estratégia do departamento de RH de uma empresa ou da sua estratégia na próxima vez que for a uma entrevista de emprego.

Seedorf é o embaixador do tour da taça, mas é Guy quem estará ali também como uma espécie de embaixador da empresa, reafirmando o estilo Heineken de pensar no relacionamento com os consumidores.

Com o pensamento de fazer a diferença na hora de patrocinar, a empresa também alçou o garoto que seria um simples estagiário do marketing para uma espécie de embaixador da companhia (depois do Brasil, Guy estará, com a taça, na República Democrática do Congo e  na Indonésia). O motivo? Na Europa, ele virou celebridade após saber que foi o escolhido para a vaga numa ação antes de um jogo da Liga dos Campeões.

O bom uso das ferramentas de marketing depende, necessariamente, de criatividade. Mas não é só ela, claro, que vai sustentar um bom programa de patrocínio no esporte. Para encerrar o estilo Heineken de pensar e agir com os patrocínios que possui, segue outro conceito defendido por Hans Erik:

''Se você não tem uma verba para fazer alguma coisa além do patrocínio, não faça. Além disso, você precisa ter uma visão clara do que a empresa faz. Se não tiver, também não faça o patrocínio''.

Por aqui as empresas começam timidamente a entender que essa é de fato a maior diferença dentro do investimento num patrocínio esportivo. Poder usar a paixão das pessoas como combustível para contar uma história com alto valor emocional. A Heineken talvez seja hoje o melhor exemplo dentro do futebol de aplicação desse conceito.

E, para se ter uma ideia de como a história do candidato é engraçada, segue um clique que fiz dele num típico momento ''estagiário''.

Guy

O candidato, agora embaixador, concede entrevista durante evento


O dilema dos fornecedores de material esportivo
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Erich Beting

Quando anunciou o acordo com a Lupo, no início deste ano, o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, comemorou o valor recorde alcançado com o patrocínio: R$ 12,5 milhões, entre pagamento fixo em dinheiro (R$ 7 mi) e em produto (a preço de mercado, lá no máximo do máximo dos valores, outros R$ 5,5 milhões).

Não há dúvidas de que o negócio foi o mais vantajoso financeiramente para o Galo. Mas será que foi o melhor negócio para o clube?

Outro dia lancei pelas redes sociais a pergunta de quais temas o leitor gostaria de ver abordado por aqui. Mais de uma pessoa, torcedora do Atlético, reclamou do atendimento que a Lupo tem dado para o clube. Por que ainda não há camisas do Atlético à venda nas lojas? Por que boa parte das roupas de passeio usadas pelos jogadores ainda são da Topper, a antiga fornecedora de material do clube?

O problema que a Lupo enfrenta hoje ao tentar entrar com força no mercado esportivo brasileiro é o mesmo que outras marcas já tiveram no passado. Invariavelmente elas tiveram extremas dificuldades no início do fornecimento de uniforme para os clubes, sendo que ainda muitas delas sofrem mesmo com vários anos de atuação no esporte mais popular do país.

O maior problema que existe é a capacidade de produção e entrega de produtos dessas empresas. De todas as marcas que atuam nos grandes clubes do futebol brasileiro atualmente, apenas duas têm capacidade fabril para produzir os uniformes: Penalty e Olympikus.

Como a Vulcabras, dona da Olympikus, vive um turbulento momento financeiro, com dívidas bilionárias de curto prazo, a presença dela no mercado diminuiu. Se, até 2011, a empresa vestia as camisas de Inter, São Paulo, Cruzeiro e Flamengo, agora resta o clube mineiro e mais um mês de contrato com o time do Rio de Janeiro.

Isso fez com que o espaço deixado pela Vulcabras fosse ocupada por outras marcas, sem que elas tenham capacidade própria de produção de peças. Nem mesmo Nike e Adidas, as duas grandes do setor, conseguem atender à demanda atual (considerando o trabalho que vem pela frente na marca alemã com o Flamengo). Elas, aliás, talvez sejam as que mais sofrem para produzir camisas de futebol, já que possuem geralmente apenas uma ou duas fábricas com capacidade produtiva pequena para atender à imensa demanda dos materiais para clubes.

É esse hoje o maior problema da Lupo. Apesar de ser uma marca brasileira, a fabricante não tem capacidade para fazer, em seu parque fabril, camisas e peças para o Atlético-MG. Sendo assim, ela terceiriza o acordo de fabricação das peças para o Galo. A Filon é quem assina o contrato com o clube. A prática, aliás, não é exclusividade da Lupo. Topper, no Grêmio, Puma, no Botafogo, são dois outros exemplos de acordos que são feitos nessa triangulação entre dono da marca, dono da fábrica e clube.

O problema para a marca é que, quando a empresa produz o próprio artigo esportivo, ela consegue ter uma lógica própria de utilização de máquinas. Isso permite a ela fazer mais ou menos camisas a partir de um determinado dia. Se o parque fabril não é próprio, ela depende de uma demanda que já existe numa fábrica para produzir o material.

A terceirização não permite, por exemplo, que uma máquina pare e comece a produzir os uniformes aprovados por um clube no dia seguinte a um acordo ser fechado, ou um projeto novo ser delineado. A marca precisa conversar com a fábrica, que já tem uma lista de entregas a ser feita e que não pode ser simplesmente ignorada.

O grande problema é que os clubes muitas vezes ignoram essa realidade do mercado de produção de artigos esportivos no país. Eles exigem dos seus fabricantes um prazo que muitas vezes é impossível de ser cumprido. A maioria dos contratos, aliás, prevê que qualquer novo projeto de camisa precise de três meses para começar a ser produzido. Esse é um dos motivos, aliás, que muitas vezes não temos a produção em série de camisas com sacadas de marketing como é no mercado americano. Simplesmente não há capacidade do fornecedor de entregar isso.

O entrave está, naturalmente, no valor do negócio. Sem dinheiro, o clube pede mais do fabricante. Para pagar mais, o fornecedor exige que qualquer produção de peça de vestuário seja feita com ele. Do outro lado, as marcas prometem entregas que não são possíveis de serem realizadas, ou que não dependem dela para ser concretizada, já que ela contrata uma terceira empresa para realizar a produção do uniforme ou de camisas comemorativas, por exemplo.

A melhor alternativa seria o clube exigir um contrato que lhe desse flexibilidade para produzir camisas independentes, sem a marca do fornecedor de material esportivo. Na NBA, por exemplo, é isso que faz os times produzirem peças avulsas conforme a moda daquela semana.

Só que a estrutura dos clubes não permite que haja alguém com entendimento desse negócio para fazer essas mudanças. Da mesma forma, as luvas pagas pelos fornecedores de material esportivo amarram mais do que devem os clubes. E, nessa briga de mercado, os fabricantes prometem mais do que conseguem entregar.

O dilema na cabeça das marcas é grande.

Entrar no futebol traz um enorme bônus para a construção da marca. Ao mesmo tempo, porém, a estrutura do mercado brasileiro faz com que seja muito difícil entregar o produto dentro dos prazos exigidos pelos clubes e, principalmente, pelos torcedores.

A chave do sucesso num contrato de fornecimento de material esportivo é conseguir não apenas estampar a marca na camisa de um grande clube, mas também levar essa camisa que o torcedor vê na televisão para dentro das lojas. Sem isso, não há exposição de marca que justifique o investimento no futebol. A conta não fecha.

O problema é que muitas empresas não são capazes de entregar o que prometeram. E o prejuízo que isso pode gerar para a marca é muito maior que o benefício que a exposição na camisa de um time gera.

Com a profissionalização dos departamentos de marketing dos clubes a chance é de acompanharmos mais uma reviravolta nesse mercado nos próximos dez anos…


Enquanto isso, nos EUA…
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Erich Beting

Enquanto ainda debatemos se é possível ter alguma coisa além de futebol durante um evento esportivo, vamos deixando a banda passar e não conseguindo evoluir como uma potência para a realização de eventos no país. O vídeo abaixo foi a forma como a Red Bull celebrou o início de temporada do futebol jogado com os pés nos Estados Unidos.

Atitude de marca, entretenimento para o público e a certeza de que um jogo de futebol pode ser muito mais do que uma simples disputa entre duas equipes e se tornar um programa para o público.

Em tempo. Por aqui seria inviável qualquer ação do gênero, já que Polícia Militar e Federações Estaduais consideram ''perigosa'' qualquer tipo de ação que vá além de 22 atletas entrando em campo.


O que é ser um profissional?
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Erich Beting

Nas últimas semanas tive dois encontros com dois executivos que deixaram, recentemente, cargos graúdos envolvendo o esporte. No meio da conversa, ambos disseram ter sido muito boa a experiência em trabalhar com esporte, mas que a falta de profissionalismo na gestão de clubes, federações e atletas é algo que incomoda e atrapalha muito. Sem dúvida que para quem tem uma experiência anterior no mercado corporativo, o esporte é realmente um universo que mais assusta do que fascina.

Afinal, como já falado anteriormente aqui no blog, não é preciso profissionalizar o esporte para que o dinheiro entre no caixa. Um ótimo exemplo disso é o quanto cresceram as receitas dos patrocínios esportivos nos últimos cinco anos só porque o Brasil foi ''premiado'' com dois papéis que diziam que Copa do Mundo e Jogos Olímpicos seriam realizados por aqui.

O grande problema é que, com uma indústria esportiva minimamente existente, como era a nossa, a expectativa de quem estava nesse barco era de que os megaeventos impulsionariam o grau de profissionalização de quem trabalha no esporte. O maior problema, porém, é que ainda temos uma visão deturpada do que é ser um profissional.

No último domingo, a ESPN exibiu o documentário ''Fab Five'', sobre o fantástico time universitário de Michigan do início dos anos 90. Em determinado momento do filme, um dos atletas afirma que, ao ver a Nike se ''apropriando'' da equipe, ele teve um estalo. ''Eu era profissional sendo um universitário. Ou seja, eu vendia como um cara da NBA, mas não ganhava um centavo por isso''. Foram essas, mais ou menos, as palavras do ex-jogador.

Ser profissional, no mercado americano, é efetivamente ganhar dinheiro para viver do esporte. Para um atleta, isso representa não apenas ter um contrato de trabalho com alguma instituição, mas ter um contrato de patrocínio com uma marca de material esportivo, vender produtos licenciados com a marca dele, faturar com campanha publicitárias, etc. Isso é tão claro no modelo americano de gerenciar o esporte que o atleta universitário não pode receber qualquer tipo de incentivo monetário, apenas a bolsa de estudos. Só quando ele atinge as ligas esportivas, sejam elas as principais ou as secundárias, pode ganhar dinheiro.

É o bordão ''Show me the Money'' eternizado por Tom Cruise no personagem Jerry Maguire.

Já no Brasil…

Ontem mesmo o UOL publicou entrevista com Thiago Pereira, nosso nadador com o melhor desempenho na última edição dos Jogos Olímpicos. Nela, o atleta reclamava de ter de negociar para fechar contrato com um clube e, também, por estarmos a três anos das Olimpíadas do Rio e continuar baixo o investimento em esporte por aqui.

Como também já falei no blog, o grande dilema para os esportes olímpicos hoje é depender da estrutura de clubes, principalmente de clubes que têm no futebol sua principal atividade. Mais uma vez usando o exemplo americano, mesmo nas universidades, são raras as que têm equipes fortes em mais de uma ou duas modalidades. Isso faz com que exista espaço para investimentos em outros esportes.

Mas o grande problema passa pelo entendimento do que é ser um profissional do esporte no Brasil. Há 13 anos nesse mercado, uma das grandes coisas que se percebe é que as pessoas, geralmente, encaram ainda o trabalhar nessa área como uma ''diversão''. Ainda vemos que um atleta tem de seguir os mesmos preceitos lúdicos de relação com a atividade esportiva que temos quando somos criança. Da mesma forma, em outras áreas, o sentimento é muito parecido. O interesse não é construir uma carreira para fazer a vida trabalhando com isso. Pelo contrário, muitas vezes há um sentimento de que é errado ganhar dinheiro trabalhando com esporte.

A atração de novos profissionais para dentro do universo do esporte depende, muito, da resposta correta à pergunta ''o que é ser um profissional''. Enquanto o esporte for visto como um meio de diversão até para quem trabalha com ele, o processo de evolução será muito mais lento.


O limite da interferência da TV no esporte
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Erich Beting

A TV é o melhor meio para propagar e divulgar um esporte. Detentora de verba e (ainda) da maior fatia de audiência, o esporte se tornou um colosso mundial a partir da propagação de suas competições via televisão. A junção de imagem e som em tempo real para o telespectador transportou o evento esportivo do local onde ele acontecia para dentro da casa das pessoas.

Mas, desde o princípio, essa relação entre TV e esporte traz exemplos que demonstram ainda existir uma falta de visão de gestores (tanto na mídia quanto no esporte) de que há um limite na interferência de um sobre o outro.

O mais recente foi neste final de semana, durante os treinos de classificação para o GP da Austrália de Fórmula 1. Por conta da televisão, há cerca de três anos a Austrália mudou o horário da prova. Em vez da tradicional largada às 14h locais, mudou-se para as 17h, com o objetivo de atender à demanda da televisão europeia, que paga a maior parte da conta dos direitos de TV da F-1.

Neste fim de semana, um manjada chuva de verão caiu em Melbourne e forçou o adiamento, para o mesmo dia da prova, da realização do treino de definição do grid de largada. Com uma reza brava para que a meteorologia ajudasse no domingo, conseguiu-se fazer o treino e a prova sem maiores problemas.

A mudança de horário para atender às necessidades da TV colocou em risco pilotos e a disputa na Austrália. O dilema não é novidade e, muito menos, parece estar perto de uma solução. Nos Estados Unidos, diversas vezes, os atletas reclamam da maratona de jogos e viagens para cumprir a grade de programação da TV. No Brasil, temos horários abusivos para alguns esportes por conta dessa ''ditadura'' da televisão.

O problema é que, na maior parte das vezes, o esporte não está preparado suficientemente para peitar a televisão. Da mesma forma que ajuda a divulgar e promover um evento esportivo, a TV também é refém dele, necessitando do bom conteúdo que uma competição esportiva pode proporcionar para obter receita, audiência e, por vezes, status.

O limite para a interferência da TV no esporte é o limite de preservação das condições mais justas e seguras para a realização de um evento. Colocar sob risco os atletas apenas para atender às necessidades da televisão, além de ser questionável do ponto de vista humano, é contraproducente até para o próprio evento. Afinal, um jogo às 16h no verão brasileiro faz com que o atleta não consiga ter o mesmo rendimento daquele disputado sob temperatura mais amena.

O problema é que é preciso que a indústria do esporte esteja madura o suficiente para poder peitar o jogo da televisão. No caso da F-1, com uma Europa em crise e com investidores mais espalhados pelo mundo, a grana da TV continua a ser importante. Quando o esporte se preparar para depender menos da TV, as exigências se tornarão cada vez menores. Para isso acontecer, porém, é preciso um longo caminho a ser percorrido. Especialmente na profissionalização do dono do talento, que é o atleta.


A classe C e o domínio estrangeiro nas marcas esportivas
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Erich Beting

Nunca o Brasil vendeu tantos calçados esportivos como em 2012. Da mesma forma, nunca tivemos um preço final tão caro para a venda de calçados como nos últimos anos. Esses são alguns resultados de uma pesquisa feita pela consultoria Gfk sobre a comercialização de tênis no Brasil.

E mostram uma nova tendência para o mercado das marcas esportivas no país. As empresas brasileiras vão encolher e deixar de ser protagonistas num futuro muito mais rápido. E isso está diretamente ligado ao aumento de consumo da classe C e da estúpida lógica de proteção de mercado imposta pelo governo.

O levantamento mostra que o brasileiro tem gasto em média US$ 94 para comprar um tênis. É um valor médio muito próximo ao que os suíços gastam para comprar seus calçados (por lá o custo médio é de US$ 100). Mas é bem maior do que sul-africanos (US$ 72) e chilenos (US$ 52) pagam em média para adquirir um calçado. Quando comparamos os padrões de renda e custo de vida entre os quatro países, o sentimento de que algo está errado torna-se ainda maior.

Mas o pior de tudo é que o número não chega a surpreender. Ele só é mais um reflexo da estúpida escalada de custo de vida no Brasil e que está, neste caso, ligado diretamente a uma visão tacanha do governo de proteção à indústria nacional.

Em 2010, o governo baixou uma lei que tenta coibir a importação de calçados esportivos. Nela, o tênis que é fabricado em alguns países da Ásia (liderados obviamente pela China) é sobretaxado. São US$ 13 a mais por par de calçado. O resultado, claro, é o de que o Brasil é um dos países em que um tênis para a prática esportiva tem o valor final mais caro.

A medida tinha como objetivo tentar proteger a indústria nacional. O movimento antidumping era liderado pela Vulcabras|Azaleia, dona da marca Olympikus, que apostava no aumento de poder de consumo da população para manter-se como a maior em volume de vendas entre as marcas esportivas no país. Para isso, a sobretaxa ao tênis importado evitava que o preço das marcas concorrentes ficasse próximo ao que ela praticava.

Mas o aumento do poder de consumo da população gerou uma mudança interessante na venda de artigos. A impressão inicial era a de que o brasileiro da classe C, que é a mais volumosa e, consequentemente, a que mais vende, fosse comprar mais dos mesmos produtos.  Só que, com o aumento do poder aquisitivo, a classe C passou a buscar produto de maior valor agregado. Os tênis de marcas consagradas, como Nike e Adidas, passaram de objetos de desejo para objetos de consumo, devidamente parcelados pelo cartão de crédito que antes não estava disponível.

O reflexo disso está no aumento do consumo de marcas estrangeiras nos dois maiores mercados de esporte, que são os tênis de corrida e os calçados para a prática do futebol. De acordo com o levantamento da Gfk, a corrida tem 17% das vendas de calçados no país, superando o futebol, que domina 13% do mercado.

Nesses dois esportes, em que as marcas estrangeiras são as mais admiradas (Asics e Mizuno na corrda, Nike e Adidas no futebol), o salto de consumo se dá exatamente entre as marcas importadas. Não à toa, essas são também as duas modalidades que possuem os calçados mais caros para o público final.

No segmento de corrida, 60% das vendas são de calçados acima de R$ 150. Desse montante, 67,1% são de marcas estrangeiras.

No futebol, as marcas locais não vendem nenhum produto acima de R$ 150, enquanto as estrangeiras dominam 62% do mercado.

O aumento da classe C no Brasil, fenômeno bastante observado nos últimos cinco anos, fez com que uma nova realidade começasse a se estabelecer no mercado nacional. Com mais dinheiro nas mãos do consumidor, as marcas estrangeiras, que possuem uma melhor imagem na mente das pessoas, passaram a ter um aumento de vendas.

E as medidas de tentativa de proteção ao produto nacional por parte do governo só fizeram piorar a vida de quem consome.

Aos poucos, as marcas nacionais vão deixar de ser protagonistas dentro do mercado, que terá uma demanda maior de empresas estrangeiras. Muito mais inteligente para o governo seria, a partir de agora, trabalhar para incentivar que essas marcas produzissem a maior parte ou a totalidade de seus artigos em solo nacional. É um caminho para manter empregos, reduzir os custos e permitir ao consumidor não ter preços suíços num país com muito menor poder aquisitivo.


E o plano do Brasil para a NBA?
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Erich Beting

A NBA, liga de basquete dos Estados Unidos, apertou finalmente o botão ''start'' para o projeto de expansão no mercado brasileiro. O primeiro passo foi marcar um jogo de pré-temporada em solo nacional. O segundo, como geralmente qualquer entidade esportiva faria, seria esperar chegar outubro para os marmanjos do basquete americano desembarcarem no Galeão, irem até a HSBC Arena bater uma bolinha, embolsar uma grana e pronto.

Seria assim, não fosse o fato de que tudo o que diz respeito aos passos rumo ao exterior da NBA serem meticulosamente planejados.

A começar pela escolha dos times para o jogo e da data. O Chicago Bulls, ex-time de Michael Jordan, é um dos mais populares da liga por aqui. Já o Washignton Wizards tem Nenê e Leandrinho no elenco, os dois nomes mais midiáticos entre os brasileiros que jogam nos EUA. A data também é bem escolhida. No meio do feriado de 12 de outubro, quando o trânsito no Rio de Janeiro estará menos carregado e a chance de termos mais crianças na partida ser maior, expandindo o basquete para o público jovem.

Além disso, nesta semana Ron Harper, pentacampeão da NBA por Bulls e Los Angeles Lakers, deu o ar da graça no Flamengo. Visitou o clube, falou de basquete e, claro, de que será um bom jogo o amistoso entre seu ex-clube e o Wizards.

Outras ações para lembrar o torcedor brasileiro de que em outubro a NBA finalmente desembarcará por aqui deverão ser feitas pela liga nos próximos meses. Claramente, os americanos têm um plano completo para o mercado brasileiro. Mas e o contrário?

Dois importantes parceiros comerciais da NBA ainda não se prepararam para a vinda da liga para cá. Netshoes e Adidas são, respectivamente, a operadora da loja oficial e a fornecedora de material esportivo. As duas marcas, porém, não têm um plano traçado para aproveitar a presença de times e astros do basquete em solo nacional. Não era obrigatório ter, mas da forma como a liga já vinha se preparando para desembarcar no Brasil, era de se esperar que já houvesse um mínimo de movimento em torno disso.

Da mesma forma, o que o basquete brasileiro pode se beneficiar da presença de Bulls e Wizards por aqui? É uma pergunta que fica ao vento quando pensamos no que a Confederação Brasileira tem de planos para isso.

Nos últimos anos, o basquete brasileiro conseguiu ressurgir das cinzas, olhando bastante para o modelo da NBA. Agora que a liga americana começa a colocar em ação o seu plano para o mercado do Brasil, a pergunta que fica é uma só.

O que o basquete brasileiro planeja para se beneficiar desse movimento?


Nem Ricardo Teixeira faria igual…
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Erich Beting

José Maria Marin conseguiu uma proeza que nem Ricardo Teixeira seria capaz de fazer igual. Após a polêmica que relaciona o hoje presidente da CBF com o período da ditadura militar no Brasil e a morte do jornalista Vladimir Herzog, Marin decidiu se defender. Para isso, usou o site oficial da entidade que preside para debater um assunto quase 40 anos após sua realização.

A atitude de Marin, que confunde a vida particular com a pública, é tão absurda a ponto de superar outras atrocidades que Ricardo Teixeira cometeu nos últimos 24 anos que perpetuou-se na presidência da CBF.

Confederação de futebol com um dos maiores faturamentos do mundo, dona da marca mais desejada no mundo da bola, a CBF agora serve de quintal para duelos pessoais de seu presidente.

Como disse à época da saída de Ricardo Teixeira, quase nada mudaria ou melhoraria no futebol brasileiro com a troca do presidente. Passado mais de um ano da gestão Marin, fica a certeza de que retrocedemos para uma época em que os dirigentes tinham a certeza de que podiam fazer uso das entidades que presidiam para debater assuntos próprios.

O site da CBF hoje foi hackeado. Quem invadiu a página foi o senhor José Maria Marin. A prova disso é o que foi feito com a página de abertura do site da seleção que mais vezes conquistou o mundo dentro de campo.

Reprodução da capa do site da CBF


A arte de desfazer eventos no Brasil
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Erich Beting

Terminou em um acidente relativamente pequeno o evento do último domingo, promovido pela Cervejaria Petrópolis e que teve Felipe Massa e algumas outras Ferraris no meio da rua no Rio de Janeiro. Hoje, em seu blog, Flavio Gomes conta um pouco mais sobre o responsável pelo acidente do domingo, um dono de uma Ferrari que não conseguiu controlar a velocidade de seu carro, invadiu a área de espectadores e atropelou quem estava lá para assistir aos carros.

O curioso da história toda é que o ''motorista'' admitiu que havia bebido cinco latas de cerveja. Sim, você não está lendo nada errado. O cara é chamado para um evento reunindo donos de Ferrari, pega o seu carro avaliado em R$ 2 milhões, acelera mais do que deve, não controla o automóvel e, por sorte, não mata ninguém. Se fosse só isso, ok, era só imprudência. Com o fato de ter bebido cerveja, torna-se, pelas leis de trânsito no Brasil, um crime.

O caso é o segundo que envolve donos de Ferrari e acidentes no Brasil durante um evento promocional. Em 2006, no autódromo de Interlagos, a editora Abril organizava o Quatro Rodas Experience, um dia completo de exibição de carros de diferentes marcas, em que as pessoas ''comuns'' podem andar em modelos absurdamente velozes e caros. Naquela ocasião, as Ferraris só eram guiadas por seus donos. À boca pequena, a história que se conta daquele maio de 2006 é que o irmão do dono de uma delas resolveu ''assumir'' o comando do carro, que explodiu ao chocar-se contra o muro. O piloto, naquela ocasião, não estava embriagado, mas também não conseguiu ter controle sobre o veículo por total falta de experiência na direção.

Os dois exemplos revelam a arte que o Brasil ainda cisma em ter de ''desfazer'' eventos.

Culturalmente, somos um povo autoconfiante. Isso gera um outro problema, que é a imprudência. Achamos que somos capazes de fazer as coisas no limite do possível para dar tudo errado. É aquela superlotaçãozinha que não tem muito problema assim, ou então o famoso ''um golinho apenas'' que não o deixará com menos reflexo na hora de dirigir. Ou aquela ultrapassada na correnteza das ondas só para pegar a melhor onda. Ou o ''drible a mais'' só para deixar mais bonito um gol que já era certo.

É algo cultural, que na maioria das vezes não coloca todos em risco. Mas que, logicamente, em determinadas situações torna tudo muito perigoso. Como dirigir uma Ferrari sem ter habilitação para tanto. Ou pegar o carro num evento de exibição em que você tem a permissão de dirigir rápido, mas fazer isso com pelo menos 1 litro de cerveja na cabeça.

Gerenciar eventos é uma tarefa absolutamente árdua. Exige disciplina, comando, controle e, também, intransigência. Você precisa proporcionar entretenimento para as pessoas ao mesmo tempo em que tem de ''cortar o barato'' da empolgação alheia para que o risco do seu evento seja o menor possível.

No fim das contas, quando algum problema acontece, o dano de imagem recairá sobre quem coloca a cara para bater no evento, que quase sempre são os patrocinadores que, por sua vez, são os que mais investem dinheiro num programa do gênero.

Lá de Maranello, a Ferrari deu a licença para que o energético TNT, seu patrocinador, usasse seu piloto e sua marca para organizar um evento no Brasil. Tinha tudo para ser mais um programa que reforça o status da marca pelo mundo. A confiança em quem coloca alguns milhões de euros para ter a marca no carro da escuderia mais tradicional da Fórmula 1 é meio que óbvia.

O problema é que a Cervejaria Petrópolis, dona da marca TNT, não percebeu o tamanho da responsabilidade. Deixou seu evento quase se transformar numa tragédia por total imprudência.

A trajetória da TNT tem como premissa clara repetir ações que foram extremamente eficazes em seu maior concorrente e líder do mercado de bebida energética, a Red Bull. Hoje, a empresa austríaca talvez seja a produtora dos eventos mais emblemáticos no universo do esporte. São ocasiões que chegam a colocar em risco a vida dos participantes, mas que não registram, ao seu final, graves acidentes. A regra que impera nos eventos da Red Bull é simples. Em primeiro lugar vem a segurança. Depois, o show.

O Brasil precisa, urgentemente, deixar de desfazer tantos eventos. Do contrário, o mercado esportivo vai continuar subaproveitado.