Negócios do Esporte

O surpreendente rosto da Copa no Brasil
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Erich Beting

Neymar, Ronaldo e Pelé eram bola cantada. Qualquer marca que queira falar sobre futebol e Copa do Mundo no Brasil deve já ter pensado, procurado e negociado com as três personalidades mais influentes do futebol no país atualmente.

Único atleta em atividade dentre os citados, Neymar é a escolha óbvia. Está em evidência, é o grande nome do time brasileiro para a Copa do Mundo e esperança para a conquista do hexacampeonato. Ronaldo é o maior artilheiro dos Mundiais. E Pelé é autoexplicativo.

O movimento era tão óbvio que os três se anteciparam ao movimento lá atrás. Neymar tem duas agências para representá-lo. Ronaldo, por sua vez, criou a 9ine pensando inicialmente na gestão de contratos publicitários para atletas, a começar por ele. E Pelé tem a Legends10, empresa que o representa mundialmente e que, aleluia, profissionalizou a gestão de seus negócios publicitários, escolhendo a dedo as marcas que ele representa e o alcance das campanhas.

Mas quem tem surpreendido como rosto mais desejado pelas marcas até agora é Cafu.

Sem alarde, como quase sempre foi em sua carreira dentro de campo, o capitão do penta se transformou em garoto-propaganda de cinco patrocinadoras da Copa. Nesta terça-feira, a Liberty Seguros apresentará a nova campanha com ele. No sorteio das chaves da Copa das Confederações, foi ele quem apresentou a Cafusa, a bola da competição fabricada pela Adidas. Além disso, fez recentemente um giro pelas 12 sedes do Mundial pela Castrol, e na TV estrela ao lado de Ronaldo a campanha da Ambev para angariar novos integrantes para os projetos de sócios-torcedores dos clubes de futebol patrocinados pela marca.

Carismático, vencedor em sua carreira, Cafu também conta com outra importante característica. Ele é dono do biótipo padrão do brasileiro, tornando sua imagem absolutamente simpática para todos os públicos.

Muito provavelmente a imagem de Cafu será uma das que mais vai aparecer para o brasileiro nos próximos 18 meses. Uma prova de que o carisma da pessoa é essencial para uma marca na escolha de um garoto-propaganda. Em todo o processo da Copa do Mundo no Brasil, Cafu talvez seja a escolha mais surpreendente até o momento.

Obviamente que contando com um cachê um pouco mais em conta do que os três superastros da publicidade na Copa, Cafu conseguirá mais uma conquista num Mundial. Algo que, dentro de campo, ele soube fazer como poucos brasileiros.


A banheira suíça e o atraso brasileiro
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Erich Beting

A notícia virou o mundo desde o último sábado, quando o Grasshopper, da Suíça, venceu o St. Gallen por 3 a 1, em jogo do Campeonato Suíço de futebol. O motivo não foi o resultado em si, mas a ação feita com dois torcedores na beira do gramado do estádio Letzigrund. Eles foram contemplados com uma ação da Duravit, fabricante de banheiras e desde a temporada 2010/2011 patrocinadora do clube suíço.

Os dois assistiram ao jogo sentados dentro de uma banheira, com direito a cerveja e até mesmo comemoração do gol com o time todo indo até o local celebrar. A ideia naturalmente já correu o mundo.

Só que, em terra brasileira, por mais criativo que seja o marqueteiro de plantão, sempre haverá um porém.

No ano retrasado, a Red Bull tentou fazer algo bem mais simples do que isso nos jogos de seu time na Série A-2 do Campeonato Paulista. A ideia era que o carro pilotado por Cacá Bueno na Stock Car ''entrasse'' em campo antes das partidas no Moisés Lucarelli e desse uma volta na pista ao redor do gramado. Depois, o veículo ficaria estacionado de forma a ficar visível para o público. Prontamente o projeto foi vetado pela Polícia Militar, sob o argumento de que poderia ser perigoso o carro em caso de uma briga de torcidas!

Neste ano, foi a vez de a Chevrolet, patrocinadora de 20 campeonatos Estaduais, ter seu pedido de ação de marketing dentro de campo vetado. A ideia era que um carro da marca ficasse na beira do gramado e dois torcedores ganhassem o direito de assistir à partida no lugar mais do que privilegiado. A proposta foi rechaçada pelos organizadores do Paulistão.

Os dois casos evidenciam bastante o atraso que por muitas vezes domina a cabeça dos dirigentes ou de quem trabalha com o esporte brasileiro. Diversas vezes reclamamos da falta de iniciativas criativas por parte de clubes e patrocinadores, sem entender que o problema quase sempre não está com eles.

O atraso brasileiro talvez seja reduzido com os novos estádios. Mas, se continuarmos com o controle total e absoluto das federações sobre qualquer tipo de ação que seja feita dentro do local, será muito difícil realizar alguma ação inovadora. A banheira suíça é um ótimo exemplo disso.

As fotos, devidamente publicadas no perfil oficial do Grasshopper no Facebook, mostra o quão diferente pode ser a iniciativa.

 

 


Ciclismo e as cidades, questão de cidadania
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Erich Beting

Mais um acidente estúpido aconteceu em São Paulo neste final de semana envolvendo carro e bicicleta. Com roteiro digno de filme de quinta categoria, a história aparentemente é a seguinte: uma pessoa embriagada brincou de fazer zigue-zague entre os cones colocados na Avenida Paulista para utilização de bicicletas na ciclofaixa, que abriria em questão de pouco tempo. O ciclista, que andava por lá, foi atropelado. No desespero, o motorista do carro fugiu, mutilando o braço do ciclista na arrancada. Para tornar ainda mais absurda toda a história, a pessoa jogou o braço dentro de um rio, cerca de 5 quilômetros distante do local do acidente.

A história precisa ser passada adiante, já que mostra o quão sem alma pode ser uma pessoa. Mas não pode, de forma alguma, ser usada para utilizar-se o bordão mais comum para esses casos ''não se pode ter bicicleta numa cidade grande''.

Primeiramente, tudo o que envolve o acidente deste fim de semana é uma questão de respeito às leis. O motorista do carro não poderia dirigir alcoolizado, muito menos ''brincar'' de fazer zigue-zague nos cones. O ciclista não poderia usar a ciclofaixa se ainda não estava no horário permitido.

O problema não é pontual, e é o maior motivo para explicar a estupidez que é o trânsito na maior parte das cidades brasileiras, talvez tendo em São Paulo a sua mais completa tradução. Numa sociedade em que o eu vem antes do todo (e é assim na maior parte dos lugares onde o conceito de meritocracia deturpou o conceito de vida em sociedade), a lei vira a do mais forte, ou muitas vezes como é o caso nas ruas paulistanas, a lei do mais rápido.

Por aqui, a moto anda mais rápido que o carro, que anda mais rápido que a bicicleta, que anda mais rápido que o pedestre. E assim é a cadeia involutiva das coisas. Se estamos acelerando na moto a 100 km/h numa via congestionada, o erro não é do motoqueiro imprudente, mas sim de quem resolveu atravessar o lugar na faixa, ou mudar de pista na avenida. Da mesma forma, quem está correto é o carro sobre a bicicleta, ou a bike sobre o pedestre.

Recentemente, uma pessoa tornou-se extremamente popular no Youtube por colocar vídeos das barbáries que cometia no trânsito paulistano. A bordo de uma moto, ele cruzava avenidas a mais de 100 por hora, passava sinal vermelho, desrespeitava conversões proibidas, etc. Virou herói por ser ''revolucionário''. Pateticamente, tentava ainda ser didático com os espectadores, repetindo o bordão ''não façam como eu'', assumido previamente a culpa pelas atrocidades cometidas.

No início de janeiro, esse ''cidadão'', dirigindo um carro, fez uma conversão proibida, atropelou e matou um pedestre. Que também estava errado, porque havia aproveitado a ''brecha'' para ultrapassar no sinal vermelho. Um não justifica o outro. Mas evidencia, junto com o macabro acidente de domingo, que o problema é muito maior do que simplesmente dar espaço para que bicicletas e carros convivam nas cidades.

Há espaço para carro e bicicleta. Cidades mais povoadas que São Paulo, como Nova York, ou com solo tão irregular quanto a capital paulista, como Bogotá, fizeram da bicicleta um meio de transporte para cerca de 3% da população. Sim, é pouco, mas pode significar, na prática, menos carro nas ruas, menos poluição no ar, mais saúde para as pessoas.

O país que mundialmente tem o maior índice de uso da bicicleta é a Holanda, com 26% das pessoas usando-a como meio de transporte. Por lá, colabora e muito o fato de o país ser plano. Mas também é essencial o respeito que as pessoas têm com o outro, esteja ele a pé, de bicicleta, carro ou qualquer outro meio de transporte.

Um país que usa mais a bicicleta é, estatisticamente comprovado, um país com menos acidentes fatais de trânsito, mais saúde e qualidade de vida entre as pessoas, mais felicidade em se viver e, sobretudo, mais respeitoso com o próximo. E esse é o ponto essencial para que a bicicleta se transforme num meio alternativo de locomoção para os brasileiros.

O convívio entre bicicletas e carros nas grandes cidades nada mais é do que o reflexo do convívio entre as pessoas num mesmo ambiente. Enquanto não entendermos que o essencial é respeitar o outro antes de pensar em si mesmo, será impossível evoluir.

O problema não é falta de espaço, mas de respeito entre as pessoas.


Um novo caminho para os esportes olímpicos
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Erich Beting

A poeira começa a baixar após o desmantelamento das equipes de judô e ginástica do Flamengo. O movimento, aparentemente, é sem volta. Em nome do saneamento financeiro do clube, o Rubro-Negro acabou com mais duas modalidades.

O torcedor apaixonado pela marca Flamengo tem, obviamente, de espernear. Faz parte da história e da tradição do clube. Mas, como acontece em todos os clubes que têm departamento de futebol profissional e é reconhecidamente uma marca desse esporte, está cada vez mais improvável manter-se como um clube poliesportivo.

Mundialmente são pouquíssimos os clubes fortes no futebol e que mantêm, com sucesso, mais de uma modalidade esportiva. Barcelona e Real Madrid possuem equipes de ponta no basquete. O Fenerbahçe, da Turquia, também. Mas nos três casos geralmente os custos desses atletas são bancados pelo pretenso superávit da operação no futebol. Na Inglaterra e na Alemanha, os times de futebol são apenas isso. Sem perder energia com modalidades que geram muito menos dinheiro. Nos Estados Unidos, cada clube só trabalha o departamento profissional daquela modalidade, sem sequer trabalhar na formação de talentos, função relegada às escolas e universidades.

Aqui no Brasil, os clubes passaram a ter uma espécie de obrigação em cuidar de todas as pontas da cadeia do esporte. Tem de ter o profissional, mas desenvolver a base. Tem de ter o futebol, mas também o vôlei, a peteca, a ginástica, o judô, o basquete, o tênis, etc.

O fato é que, às vésperas dos Jogos Olímpicos de 2016, talvez o recado dado pelo Flamengo seja claro. É preciso pensar um novo caminho para a existência dos esportes olímpicos. Do jeito que é hoje, com a formação de atletas baseada totalmente nos clubes, os esportes olímpicos sobrevivem, em vez de existir.

As três únicas exceções a esse modelo são o Pinheiros, em São Paulo, o Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, e, numa escala um pouco menor, o Sogipa, em Porto Alegre. Para conseguir isso, obviamente que os três clubes ignoram o futebol profissional. Não fosse isso e muito provavelmente seria difícil manter tantas modalidades diferentes e formar tantos atletas.

O nível de exigência do esporte de alto rendimento faz com que o modelo brasileiro atual seja impraticável. Os dirigentes dos clubes ficam reféns do futebol para obter a maior parte de sua receita, e das demais modalidades para ter votos e chegar ao poder.

A realização da Olimpíada no Brasil poderá impulsionar a criação de centros de formação de talentos para o esporte. Nos últimos quatro anos, já surgiram diferentes projetos do gênero, espalhados por todo o país. Cada um deles geralmente abraça apenas uma modalidade, o que faz com que haja maior investimento num único esporte e, também, mais chances de obtenção de resultados a partir disso.

Esse talvez seja o modelo mais interessante para o Brasil seguir.

Com o investimento de empresas privadas ancoradas em leis de incentivo, temos condições de trabalhar o potencial dos atletas independentemente da existência de um clube para “empregá-lo”.

Para a marca, esse investimento traz retorno institucional. Para o governo, é uma forma de ajudar a dar mais acesso à prática esportiva para a população. Para o atleta, é a chance de ter estrutura para crescer. As três partes teriam a ganhar com isso. E, na ponta final disso tudo, temos a chance de tentar formar uma nação com maior capacidade dentro do esporte.

Só não podemos acordar para isso depois que passar o argumento das Olimpíadas para investir.


E para as marcas, como é que fica?
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Erich Beting

As imagens do saguão de guerra que se transformou o embarque do Palmeiras nesta quinta-feira já dizem claramente o quão lamentável são os episódios que têm ocorrido envolvendo torcedores de futebol nos últimos dias. Sim, são casos completamente distintos e que não refletem o pensamento de toda a torcida. Mas não podemos dizer que situações como essa (uso de artefatos para serem ''atirados'' contra torcedores rivais e/ou intimidação de atletas por parte de torcedores) não sejam relativamente comum no cotidiano dos mais fanáticos e brigões.

Só que a situação começa a parecer tomar uma proporção que beira o inaceitável. Afinal, a pergunta que começa a ser feita hoje é: o quão prejudicial podem ser essas histórias de violência envolvendo os torcedores para o futebol?

A morte de um garoto na Bolívia ou o quebra-quebra no aeroporto em Buenos Aires deixam marcas. Há cerca de 20 anos, a briga de torcidas no campo de jogo criou no imaginário das pessoas a sensação de que não dá para ir com segurança a um estádio de futebol. Convivi boa parte da adolescência com essa disputa dentro de casa. Os pais não queriam, de forma alguma, que eu fosse para os jogos. Em clássico, então, muito menos. Reflexo direto do mau comportamento do torcedor.

Quando os mais brigões perceberam que o prejuízo de imagem para as torcidas era muito grande por causa disso, com aumento de fiscalização da polícia, Ministério Público na cola e outras ações menos tolerantes, passaram a preservar o clima dentro do estádio. Mas, agora, parece que o copo voltou a transbordar mais uma vez. O limite do racional está sendo amplamente ultrapassado.

Só que o momento começa a ser prejudicial até para quem investe no esporte. Em meio à briga de torcedores com atletas, além da camisa da principal torcida organizada palmeirense claramente percebia-se a marca dos patrocinadores do clube. E aí, como é que fica para a empresa essa situação?

Sim, o componente exposição na mídia + paixão (a verdadeira, não a doentia) do torcedor são suficientes para que as empresas ''passem por cima'' de algumas histórias. Mas, quando cada vez mais elas são afetadas indiretamente pelo mau comportamento de torcedores, a situação pode começar a mudar.

Assim como a violência nos estádios no fim dos anos 80 e começo dos 90 fez com que a ida aos jogos diminuísse bastante, a que começa a aparecer com frequência na atualidade pode afastar as marcas do esporte. Num Brasil com investimentos em alta por conta de Copa e Olimpíada isso é menos perceptível. Mas, no longo prazo, a fuga das empresas pode gerar um prejuízo financeiro irreversível para o futebol.

Ou os clubes acordam para isso, ou será tarde demais para recuperar o dano causado. O primeiro passo seria, em vez de ajudar na existência das torcidas organizadas, começar a cobrar pelo direito de uso da imagem do clube. Hoje, um dos maiores concorrentes em geração de receita para os clubes é a própria torcida, que não paga por explorar a marca do clube e ainda obtém dinheiro do torcedor que teoricamente seria destinado à instituição.


O risco do ranking do UFC
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Erich Beting

Principal fenômeno de expansão na mídia do esporte nos últimos cinco anos, o UFC deu um arriscado passo recentemente. Desde que passou a crescer, sob comando de Dana White, o grande segredo da liga de lutas mais desejada do mundo foi exatamente dar preferência ao entretenimento no lugar do esporte.

Dana é quem, com pulso firme, comandava o espetáculo de seus lutadores. Como bem apelidou Galvão Bueno na primeira transmissão da TV Globo do UFC, era a reprodução do circo de Roma em pleno terceiro milênio. Tal qual o imperador do passado, o chefão do UFC é quem escolhia os dois gladiadores no octógono.

Isso assegurava nem sempre o duelo esportivamente mais equilibrado, mas sem dúvida eram os dois maiores personagens que estavam em ação naquele momento. Com o melhor pagamento de bolsas para os seus atletas, Dana assegurava que a luta que promovia seria desejada pelo público a partir dos protagonistas.

Talvez quem melhor tenha encarado essa “missão” dentro da liga tenha sido Chael Sonnen. O falastrão americano estava longe de ser o número 2 em qualidade esportiva, mas com certeza era o líder no quesito promoção de uma luta. O que ele fez de ação promocional para que o Brasil quisesse ver os duelos com Anderson Silva tem de entrar no balanço final do UFC como estratégia bem sucedida para ganhar popularidade no país.

Só que agora a formação das lutas deverá ser baseada não mais no “feeling” do criador da liga, e sim no desempenho técnico dos desafiantes. Sem dúvida que, esportivamente, há um ganho para o UFC. É bem provável que duelos de cinco segundos de duração tornem-se raridade.

Mas, como ferramenta de marketing para promoção da liga, o UFC terá prejuízo com o seu ranking. Pelo menos o sonho de ver o esporte como o segundo em popularidade no país estará longe de ser alcançado. Boa parte do consumo da modalidade nos últimos meses foi impulsionado pelo caráter promocional de seus lutadores.

Nem sempre o público quer apenas a melhor disputa esportiva em cena. Considerando que o UFC fez sua fama, principalmente no Brasil, a partir dos critérios nada esportivos para a seleção dos lutadores, a massificação do esporte pode estar com os dias contados.


Barcos e a formação de um ídolo
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Erich Beting

Em recente entrevista ao UOL, José Carlos Brunoro, diretor executivo do Palmeiras, afirmou que sofreu ao decidir pela saída de Hernán Barcos do clube. A história é conhecida de todos, e claramente é o típico caso para ser exposto em sala de aula. Esqueça o que você faria como torcedor. Mas e no papel de gestor do clube, qual decisão você tomaria?

Por todas as circunstâncias envolvidas no atual Palmeiras, a escolha foi pela saída do atleta mais carismático e um dos poucos motivos de orgulho à época para o palmeirense médio.

Aqui já vai uma primeira ressalva importante. Entenda por “palmeirense médio” o torcedor que gosta e acompanha o time, mas não é fanático por ele. Sim, existe esse tipo de cidadão, que raramente é aquele que se dispõe a comentar em blogs, ir a jogo de futebol, mas está por dentro do que acontece no cotidiano do time de coração. Ah, e o mais importante. Estatisticamente ele é a maioria do composto de uma torcida. Em qualquer clube.

A saída de Barcos é o típico caso de falta de gestão de marketing dentro de um clube. Sim, existe toda a história do risco financeiro, mas no caso, como o próprio Brunoro comentou, não haveria risco de perda do atleta por um processo contra o clube. O problema era, claramente, fazer com que o jogador tivesse um nível de relacionamento com o Palmeiras praticamente inviabilizasse a sua ida para qualquer outro time.

Na Europa, os departamentos de marketing dos clubes entenderam a importância de formar e cultivar a relação dos ídolos com os torcedores. Um bom exemplo é o Chelsea. O clube tem contrato de gerenciamento de imagem de 18 atletas da equipe principal. Para cada um deles, cria uma série de ações de relacionamento com o torcedor, criando vínculos emocionais que fazem o jogador sempre ter um carinho maior com a instituição.

Em menos de dois meses no Grêmio, Barcos conquistou o torcedor com o mesmo estilo que ganhou a torcida palmeirense. Entra em campo e faz gols. A grande diferença foi no jogo de terça-feira pela Copa Bridgestone Libertadores. Em ação com a imagem do jogador, o Grêmio pediu que os torcedores fossem à Arena com um tapa-olho nas cores do clube e com o número 28, usado por Barcos. Uma ação simples e eficiente, que já torna o atleta uma “propriedade” do seu torcedor.

No Palmeiras, sem a existência de um departamento de marketing montado de forma a fazer com que haja estrutura suficiente para se trabalhar a imagem do ídolo, Barcos foi apenas mais um jogador, sem criar um vínculo maior com o torcedor.

Para criar o ídolo, é preciso trabalhar ações que, por menor que sejam, deixe o atleta vinculado ao clube. Pode apostar que há fanáticos suficientes para consumir esses produtos. E, com certeza, haverá um carinho muito maior do atleta com o clube. Esperar que a paixão do atleta por um time seja espontânea é coisa de uma era em que o futebol não tinha nem transmissão pela TV.

Sim, há exceções, mas quase sempre elas são os grandes craques que marcaram uma era dentro de um clube. O jogador que tem destaque por um breve período precisa de muito trabalho para seguir vinculado ao clube. E isso, esportivamente, pode ser muito bom para o time.


A necessidade de longevidade no patrocínio
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Erich Beting

A pergunta foi feita ontem durante palestra que dei para uma empresa sobre o mercado esportivo no pré-Copa e Olimpíada.

''O que vai acontecer com esse mercado depois de 2016?''.

Há quase quatro anos, quando o Rio foi eleito sede dos Jogos Olímpicos, diversas pessoas vieram me falar que a hora do esporte havia chegado. Em meio à excitação pela realização dos dois maiores eventos esportivos do planeta em solo brasileiro, a visão era a de que o mercado alcançaria um patamar jamais visto.

Realmente estamos caminhando cada vez mais para isso. Só que, ao mesmo tempo que a expectativa se transforma em realidade, a dúvida para o ''pós-evento'' começa a se formar na cabeça de quem trabalha com o esporte.

''O que virá depois'' é a pergunta do momento. E é, também, a resposta para o crescimento do mercado após 2016.

O Brasil do esporte em 2017 com certeza não terá o mesmo nível de investimento que viveu nos quatro anos anteriores. Mas, também,  não estará num nível tão baixo quanto o dos quatro anos antes de 2013, quando todo mundo acreditava que rios de dinheiro seriam despejados no esporte.

O fato é que estamos passando por um momento de grande aprendizado na área de patrocínio esportivo no Brasil. As empresas estão, finalmente, entendendo que o investimento no esporte não é uma mídia alternativa, mas sim um processo para construção e fortalecimento de marca.

Dois casos recentes que mostram isso são os dos novos detentores do nome da Copa do Brasil e da Copa Libertadores. Perdigão e Bridgestone, respectivamente, fecharam contratos de longo prazo. No caso da empresa de alimentos, o acordo para dar nome à segunda maior competição nacional é de três anos. Já em relação à fabricante de pneus, o patrocínio se estende até 2017.

Nos dois casos, as duas marcas pretendem usar o esporte para formar no consumidor um conceito em relação à empresa. A menção ao patrocínio pelas empresas de mídia é apenas uma parte do motivo para patrocinar, mas o fundamental é poder criar uma série de ações para o consumidor que os aproxime das marcas e, claro, do consumo.

Com a entrada de novas empresas no esporte, a confusão das pessoas em relação a quem patrocina e qual propriedade é cada vez maior. Sendo assim, é fundamental para as marcas criarem projetos que não tenham como objetivo apenas a exposição da marca, mas sim a construção de uma história para o consumidor a partir desse patrocínio.

O Brasil de 2017 deverá ter cada vez menos empresas envolvidas com o esporte, mas elas estarão, aos poucos, cada vez mais comprometidas com o patrocínio no médio e longo prazo.


O vôlei virou refém do dinheiro
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Erich Beting

Na noite desta segunda-feira serão definidas as duas últimas vagas para as semifinais da Superliga feminina de vôlei. Como acontece há quase uma década, as meninas jogam para saber se Sollys ou Unilever vão levantar a taça (os dois times, aliás, foram os que venceram por 2 a 0 o confronto das quartas e já estão nas semis). No masculino, o final de semana definiu os oito times classificados para a fase decisiva. Os seis primeiros colocados são times que têm apoio de empresas, enquanto o título dificilmente sairá de alguma equipe que não seja RJX, Sada Cruzeiro ou Sesi, os três que recebem os maiores investimentos.

A colocação das equipes no principal campeonato do país mostra hoje o quanto o vôlei virou refém do dinheiro no Brasil. Com o modelo de negócios implementados pela CBV e pelos clubes, o capitalismo é a única solução para uma equipe ser competitiva. E isso é péssimo para o próprio negócio da modalidade.

No vôlei, a existência dos clubes depende essencialmente do investimento das empresas. Raramente há uma preocupação dos clubes de viverem do relacionamento com os seus torcedores Sendo assim, o clube depende do interesse que a empresa tem em investir no esporte. Quando finda o motivo para a empresa ter o patrocínio, ele geralmente fecha as portas.

Isso ficou claro há cerca de quatro anos, quando o vôlei assistiu a uma debandada de seus antigos patrocinadores. Santander, Ulbra, Unisul e outras empresas que tradicionalmente estavam ligadas ao esporte decidiram mudar o foco dos investimentos. Em seu lugar, entraram novos times, mas todos eles ligados a empresas e com investimentos ainda maiores. Sesi e RJX, por exemplo, entraram na brincadeira com muito dinheiro, derrubando equipes que já estavam na modalidade com relativo sucesso, como a Cimed, que desmontou o time em Florianópolis após ver que não valeria o investimento necessário para manter o time em alto nível.

É impossível, hoje, que uma equipe consiga bater de frente com os gigantes Sada, RJX e Sesi. Há cerca de cinco anos, o custo médio para ter uma equipe de ponta na Superliga masculina era de cerca de R$ 4 milhões. Hoje, esse é o orçamento de uma equipe de médio para pequeno porte. Os três do topo investem em torno de R$ 15 milhões ao ano na equipe.

Para piorar, o ranking de atletas da CBV, que tenta dar uma equidade ao nível técnico entre as equipes, só faz aumentar a dependência do dinheiro. Jogadores repatriados não somam pontos para o ranking. Só que eles quase sempre são os que custam mais caro, então só podem reforçar os times com mais dinheiro.

O vôlei brasileiro nunca esteve tão endinheirado como antes. O problema é que isso faz com que o número de equipes com reais chances de disputa da Superliga se restrinjam a, no máximo, três ou quatro times no masculino e, quase sempre, dois no feminino. O esporte, curiosamente, virou refém do dinheiro.


O advogado que sabia de menos
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Erich Beting

A história é bizarra em todas as instâncias. O tal advogado que resolveu ir à Justiça para anular o contrato de patrocínio da Caixa ao Corinthians (leia aqui) jogou a corda para ele mesmo se enforcar.

A começar pelo momento em que resolve ir à Justiça (cerca de quatro meses depois de o contrato ter sido assinado), passando pelo fato de simplesmente não saber que a Caixa já investia em clubes de futebol e terminando pelo argumento de que colocar a marca numa camisa ''não dá retorno de imagem'', a sensação que se dá é de que o advogado sabe de menos.

Não sabe, por exemplo, que a própria Caixa patrocina outros esportes: atletismo, ginástica, luta olímpica e o Comitê Paraolímpico Brasileiro. Mais ainda, antes do Corinthians, a marca já estava na camisa de Avaí, Figueirense e Atlético-PR.

Como escrevi aqui na assinatura do contrato entre empresa e clube, o acordo tem por trás uma disputa dos cinco maiores bancos do país pelo consumidor ligado ao esporte (para ver a seção nostalgia clique aqui). Nesse cenário, a Caixa vinha perdendo terreno para Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander e precisava ter uma propriedade que pudesse fazer frente à concorrência.

E é aí que o nobre advogado dá a corda para se enforcar. O argumento de que ''não dá retorno de imagem'' o patrocínio a uma camisa de futebol vira algo totalmente sem sentido quando o próprio advogado que entra com o processo mostra que só tomou conhecimento da relação da Caixa no futebol quando a empresa chegou ao Corinthians.

Como então, dizer que o patrocínio não trouxe maior alcance para a marca da Caixa?

Temos um enorme problema conceitual no Brasil. As pessoas costumam confundir patrocínio no esporte com caridade. Ainda mais quando ele vem de uma empresa estatal. Sim, a história contribuiu muito para isso. No passado, com o esporte quase nada profissionalizado, geralmente o investimento tinha cunho político. A empresa, seja ela estatal ou não, raramente tinha uma estratégia para investir no esporte.

O caso mais emblemático disso foi o investimento do Banco do Brasil no vôlei. No início dos anos 90, as empresas estatais foram levadas a investir nas confederações dos chamados esportes olímpicos para ajudar financeiramente essas instituições, que estavam à beira da falência.

Na época, apenas a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) tinha um projeto consistente para fazer do Brasil uma potência mundial no esporte. O planejamento da CBV, turbinado pelo dinheiro do BB, deu certo, e a história a gente já sabe. O banco, corretamente, se apropriou desse sucesso e passou a usar o vôlei para rejuvenescer a marca, aproximar-se do público jovem, aumentar a visibilidade da empresa, investir em ações de marketing, etc. A partir do sucesso dentro da quadra é que a estratégia para o patrocínio, que dura até hoje, foi criada.

Hoje, porém, o mercado de patrocínio esportivo mudou muito. As empresas estão cada vez mais planejando antes de investir. A entrada da Caixa no futebol, por exemplo, se deu por necessidade de posicionar a empresa frente a investimentos cada vez maiores e mais midiáticos dos concorrentes. A oportunidade que existia era patrocinar camisas de clubes de futebol, usando também o torcedor desses times para alavancar outros produtos a serem comercializados pela empresa.

No final das contas, essa tal ação do advogado parece muito mais a tentativa dele de alavancar nacionalmente seu nome do que propriamente de zelar pelo bom uso do dinheiro público. O que seria mais uma mostra de como o patrocínio faz sentido para a marca…