Negócios do Esporte

Por um futebol melhor força a profissionalização
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Erich Beting

Há uma semana, mais ou menos, escrevi aqui que o futebol não precisava de profissionalização para conseguir receita. Mas ontem até que a impressão que se teve foi outra ao participar do evento ''Por um futebol melhor'', bandeira levantada pela Ambev para tentar fazer com que, em 2015, o Brasil tenha o melhor campeonato de futebol do mundo.

Para chegar a esse objetivo, a Ambev planeja fazer com que os programas de sócio-torcedor virem um grande meio de incentivo ao consumo para o torcedor. Para isso, escalou outras empresas para fazer parte do projeto. Ontem, no lançamento pomposo, com direito a Galvão Bueno no comando e Ronaldo como narrador da campanha, estiveram presentes os presidentes e principais executivos de Ambev, Bradesco, Burger King, Danone, Netshoes, Pepsico, Seara, Sky e Unilever.

Conclusão: é muita gente de alto calibre para que os clubes não forcem a, pelo menos, iniciar a profissionalização dos seus gestores. Daí a impressão de que o caminho está relativamente sendo aberto para uma melhoria como um todo na gestão dos clubes. Esse, aliás, é o único caminho para que o projeto vingue e consiga cumprir a meta de, em 2015, o Brasileirão ser o melhor campeonato nacional do mundo.

A meta é extremamente ambiciosa. Mas, vindo de uma empresa que conseguiu fazer da então improvável fusão de Brahma e Antarctica a maior cervejaria do mundo, não dá para cravar que seja impossível.

Os clubes foram agora colocados numa encruzilhada. Estão com a arma apontada para a cabeça. Se não conseguirem, agora, mudar a maneira como se relacionam com o torcedor, perderão de vez a credibilidade com importantes empresas do mercado.


A hora H para os projetos de sócio-torcedor
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Erich Beting

Será lançado logo mais o projeto da Ambev para turbinar os programas de sócios-torcedores em todo o país. Chamado de ''Movimento por um futebol melhor'', o plano é fazer com que os programas de benefícios para os associados saiam da letargia de ser apenas uma forma mais simples de comprar ingresso para ser,de fato, um programa com descontos em diversos produtos para a compra do torcedor.

A base para o lançamento da plataforma é o número de torcedores que existem no país conforme as pesquisas de opinião feitas periodicamente pelos principais institutos do Brasil. Na conta da Ambev, mentora do programa, se 2% de todos os torcedores se engajarem na campanha, a previsão é de que os clubes aumentem substancialmente sua receita, podendo chegar a um faturamento mensal da ordem de R$ 30 milhões.

Atualmente os programas de benefício são feitos tendo como base o interesse que existe do torcedor em ir ao estádio e, ainda, em ter facilidade para comprar ingresso, especialmente dos jogos mais concorridos. Geralmente a adesão e permanência nos sócios-torcedores estão atreladas à performance dentro de campo.

Criar outros benefícios, como a compra de produtos mais baratos, torna-se então algo naturalmente atrativo para fazer com que o torcedor tenha interesse em se afiliar a um desses programas. Nos cálculos de quem montou o projeto, os benefícios tendem a chegar a R$ 45 ao final do mês, o que poderia, nos casos dos pacotes mais baratos, representar ganho em dinheiro para o torcedor.

A questão, porém, é saber primeiro se essas pesquisas de torcidas são, realmente, a melhor base para fazer qualquer projeção. Estatisticamente, 2% é a proporção de fanáticos/ávidos consumidores numa pesquisa de opinião. E possivelmente é esse o cálculo feito pela Ambev: do universo de torcedores 2% seriam fanáticos a ponto de se engajar num programa de sócio-torcedor.

Mas aí entram as nuances que envolvem os clubes. Os projetos, pelo histórico, se relacionam com o torcedor apenas pela venda de ingresso de jogo. Os planos que tentaram criar alternativas de consumo geralmente naufragaram, principalmente pelo fato de a principal fonte de receita estar no tíquete para a partida. Será preciso repensar o modelo usado até agora e, especialmente, modificar a plataforma de comunicação com o consumidor.

E é nessa hora que o fato de o público-alvo dos sócios-torcedores ser apenas o mais fanático cria um caminho mais difícil para que os projetos vinguem. Com o fanatismo, a adesão ao conceito do projeto oscila muito mais conforme o desempenho do time. A tendência é que o aumento dos benefícios concedidos ao torcedor amplie também a adesão deles aos projetos.

Resta saber se as empresas envolvidas terão paciência de esperar pelo entendimento, por parte do consumidor, de que sócio-torcedor pode ir além da facilidade de acesso ao ingresso…


O mercado cada vez mais se regula
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Erich Beting

''O preço para patrocinar uma equipe de futebol com destaque é muito alto''. A frase é de Frederico Themoteo, diretor de marketing da GM do Brasil, ao comentar um dos motivos que levaram a empresa a optar por patrocinar 20 campeonatos estaduais no Brasil até o mês de maio em vez de partir para algo de maior perenidade ao longo do ano no esporte mais popular do país (a matéria está aqui).

A declaração do executivo é uma espécie de síntese de como se transformou o mercado de patrocínio esportivo no Brasil nos últimos cinco anos, mais precisamente desde que o país foi eleito sede da Copa do Mundo de 2014 e, posteriormente, dos Jogos Olímpicos de 2016.

Naquela época, os maiores contratos de patrocínio no futebol giravam em torno de R$ 15 milhões ao ano, enquanto a CBF contava com os patrocínios de Itaú, Ambev, Vivo e TAM. Hoje, o valor do maior patrocínio dobrou, assim como a confederação brasileira atingiu a marca de 12 empresas patrocinadoras.

Da mesma forma, a partir de 2009, fora do universo do futebol, a mudança foi brusca. Entre todas as confederações, só vôlei e judô contavam com patrocinadores que não eram empresas estatais. Hoje, diversas marcas privadas investem nas entidades e também em projetos paralelos, envolvendo os atletas, que também viram seus ganhos com patrocínio saltar como nunca.

Esse crescimento do mercado esportivo levou a algumas consequências interessantes. A primeira e mais óbvia delas foi o aumento da arrecadação das entidades e dos atletas. A segunda, que implica num processo mais lento de transformação e, por isso mesmo, mais duradouro, é na mudança do tipo de patrocínio que é feito no esporte.

Os eventos dos próximos anos trouxeram o patrocínio esportivo para dentro da pauta das empresas e agências de publicidade. Com isso, passou a fazer parte do projeto de comunicação das marcas engajar-se com o país do esporte de alguma forma. Só que a busca desenfreada pelas propriedades, sintetizada pelo festival de marcas expostas nos uniformes do futebol de tempos atrás, levou a relação do mercado corporativo com o esporte para um segundo nível.

O aumento da procura levou ao natural aumento de preços. E isso fez com que muitas empresas colocassem o pé no freio e, antes de gastar, começasse a pensar. A primeira pergunta feita é ''quanto eu tenho pra investir?''. Isso já começou a limitar as ações ou, pelo menos, a transformar a realidade do mercado. O futebol tem se tornado plataforma para poucos e com muito dinheiro. A Copa e a Olimpíada já proporcionaram outro ''facão''. E, com tudo isso, abriu-se o leque para os projetos menores.

O mercado vai, cada vez mais, regulando a indústria do esporte. Os peixes grandes tomam conta daquilo que é maior e, principalmente, com contratos mais longos, mudando uma característica cultural nossa de investimentos curtos. Já os peixes menores ficam com as propriedades mais alternativas, de menor apelo de mídia, de público mais segmentado, etc.

O próximo passo de mudança será quando as empresas começarem a fazer uma pergunta mais profunda do que apenas o custo do investimento. Daqui a um tempo virá a questão: ''o que eu quero com o patrocínio?. E aí será a hora de as agências de marketing esportivo se prepararem para uma revolução em relação a tudo o que existiu no mercado até hoje.


O conveniente valor do acordo São Paulo e Penalty
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Erich Beting

Já faz quase duas semanas que, pelas redes sociais, torcedores me cobram uma análise sobre o contrato entre São Paulo e Penalty, avaliado, pelas duas partes, em R$ 35 milhões. Não havia me manifestado antes pelo fato de não ter tido tempo de debruçar-me um pouco mais sobre o assunto além do básico, que era o anúncio oficial.

Mas ontem o Rodrigo Capelo publicou mais detalhes esclarecedores em seu blog na Época Negócios (leia aqui). Da mesma forma, em entrevista à Máquina do Esporte que será publicada na sexta-feira, Rafael Gouveia, gerente geral da Penalty, afirmou entre outras coisas que o valor divulgado é de R$ 35 milhões, mas que o investido em espécie não chega a tanto.

Vamos primeiro tentar trazer a explicação para o torcedor. Os contratos de patrocínio desses grandes clubes com grandes marcas envolvem geralmente um pagamento fixo em dinheiro, apelidado de luvas. Seria o equivalente ao que um time paga para ter um jogador. No caso da Penalty com o São Paulo, ele é de R$ 13 milhões. No do Flamengo com a Adidas, de R$ 12,5 milhões durante cinco anos, subindo para R$ 17,5 milhões nos últimos cinco anos (detalhes aqui). E, no novo acordo Corinthians-Nike, de R$ 15 milhões.

Depois desse valor fixo, existe um acordo para o fornecimento de uniforme em si. É feito um cálculo geralmente usando-se como base a quantidade de peças que serão destinadas ao clube ao longo do ano. Nessa conta entra camisa de jogo, de treino, uniforme de viagem, meia, calção, mochila, etc. O valor a ser pago, aí, é geralmente divulgado tendo como base o preço ''cheio'' de cada um desses produtos. Ou seja, aquele que chega para o consumidor final. É uma forma de ''inflar'' os valores do contrato. E o preço médio por peça considerado pelo mercado é de R$ 70.

Por fim entram os valores variáveis do acordo. Quase sempre essa equação é composta de dois itens: bonificação por performance e pagamento de royalties. O primeiro é fácil de entender. Conforme o clube for nas competições, ganha prêmio em dinheiro. São as metas de desempenho. Essas, quase sempre, são levadas em conta para levar o contrato lá para o alto. E quase sempre tendo em vista o maior potencial de receita que pode existir.

Já os pagamentos de royalties são mais complexos de entender. Até porque o modelo de pagamento varia. Na maior parte das vezes é estabelecido um valor mínimo de vendas por mês. O que passa dessa conta fica parte com o fabricante e parte é repassada ao clube. Geralmente de 5 a 10% do total vendido a mais do que aquele mínimo é o que volta para o time. Mas, em alguns casos, como nos contratos de Corinthians e Flamengo, por exemplo, a empresa também garante um pagamento fixo mesmo que a meta não seja atingida.

Sendo assim, a Penalty e o São Paulo convenientemente inflaram para R$ 35 milhões o valor do contrato de ambos (ele vale isso, mas só espremendo tudo ao máximo). Para os dois, o motivo que leva a isso é o mesmo. Ficar melhor na foto com seus concorrentes. É importante para o Tricolor se posicionar como alguém que, mesmo com menor torcida, tem melhor contrato do que o Corinthians e de que está bem próximo daquele do Flamengo.

Já para a Penalty, no meio de uma mudança de mercado provocada pelo ocaso da Vulcabras|Azaleia, é perfeito mostrar que ela resolveu se meter no duelo Nike e Adidas pelos grandes do futebol nacional. Tanto que, das cinco maiores torcidas, duas (Vasco e São Paulo) estão com ela. Tudo isso representa um grande salto para uma marca que, há dois anos, estava perdida sem saber que rumo tomar e que retomou o projeto de ser a principal empresa brasileira no futebol, posto esse que já alcançou e que agora consolida e se vangloria com o acordo recorde com o São Paulo.

O fato é que Flamengo, São Paulo, Corinthians e todos os demais clubes não recebem o dinheiro que dizem quando os valores do contrato são revelados. Para quem quiser saber o valor mais ou menos exato, o ideal é esperar até abril de 2014 quando os balanços financeiros de 2013 serão divulgados. Quem sabe ali será possível ter uma ideia de quanta grana entra no caixa de cada um dos clubes referentes ao patrocínio.

Mas se você quiser ir além da picuinha de dizer ''eu ganho mais'', saiba que geralmente são as empresas de material esportivo que ditam o potencial de arrecadação dos clubes no Brasil. Por depender diretamente da venda de produtos, são elas as que mais pesquisam o quanto cada clube pode vender e, assim, pagam geralmente o preço ''justo''. E, nesse quesito, corintianos, flamenguistas e são-paulinos podem se gabar, já que estão à frente dos demais adversários. Nessa lista, se tiver com a casa minimamente arrumada, o Palmeiras também pode fazer parte. Nos rankings de vendas de uniforme, geralmente o alviverde duela com o São Paulo pelo terceiro lugar.

Só que isso é tema para outro post…


O futebol não precisa de profissionalização
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Erich Beting

A frase do título é dura, ainda mais para quem tem vontade de não apenas trabalhar, mas também de mudar os rumos do esporte. Mas, a cada dia que passa, fica claro que o futebol não precisa da tal profissionalização. Pelo menos não de uma profissionalização plena para conseguir gerar mais receita.

Na manhã desta quarta-feira, na sede da Federação Paulista de Futebol, foi apresentado o projeto de patrocínio da Chevrolet a 20 campeonatos estaduais pelo país, além dos aportes que a montadora já faz no futsal e no futebol da areia (leia detalhes aqui). O evento, capitaneado pela dupla José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, foi marcado pelas gafes e pela certeza de que muito pouco irá mudar na cúpula que gerencia o futebol, seja ela a CBF, a FPF ou qualquer outra federação e clube do país.

O ponto alto do evento foi o momento em que Delfim Pádua Peixoto Filho, presidente da Federação Catarinense e levado ao palanque para discursar por Reinaldo Carneiro Bastos, eterno vice-presidente da FPF, intimou a Chevrolet a dar um carro para as federações já que o veículo ficará exposto nos estádios durante os jogos.

A declaração, que arrancou risos dos presentes e principalmente de executivos da Chevrolet, reforça a total falta de preparo dos dirigentes esportivos que estão na alta gerência e, também, a pouca importância que isso tem na geração de negócios para o futebol. Para a empresa, esse tipo de ''sapo'' que é preciso engolir na relação com as entidades patrocinadas é perfeitamente aceitável, desde que ela tenha o benefício da comunicação com o público ao patrocinar o esporte.

O problema é mundial. A força que o futebol tem de mobilização e engajamento das pessoas faz com que quem trabalha com ele precise ser, antes de tudo, político. Isso leva a uma semi-profissionalização da cadeia empregatícia do esporte.

A lógica é simples: as marcas vão investir nas propriedades disponíveis apesar dos dirigentes, e não por causa deles.


O dilema que pode ruir o marketing do Flamengo
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Erich Beting

Durante a plataforma de campanha, o grupo comandado por Eduardo Bandeira de Mello no Flamengo bateu na tecla de que o marketing do clube era ineficiente. Usavam como maior argumento o fato de o Fla continuar sem um patrocinador principal na camisa durante todo o ano de 2012, enquanto a maioria dos outros adversários, bem ou mal, estavam com seus parceiros comerciais estampados no uniforme.

Veio a eleição, a chapa de Bandeira de Mello ganhou e, agora, com cerca de 15 dias de trabalho, a situação que antes era oposição já começa a sentir os efeitos de estar ''do outro lado''. Os dilemas já causaram a primeira baixa no ''time'' (leia os detalhes aqui). João Henrique Areias, que era a personificação da mudança do marketing nem bem começou o trabalho e já foi embora.

O motivo alegado era o de que Areias é um homem de planejamento, quando no momento o clube precisa de ''ação''.

Como se sabe, o vice-presidente de marketing é Luiz Eduardo Baptista. Empresário consagrado, aos 50 anos Baptista é o presidente da operadora de televisão por assinatura Sky. Bap, como é chamado, gosta de ser colocado na posição de personificação do sucesso da empresa no Brasil. Da mesma forma, é uma pessoa extremamente competitiva. Tanto que retira os aportes feitos pela Sky no esporte quando a equipe patrocinada não obtém o resultado esperado, que geralmente é a vitória. Foi assim que ruiu, por exemplo, o projeto da empresa no vôlei masculino.

Por essas características, mostra ser uma pessoa extremamente prática e, realmente, afeita à ação.

O problema é que o Flamengo não precisa, necessariamente, só de ação. O planejamento do marketing é extremamente importante para o clube pensar o que será dele nos próximos anos. Até porque o maior momento de ação que precisa ser feito é na renegociação da dívida e, também, na normalização do fluxo de caixa. Isso asseguraria o resgate da credibilidade da marca do clube para, então, o marketing poder ir atrás de receita nova.

O planejamento, nesse primeiro momento, cairia como uma luva para o projeto do novo Flamengo. Até porque dentro do próprio marketing do clube há alguns planos em execução (TV Fla e a remodelação do sócio-torcedor, por exemplo) que precisam ser vislumbrados dentro da ótica do novo projeto para o clube e também de ação constante.

Só que se a equação planejar + agir se transformar num dilema planejar x agir, o marketing do Flamengo pode entrar em ruína.

Como já ficou provado na gestão anterior, é preciso muito mais do que bons contatos e reuniões para fazer o clube alavancar as receitas, principalmente aquelas oriundas de patrocínio na camisa, algo que está cada vez mais caro e mais difícil de se conseguir no aquecido mercado brasileiro.

Um bom exemplo disso é o contrato da Adidas, negociado na gestão anterior e fechado por dez anos, com a premissa de que o clube reduzirá o número de parceiros comerciais expostos na camisa e buscará contratos de duração mais longa, seguindo o que é a tendência de relacionamento entre patrocinado e patrocinador na Europa. Foi a união de planejamento com ação.

Mas esperar planejamento quando o vice-presidente de marketing declara que ''o conceito de patrocinador master é bobagem'', propondo a rotatividade entre três diferentes marcas no uniforme do clube ao longo da temporada, sem fechar com uma única empresa é, realmente, esperar muitas ações. A maioria delas, pelo visto, assustadoras…


Esporte começa a derrubar mito da exposição na camisa
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Erich Beting

A crise virou tempestade no esporte pelo mundo.

A economia que tende a não crescer na Europa e nos Estados Unidos tem feito com que um dos mantras do marketing esportivo comece a ser colocado abaixo. Enquanto as principais ligas americanas discutem cada vez com mais afinco a ideia de abrir espaço para a publicidade nos sagrados uniformes dos times, a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) já se antecipou. A entidade que controla o tênis anunciou a liberação de publicidade nos uniformes dos atletas (leia os detalhes aqui).

A medida da ATP e a discussão nos EUA revelam algo que, no Brasil, sempre foi a regra. No fim das contas, o que dá mais retorno para a empresa no investimento no esporte é a exposição de sua marca. A diferença é que, nos locais onde o esporte como negócio está mais desenvolvido, a força da marca das entidades esportivas fazia com que as empresas tivessem de se contentar em apostar mais na ativação do que na exposição ao optar pelo patrocínio.

Agora, com menos dinheiro em circulação, as empresas colocaram os dois pés no ferio. O primeiro impacto foi na redução do programa de patrocínio esportivo. Projetos maiores seguiram pelo custo benefício, enquanto aquele que dava menos retorno foi, aos poucos, sendo retirado dos planos de marketing das empresas.

Com a economia ainda em ponto morto, o esporte passou a sofrer mais ainda. E tem precisado abrir o espaço para que as marcas apareçam na televisão para conseguir despertar nelas o interesse em continuar a investir. O mito de que o melhor do esporte é ativar, com a exposição sendo o ''bônus'' para a marca, começa a cair por terra.

O conceito, criado pelos esportes americanos e solidificado no programa de patrocínio dos Jogos Olímpicos, começa a cair por terra por conta da crise nas grandes economias mundiais. Por terras brasileiras, sempre foi considerado um ''atraso'' a constante busca só pela exposição da marca, tanto que só começamos agora a pensar em ativação do patrocínio. Por lá, o processo inverso é muito mais uma necessidade do que uma tendência. No fim das contas, a tendência é partir para algo similar ao que deveremos chegar daqui a uns cinco anos no mercado brasileiro.

Por incrível que pareça, ainda corremos o risco de virar vanguarda no marketing esportivo…


O esporte que não se insere como entretenimento
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Erich Beting

Fiz a brincadeira no final de 2011, em meio ao tradicional marasmo que irrompe no esporte brasileiro geralmente entre 20 de dezembro e a primeira semana de janeiro. Na ocasião, brinquei que já era hora de o vôlei criar uma rodada no dia de Natal. Em meio às reclamações de atletas e familiares deles, meu ''protesto'' acabou ficando em vão.

Só que, mais uma vez, tivemos exatamente o mesmo ''problema'' no esporte brasileiro nas três últimas semanas. Recesso de fim de ano, todos folgam, ninguém joga. E isso revela a total falta de visão do esporte como parte da indústria do entretenimento. Quem trabalha no meio esportivo já sabe que feriado e final de semana é geralmente o dia mais importante de trabalho. Mas é engraçado como, no Brasil, algumas datas viram ''sagradas''.

Ainda mais em modalidades que passam o ano inteira sufocadas pelo futebol, as datas comemorativas de Natal e Ano Novo poderiam servir como ótima válvula de escape para ganhar espaço na TV aberta e, mais do que isso, entrar no cotidiano do torcedor. O esporte é entretenimento e, como tal, precisa ser realizado no período de folga das pessoas.

Não é ''loucura'' que americanos e ingleses marcaram, para os dias 25/12 e 1°/13, partidas dos campeonatos de futebol americano e da liga inglesa de futebol. As maiores audiências de TV e até mesmo taxa de ocupação do estádio da temporada regular são aquelas dos eventos realizados nesses dias.

As datas festivas são momentos em que geralmente as pessoas estão com a família ou com o ''tempo livre''. Enquanto sobra tempo para o entretenimento, curiosamente falta opção no esporte brasileiro para atender o torcedor. Ainda mais agora, com a São Silvestre no período da manhã, nem mesmo a corrida do dia 31 de dezembro consegue ser inserida no calendário de audiência da televisão.

Enquanto o esporte no Brasil não se inserir como parte da indústria do entretenimento, continuaremos a ver a velha choradeira de sempre sobre a overdose de futebol na mídia esportiva nacional. O problema é que as demais modalidades seguem achando que vão viver só do esporte, sem perceber que é preciso criar um motivo para o torcedor comparecer ao seu evento. Isso passa, também, por aproveitar as oportunidades deixadas pelo futebol.

Do contrário, o grande evento transmitido no fim de ano continuará a ser a reprise daquilo que já vimos no ano todo…


Guia prático para ler uma pesquisa sobre tamanho de torcida
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Erich Beting

Bom, se alguém quiser registrar, já fui mais rápido. De qualquer forma, esse seria um bom título para um livro que abordasse a paixão que o ser humano em geral tem sobre pesquisas e seus resultados. Quando o tema é eleições para cargos eletivos ou tamanho de torcidas de times de futebol, então, aí é uma saraivada de bobagens para desmoralizar os números explicitados com exemplos muito bem embasados de vida pessoal.

Já faz quase um mês que saiu a pesquisa do Datafolha apontando empate técnico entre Corinthians e Flamengo no ranking de maiores torcidas do país. Na época não me manifestei porque daria a mesma opinião de quando saem essas pesquisas. Para mim, a validade delas vai até a obrigatória segunda pergunta. Você consumiu qualquer coisa relativa a seu time nos últimos seis meses?

Provavelmente a resposta seria não para a esmagadora maioria das pessoas. E isso não é presunção do blogueiro, mas estatística. Em qualquer segmento, a proporção de fanáticos é ínfima, não chega a 10% de todo o universo de pessoas. Na verdade, raramente passa de 2 a 5% do total. A quantidade de pessoas fanáticas pela Apple não chega a 2% da população mundial. Mas as filas que vemos se formar em frente às lojas para comprar um novo aparelho nos dão a impressão de que só há o Iphone no mundo. E, claro, só porque nós temos um celular desses, achamos absurdo alguém pensar em consumir um smartphone de outra marca ou, o que é mais comum, não ter sequer um telefone celular.

E esse é o ponto inicial do nosso ''Guia Prático''.

Geralmente quem lê e comenta sobre as pesquisas é a pequena parcela de fanático que existe sobre aquele assunto. Sendo assim, ele precisaria entender que o ''torcedor'' em questão não é aquele cara que compra camisa do time, que assina pay-per-view ou que vai ao estádio. Pelo contrário. É o cara que torce só se for um programa legal de se ver, de curtir com os amigos, com o/a namorado/a, etc.

Partindo desse princípio, temos de seguir para o passo seguinte. O resultado da pesquisa, portanto, vai oscilar conforme o desempenho do time. Mas, como no caso do Brasil há um fator primordial, que é a transmissão da TV aberta, o resultado não vai fugir do básico: Flamengo e Corinthians serão as maiores torcidas, enquanto Palmeiras, São Paulo e Vasco vão oscilar na segunda posição, dependendo do desempenho de seus times. Fluminense e Santos, pelas conquistas recentes, poderão aparecer um pouco melhor num ou noutro ano.

Por isso mesmo, as pesquisas que são divulgadas amplamente no país sobre ''tamanho de torcida'' servem apenas para jogar conversa fora em bar, ou nas mesas-redondas que infestam os canais esportivos. Afinal, elas não dizem quase nada sobre o perfil do consumidor de um clube de futebol. O máximo que podemos ter é uma ou outra informação sobre a distribuição geográfica desses torcedores e também distinção por gênero e classe social.

Um dos mais importantes saltos que o esporte precisa dar no Brasil é com relação à busca de dados qualitativos sobre seu consumidor. Quem são, onde estão e o que fazem os consumidores do esporte no país? Há pelo menos seis anos essa pesquisa é feita anualmente pela empresa Sport Track. Os resultados são bem interessantes, e mostram que há muito mais vida inteligente do que apenas responder à pergunta: ''Para qual time você torce''?

Mas, se a proposta for apenas ter mais assunto para a conversa no bar, então use esse guia prático que ele vai te ajudar bastante a repensar os números apresentados por essas pesquisas. Eles não estão distantes da realidade do país.

Na verdade, você – e seus amigos – é que são o ponto fora da curva…


Brasil, o levantador de medalhas
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Erich Beting

O esporte mais praticado no Brasil é o levantamento de medalhas.

Tomo aqui a liberdade de surrupiar a frase perfeita de Sergio Xavier, diretor do Núcleo Motor, Esporte e Turismo da Editora Abril, para explicitar o pensamento que toma conta do país a menos de três anos do início dos Jogos Olímpicos de 2016.

Temos, por cultura, o hábito de valorizar apenas as conquistas, e de preferência as douradas. Normal. É assim não apenas aqui no Brasil, mas na maioria dos países que têm o ego valorizado. O problema é que, pelas bandas tupiniquins, queremos atropelar um pouco as coisas e virar uma ''potência olímpica'' sem apresentar o requisito básico, que é ter planejamento para a prática de esporte.

Nos Estados Unidos, o lema ''sem ouro, sem medalha'', inspira empresas e atletas a buscarem o ouro. É a essência da meritocracia em sua mais cruel face: só o que reluz é ouro. Mas, por lá, a estrutura existente para o atleta chegar a uma Olimpíada em condições de conquistar uma medalha permite que esse nível de cobrança exista e, no quadro de medalhas, acompanhamos o reflexo claro disso.

Por aqui, é impossível pensar num Brasil mais vitorioso do que já é no esporte. Não pela falta de capacidade do país, mas pela falta de condições em um atleta chegar ao nível máximo de performance. Daí o projeto absurdo do governo federal, turbinado pelo ego do comando do Comitê Olímpico Brasileiro, de valorizar apenas a conquista de medalhas.

O grande caminho para o sucesso do Brasil no esporte passa pela realização dos Jogos Olímpicos. Não pelo que isso representa no quadro final de medalhas, mas pela mudança de entendimento do povo brasileiro do que é esporte. Somos monotemáticos na prática e consumo de informação do esporte. O futebol domina o noticiário e, naturalmente, a prática esportiva das crianças. Com as Olimpíadas, podemos construir espaços para outros esportes surgirem, já que não será apenas na estrutura do Rio que os países vão se alojar, sendo necessária a melhoria de infraestrutura esportiva como um todo em todo o país.

Só que o governo só quer olhar a medalha. Pressionado pelo COB e pela mídia (que insiste em só exaltar as histórias vitoriosas), criou um plano para que as empresas estatais invistam no esporte. Não na base, nem na melhoria de estrutura, ou na formação de novos atletas, mas sim nas ''modalidades com potenciais de medalha''.

Da mesma forma, o Ministério do Esporte e o COB, quando consultados por empresas que querem investir no esporte, indicam aqueles mesmos atletas e aquelas mesmas modalidades que já dispõem de recurso e estrutura para conquistar uma medalha.

Ou seja, continuamos a praticar nosso esporte predileto, que é levantar medalhas. Nada contra a empresa obter o retorno de visibilidade pela conquista de um medalhista olímpico. Mas, como projeto de nação, deveríamos estar mais preocupados não em ter uma boa posição no quadro de medalhas sem melhorar a estrutura esportiva, acreditando que um levaria ao outro.

A proporção é radicalmente inversa. Sem ampliação da prática de atividade física pela população, com mais acesso a áreas públicas e não-públicas para fazer algum esporte, fica muito difícil conseguir bom desempenho nas grandes competições.

Se quisermos ser, realmente, um país levantador de medalhas, temos de deixar de priorizar quem já tem condições de levantá-las.