Negócios do Esporte

Futebol começa a acordar para as redes sociais
Comentários Comente

Erich Beting

Um anúncio divulgado praticamente aos 45 do segundo tempo pela Primeira Liga e pelo Twitter, na noite de terça-feira, revelava uma parceria entre as duas empresas para a promoção do campeonato organizado pelos clubes. No dia anterior às semifinais, o Twitter se transformou no primeiro parceiro de mídia oficial de uma competição esportiva no Brasil (detalhes aqui).

O negócio mostra que, aos poucos, o futebol começa a acordar para as redes sociais.

Ter um perfil dos clubes nos principais canais sociais é perceber parte da necessidade de usar esses canais para promoção. Mas levar para um novo patamar, que é a promoção do evento que as redes sociais pode gerar, é parte importante da evolução do esporte e, mais do que isso, sua conexão com o torcedor jovem, necessidade de toda empresa que quer garantir a vida futura.

Nos Estados Unidos, mercado muito mais maduro, a NFL fez acordo com a Amazon para promover filmes de bastidores de equipes no aplicativo concorrente da Netflix (veja aqui). É uma evolução desse negócio. Não é mais só o jogo ao vivo que pode ser um produto que renda valor para o esporte.

Com o desenvolvimento da tecnologia para captação de imagens, o esporte precisa se colocar como produtor de conteúdo. A tendência, já quase uma realidade, é que os departamentos de comunicação se transformem em grandes redações de jornalismo, produzindo tudo sobre o cotidiano daquele clube, atleta ou competição.

Mais do que apenas questão de aproximação do público jovem, as redes sociais abrem uma nova oportunidade para a geração de receita no esporte. Com conteúdo exclusivo e de qualidade, será praticamente impossível para a mídia tradicional concorrer com isso. E, na parte final da ponta, o jogo ao vivo terá cada vez mais valor para os veículos.

O jogo de forças entre mídia e esporte tende a ter um claro vencedor mais para a frente.


O discurso da Copa sobreviverá à Lava Jato?
Comentários Comente

Erich Beting

Começou a ruir hoje o discurso de legado gerado pela Copa do Mundo para o futebol. A inclusão da Arena Corinthians nas investigações da Lava Jato é o começo da abertura da caixa preta das construções de estádios no Brasil, a toque de caixa, nos últimos cinco anos.

Ainda haverá muito a ser investigado e, a partir daí, poderemos tirar qualquer conclusão mais detalhada do que ficará após a terra arrasada, se é que de fato ela ficará arrasada, ou só será revirada.

Com a falência das empreiteiras (se não financeira, sem dúvida moral), os estádios que estão hoje nas mãos dessas empresas vão passar para seus antigos donos.

Se eles não quiserem assumir a bronca (e a conta), o que vai acontecer?

Em Cuiabá, onde nenhuma empresa privada quis assumir o risco de gerenciar o estádio, o legado veio menos de dois anos após a Copa. Entregue à gestão pública, a Arena Pantanal definhou em tempo recorde.

As arenas da OAS estão começando a sair das mãos da empresa. Os estádios da Odebrecht, idem. E quem vai cuidar desses aparatos? Comprovadamente, colocar o estádio nas mãos da esfera pública não é certeza de sucesso, pelo contrário.

O tal legado prometido com a Copa do Mundo poderia ter vindo, se não das obras de mobilidade urbana, da melhora do aparato para a prática esportiva. Ao que tudo indica, com a Lava Jato chegando aos estádios construídos para o Mundial, há uma grande chance de mudar de vez os donos dos estádios.

E, ao que tudo indica, isso não significará necessariamente a melhora na gestão dos aparatos.


A corrida sob ponto de vista da diversão
Comentários Comente

Erich Beting

Corrida de rua, no Brasil, é tratada quase sempre como assunto sério. Raras são as provas pelo país que conseguem atrair o corredor não pela performance, mas pela diversão. E talvez esse seja o motivo para, apesar de registrar crescimento exponencial, o mercado de corrida de rua ainda não atingir patamares tão grandes quanto nos EUA.

Na última sexta-feira corri  pela primeira vez a Maratona de Jerusalém. Ou melhor. O evento chama-se Maratona de Jerusalém, mas eu corri os 21km, algo que já estava além das minhas pretensões. Foi a segunda vez que fiz uma meia maratona. Na primeira, no Rio de Janeiro, estava preparado e focado e com um objetivo claro dentro da corrida, com cada quilômetro planejado e previamente estudado por horas na véspera da prova.

Nessa daqui, fui do jeito que dava. Sem o preparo adequado, pensando mais em terminar nem que fosse caminhando, sem conhecer o trajeto, sem me preocupar com tempo, querendo fazer uma imersão na prova a partir da observação do redor do que focado no meu objetivo.

Espécie de muleta para compensar a forma física longe do ideal, a estratégia no fim ajudou a me revelar um outro meio de encarar a corrida de rua que, no Brasil, está muito longe de ser aplicado.

As nossas provas são, quase todas, pensadas para o atleta. Elas têm um planejamento voltado para tomada de tempo, trajeto, posto de hidratação, etc. E, aí, esquecemos de colocar na prova alguns itens que parecem gracejos, mas que ajudam sensivelmente a envolver o atleta e fazê-lo ter uma outra relação com a corrida.

Durante o percurso da meia maratona em Jerusalém havia gente fantasiada na ''torcida'' por você, artistas fazendo performance com pernas de pau e música, muita música. Lembro de ter contado pelo menos seis bandas ao longo do percurso, tocando músicas das mais distintas, mas que ajudavam a aliviar um pouco a dureza do percurso cheio de subidas e descidas, da distância que em algumas horas parece não ter fim.

Ao colocar a diversão dentro da corrida, a prova te envolve de outra forma. Fica mais legal correr, você não se sente na obrigação de correr o melhor tempo da sua vida, o lado esporte como lazer ganha o espaço do esporte como competição. Isso, na ponta final do negócio, faz com que o público local se envolva muito mais com a corrida.

Maratona_Jerusalem

 

Foram incontáveis os pedestres que nos deram algum incentivo em palavras ao longo da prova, assim como as mãos estendidas ao longo da calçada pelas crianças que estavam felizes de poder incentivar os ''atletas'' que passavam perto de suas casas.

No Brasil, uma das poucas provas que, sem querer, consegue ter esse lado mais de diversão é a São Silvestre. Não por planejamento da organização, mas por ser uma corrida aguardada por todos.

Em seu sexto ano, a Maratona de Jerusalém colocou 15.330 pessoas para correr as distâncias de 42km, 21km, 10km, e 5km. No Brasil, apenas três provas conseguem reunir mais atletas do que essa (São Silvestre, Maratona de São Paulo e Maratona de Revezamento do Pão de Açúcar), todas elas com pelo menos 15 anos de história, numa cidade com população 14 vezes maior que a de Jerusalém.

Se começarmos a pensar na corrida muito mais como diversão do que como performance, teremos um novo salto no mercado brasileiro de corrida.

* O blogueiro viajou a Israel a convite do Ministério do Turismo


Tática do Esporte Interativo transforma futebol em incógnita
Comentários Comente

Erich Beting

A estratégia do Esporte Interativo de, comendo pelas beiradas, ter um grande número de clubes sob contrato a partir de 2019 para a transmissão do Campeonato Brasileiro na TV paga pode gerar um tremendo enrosco na transmissão do futebol a partir daquele ano.

Sem conseguir fechar com clubes de maior expressão, o canal do Grupo Turner partiu para um interessante contragolpe. Foi atrás de equipes que estão na Série B, mas que nos últimos tempos tem flertado com a Série A, seja em umas duas a três temporadas, seja próximo da tabela de classificação.

O raciocínio do canal é bom. Paga-se uma luva a esses times, que assim têm condições de se reforçarem mais e, dessa forma, há um aumento de probabilidade de eles chegarem à Série A daqui a no máximo três anos, quando começa a valer o acordo que já conta com Santos, Atlético-PR, Coritiba, Bahia e Inter.

Esse é o cenário melhor possível para o canal, mas que pode ser péssimo para o futebol como produto.

Explica-se.

É ótimo ter a entrada de um novo e importante player no mercado. É só ver como foi benéfico para o mercado de TV paga a entrada da Fox há quatro anos. Os eventos foram sendo cada vez mais valorizados dentro das emissoras e, na ponta final, o esporte ganhou mais dinheiro.

Mas, num primeiro momento, a divisão de clubes entre Globosat e Esporte Interativo pode levar a um impasse que inviabilizaria a exibição dos clubes na televisão, o que por sua vez traria um efeito cascata de diminuição da presença do Campeonato Brasileiro na mídia, num momento em que a TV paga deverá ter desempenho de audiência cada vez maior, dada a fragmentação do consumo da mídia cada vez maior.

Uma eventual divisão de metade dos times para um lado e metade para o outro pode provocar uma situação em que a transmissão dos eventos seja colocada num segundo plano. E, aí, é o torcedor quem mais se prejudica. Não, o argumento de que há a TV aberta e o pay-per-view para compensarem isso não vale. Na aberta, é só um jogo por rodada que é transmitido. No PPV, reduz-se ainda mais o alcance dos clubes por conta do alto valor desembolsado pelo pacote.

Se não conseguirmos caminhar para o cenário ideal, que é de união entre os clubes para comercializar pacotes de transmissão, teremos de esperar por um ajuste entre as emissoras que transmitiriam o futebol lá na frente. Em vez do conceito de campeonato exclusivo para transmitir, teríamos jogos exclusivos, como acontece com as ligas americanas e em alguns campeonatos de futebol na Europa.

De qualquer forma, pelo movimento feito agora pelo Esporte Interativo, prever o que acontecerá com os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro na TV paga a partir de 2019 é uma incógnita. E isso é péssimo para o futebol.


Crefisa está para o Palmeiras o que foi o BB para o vôlei
Comentários Comente

Erich Beting

A notícia de hoje no Blog do Ohata é assustadora (leia aqui). Em troca do valor histórico pago pelo patrocínio ao clube, a Crefisa passou a ter superpoderes sobre o Palmeiras, a ponto até de determinar o uniforme a ser utilizado pelo clube.

É exatamente esse o status que teve o Banco do Brasil, tempos atrás, sobre o vôlei brasileiro. O banco era quem escolhia as cores da camisa do time, o que fez um projeto de o Brasil jogar com uma camisa toda preta ser engavetado por ordem do patrocinador, mesmo que isso representasse melhores vendas e, consequentemente, mais dinheiro para o esporte.

O Palmeiras conseguiu ampliar significativamente o que ganha com patrocínio. Mas qual o preço disso?

Essa é a resposta que o clube poderá ter de responder, amargamente, mais para a frente. No vôlei, o reflexo de uma tomada gigantesca de poder do BB resultou no afastamento de diversos outros patrocinadores do esporte e, no fim, o estrangulamento do negócio, que se tornou muito caro pelo retorno dado. Aos poucos, a CBV tem retomado o processo de crescimento como plataforma de negócios para parceiros comerciais, mas a sustentabilidade econômica do esporte ainda balança por conta da decisão tomada lá atrás de pegar muito dinheiro de apenas uma fonte.

No Palmeiras, o torcedor mais exaltado com certeza já me amaldiçoa e prega isso, a Crefisa pode porque paga. Ok, torcedor, então apliquemos essa mesma lógica para a emissora de TV que você tanto gosta de amaldiçoar por fazer com que seu time jogue às 22h no meio de semana. Se ela é quem paga a conta, o direito é dela, o clube que obedeça.

Hoje o Palmeiras se apoia na tábua de salvação da Crefisa, mas o que vai acontecer em 2017, quando o patrocínio acabar? Será que o clube conseguirá nova renegociação? Será que o patrocinador estará preparado para entender o limite que existe para a ingerência dele sobre o patrocinado ou vai querer exigir mais e mais simplesmente porque é quem paga a maior nota fiscal ao final do mês?

O futebol brasileiro tem tido dificuldade para entender que muito mais interessante do que ter um único grande patrocinador é importantíssimo diversificar ao máximo as fontes de receita. Ao ceder tudo para uma empresa que só se alia ao clube pelo fanatismo do dono por ele, o Palmeiras cai num erro primário. Olha o curto prazo, sem se preocupar com a sustentabilidade do negócio.

O exemplo do Banco do Brasil no vôlei deveria servir de alerta para o Palmeiras com a Crefisa, já que o da Unimed com o Fluminense não foi suficiente para o clube ter se preparado melhor para encontrar diferentes parceiros e não depender de um único mecenas.


As marcas no doping de Sharapova
Comentários Comente

Erich Beting

O texto era para ter sido escrito na segunda, não deu. Na terça já tinha novidade. E hoje, talvez com a poeira um pouco mais baixa, seja mais interessante tentar fazer uma avaliação do turbilhão de informações que tem sido o anúncio do doping de Maria Sharapova.

Vamos por partes.

A primeira, e mais importante, é tentar entender o impacto dessa informação. Sharapova é o grande nome do tênis feminino há quase 15 anos.

Os mais velhos devem se lembrar de Anna Kournikova. Foi a primeira grande musa global do tênis e talvez a atleta que até aquela ocasião mais faturou com publicidade. No final dos anos 90 e começo dos 2000, ela era o rosto do tênis feminino. Bonita, atraía a atenção dos fãs, da mídia e, por consequência, das marcas. Só faltava uma coisa para ela. Performance. Todos os dólares que caíam na conta de Anna pelo patrocínio teimavam em não cair por premiação de títulos. Ela simplesmente não ganhava nada.

Aí vem 2004. Tão bela quanto Anna. Tão midiática quanto Anna. Mas vitoriosa. Sharapova é campeã em Wimbledon e se torna, naturalmente, a versão aperfeiçoada de Kournikova. E, na última década, só deu ela. Não sempre pela performance, mas como uma das melhores dentro de quadra e, sem qualquer concorrência, a melhor fora delas.

Por isso, o doping de Sharapova é uma notícia que traz um grande impacto no mundo do tênis. Ela era o grande rosto do esporte na última década. Ajudou a promover a globalização do esporte, foi figura fundamental para popularizar as competições femininas, que sempre ficaram à margem das masculinas. Ela é capaz até de lançar uma linha de doces com seu nome, levando a imagem do tênis a todo tipo de público.

Aí vem a segunda parte.

O tratamento dado pela ITF na comunicação do doping foi muito mais cauteloso do que em outras situações. Afinal, Sharapova foi quem anunciou primeiro o caso, algo que é raríssimo de acontecer. Só depois a federação entrou na jogada, e mesmo assim ainda sem condenar de forma mais dura uma das maiores do esporte. A suspensão ainda será analisada pela entidade, que parece querer entender o que está acontecendo também.

E aí entramos no terceiro capítulo dessa história. Qual a reação dos patrocinadores?

Por contrato, a maioria deles tem o direito de romper o acordo. Foi o que Tag Heuer e Porsche fizeram. Num mundo em que os exemplos de pureza e jogo limpo são cada vez mais importantes, é natural que as marcas tirem o time de campo quando um patrocinado não representa mais esses valores. Já a Nike suspendeu o contrato. Não quer perder o poderoso ativo que tem em mãos, mas também não pode compactuar com uma trapaça.

E aí é onde se vê um batalhão de comentários divergentes sobre o tema.

Por que as marcas abandonam os patrocinados no seu momento de dificuldade? Isso é jogar limpo com eles? Ou é ser meramente oportunista? É bom para o marketing da empresa fazer isso?

Os casos de doping no esporte serão sempre controversos. Na letra fria de um contrato, a marca tem direito a romper qualquer vínculo com quem é flagrado num exame. Mas não pode existir uma regra única que dite o comportamento a ser tomado pela empresa nessas horas.

Sharapova pode apenas ter errado, como foi a sua argumentação no minucioso pronunciamento que deu ao anunciar o doping. Ela não negou o fato, mas deu uma versão completamente aceitável do que aconteceu. Logicamente que devemos questionar se a principal atleta do tênis na atualidade, carregando US$ 23 milhões em publicidade ao ano, seria amadora o suficiente para não ler a lista de substâncias proibidas divulgada em janeiro.

Para manter-se no mesmo esporte, quem leu a biografia de Guga deve ter se divertido no episódio em que ele conta que, de tão distraído, perdeu a carteira com dinheiro e documentos antes de uma temporada na Austrália e quase não tinha como jogar o torneio.

O atleta é, antes de tudo, um ser humano. E está sujeito a erros que nos parecem primários, mas que fazem parte. Ainda mais dentro de uma rotina de extrema concentração na bolinha como é o tênis.

Partindo desse princípio, um patrocinador pode ter se precipitado ao já condenar Sharapova assim que o doping foi revelado. Romper o contrato com ela por um erro cometido que resultou no doping tem a mesma lógica perversa de só patrocinar quem é campeão. É não aceitar o erro. É praticamente ser um amigo só para os bons momentos.

Mas (e sempre tem um) e se Sharapova for realmente culpada? Se essa história de que foi um erro não se provar verdadeira? Aí ela terá duplamente errado. E a saída inicial das marcas mostra que elas souberam tomar o rumo. Mas esse mas ainda é suposição, o caso ainda precisa se desenrolar.

Pela importância que Sharapova tem para o esporte, não é possível condená-la imediatamente. É preciso tomar muito cuidado para entender o que aconteceu e, então, julgar o que for necessário.

Um caso de doping deixa várias marcas. E as marcas precisam saber lidar com isso. Assim como fez a ITF, que suspendeu temporariamente Sharapova para ir mais a fundo na investigação do caso e, então, publicar um veredicto, as marcas poderiam tomar uma atitude semelhante. Seria mais prudente, mais humano e, principalmente, mostraria que a relação de patrocínio não é algo meramente comercial.


O maior passo que o Flamengo pode começar a dar
Comentários Comente

Erich Beting

O Flamengo anunciou ontem, em meio aos festejos pelos 63 anos do ídolo Zico, uma grande campanha para que o torcedor rubro-negro faça um cadastramento de suas informações no clube. Com o nome de Censo Rubro Negro, o projeto pretende mapear os hábitos de consumo de seu torcedor, como explicou o gerente de marketing Bruno Spindel (leia detalhes aqui).

De todas as boas reformas que têm sido promovidas pelo clube na gestão, essa talvez seja a mais significativa para o departamento de marketing do clube.

Saber quem é o seu cliente é o princípio básico de qualquer negócio. Vem desde o Egito Antigo, quando os donos dos bens sabiam quais eram os interesses daquelas dezenas de pessoas que iniciavam um embrião do mercantilismo.

Hoje, o grande segredo das corporações bilionárias é saber os hábitos dos consumidores. Por que Google e Facebook estão acabando com o modelo de publicidade que existia? Porque eles sabem o que as pessoas consomem, e vendem isso para os anunciantes.

No futebol brasileiro, sempre demos mais bola para as pesquisas que indicavam tamanho de torcida, nunca nos preocupando com o que realmente interessa. Como esses torcedores se relacionam com meu time?

O passo que o Flamengo começa a dar agora é fundamental para isso. Nos últimos cinco anos, conversando com torcedores e clubes, foram raríssimos os casos de clubes que relataram usar a base de dados das pessoas cadastradas nos programas de sócio-torcedor para fazer alguma ação mais próxima do torcedor. E foram muitos os torcedores que sempre afirmaram ter recebido, no máximo, e-mail marketing anunciando apenas a abertura da venda de ingresso para as partidas.

O futebol tem um benefício gigantesco em relação a qualquer outro produto para obter informações dos torcedores. Eles querem passar para o clube esses dados. Se souber mapear e manter ativo esse cadastro, o Flamengo dá um gigantesco passo para tornar muito mais fácil a venda de patrocínio, o aumento da venda de produtos licenciados e, obviamente, a presença de público nos estádios.

Não adianta nada ser a maior torcida do país se você não souber quem é ela. O Flamengo dá um passo gigantesco para começar a acabar com essa defasagem centenária dos clubes de futebol no Brasil.


Por que a unidade do futebol brasileiro é urgente
Comentários Comente

Erich Beting

A discussão sobre os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para a TV paga de 2019 a 2024 tem feito o futebol, de certa forma, evoluir. Como já abordado por aqui, aos poucos os clubes vão percebendo o erro cometido em 2011, quando decidiu-se implodir o Clube dos 13, acabando com uma entidade que representasse as equipes de forma única.

O fim da negociação coletiva fez, também, com que o futebol deixasse de se unir em torno de causas iguais. Na correria por uma fatia maior do bolo da TV, os clubes não entenderam que é fundamental negociarem em bloco para obterem melhores receitas e, principalmente, para se fortalecerem como esporte.

 

Nesta terça-feira, temos na mídia mais um exemplo de como isso atrapalha o desenvolvimento do futebol e, aos poucos, vai afastando o torcedor dos clubes, levando-os para a Europa. Na estreia do Blog do Mauro Beting aqui no UOL (qualquer nepotismo é mera coincidência, mas aproveita e veja o blog dele aqui), foi publicada uma entrevista com Neymar Jr.

E a resposta que ele dá sobre jogar a Liga dos Campeões da Europa ou a Copa Libertadores é assustadora:

''É videogame, é a realização de um sonho de criança… Então escolho a Champions League.''

Neymar nasceu em 1992, mesmo ano em que a Libertadores voltou a ser objeto de desejo do torcedor brasileiro com a conquista inédita do São Paulo. Antes, nossos clubes eram quase sempre figurantes na principal competição do continente, muitas vezes por total desinteresse, já que tínhamos um Campeonato Brasileiro forte e desejado por torcida, mídia e atletas.

Mas Neymar cresceu vendo a melhor fase dos times brasileiros no torneio continental. Pegou a fase áurea da competição para o país, com times brasileiros campeões a pelo menos cada três anos. Mas o Brasil não tinha uma liga, a Libertadores era (e ainda é) uma zona e, assim, não nos preocupávamos com a bobagem de estar com nossos jogadores, times e competições presentes nos videogames.

E aí Neymar cresceu entortando zagueiros nos campos e sonhando em ser o que conseguia no videogame. Jogador do Barcelona, campeão da Liga dos Campeões, ouvindo o hino da competição ressoar dentro de um estádio lotado para aplaudir os melhores do mundo…

Quando Neymar nasceu, a criança no Brasil sonhava em ser Zico, Edmundo, Romário, Neto, Raí, Evair. Jogar no quintal de casa ou no Camp Nou era praticamente a mesma coisa. Não era preciso cruzar a fronteira para consumir um futebol dos sonhos.

Hoje, logicamente, a história é outra. Assim como estavam Romário e Ronaldo lá fora quando Neymar dava os primeiros passos com a bola, nossos craques estão fazendo o pé-de-meia vendendo seu pé-de-obra para o exterior. Mas existe um trabalho de marca gigantesco dos clubes e competições da Europa para que não sejam só os atletas os objetos de desejo do torcedor, mas os times e os torneios, vistos como estrelas de primeira grandeza.

O futebol no Brasil precisa se unir e discutir como fazer para evitar que nossas gerações cresçam querendo ser Neymar. Ou melhor. Querendo estar em Barcelona, em jogar a Champions, em fazer gol no Camp Nou lotado, e não no Maracanã semiocupado por torcedores raivosos de ver um futebol de quinta em plena quarta de madrugada.

No instante em que perdemos fãs para o universo virtual, é chegada a hora de criar um plano emergencial para resgatar a imagem do futebol brasileiro com o torcedor. Não o já formado, que assim como Neymar trocou o time daqui pelo Barcelona.

O resgate precisa vir de lá da base, criando elementos para o jovem se apaixonar pelo futebol no Brasil sem precisar do empurrão dentro de casa. E isso só vira quando o futebol se unir para deixar de perder fãs até pelo videogame…


Patrocinador precisa de esporte forte para ter retorno
Comentários Comente

Erich Beting

Um patrocínio esportivo tem mais sucesso quanto mais desenvolvido for o esporte no qual ele está inserido. Isso é um tanto quanto óbvio, apesar de, por muitos anos, as empresas terem se beneficiado de uma estrutura amadora ou semiprofissional do esporte no Brasil para terem maior retorno sobre um negócio ainda em fase de desenvolvimento.

A questão é que, nos dias de hoje, está cada vez mais difícil patrocinar o esporte no Brasil.

Para as grandes marcas, parece cada vez mais necessário buscar o patrocínio no esporte para ter um jeito de interagir com o público de outra forma, alcançando alguns nichos que não eram possíveis anteriormente. O esporte, porém, ainda não conseguiu acompanhar essa evolução, e o que vemos ainda são ligas enfraquecidas, clubes endividados, esportes com enorme potencial, mas ainda à mercê de exposição em mídia e aumento de público para se transformar numa boa plataforma de investimento.

E qual é o papel do patrocinador nesse cenário? Algumas marcas têm se mostrado preocupadas em elevar a qualidade do esporte como um todo, mesmo que isso seja mais dispendioso do ponto de vista financeiro e dê menor retorno do ponto de vista prático de uma relação de patrocínio, apesar de representar grande ganho de imagem à empresa.

O caso mais recente disso foi a atitude tomada pelo Vôlei Nestlé, que nesta terça-feira fará partida amistosa contra a equipe de Araraquara que disputa a Série B da Superliga e está próxima da falência (detalhes aqui). O patrocinador, entendendo a importância de se ter o esporte mais desenvolvido, gastará um pouco mais de dinheiro, sem necessariamente obter um retorno direto com isso.

Como já disse algumas vezes por aqui, as empresas que investem no esporte precisam entender que é fundamental que elas também ajudem no desenvolvimento do esporte. Pode não ser função da marca, mas o conceito do que é patrocinar mudou muito nos últimos tempos.

Já evoluímos do período em que o patrocínio era um mero cheque no final do mês, passamos para a fase em que ele se tornou um negócio e, agora, entramos para uma era em que empresa e esporte são praticamente sócios de um mesmo negócio. Se ambos quiserem evoluir nessa relação, precisam atuar em conjunto pela promoção do esporte e da marca.

É algo muito mais trabalhoso, sem dúvida. Mas só assim existe futuro num patrocínio.


Mudança na Fifa não pode ser rápida
Comentários Comente

Erich Beting

A Fifa elegeu Gianni Infantino como seu novo presidente (veja aqui). Suíço, como era Joseph Blatter, o dirigente terá de ser hábil para tentar resgatar a imagem da entidade. Prometendo inchar a Copa do Mundo, como fez João Havelange em 1978, o dirigente terá de ser hábil para tentar aproximar os dirigentes e tornar a entidade governável.

Tudo isso nos dá a nítida impressão de que nada muda dentro da Fifa. Mas como poderia ser diferente?

Apesar do furacão que devastou toda a entidade, a transição de poder no mundo do futebol não pode ser rápida.

Após 41 anos de um sistema montado por João Havelange e aprimorado por Joseph Blatter, é praticamente impossível imaginar que haja alguma liderança de fato nova dentro do sistema político do futebol. É, a grosso modo, querer um político diferente daquilo que temos hoje em nosso país.

Se houvesse uma mudança radical na Fifa, entraríamos num período muito difícil para a gestão da entidade. Pior até do que ela enfrenta atualmente. É preciso, hoje, uma liderança que promova a mudança necessária, mas não pode ser uma figura sem qualquer trânsito dentro do mundo da bola.

A mudança radical, com raríssimas exceções, nunca é o melhor caminho para realmente melhorar algo. A Fifa tem um produto espetacular nas mãos, que é a Copa do Mundo, mas um sistema completamente corroído pela corrupção de seus gestores.

Se, com habilidade política, um novo/velho gestor conseguir implementar mudanças que significativamente alterem a estrutura de negócios da entidade, a Fifa conseguirá, finalmente, transformar sua realidade.

É impossível achar que uma mudança radical seja a solução para a Fifa. Mas é imperativo, para a entidade, que quem for assumir a gestão tenha um plano de governo que seja maior que o plano de poder e dinheiro que sempre seduziu quem sentou na cadeira de presidente até hoje.