Negócios do Esporte

Arquivo : 9ine

O que será da 9ine na volta de Ronaldo?
Comentários Comente

Erich Beting

Ronaldo voltará para o comando da 9ine. Mas qual 9ine volta a encontrar Ronaldo, dois anos depois de ele ter deixado o dia a dia das operações da agência de marketing esportivo e entretenimento?

Quando, em 2013, a 9ine passou para o comando de Marcus Buaiz, o Brasil do Esporte ainda vivia na euforia do pré-Copa, da esperança do pré-sal e num cenário ainda de pré-crise. A gente já tinha uma sensação estranha guardada, mas estava longe de ser o pessimismo que começou a crescer nas manifestações de junho, durante a Copa das Confederações.

Nesse cenário, tudo era motivo para pensar grande. A 9ine era uma agência que vinha tendo muito sucesso ao reinventar o conceito de gerenciamento de carreira de atletas. Anderson Silva tinha sido praticamente elevado à condição de ídolo nacional graças ao trabalho da empresa. Junto com ele (e com a bagagem de Ronaldo) vieram outras celebridades para o casting da agência.

Buaiz, então, temperou ainda mais o negócio. Com histórico no ramo artístico, ele começou a trazer para a 9ine o braço “entretenimento” que fazia parte do nome da agência desde o seu lançamento. Os dois anos anteriores à era Buaiz foram marcados por uma série de ações ligadas ao mercado de esporte, tendo Anderson Silva como carro-chefe, mas também com trabalhos bacanas em contas de empresa, ações com atletas, etc.

O problema, a partir dali, foi que Buaiz guinou demais a 9ine para o entretenimento. E, sem a presença de Ronaldo, a agência começou a perder espaço no esporte. Tanto que, de um ano para cá, na pré-Olimpíada, as notícias que vinham da agência eram de acordos com Paolla Oliveira, Claudia Leitte e outras celebridades do meio artístico.

Agora, esse povo migra para a ACT10N com Marcus Buaiz. E Ronaldo, que 9ine encontra?

A agência ainda deve ter os contratos com Ronaldo (claro), Neymar (quem não tem?) e Rafael Nadal (que não rendeu nenhum negócio ainda). Mas perdeu, ao longo de dois anos, o mercado corporativo, que ajuda a pagar boa parte da conta.

No fundo, no fundo, a tendência é que a 9ine se transforme na nova versão da R9, a marca que lá atrás foi criada pela Nike para explorar – e bem – a imagem de Ronaldo. O Fenômeno, por si só, já é uma empresa que precisa de uma agência para cuidar de sua imagem.

Mas, no Brasil pós-Jogos, pós-Impeachment, pós-pré-sal e em crise, é difícil imaginar que a agência consiga voltar a ter o tamanho e o fôlego de 2011, quando Ronaldo deixou os campos para enveredar num novo negócio que poderia ser fenomenal, mas que enfrentou uma realidade muito diferente da expectativa que existia sobre o mercado esportivo do país.

É difícil imaginar que haverá mercado para a 9ine retomar o espaço que lhe começava a ser aberto em 2013, quando Ronaldo se afastou da agência. Só não dá para dizer que é impossível porque a própria história de superação de Ronaldo dentro de campo prova que ele é capaz de grandes retornos. Mas, para isso, o Fenômeno precisará ter o mesmo “sangue nos olhos” que estava pré-Copa. Tanto na de 2002 quanto na de 2014…


A 9ine rompeu com o UFC ou ele já não é bom negócio?
Comentários Comente

Erich Beting

O pomposo comunicado divulgado pela 9ine ontem, anunciando que “rompia negociações com o UFC” é, na prática, muito mais um jogo de cena do que realmente uma preocupação de negócios da agência presidida por Ronaldo Nazário.

Em fevereiro de 2011, quando Ronaldo se aposentava dos gramados, sua agência dava o grande salto midiático ao anunciar um acordo para gerenciar os contratos de Anderson Silva, que começava a se transformar no grande astro do UFC também para o Brasil.

Nesses anos subsequentes, especialmente até 2013, quando Ronaldo se afastou da 9ine para embarcar no trem do Comitê Organizador da Copa do Mundo, Spider e 9ine faturaram bastante com patrocínios. O UFC, naquela época, tinha a política de permitir aos lutadores ostentarem marcas nos seus calções.

No melhor ano de Spider como negócio, a 9ine gerou cerca de US$ 6 milhões em contratos para o lutador. Nas lutas, os patrocínios que eram fechados pontualmente, renderam aproximadamente US$ 500 mil. O grosso da verba, naturalmente, veio dos acordos de longo prazo, como os assinados com Bud e Nike, entre outros.

O grande negócio para as marcas, naquela ocasião, não era aparecer no octógono, mas poder se aproveitar do prestígio de Anderson Silva para sua plataforma de comunicação. Foi a época em que Spider desafinava no comercial do Burger King, vendia seguros da HDI, lutava em comercial de cerveja, etc.

Qual o motivo, então, para a nova política do UFC atrapalhar os negócios da 9ine?

O UFC vive hoje um momento de reconstrução de marca. Chegou ao fim a era dos grandes heróis e vilões, personalizados em Anderson Silva e Chael Sonnen. Após os escândalos de doping que nocauteou algumas das maiores estrelas do MMA, a liga de lutas tenta se reinventar como negócio.

E isso significa, aqui no Brasil, um vácuo de exposição em mídia. Há quatro anos, Anderson Silva era o rei das aparições na TV entre os atletas. Com a queda do UFC em atrativos para o torcedor, especialmente nos dois últimos anos, os ídolos brasileiros foram desaparecendo da grande mídia.

Após o doping de Anderson Silva, o UFC reformulou completamente sua equipe de gestão no Brasil. Os eventos por aqui vão se tornar mais raros, porém mais atrativos. As ações promocionais nas lutas serão o grande atrativo para as marcas. E os ídolos serão pincelados a partir de pesquisas com o público. A geração que popularizou o UFC pelo mundo e principalmente no Brasil se aposentou, e o esporte passa agora por um momento de reformulação.

Muito mais do que a nova política de patrocínios do UFC, a 9ine sofre com a perda de atratividade do UFC para a grande massa. E isso torna muito mais difícil conseguir realizar fenômenos de mídia e patrocínio como Anderson Silva. A 9ine, assim como diversas outras agências que trabalham com lutadores, sofre muito mais pela falta de bons produtos comerciais do que pela baixa exposição de patrocinadores.

Até porque o próprio histórico de faturamento que a agência teve com Anderson Silva mostra que há muito mais atrativos para uma marca do que a exposição no octógono.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>