Comunicado oficial – Arbitragem
Erich Beting
Este blog vem a público esclarecer que repudia, veementemente, qualquer nota oficial de repúdio, de qualquer clube, sobre a performance da arbitragem numa determinada competição. Avisa, também, que já protocolou “junto à” direção da CBF uma reclamação formal pedindo que o clube que reclama da arbitragem nunca mais possa atuar nas competições em que ele trabalhe. Informamos ainda que iremos até o fim na busca por justiça, indo à Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, para recuperar aquilo que nos foi tirado.
Nas últimas semanas têm sido esse o teor dos “comunicados oficiais” dos clubes em relação aos erros de arbitragem que ocorreram de forma mais decisiva no Campeonato Brasileiro. Uma tremenda bobagem, que só serve para que os dirigentes alimentem, ainda mais, uma polêmica já levantada de forma completamente deturpada pela mídia, que tenta encontrar má fé onde só existe, de fato, má qualidade na execução do trabalho.
Uma das melhores decisões tomadas neste Brasileirão foi a de fazer do árbitro uma figura inquestionável dentro de campo. Por mais autoritária que tenha sido a regra, ela contribuiu, e muito, para que os jogadores parassem de fazer cena e se preocupassem em jogar de forma mais leal o jogo. É só ver que as reclamações acintosas, agora, são contra lances que realmente foram mal marcados pela arbitragem, como nas recentes mãos bobas que aconteceram.
Isso deu, de uma forma ou de outra, mais qualidade para o jogo. O atleta não reclamar é um enorme ganho para o torcedor. Mas isso gera, para a arbitragem, uma obrigação. Tendo menos pressão sob seus apitos, sobra mais lucidez para reduzir o erro.
Agora, a missão da CBF é caminhar para isso. Trabalhar para reduzir o erro. Fazer do trio de arbitragem um quinteto parece uma obrigação. Isso ajudaria demais a reduzir erros de interpretação ou até mesmo de má colocação do árbitro na área.
Os clubes, em vez de jogarem para a torcida com suas notas oficiais de repúdio, deveriam brigar por uma melhora na qualidade do espetáculo. Afinal, o que o futebol vende para o público é isso. Um bom jogo, com o menor grau de interferência externa possível, para assegurar ao torcedor o máximo de emoção que uma partida possa proporcionar.
Quando disparam seus “comunicados oficiais”, os dirigentes contribuem para a discussão vazia dentro da mídia se o árbitro age ou não de má fé. Muitos fazem isso para atrair a audiência e alimentar a discussão que permeia o ódio nas redes sociais.
Cabe ao esporte reduzir a pó esse tipo de atitude dos jornalistas. Mas, para isso, precisamos de menos “comunicados oficiais” e mais união em torno da resolução de problemas. De nada adianta transformar o árbitro na autoridade máxima de fato dentro de campo se, fora dele, a CBF continua a permitir que os clubes joguem contra o próprio produto.
Erros sempre vão acontecer. Para A, B ou C. Contra A, B ou C. Alguns são banais e não interferem no resultado do jogo. Outros são cruciais para definir uma partida.
No tênis, resolveu-se isso com a conferência eletrônica de bolas dentro ou fora. Ela é feita após um pedido do atleta, que tem um limite de pedidos por set. Se acerta a marcação, não perde esse direito. Se erra, perde.
O futebol poderia adotar isso. Termina o lance, o capitão do time pede o direito de os árbitros reverem a jogada na TV e, aí, tiram a teima. Com um limite de um pedido por tempo de partida, o sistema poderia funcionar da mesma forma que o tênis. Se ele acerta, volta a marcação. Se erra, não pode mais pedir. Isso evitaria o jogo de parar a toda hora, mas seria usado para os lances cruciais, aqueles em que todo o time não se conforma com a marcação.
Batalhar pela melhoria da qualidade do jogo, e não pela vitória do time, deveria ser o desejo de todo mundo que trabalha com esporte. A CBF, preocupada em fazer do árbitro a autoridade máxima dentro de campo, deveria agora se preocupar em transformar essa figura num profissional menos suscetível a erros que mudam a história do jogo.
Só assim o discurso de torcedor da mídia e dos dirigentes seria sufocado pelo bom senso. Mas parece que essa palavra causa calafrios na CBF…