Indústria do esporte só será sólida com entidades de classe
Erich Beting
A notícia de que a Abrarenas chegou ao fim (veja aqui) é desalentadora para o mercado esportivo brasileiro.
Criada há poucos anos, o objetivo da entidade era reunir os gestores de estádios e discutir, sempre em conjunto, temas relacionados aos estádios no Brasil. Temas que iam desde a cobrança de ingressos, a proibição de venda de bebidas alcoólicas, a meia-entrada, o acesso a deficientes, etc.
Ao deixar de existir a associação dos estádios, o mercado esportivo brasileiro dá mais um passo para trás.
No Brasil, até agora, é praticamente impossível existirem entidades representativas de classes no esporte. São raríssimos os casos em que há grupos que defendam interesses de uma classe no país. Esse fato revela algo muito mais delicado para a indústria esportiva brasileira.
Não havendo entidades de classe para atuar, não há uma maior solidificação dessa indústria no mercado.
É só ver o futebol, esfacelado em questão organizacional desde que o Clube dos 13 acabou. Por pior que fosse o C13, ele representava um ponto em que os clubes se uniam e defendiam interesses em comum. Isso é importante para que algumas melhorias aconteçam. Na base do “cada um por si”, os interesses individuais sempre atrapalham o coletivo.
Ou, então, perceber o quão importante foi a criação do Bom Senso, representando os atletas e exigindo melhorias para a indústria do esporte como um todo.
No caso da Abrarenas, o fim da associação revela o sombrio cenário a respeito do futuro dos estádios no país. Ou os novos gestores das arenas passam a ser comprometidos com a melhoria da indústria, ou então teremos várias dificuldades para profissionalizá-la, já que perderemos o bonde da história ao não aproveitar para transformar o esporte num espetáculo de entretenimento.
Já passou da hora de os diferentes segmentos da indústria esportiva (atletas, dirigentes, arenas, executivos de marketing, etc.) perceberem que o crescimento desse mercado só será possível com a união de cada classe. Em bloco, os atletas negociam melhor com os dirigentes, que negociam melhor com as arenas, com a mídia, etc.
A cadeia produtiva do esporte no Brasil já tem hoje um tamanho suficiente para que as entidades representativas de classes sejam formadas. Mas é desalentador ver que fracassou a tentativa disso naquela classe que justamente concentra um dos maiores investimentos feitos no esporte nos últimos anos, que é a de arenas esportivas.
Para ter uma indústria esportiva sólida no país, é urgente que surjam as entidades defensoras de diferentes segmentos dessa indústria. Ou o esporte nunca será, de fato, suficientemente grande para gerar diversos empregos.