Dry World apresentou cartão de visitas no Galo
Erich Beting
A polêmica em torno da apresentação dos uniformes do Atlético Mineiro pode ser resumida da seguinte forma: a Dry World apenas mostrou seu cartão de visitas com o evento de segunda-feira. Ao colocar mulheres em trajes mínimos, tendo somente a camisa do Galo à mostra, a marca canadense causou o barulho que precisava no mercado.
Usou, basicamente, da estratégia “falem de mim, não importa se bem ou mal”.
A reação indignada de um monte de torcedor revela, basicamente, o quanto as pessoas são pouco afeitas a se informarem. O torcedor atleticano não precisava ir muito longe. Bastaria um passeio no perfil do Instagram da Dry World para perceber que a marca adora usar modelos em poses provocantes e com quase nenhuma roupa para promover os seus produtos.
Do ponto de vista mercadológico, a estratégia tem dois lados.
O primeiro, claro, é o de tornar a marca conhecida. Ao criar a polêmica, a Dry World chama a atenção das pessoas para o que ela faz. É, basicamente, o filho mais novo que arranca o cabelo da boneca da irmã para ter os olhos (e broncas, claro!) voltados para ele. Já que sou mais novo e menos conhecido, causar impacto pode ser eficiente.
O outro, que fica numa linha mais tênue, é prejudicial à marca. Se tivesse feito um estudo prévio sobre com quem ela precisa se comunicar para vender, a Dry World poderia se surpreender sabendo que não é mais uma esmagadora maioria de homens quem compra camisa de futebol.
Para quem quiser pesquisar um pouco o passado, verá que a estratégia dos canadenses não é nova. Muda, talvez, a forma de se comunicar, mas o objetivo é o mesmo que a Nike usou nos anos 1970. Ela foi a primeira marca esportiva a colocar o atleta amador como centro da comunicação, em vez do profissional. Além disso, para dar um ar mais de superação de limites à publicidade, abusava de poses e atitudes polêmicas. Era o jeito de o irmão mais novo se mostrar “diferente” em relação às irmãs mais velhas Adidas e Puma.
Aos que já passaram dos 30, vale a lembrança de quão chocante eram os anúncios, nos anos 80 e 90, da loja de roupas Bennetton, que colocava diversos pré-conceitos em choque na sua publicidade a partir do momento que os escancarava e punha lado a lado.
O que a Dry World fez na última segunda-feira, mais do que uma proposta apelativa para apresentar o novo uniforme do Atlético, foi criar um fato para que o D que a caracteriza fique mais gravado na mente das pessoas. Mesmo que a princípio sofra com a rejeição, a marca sabe que o aumento de consumo que ela terá ao ser mais conhecida compensa a perda de arrecadação que ela terá com aqueles que se sentirem ofendidos.
Como já dito por aqui neste espaço, falta muitas vezes ao futebol a percepção de que é preciso estudar bem quem é o parceiro comercial antes de fechar um contrato. Se tivesse feito uma pequena busca nos meios digitais, o Atlético e os atleticanos saberiam com quem estavam se metendo…