CBF tem a oportunidade para mudar rumo do futebol
Erich Beting
Geralmente é no momento de crise que surgem boas oportunidades para mudar maus procedimentos dentro de uma empresa. E é esse o momento pelo qual passa a CBF.
Em 2014, pós-Copa, a hecatombe diante da Alemanha foi tão forte que nos deixou sem rumo. Falávamos em mudança, mas não saberíamos realmente dizer por onde começar, a não ser que a terra arrasada deixasse o país sem técnico e sem comando no futebol.
No que aparece da porta para fora no futebol brasileiro, parece que nada mudou. Os dirigentes com a carcaça dos 7 a 1 seguem no comando, entre idas e vindas. O treinador é o mesmo de 2010, menos turrão, mas ainda morrendo de véspera como alguns perus por aí. E o futebol está longe de ser o protagonista do passado.
Como já dito aqui no blog desde muito antes, o que precisamos para começar de fato a mudar a seleção brasileira não é necessariamente trocar quem está no comando do futebol. Mas fazer um exercício para identificar qual é a marca do nosso futebol.
Qual é o futebol da seleção brasileira que precisa ser vendido para o público? O Brasil “país do futebol” foi construído pelo que demonstraram nossos jogadores com a bola nos pés. Um produto de exportação único tal qual havia sido o pau-brasil e já foi o café. Com o benefício de que outros lugares não conseguiram, até hoje, produzir um espetáculo tão vistoso – em plástica e eficiência – como havíamos conseguido nos anos 50 e 70.
Enquanto a CBF não determinar o que quer para a seleção brasileira, seguiremos com o Peru entalado na garganta, ou com sete cocos na cabeça. Que tipo de futebol vamos ver a seleção praticar? Ele representa o DNA do futebol brasileiro? Qual é o nosso DNA? O que representa o futebol do Brasil para o restante do mundo?
Semana passada fui à CBF participar de um debate sobre internacionalização do futebol. Expus exatamente esse raciocínio para os dirigentes ali presentes. É a minha visão, longe de ser a verdade absoluta.
A sensação que me dá é de que, enquanto não tivermos a noção exata do que queremos para a seleção brasileira, será muito difícil tentar vender qualquer imagem do futebol brasileiro lá fora que seja minimamente compatível com o produto que estamos ofertando.
O fiasco centenário do Brasil na Copa América do Centenário é a oportunidade que faltava para começar a plantar essa semente. O próximo técnico da seleção brasileira precisa, necessariamente, buscar trazer para o nosso futebol um aspecto que enfatize um desejo coletivo de produto a ser apresentado pelo país.
Não adianta esperar uma revolução nas categorias de base para isso. Há pé-de-obra qualificado para se chegar a um produto minimamente aceitável em termos de qualidade de jogo, desempenho e resultado. Precisa, apenas, ter uma comunicação clara do que se pretende para a seleção brasileira e buscar quem consiga entregar isso.
É isso o que explica parte do sucesso de uma empresa que tenha faturamento de mais de meio bilhão de reais. É isso o que deveria nortear o trabalho da CBF daqui para a frente. O treinador da seleção é um funcionário, não um para-raio de críticas e bode expiatório a cada mau resultado.