Negócios do Esporte

Arquivo : CBF

Corinthians pode ter mais um recorde: o “campeão do sofá”
Comentários Comente

Erich Beting

A situação promete dar um novo capítulo à modorrenta discussão “pontos corridos x mata-mata”. No próximo domingo, o virtual campeão nacional Corinthians poderá bater outro recorde. Ser o primeiro campeão a ter celebrado o título “do sofá”.

A proeza do dia é mais uma obra de irresponsabilidade de quem pretensamente deveria comandar o futebol do país. A CBF dormiu no ponto, não percebeu onde poderia acabar essa história e deixou acontecer. Sem ter tempo hábil, pelo seu próprio regulamento, para mudar o horário do jogo do Corinthians, a entidade teve de manter a partida contra o Coritiba para o sábado às 19h30.

O clube paulista sairá dessa partida da mesma forma que terminou o jogo contra o Atlético Mineiro. Sabendo que será o campeão, só não se sabe quando. Poderá ser no dia seguinte, num churrasco entre os jogadores e seus familiares, o que seria legal exclusivamente do ponto de vista pessoal para os atletas.

E aí entra o ponto central dessa história. A CBF deveria ter pelo menos UM funcionário pensando exclusivamente na promoção de seu maior produto com periodicidade definida, que é o Campeonato Brasileiro. Já se sabia, há pelo menos 15 dias, que uma combinação de resultados poderia fazer do duelo contra o Coxa a decisão do título.

Não havia ninguém na CBF olhando a tabela, ou pelo menos acompanhando o noticiário (roda de debates na TV e simulador de classificação nos sites é o que não faltam hoje em dia no cotidiano do futebol) para já prever que seria de bom tom fazer o time estar em campo, ao lado da torcida, na hora do apito final em Belo Horizonte?

Geralmente a CBF guarda certa antecedência para promover todos os jogos nos mesmos dias e horários. Deixa para as três rodadas finais, impulsionada pela outra novela chatíssima do futebol nacional, a tal da “mala branca”. Foi assim que tudo funcionou bem até agora. Mas…

O episódio do Brasileirão que pode ter seu campeão pelo sofá é só mais um que deveria provocar indignação e mexer um pouco mais com o modelo de descaso com o qual é tratado o principal campeonato do país.

Não se trata de exigir muita coisa, apenas que a CBF esteja atenta para cuidar com um pouco mais de carinho do Brasileirão. Mas como parece que a entidade tem dificuldades até para renovar o passaporte de seu presidente poder viajar para o exterior, fica difícil acreditar que alguma mobilização virá dali…


Liga Sul-Minas já começa a perder negócio para a política
Comentários Comente

Erich Beting

A declaração midiática de Alexandre Kalil anunciando o rompimento da Liga Sul-Minas com a “Casa do 7 a 1”, como divertidamente definiu a CBF, é o início do fim da liga como entidade que promete revolucionar o futebol brasileiro e criar um campeonato que seja realmente profissional e bem administrado.

Kalil está coberto de razão ao não ceder à pressão das federações estaduais, que preocupadas com o futuro de suas competições, foram à entidade-mãe pedir auxilio.

O erro da Sul-Minas é estratégico.

Acreditando na fragilidade do centro do poder da CBF, que talvez por conta da alta do dólar tenha desistido de fazer tantas viagens internacionais, os clubes decidiram partir para o ataque. Fizeram a Sul-Minas como um “protesto” contra o status quo, acreditando-se mais capazes de organizar um campeonato do que a CBF.

O problema é que os clubes perderam o timing para qualquer revolução quando abriram mão de exigir uma liga nacional na primeira reunião pós-27 de maio, a data em que o mundo encantado do futebol começou a ruir. Ali, quando aceitaram cadeiras num conselho de clubes e aumento do colégio eleitoral, eles deixaram de ter força para apenas comunicar à CBF que, a partir do ano que vem, deixariam a entidade preocupada só com a cotação do dólar e passariam a fazer eles mesmos as séries A, B, C e D do Nacional.

A Sul-Minas, já em seu discurso de “Primeira Liga”, tentou mostrar que estava ali para retomar esse projeto, num passo mais cadenciado. Isso colocou em alerta as federações, que ainda possuem maior força dentro da CBF. Como a preocupação com a cotação do dólar é maior do que qualquer outra coisa nos corredores da entidade, o tormento das federações traria outro problema à “Casa do 7 a 1”.

O não-reconhecimento da CBF para a competição é praticamente o início do fim da Sul-Minas. Quando anunciaram o torneio, os clubes disseram que, com cinco datas, gastariam cerca de R$ 1,3 milhão para fazer o campeonato. Nesse cenário estão apenas custos de deslocamento e taxas de arbitragem.

Numa hipótese de fazer o torneio nas mesmas 19 datas dos Estaduais, a conta começa a ficar mais salgada do que parece… Além disso, os clubes terão de encontrar árbitros dispostos a peitar a CBF e trabalharem numa liga “clandestina” e precisarão buscar um acordo de TV de quem não tenha, de certo modo, negócios com a CBF. Nesse cenário, precisarão achar, com menor exposição na TV, patrocinadores que queiram assumir o risco de bancar a competição.

Em 2005, um movimento parecido foi feito pelo basquete. A Nossa Liga de Basquetebol (NLB) surgiu com esse intuito de romper com os desmandos da CBB. O torneio aconteceu à parte do Nacional. Durou três anos até que, em 2008, chegou-se a um acordo político para que se fundasse o Novo Basquete Brasil (NBB), campeonato que conta com a chancela da CBB e que, sete anos depois, passou a ter a NBA como parceiro comercial estratégico.

O intuito da Sul-Minas era, no futuro, se transformar num torneio nacional, abrangendo as principais divisões do país. O problema dela, na partida, é conseguir fazer com que o negócio se sobreponha à briga política.

Após o “Casa do 7 a 1”, o cenário parece nebuloso nesse sentido. Se, como negócio, já era difícil sustentar a Sul-Minas em meio a um calendário já inchado, sem apoio político para ela acontecer é ainda mais complexo…


Comunicado oficial – Arbitragem
Comentários Comente

Erich Beting

Este blog vem a público esclarecer que repudia, veementemente, qualquer nota oficial de repúdio, de qualquer clube, sobre a performance da arbitragem numa determinada competição. Avisa, também, que já protocolou “junto à” direção da CBF uma reclamação formal pedindo que o clube que reclama da arbitragem nunca mais possa atuar nas competições em que ele trabalhe. Informamos ainda que iremos até o fim na busca por justiça, indo à Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, para recuperar aquilo que nos foi tirado.

Nas últimas semanas têm sido esse o teor dos “comunicados oficiais” dos clubes em relação aos erros de arbitragem que ocorreram de forma mais decisiva no Campeonato Brasileiro. Uma tremenda bobagem, que só serve para que os dirigentes alimentem, ainda mais, uma polêmica já levantada de forma completamente deturpada pela mídia, que tenta encontrar má fé onde só existe, de fato, má qualidade na execução do trabalho.

 

Uma das melhores decisões tomadas neste Brasileirão foi a de fazer do árbitro uma figura inquestionável dentro de campo. Por mais autoritária que tenha sido a regra, ela contribuiu, e muito, para que os jogadores parassem de fazer cena e se preocupassem em jogar de forma mais leal o jogo. É só ver que as reclamações acintosas, agora, são contra lances que realmente foram mal marcados pela arbitragem, como nas recentes mãos bobas que aconteceram.

Isso deu, de uma forma ou de outra, mais qualidade para o jogo. O atleta não reclamar é um enorme ganho para o torcedor. Mas isso gera, para a arbitragem, uma obrigação. Tendo menos pressão sob seus apitos, sobra mais lucidez para reduzir o erro.

Agora, a missão da CBF é caminhar para isso. Trabalhar para reduzir o erro. Fazer do trio de arbitragem um quinteto parece uma obrigação. Isso ajudaria demais a reduzir erros de interpretação ou até mesmo de má colocação do árbitro na área.

Os clubes, em vez de jogarem para a torcida com suas notas oficiais de repúdio, deveriam brigar por uma melhora na qualidade do espetáculo. Afinal, o que o futebol vende para o público é isso. Um bom jogo, com o menor grau de interferência externa possível, para assegurar ao torcedor o máximo de emoção que uma partida possa proporcionar.

Quando disparam seus “comunicados oficiais”, os dirigentes contribuem para a discussão vazia dentro da mídia se o árbitro age ou não de má fé. Muitos fazem isso para atrair a audiência e alimentar a discussão que permeia o ódio nas redes sociais.

Cabe ao esporte reduzir a pó esse tipo de atitude dos jornalistas. Mas, para isso, precisamos de menos “comunicados oficiais” e mais união em torno da resolução de problemas. De nada adianta transformar o árbitro na autoridade máxima de fato dentro de campo se, fora dele, a CBF continua a permitir que os clubes joguem contra o próprio produto.

Erros sempre vão acontecer. Para A, B ou C. Contra A, B ou C. Alguns são banais e não interferem no resultado do jogo. Outros são cruciais para definir uma partida.

No tênis, resolveu-se isso com a conferência eletrônica de bolas dentro ou fora. Ela é feita após um pedido do atleta, que tem um limite de pedidos por set. Se acerta a marcação, não perde esse direito. Se erra, perde.

O futebol poderia adotar isso. Termina o lance, o capitão do time pede o direito de os árbitros reverem a jogada na TV e, aí, tiram a teima. Com um limite de um pedido por tempo de partida, o sistema poderia funcionar da mesma forma que o tênis. Se ele acerta, volta a marcação. Se erra, não pode mais pedir. Isso evitaria o jogo de parar a toda hora, mas seria usado para os lances cruciais, aqueles em que todo o time não se conforma com a marcação.

Batalhar pela melhoria da qualidade do jogo, e não pela vitória do time, deveria ser o desejo de todo mundo que trabalha com esporte. A CBF, preocupada em fazer do árbitro a autoridade máxima dentro de campo, deveria agora se preocupar em transformar essa figura num profissional menos suscetível a erros que mudam a história do jogo.

Só assim o discurso de torcedor da mídia e dos dirigentes seria sufocado pelo bom senso. Mas parece que essa palavra causa calafrios na CBF…


O maior trabalho da CBF será resgatar a marca Brasil
Comentários Comente

Erich Beting

A crise não é de hoje. Ela se manifesta, de formas diferentes, há muitos anos. E vai, aos poucos, consumindo todo o futebol brasileiro. Os 7 a 1 ficarão impregnados na memória coletiva por muitas e muitas décadas. Se considerarmos que eles foram responsáveis por acabar com o fantasma do Maracanazzo após 64 anos, não é difícil supor que tenhamos um período longo a lamentar.

Como reduzir isso é que é o ponto.

O que se viu na noite de quarta-feira foi uma seleção brasileira insossa contra uma Colômbia vibrante. Dentro de campo, parecia que a seleção pentacampeã do mundo era a que vestia amarelo mesmo, e não a que estava de azul. O campo não deixa de ser o reflexo do que acontece fora dele.

A seleção desalmada é reflexo de um comando de futebol brasileiro largado há muitos anos. Preocupados com negociatas, sem entender que fundamental é desenvolver o negócio.

O resgate de imagem que a CBF precisa fazer é enorme. A Copa do Mundo, 7 a 1 incluído na conta, ajudou bastante. Os índices de audiência da seleção estão altos como nunca estiveram desde o pós-Mundial. A torcida, ao se aproximar do time brasileiro por força da Copa, passou a querer acompanhar mais a seleção do que era antes, nos amistosos empacotados no Emirates Arena, espécie de primeira casa brasileira, mas lá na fria – e distante – Londres.

Ganhar a Copa América está longe de ser obrigação. Na realidade, parece que é sonho tão distante quanto arrancar um empate naquele fatídico 8 de julho de 2014.

Mas que o pós-Copa América sirva para a CBF entender que é preciso, urgentemente, repensar a imagem da seleção brasileira na mente das pessoas. Uma primeira medida é acabar com o acordo que terceiriza a gestão dos amistosos da seleção. A conta burra de que se ganha mais dinheiro terceirizando o jogo é a desculpa do preguiçoso.

Temos 14 estádios novos, precisando de grandes eventos, e pelo menos 20 milhões de pessoas ávidas em consumir o time nacional de futebol. A crise que a CBF vive no fora de campo pode servir, e muito, para mudar bastante coisa dentro dele. A começar pela relação do torcedor com essa marca.

PS: O blogueiro entra em recesso pelos próximos 10 dias para curtir mais um filho que chega. Volto em julho, ou caso mais algum causo de muito relevante ocorra no esporte. Um abraço!


Nada mais normal que o contrato da CBF com a ISE
Comentários Comente

Erich Beting

Espetacular a reportagem de Jamil Chade no “Estadão” sobre o contrato entre a CBF e a ISE, que prevê as condições para a entrega da organização dos amistosos da seleção brasileira à agência do grupo árabe Dallah Al Baraka. O absurdo do contrato está longe de ser a exigência de que o Brasil tenha força máxima nos amistosos. Isso é até meio óbvio, uma vez que você paga pela marca da seleção brasileira e precisa receber por isso.

Até aí, faz parte do jogo. Só faltava, aliás, a ISE assinar um acordo milionário como esse sem exigir tal contrapartida.

Como disse a própria CBF na resposta à reportagem, “se o Barcelona for jogar com o seu time B, sem contar com suas grandes estrelas, como por exemplo (sic) Neymar, Messi e Suarez, suas cotas comerciais serão menores”.

Aí é que entra o “xis” da questão.

O Barcelona seria incapaz de assinar um contrato do porte desse feito pela CBF. O clube espanhol, que está longe de ser um poço de lisura (vide o enrosco que se meteu Sandro Rossell, seu ex-presidente), simplesmente não faria um negócio em que entregaria para promotores a realização de todas as suas partidas amistosas. O clube negociaria, caso a caso, a realização desses jogos.

O absurdo do contrato CBF/ISE é a sua própria existência. A CBF ganharia muito mais dinheiro se deixasse para negociar, jogo a jogo, data Fifa a data Fifa, as partidas que realizaria. Na reportagem do Estadão, o próprio presidente Marco Polo Del Nero gaba-se de que o contrato assegura um dinheiro que a CBF não faria se organizasse sozinha os amistosos.

Ora, se a cota equivale a cerca de R$ 3,5 milhões, no próximo dia 7 de junho, quando o Brasil enfrenta o México no Allianz Parque, a receita de bilheteria deverá ser, no mínimo, o dobro desse valor.

Se realmente houvesse uma preocupação em aproximar a marca da seleção brasileira do torcedor e dar um novo funcionamento para muitos dos estádios construídos para a Copa do Mundo, a CBF simplesmente deixaria de vender seus amistosos para o exterior, passaria a convidar as seleções de todo o mundo para atuar aqui e, assim, faria, só com bilheteria, o dobro da renda obtida no contrato com a ISE.

Logicamente que a entidade teria muito mais trabalho, precisaria de muito esforço para organizar os jogos no Brasil. Ela teria de convidar e pagar cachê a um time do exterior (desconfio que só os de primeira grandeza necessitariam desse tratamento), teria de montar sistema de venda de ingressos, alugar estádio, contratar segurança para a partida, montar um projeto comercial para vender cotas de patrocínio, sentar para negociar com emissoras de TV do mundo todo a transmissão da partida para o exterior, criar ações para engajar o torcedor, etc.

Como a CBF não organiza nenhum jogo de futebol no Brasil, fica difícil ter essa estrutura dentro de “casa” para tocar um amistoso. Muito mais fácil – e rentável – é entregar a um parceiro a organização desses jogos. Afinal, ele se preocupa tanto com a lucratividade do negócio que faz o Brasil jogar no moderno Emirates Stadium, em Londres, com aluguel em libras e público genuinamente nacional.

No fim das contas, nada mais normal que a CBF abrir mão de organizar os jogos amistosos da seleção brasileira. Ela já tem muita coisa para fazer no dia-a-dia organizando as séries A a D do Brasileirão, o futebol feminino, os campeonatos de base pelo país…