Com veto, CBF ligou a Primeira Liga
Erich Beting
A CBF conseguiu fazer, pela Primeira Liga, mais do a própria entidade criada pelos clubes havia conseguido. A decisão de vetar o aval que havia sido dado para a competição dos clubes foi a melhor atitude tomada para que o torcedor se aproximasse do torneio.
Desde o seu nascedouro, a Primeira Liga tem encontrado dificuldades para existir. Briga entre os dirigentes, demora nas costuras políticas para definir a existência da competição, desencontro em declarações, falta de promoção do torneio para os torcedores. Os presidentes de clubes tinham, até ontem, enorme dificuldade para fazer o torneio se promover. Faltava foco para que os clubes pudessem se preocupar em fazer a Primeira Liga virar uma competição de interesse do torcedor.
O veto da CBF ao torneio, porém, parece ter ligado uma chama no torcedor. Se, até então, ele estava ali meio que em pré-temporada, só esperando ver no que ia dar, agora virou questão de honra ver – e consumir – a Primeira Liga. Até mesmo protesto em frente à Ferj, no Rio, está sendo agendado!
Por que isso acontece?
A CBF não conseguiu entender que, ao vetar a competição, ela está não apenas atrapalhando os dirigentes na formação de um movimento de diluição de poder. A entidade, ao brecar a Primeira Liga, fere diretamente o ego do torcedor. Quem é que pode determinar algo sobre a paixão da torcida?
Agora, parece ter virado questão de honra, para o torcedor, que a Primeira Liga exista. Como pode uma entidade que tem os três últimos presidentes acusados de crimes de corrupção, sendo que um deles está preso, se achar no direito de querer moralizar alguma coisa? Essa é a lógica básica que passa na cabeça do torcedor. E ela faz pleno sentido!
Uma coisa era a força dos clubes em criar um campeonato paralelo e, assim, conseguir fazer o negócio virar. Outra, bem diferente, é o torcedor comprar a ideia, desde o início, de que a Primeira Liga é um torneio para acabar com o círculo vicioso que corroeu boa parte do futebol pelo qual ele é apaixonado. Se, antes, o desafio da liga era justamente tentar engajar o torcedor para que o torneio viesse a ser atrativo nos próximos anos, agora é só colocar o carro para rodar – e fazer uma competição minimamente aceitável – para que as coisas fluam com naturalidade.
Como a memória de dirigente parece ser curta, vale um lembrete. Foi mais ou menos esse o mesmo caminho que teve de percorrer a Liga do Nordeste, há quase dez anos. Por determinação judicial o campeonato teve de ser reconhecido pela CBF e voltar a ser organizado. No primeiro ano, foi tudo no improviso, contra a vontade da entidade então chefiada por Ricardo Teixeira e com a força de organizar a Copa do Mundo de 2014, mas com o desejo do torcedor de ver o torneio “vingar”. Hoje, a Copa do Nordeste é a terceira maior competição nacional que existe no Brasil e foi uma das molas para promoção do Esporte Interativo no país.
A Primeira Liga, pelo visto, deu liga. E pode agradecer a CBF por isso…