O Brasil não vê o esporte como entretenimento
Erich Beting
Já se vão mais de 80 anos quando Cásper Líbero teve a ideia de fazer uma corrida de rua na virada da meia-noite do dia 31 de dezembro em São Paulo. Seu jornal, a “Gazeta Esportiva” tinha um problema para resolver naquela época. Faltava assunto para preencher as manchetes do veículo no dia 1º de janeiro.
Hoje, a “Gazeta Esportiva” deixou de ser jornal, a São Silvestre mudou diversas vezes o percurso, a prova acontece na tarde do dia 31 de dezembro e, o mais importante, o evento atrai quase 20 mil pessoas para as ruas de São Paulo no último dia do ano.
Há mais de 80 anos, o Brasil tinha a visão de que o esporte é entretenimento. Na falta de um evento que fosse além da básica comemoração da passagem de ano, a “Gazeta Esportiva” decidiu criar sua própria competição. Num período em que praticamente nem se sonhava em fazer corrida de rua no mundo, Cásper Líbero foi pioneiro e, para atender a uma necessidade própria, fez o básico. Criou a notícia a partir da criação de um evento.
Nessas próximas duas semanas, o noticiário do futebol entra numa espécie de marasmo. Os clubes estão negociando a contratação de jogadores. E só. Os atletas estão em férias, os estádios estão fechados, as transmissões esportivas cessam.
E o que fazem os outros esportes no país?
Acompanham o marasmo do futebol, que sempre é colocado como o bandido da história por roubar a maior parte da audiência e atenção da mídia ao longo do ano. Nos anos 1930 a “Gazeta Esportiva” já tinha percebido que, ao se criar um evento numa época em que não tínhamos evento, era possível atrair público e receita para a competição. Mesmo que esse evento fosse uma corrida de rua com largada à meia-noite!
Sim, é uma delícia poder estar de folga com a família e os amigos nas festas de fim de ano. Mas quem trabalha com esporte deveria saber, muito bem, que é nesses momentos que a audiência sobe, a grana aparece e o torcedor acompanha com mais afinco as disputas.
Enquanto o esporte não perceber que ele é parte do entretenimento das pessoas, seguirá como um subproduto. Basquete, vôlei e outras modalidades não deveriam, nunca, pensar em ter folga no fim do ano. Só assim seria possível fazer seus esportes sobreviverem à overbola que atrapalha o maior desenvolvimento da cadeia produtiva do esporte nacional.
Sorte a nossa que temos, na TV paga, a chance de acompanhar os jogos do basquete, do futebol americano, do futebol inglês, etc…