Negócios do Esporte

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O discurso da Copa sobreviverá à Lava Jato?
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Erich Beting

Começou a ruir hoje o discurso de legado gerado pela Copa do Mundo para o futebol. A inclusão da Arena Corinthians nas investigações da Lava Jato é o começo da abertura da caixa preta das construções de estádios no Brasil, a toque de caixa, nos últimos cinco anos.

Ainda haverá muito a ser investigado e, a partir daí, poderemos tirar qualquer conclusão mais detalhada do que ficará após a terra arrasada, se é que de fato ela ficará arrasada, ou só será revirada.

Com a falência das empreiteiras (se não financeira, sem dúvida moral), os estádios que estão hoje nas mãos dessas empresas vão passar para seus antigos donos.

Se eles não quiserem assumir a bronca (e a conta), o que vai acontecer?

Em Cuiabá, onde nenhuma empresa privada quis assumir o risco de gerenciar o estádio, o legado veio menos de dois anos após a Copa. Entregue à gestão pública, a Arena Pantanal definhou em tempo recorde.

As arenas da OAS estão começando a sair das mãos da empresa. Os estádios da Odebrecht, idem. E quem vai cuidar desses aparatos? Comprovadamente, colocar o estádio nas mãos da esfera pública não é certeza de sucesso, pelo contrário.

O tal legado prometido com a Copa do Mundo poderia ter vindo, se não das obras de mobilidade urbana, da melhora do aparato para a prática esportiva. Ao que tudo indica, com a Lava Jato chegando aos estádios construídos para o Mundial, há uma grande chance de mudar de vez os donos dos estádios.

E, ao que tudo indica, isso não significará necessariamente a melhora na gestão dos aparatos.


Ranking de estádios é início de caminho para o país
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Erich Beting

A criação de um sistema nacional de pontuação para os estádios de futebol no Brasil é o início de um caminho para que o país comece a entender a importância de criar padronizações para buscar, então, elevar o nível do esporte. O ranking apresentado pelo Ministério do Esporte vai gerar polêmica e, para variar, vamos debater quantas bolas deveriam ser catalogadas para esse ou aquele local.

E é exatamente a existência desse tipo de debate que precisa acontecer. Se não começarmos a tentar criar padrões e determinar o que é um padrão de excelência A ou B, ficaremos sempre na idade da pedra lascada no que se refere às questões da indústria do esporte do Brasil.

Quando, há nove anos, o Brasil recebeu goela abaixo a realização da Copa do Mundo, não havia qualquer forma de se criar um planejamento do que queríamos com o evento. O resultado está claro agora.

Foram feitos projetos completamente surreais de previsão de receitas para os estádios novos, baseados em mercados maduros e consolidados como o dos Estados Unidos. A situação piorou com complicações em quase todas as arenas no pós-evento causadas pelas investigações que revelam o submundo das negociatas entre empreiteiras e governos.

E, no fim das contas, o que restam são estádios lindos, mas ainda sem qualquer previsão de quando poderão se pagar. Sim, estádio foi feito para fechar a conta! E as modernas arenas da Copa do Mundo não podem correr o risco de não conseguirem gerar o mínimo de receita para equilibrar as contas e proporcionar um salto de qualidade no futebol a partir da melhora da qualidade no atendimento ao torcedor.

Ao criar o sistema de qualificação dos estádios, começamos a criar subsídios para a indústria entender o que pode ou não ser um bom negócio nas arenas. O maior desafio que o Ministério do Esporte tem pela frente, porém, é ser técnico o suficiente para dar notas baixas a arenas que tiveram milhões investidos pelo governo em sua construção.

Se não houver qualquer ingerência política sobre a classificação das arenas, começaremos a ter a formação de uma indústria ao redor dos novos estádios. No mercado europeu, desde a criação da Amsterdam Arena, há 20 anos, que os próprios clubes e gestores perceberam que ter estádios mais modernos é crucial para ter vantagem competitiva nos médio e longo prazos.

Por aqui, com uma indústria ainda em formação, ainda é necessária a ingerência do governo para criar padrões e tentar pavimentar o caminho a ser seguido. Parece que, agora, a estrada foi pavimentada. Resta saber se os gestores dos estádios vão conseguir usar esse início de ordenação para construir uma indústria relativamente sólida.


Futebol entendeu que o estádio é seu local mais importante
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Erich Beting

Pode colocar essa na conta da Copa do Mundo. O futebol brasileiro finalmente entendeu que o lugar mais importante que existe é o estádio. Nas últimas semanas, a CBF tem feito um baita esforço para ampliar a média de público do Campeonato Brasileiro. Da mesma forma, os clubes têm se desdobrado para reduzir preços e tentar achar um “valor-ótimo” para assegurar a presença do torcedor no estádio.

Pode parecer estúpido de tão banal que o raciocínio representa, mas o futebol finalmente entendeu que o estádio é o seu local mais importante. E por isso mesmo é possível colocar na conta da Copa do Mundo essa mudança de pensamento.

Com novos gestores nos modernos estádios que ficaram após o evento, constatou-se o óbvio. Cadeira vazia é dinheiro perdido. Hoje, com as novas estruturas, o torcedor naturalmente gasta mais dinheiro quando vai a um estádio novo. Seja pela empolgação que leva ao consumo, seja pela maior oferta de serviços, proveniente de um estádio com mais conforto e pré-disposto a ter áreas de lazer que vão além do assento na arquibancada.

A CBF comemorou, nesta segunda-feira, o fato de atingir 25 mil torcedores de média nos jogos das 11h de domingo. Medida implantada à força no Paulistão deste ano por conta de incompatibilidade de adequação do horário da TV com os protestos nas ruas paulistanas, o jogo das 11h virou hit. A CBF, ágil, percebeu isso e passou a jogar, para os novos estádios, essas partidas. E, assim, está vendo a média de público do Brasileirão aumentar.

Há uma demanda reprimida de torcedores que querem ir ao estádio, mas que estiveram afastado dele por conta do calendário esdrúxulo que tomou conta do futebol nas últimas duas décadas. Ditada pelo interesse da televisão, a tabela de jogos sempre tentou se adequar ao conforto de quem assiste à TV. Os horários pensados para atrair a torcida foram sempre suprimidos.

Agora, porém, há uma nova necessidade no futebol. Os estádios não podem mais ser deficitários. Assim, é preciso fazer com que mais pessoas possam frequentar esse ambiente. E isso significa fazer promoções, modificar horário de jogos para adequá-los às necessidades das pessoas e tentar encontrar caminhos para levar mais gente ao estádio.

O reflexo da mudança de hábito estimulada pela Copa já começa a ser visto um ano após o Mundial. Mesmo à força, o futebol brasileiro vai melhorando. O marketing está começando a querer entrar em campo. Ou, nesse caso, a trabalhar para levar mais gente para o campo…


Brasil terá um boom de novos estádios em 20 anos
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Erich Beting

Matéria da semana passada na Máquina do Esporte dava conta de que o Atlético Mineiro planeja erguer um novo estádio para o clube nos próximos anos (detalhes aqui). Ao Galo deverão se juntar em breve outros clubes. Eles vão trazer uma nova realidade para o futebol brasileiro nas próximas duas décadas.

Haverá, nos próximos 20 anos, um boom de novos estádios pelo país. Arenas modernas, mais confortáveis, com mais segurança para o público, melhores condições de trabalho para todos e, principalmente, maior geração de receita para os clubes.

O fenômeno segue a cadeia lógica de investimento em estádios que aconteceu primeiro nos Estados Unidos, depois nas duas potências econômicas da Europa (Inglaterra e Alemanha) e, agora, começa a se espalhar pela Itália.

Com a construção das novas arenas para a Copa do Mundo, os clubes começam a perceber que estádio precisa ser uma fonte boa de arrecadação para que isso se transforme em potencial competitivo mais à frente. Com novas instalações, é possível oferecer mais serviços e produtos para o torcedor. Da mesma forma, o novo local traz para os estádios um público que estava distante do futebol, acomodado na poltrona do sofá ou na mesa do bar.

Neste Brasileirão, Palmeiras e Corinthians puxam a fila e mostram a diferença que faz ter um estádio próprio e moderno. Mesmo que ambos ainda estejam em obras, já houve um aumento sensível de arrecadação dos dois times por conta dos novos  espaços. Ainda de maneira errada, baseado apenas na majoração dos preços de ingresso, mas já representando um diferencial para os times, especialmente para o Palmeiras, que em oito jogos faturou R$ 17 milhões em seu estádio.

Com o tempo, os gestores do estádio vão começar a perceber que, mais importante do que ganhar na cobrança do ingresso, é com os serviços que se faz realmente dinheiro no estádio.

É a transformação do conceito de “receita de bilheteria” em “receita do dia de jogo”, com direito a visita a museu, almoço em restaurante (ou lanchonete), estacionamento, loja oficial, quiosque de produtos, etc.

Até lá, porém, o Brasil ainda passará por um processo de construção de novos estádios, baseados na necessidade dos clubes, e não na megalomania de um grande evento. Foi essa transformação que revolucionou o negócio do futebol na Inglaterra, que mudou a cara do futebol alemão e que começa a querer resgatar o futebol na Itália.

O Brasil, como sempre, estará com alguns anos de defasagem em relação à Europa, que por sua vez está sempre atrasada em relação aos EUA. O mais importante, porém, é que o futebol percebeu que, para melhorar, precisa repensar a forma como trata o torcedor, sua principal fonte de arrecadação.


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