Negócios do Esporte

Arquivo : Fluminense

Flu mostra que dinheiro não garante o melhor negócio
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Erich Beting

O texto é de 14 de dezembro. O título era “Clubes fazem conta errada na hora de escolher material esportivo“. Naquela semana, o Fluminense tinha encaminhado o fim de quase 20 anos de parceria com a Adidas para acertar com a novata Dry World. O jargão de “maior contrato da história” do Fluminense era adotado para justificar a aposta na nova parceira, em detrimento de uma relação, muitas vezes turbulenta, com a segunda maior empresa do mundo no ramo de material esportivo.

O texto, agora, é de 12 de maio. O título é “Sem entrega, Dry World impõe problemas ao Fluminense“. A manchete já diz tudo. Praticamente meio ano após dizer que o Fluminense trocava o certo pelo duvidoso (e de ser cornetado pelo clube por isso, já que havia a “certeza” de que nada poderia ser pior do que já era em relação à entrega de material esportivo), o próprio clube admite que encontra grandes dificuldades com o novo parceiro, que, surpreendentemente, conseguiu ser ainda pior que o antigo…

O fato é que o Fluminense caiu na manjada tentação de achar que um contrato que oferece mais dinheiro é, necessariamente, o melhor negócio a ser feito. O mercado esportivo brasileiro ainda não conseguiu amadurecer suficientemente para entender que a relação da cadeia de valor não depende de um único fator.

No caso das empresas de material esportivo, a lógica de mercado não é simples. O clube tem de, necessariamente, conhecer a etapa toda de produção de uma camisa. Isso significa saber também quem é o parceiro de seu fornecedor. No Brasil, hoje, apenas Penalty e Olympikus contam com fábricas próprias. As duas empresas, porém, vivem sérias dificuldades financeiras.

Assim, quando assinam com marcas estrangeiras, os clubes precisam ver quem elas estão contratando para se tornarem produtoras de seus uniformes. Adidas, Nike, Umbro, Under Armour, Dry World… Todas essas marcas possuem capital, mas não necessariamente têm capacidade de entregar o que está prometido em contrato.

Da mesma forma, patrocinadores que não têm histórico como empresa muitas vezes caem no universo esportivo prometendo rios de dinheiro. Não entregam e, no fim, quem tem de pagar o prejuízo é o clube, que ficou sem o dinheiro para bancar aquela operação.

Há quase 30 anos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) tomou uma decisão que ajudou a revolucionar a marca dos Jogos Olímpicos. Em vez de buscar sempre o parceiro que ofertava mais dinheiro para as Olimpíadas, passou a buscar empresas que lhe dessem a entrega mais completa. Seja na mídia, no patrocínio ou no fornecimento de produtos.

Com um produto mais forte, é possível buscar mais dinheiro no mercado. Sem equipamento até mesmo para as categorias de base vestirem no dia a dia, o Fluminense prova que o tal do “melhor contrato da história” não é assim tão vantajoso para a imagem do clube. Pelo menos por enquanto.


Fla-Flu ou Rolling Stones? O Maracanã é palco para quem?
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Erich Beting

Se você tivesse de escolher entre assistir a um show de Rolling Stones ou a um Flamengo x Fluminense pela quinta rodada do Estadual do Rio, qual seria a sua opção? Parece um tanto lógico que os gestores do Maracanã tenham optado pela primeira opção e decidiram abrir mão do clássico mais tradicional do Rio de Janeiro para um domingo à tarde.

Muito mais curioso, porém, foi ver a reação um tanto quanto indignada de muita gente achando um absurdo que o “Maior do Mundo” abrisse mão do que foi sua essência para abrigar um show de rock.

O problema, aqui, não é o fato de o Maracanã, hoje, ser uma empresa privada e, como tal, precisar de lucro. O buraco é bem mais embaixo. Para o consumidor, o que é mais atrativo? Ver um jogo de futebol pela quinta rodada da primeira fase do Estadual do Rio, mesmo que seja um Fla-Flu, ou a uma das mais consagradas bandas de rock da história?

O futebol perdeu de tal forma o bonde da inovação que ainda não percebeu que o vilão não é quem rejeita assistir a um jogo, mas quem deteriorou o produto de tal forma que se chegou a isso. Não há qualquer atrativo para se ver um clássico Fla-Flu no Estadual do Rio, até porque os dois clubes fazem questão de dizer que não lhes interessa jogar a competição.

Entre o Fla-Flu ou o Rolling Stones, não há dúvida do que o público prefere. O futebol continua a achar que o errado são os outros, enquanto não trabalha para fazer com que haja muito mais atratividade para o seu espetáculo do que para o dos outros.

Já faz um bom tempo que o principal programa do final de semana deixou de ser, com sobras, o futebol.


Ronaldinho e a visão deturpada de “negócio” no futebol
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Erich Beting

O Fluminense exaltou o “retorno de marketing” que Ronaldinho Gaúcho proporcionou ao clube em menos de três meses que esteve com um contrato assinado com o clube. Diz o Flu que a presença do astro, mesmo que apagada, gerou maior receita com bilheteria e adesão ao programa de sócio-torcedor do clube.

Quando foi anunciado, em julho, Ronaldinho realmente representou um incremento de receita para o Flu. O clube rompeu a barreira dos 30 mil sócios-torcedores pela primeira vez, com um recorde de 9 mil adesões durante o mês. Além disso, no clássico contra o Vasco, teve até então seu melhor público e renda no Brasileirão (detalhes aqui).

Mas a euforia ficou estacionada aí.

Depois que “entrou” em campo, Ronaldinho passou a decepcionar o torcedor. E, com o time mal em campo, o sonho não se realizou. O Flu estacionou no programa de sócios (só teve mais 2 mil novos sócios nos dois últimos meses) e a receita de bilheteria minguou com o time muito mal em campo.

O caso evidencia uma miopia do esporte no Brasil, acentuada desde o fenômeno Ronaldo-Corinthians. O futebol no Brasil precisa entender que não é só pelo fato de o jogador ter tido boa performance esportiva no passado e ser um ídolo nacional que ele, necessariamente, será um bom negócio.

O primeiro motivo para isso é lógico. Um clube tem como seu principal negócio a performance esportiva. Ele não pode achar que o torcedor espera dele, em primeiro lugar, lucro no balanço financeiro ou estupendas arrecadações com contratos comerciais. Sim, de uma forma indireta ele almeja isso, mas desde que essas duas coisas sejam revertidas para a construção de um time vencedor. O torcedor só passou a se preocupar com valores de patrocínio e balanços financeiros nos últimos anos pelo que eles podem representar em termos de performance esportiva.

O erro do Fluminense, como já havia sido do Flamengo, foi acreditar que Ronaldinho poderia gerar retorno dentro e fora de campo para o clube. Já faz tempo que ele não consegue trazer as duas coisas. Na realidade, apenas nos dois anos mágicos do Barcelona que ele foi capaz de trazer retorno nos dois campos.

Se, esportivamente, Ronaldinho foi indiscutível, fora de campo sua capacidade de gerar receita quase sempre esteve restrita ao momento bom que ele viveu dentro de campo. O Atlético Mineiro que o diga.

Em nenhum aspecto a passagem-relâmpago de Ronaldinho pelo Fluminense foi bem-sucedida. Dentro de campo, se é que ele esteve lá, ela foi um fiasco. Fora dele, só correspondeu quando ainda era uma promessa. A partir do instante em que o campo passou a interferir na percepção do torcedor, o encanto se quebrou.

Na esteira do sucesso Ronaldo-Corinthians, os clubes apostaram em nomes que, pretensamente, poderiam ser ótimo negócio para gerar caixa, movimentar a marca e criar um caso de sucesso. Adriano, Kaká e Ronaldinho são a prova de que isso não é possível.

O futebol tem de entender o que é negócio e, mais ainda, como fazer negócio. Achar que é só chamar um medalhão para as vendas dispararem é um erro primário. E que, quase sempre, acarreta num desequilíbrio financeiro – e técnico – para o time.


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