A oportunidade única que o São Paulo tem de retomar a fama
Erich Beting
O São Paulo tem pela frente uma oportunidade única.
O clube, que nos anos 80 construiu a fama de ser o mais organizado do país, considerado exemplo de gestão e sinônimo de conquistas, caiu na vala comum do futebol engolido pelo meio corrupto. Longe de achar que o Tricolor viveu alheio a desvios e desmandos tão típicos dos maus tratos que o universo da bola tem sofrido desde que começamos a envolver dinheiro na brincadeira entre amigos.
Mas, se havia uma coisa que o São Paulo sabia fazer melhor do que qualquer outro clube no país, era colocar sempre os interesses da instituição à frente dos desejos pessoais de dirigentes. Foi esse diferencial político que o clube perdeu na última década e que o arrastou para o patamar onde está o sarrafo de competência gerencial do futebol nacional.
Agora, porém, a oportunidade bate à porta. O São Paulo tem dois caminhos a escolher. Faz, como aparentemente parece ser a solução no Congresso Nacional. Com receio do poder de quem está acuado, ignora o passado sujo, passa a borracha e tenta seguir adiante.
Não investigar as denúncias que pesam sobre Carlos Miguel Aidar é agir completamente contra o que mais tem se apregoado no mundo. Ainda mais tendo o exemplo da Fifa para seguir, o São Paulo pode dar o primeiro passo e ser de novo um vanguardista, não só abrindo as suas contas publicamente como colocando o dedo na ferida e mostrando que, no clube, a transparência é o que norteia seus princípios.
O grupo que vier a assumir o poder no São Paulo não tem qualquer comprometimento com os desmandos de antes. Isso lhe dá a oportunidade de tomar uma atitude inédita no futebol, mas que naturalmente virá a ser regra, que é a de escancarar as contas, mostrar onde estão os abusos e tornar, a partir de agora, completamente transparente os negócios envolvendo, pelo menos, o futebol do São Paulo.
Nunca um clube ousou ter a transparência como princípio ético de atuação. Revelar os termos de contratos com atletas, as condições de contratações, quem são os intermediários de negócios e em quais condições eles atuam seria uma atitude que só uma instituição sem medo de ser honesta poderia tomar.
Pelo bem do futuro da indústria, o futebol precisa mudar radicalmente sua gestão. O São Paulo tem a chance de ser o primeiro a fazer isso. O quanto isso impacta nos negócios do clube no médio e longo prazo? Com certeza num primeiro instante o São Paulo sofreria, especialmente na questão de contratação de jogadores. Mas, em cinco anos, no máximo, o clube estaria muito à frente da concorrência.
A Fifa deve, na semana que vem, anunciar uma série de mudanças na conduta da entidade. E, com certeza, ela passará a exigir isso do universo do futebol. Assim como a Lei Bosman, de 1995, foi acabar com a figura do passe cinco anos depois no futebol brasileiro, as novas regras de gestão da Fifa deverão impactar no médio prazo todo o universo do futebol.
O São Paulo tem uma chance única de ser mais adiantado até de quem comanda o futebol no mundo.