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Arquivo : Guga

Djokovic ‘rouba’ mais que o coração de Guga em Paris
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Erich Beting

Ao “roubar”, com a devida permissão, o gesto que imortalizou Guga em Paris, Novak Djokovic coroou a primeira conquista dele no saibro francês com o que tinha de melhor o colega brasileiro e com algo que ele tem naturalmente de sobra: muito carisma.

Guga conquistou Paris ao usar a naturalidade de suas ações para se mostrar “um cara qualquer” dentro daquele monte de lendas que desfilavam por Roland Garros. Tanto que, ao fazer o coração no chão na épica campanha de 2001, ele conquistou de vez um lugar entre os grandes mitos do tênis.

Ao repetir o feito de Guga, que se mostrou emocionado com a homenagem, Djoko entrou também para o lugar que pertencia ao brasileiro, mas com um adicional. Em termos de performance, Guga não chega perto do sérvio.

Djoko está se transformando, aos poucos, no maior mito da história do tênis, indo para um lugar mais distante que já tinham conseguido chegar Pete Sampras, Andre Agassi, Rafael Nadal e Roger Federer. Todos esses caras são multicampeões, mas, em termos de carisma, não conseguem ter a leveza e simpatia de Djokovic.

O coração na quadra principal de Roland Garros é só mais uma prova do carisma absurdo que Novak Djokovic tem no mundo do tênis. Se Gustavo Kuerten acaba de ser nomeado embaixador mundial do tênis, pode apostar que Djoko, depois do gesto de domingo, tem tudo para também ganhar esse posto muito em breve.

 


Neymar e a delicada gestão de carreira de atletas
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Erich Beting

O que é gerenciar a carreira de um atleta? Essa pergunta já apareceu diversas vezes em cursos e palestras. A transformação do esporte num grande negócio provocou essa situação. Temos, hoje, um importante mercado à disposição. Mas o que especificamente ele representa?

A discussão judicial envolvendo Neymar (e que já teve grandes nomes da bola como atores principais, como Messi) é apenas mais um exemplo de quão complexa é a resposta para essa pergunta.

Desde que despontou e preferiu continuar por mais um tempo no Santos, Neymar teve exaltado o “plano de carreira” montado pelo clube em parceria com seu pai, figura tão onipresente na vida do craque do Barcelona que até deu ao filho o mesmo nome dele.

Boa parte da argumentação usada pelos Neymares na defesa das acusações de hoje é de que o gerenciamento de imagem do camisa 11 do Barcelona não é uma coisa fácil. É preciso muita gente para fazê-lo.

É verdade. Mas cuidar da imagem de um jogador significa, também, cuidar de todos os aspectos contábeis dos milhões que ele movimenta. É se preocupar, também, com as aparições públicas que ele faz, com as declarações que emite em redes sociais, com as ameaças, veladas ou diretas, que faz a seus críticos.

O que muitas vezes confundimos quando levantamos o tema “gestão de carreira” é de que Neymar não é, desde que montou o “plano de carreira” com o Santos, uma pessoa. Ele é uma marca, uma empresa. Por isso mesmo, a gestão de seus contratos, dos pagamentos de impostos, da negociação com empresas não pode ficar delegada a uma única pessoa, ainda mais com envolvimento sentimental ao dono da corporação.

Neymar, hoje, não é Neymar Jr. É Neymar Ltda.

Uma empresa que aparentemente tem ilimitado poder para gerar negócios. Tanto que, nesta semana, em meio ao furacão em que esteve metido, o museu Madame Trussard anunciou que finalizará uma réplica de cera do atacante do Barcelona para colocar na filial de Orlando do famosíssimo museu.

Mesmo com o mundo desabando sobre o jogador, ele ainda é capaz de gerar grandes negócios. E o que significa gerenciar essa carreira?

Neymar poderia dar um pulo até Florianópolis não para passar umas férias em Jurerê Internacional, mas para entender, com Gustavo Kuerten, como foi a decisão tomada, pela família, de transformar o ídolo Guga numa empresa, com desdobramentos nas áreas social, educacional e, claro, de negócios.

O estilo Jerry Maguire de gestão de carreira funciona. Mas apenas para o atleta que não virou Neymar…


Temos o nº 1 do mundo do tênis. E agora?
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Erich Beting

O Brasil voltou, após quase 15 anos, a ter um tenista no topo do ranking mundial. Agora nas duplas, Marcelo Melo conseguiu repetir o feito de Guga em dezembro de 2000 ao chegar no lugar mais alto da lista dos melhores do tênis.

Como bem escreveu Alexandre Cossenza em seu Saque e Voleio (leia aqui), o feito de Melo deveria significar algumas coisas. O duro é o uso do futuro do pretérito para explicar o tamanho da façanha conquistada pelo mineiro.

Talvez o mais claro a se pensar seja que Melo conseguiu igualar Guga, mas nas duplas, porque o Brasil não conseguiu acompanhar Guga. Não soubemos, há 15 anos, preparar o terreno para semear o topo do ranking.

Melo tinha 17 anos quando Guga alcançou o maior feito da história do tênis brasileiro. Desde então, os tenistas brasileiros se beneficiaram de um aumento de interesse pelo tênis em geral. A mídia deu muito mais espaço à bola amarela, os patrocinadores começaram a entender que poderiam tirar bom proveito do esporte em suas estratégias de exposição e construção de marca, os torcedores entenderam, de certo modo, o que é um ace, um forehand, um slice.

Mas, da mesma forma que a conquista de Guga foi possível graças principalmente à dedicação e talento de uma família e um treinador, a conquista de Melo agora é também muito mais fruto da perseverança de um núcleo duro formado em torno do jogador do que um processo natural de quantidade x qualidade.

Nos últimos 15 anos, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) não soube olhar nada além do que o alto rendimento. Não é apontar o dedo da culpa, mas é um fato. Tivemos muito mais torneios de base, buscamos encontrar novos talentos, mas efetivamente não soubemos propagar o tênis para além do profissional.

E isso é péssimo quando temos de desenvolver o esporte no país. Guga deu ao país uma oportunidade única. Nunca houve tanto interesse pelo tênis como quando ele chegou ao topo. Isso fez com que, naturalmente, surgisse uma geração de bons tenistas no país.

Melo, André Sá, Bruno Soares e Thomaz Bellucci são alguns exemplos. Foram caras que surgiram ou mantiveram a caminhada no esporte graças ao aumento de cobertura da mídia e de disponibilização de verba de patrocinadores. O caminho deles foi bem mais fácil do que os de Guga, Jaime Oncins e Fernando Meligeni, por exemplo. Não na competitividade de um esporte que passou a ser praticado em todo o mundo, mas sim no aumento do interesse do Brasil como um todo pela modalidade.

Só que esse movimento não foi acompanhado por quem deveria ter a preocupação de criar um estilo brasileiro de jogo. Não capacitamos treinadores, não criamos mais torneios de base, não procuramos ampliar a prática do esporte. Ficamos, passivamente, acompanhando tudo pela TV, esperando que o raio caísse duas vezes no mesmo lugar.

O Brasil nunca teve uma geração tão talentosa no tênis quanto a dos últimos 25 anos. Caras que deveriam ser chamados a todo instante para opinar, ajudar a propagar e desenvolver o esporte. Não apenas na mídia, mas no projeto social que ainda carece de ídolos para dar exemplos, no evento para empresas que precisam entender mais de que forma o tênis pode gerar benefícios para as marcas, no dia-a-dia para além do número 1 alcançado.

Guga foi fruto do acaso. Melo, em menor escala, também. Daqui a 15 anos, será que teremos um novo número 1? Isso provavelmente só será possível se usarmos os bons exemplos que surgiram em nossa vida para impulsionar novos fãs e, naturalmente, novos praticantes do tênis.

E, para isso, é preciso olhar mais do que o esporte no topo. Construir quadras e capacitar treinadores é uma missão bem menos dispendiosa de se realizar do que organizar torneios com os principais nomes do esporte.

O Brasil tem, novamente, um break point a seu favor…


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