Juventus e Corinthians; a interferência da gestão no campo
Erich Beting
Nesta quarta-feira, a Juventus voltou a uma final de Liga dos Campeões da Europa após dez temporadas. E o Corinthians voltou a ser eliminado em casa por um time de menor expressão na Copa Libertadores, com direito a jogadores expulsos e um pífio desempenho em campo.
Os dois acontecimentos têm, entre si, um ponto em comum. A gestão fora de campo explica, em boa parte, o resultado dentro dele!
A Juventus é, hoje, o único time italiano minimamente bem administrado. Depois da revelação dos escândalos de manipulação de resultados nos anos 2005 e 2006, a Vecchia Signora foi para a Série B, afastou os dirigentes corrompidos e corruptores e, mais além, repensou toda a gestão de seu clube.
Tendo a Fiat como maior acionista, o clube reordenou a casa e tomou uma decisão que explica, em boa parte, o que acontece agora. Em 2008, decidiu que construiria um novo estádio, moderno, para se adequar à nova realidade no futebol europeu. Enquanto os rivais seguiram (e ainda seguem) atuando nos elefantes brancos construídos para a Copa do Mundo de 1990, a Juve passou a atuar num estádio moderno, menor e com maior capacidade de arrecadação.
O estádio ficou pronto em 2011. Agora, a Juventus conseguiu renovar o time e teve verba suficiente para contratar bons jogadores. No ano passado, foi à semifinal da Liga Europa, e, neste, chega à decisão do torneio mais concorrido do continente. Quem sabe, agora, os demais grandes da Itália acordem para melhorar a gestão de seus clubes.
Por aqui, o Corinthians vive a situação inversa. Em 2008, decidiu remodelar a gestão do clube. Ajustou o caixa, renegociou as dívidas e investiu bastante na marca do clube. Aumentou a arrecadação e passou a ser referência. Em quatro anos, conquistou a Libertadores de forma inédita e foi campeão do mundo. No meio do processo, assumiu a bronca de erguer um estádio, antigo sonho e que sempre havia ficado suprimido por devaneios de dirigentes do passado.
O problema, porém, foi que a gestão das finanças descontrolou-se. O clube não soube investir, errou no fluxo de caixa, tomou empréstimos, teve casos absurdos de gestão indevida do dinheiro revelados e, hoje, encontra-se esganado financeiramente. Pior ainda, a conta do estádio começa a ser cobrada. O plano de negócios para pagamento dos empréstimos tomados não parece ser realista, o que faz com que a arrecadação milionária em dias de jogos não seja suficiente para cobrir o que é preciso pagar pelo estádio.
O reflexo se vê em campo.
Para o bem e para o mal, é a gestão quem mais vai influenciar no desempenho dentro de campo. Ainda mais com o futebol cada vez mais profissional, em que o bom atleta terá boa performance se estiver satisfeito no ambiente de trabalho (ganhando bons salários e tendo-os pagos em dia, como é em qualquer segmento de mercado).
Juventus e Corinthians mostraram, nesta quarta-feira, a máxima que consagrou Ferran Soriano, ex-CEO do Barcelona. A bola não entra por acaso. Se o fora de campo não estiver organizado, o que acontece dentro dele dificilmente estará.