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Liga Sul-Minas já começa a perder negócio para a política
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Erich Beting

A declaração midiática de Alexandre Kalil anunciando o rompimento da Liga Sul-Minas com a “Casa do 7 a 1”, como divertidamente definiu a CBF, é o início do fim da liga como entidade que promete revolucionar o futebol brasileiro e criar um campeonato que seja realmente profissional e bem administrado.

Kalil está coberto de razão ao não ceder à pressão das federações estaduais, que preocupadas com o futuro de suas competições, foram à entidade-mãe pedir auxilio.

O erro da Sul-Minas é estratégico.

Acreditando na fragilidade do centro do poder da CBF, que talvez por conta da alta do dólar tenha desistido de fazer tantas viagens internacionais, os clubes decidiram partir para o ataque. Fizeram a Sul-Minas como um “protesto” contra o status quo, acreditando-se mais capazes de organizar um campeonato do que a CBF.

O problema é que os clubes perderam o timing para qualquer revolução quando abriram mão de exigir uma liga nacional na primeira reunião pós-27 de maio, a data em que o mundo encantado do futebol começou a ruir. Ali, quando aceitaram cadeiras num conselho de clubes e aumento do colégio eleitoral, eles deixaram de ter força para apenas comunicar à CBF que, a partir do ano que vem, deixariam a entidade preocupada só com a cotação do dólar e passariam a fazer eles mesmos as séries A, B, C e D do Nacional.

A Sul-Minas, já em seu discurso de “Primeira Liga”, tentou mostrar que estava ali para retomar esse projeto, num passo mais cadenciado. Isso colocou em alerta as federações, que ainda possuem maior força dentro da CBF. Como a preocupação com a cotação do dólar é maior do que qualquer outra coisa nos corredores da entidade, o tormento das federações traria outro problema à “Casa do 7 a 1”.

O não-reconhecimento da CBF para a competição é praticamente o início do fim da Sul-Minas. Quando anunciaram o torneio, os clubes disseram que, com cinco datas, gastariam cerca de R$ 1,3 milhão para fazer o campeonato. Nesse cenário estão apenas custos de deslocamento e taxas de arbitragem.

Numa hipótese de fazer o torneio nas mesmas 19 datas dos Estaduais, a conta começa a ficar mais salgada do que parece… Além disso, os clubes terão de encontrar árbitros dispostos a peitar a CBF e trabalharem numa liga “clandestina” e precisarão buscar um acordo de TV de quem não tenha, de certo modo, negócios com a CBF. Nesse cenário, precisarão achar, com menor exposição na TV, patrocinadores que queiram assumir o risco de bancar a competição.

Em 2005, um movimento parecido foi feito pelo basquete. A Nossa Liga de Basquetebol (NLB) surgiu com esse intuito de romper com os desmandos da CBB. O torneio aconteceu à parte do Nacional. Durou três anos até que, em 2008, chegou-se a um acordo político para que se fundasse o Novo Basquete Brasil (NBB), campeonato que conta com a chancela da CBB e que, sete anos depois, passou a ter a NBA como parceiro comercial estratégico.

O intuito da Sul-Minas era, no futuro, se transformar num torneio nacional, abrangendo as principais divisões do país. O problema dela, na partida, é conseguir fazer com que o negócio se sobreponha à briga política.

Após o “Casa do 7 a 1”, o cenário parece nebuloso nesse sentido. Se, como negócio, já era difícil sustentar a Sul-Minas em meio a um calendário já inchado, sem apoio político para ela acontecer é ainda mais complexo…


Entrave maior para uma liga nacional é comercial
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Erich Beting

Alexandre Kalil, designado principal executivo da Liga Sul-Minas, deu algumas entrevistas após a reunião que houve na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e deixou claro que a ambição do grupo de dirigentes que foram à entidade é, em algum momento, formatar um projeto para finalmente tirar do papel uma Liga Nacional, que represente diversas divisões do futebol brasileiro.

Numa entrevista de Kalil ao Globoesporte.com (leia a íntegra aqui), porém, fica claro onde há hoje o maior entrave para a criação de uma liga. Diz o dirigente/executivo:

“O futebol brasileiro precisa de uma conta simples: quem vende, tem que cuidar. Quando houver a Liga, vamos cuidar da Série A, B, C, da quarta divisão. Vamos ter responsabilidade na hora de dividir. Não adianta pensar que eu tenho que ganhar mais que os outros”.

Kalil foi um dos poucos dirigentes que, em 2011, quando começou a implosão do Clube dos 13, se opôs ao modelo individual de negociação dos direitos de TV. Tanto que o Atlético-MG, clube que presidia, foi o último a assinar o contrato com a Globo, que acabou com a única negociação coletiva de direitos que existia no futebol brasileiro, provocando uma regressão de pelo menos 30 anos na organização da modalidade no país.

Agora, essa mesma situação criada no início da década se volta contra os clubes. Os contratos de cessão dos direitos do Brasileirão estão assinados com a Globo por pelo menos mais três anos.

Essa situação já cria o primeiro impasse para a formação de uma liga nacional. A maior receita que existe, em qualquer liga, em qualquer esporte, é a de televisão. E ela precisa seguir, como bem apontou Kalil, uma divisão democrática de receita, para fazer prevalecer a lógica da competitividade esportiva em vez da competitividade econômica.

Como conseguir convencer os clubes, principalmente os de maior torcida, de que eles terão de abrir mão do conforto da situação atual para diminuir a sua receita e tornar sua equipe menos competitiva?

Se os clubes olhassem para além do próprio umbigo, ou para além do fluxo de caixa defasado, seria absolutamente normal ter esse pensamento. O modelo de liga que comercialmente é mais eficiente, que é o dos Estados Unidos, parte do princípio de que todos os clubes são sócios de um negócio maior. O desempenho esportivo não pode ser unicamente dirigido pelo poderio econômico. Isso gera desinteresse do torcedor nesse negócio no médio/longo prazo.

Mas, por aqui, a lógica comercial é colocada em segundo plano. O dirigente, em vez de pensar no todo, olha o seu problema. É natural, é do ser humano. Mas, hoje, isso é um absoluto entrave para que haja condições de se criar uma liga nacional.

Na análise que faz, Kalil é preciso ao dizer que “esse tipo de coisa só nasce quando há vontade dos clubes”, respondendo sobre a possibilidade de a Liga Sul-Minas virar, com o tempo, a Liga Nacional.

A questão é que, além de haver uma miopia na direção de boa parte dos clubes sobre a necessidade de eles serem unidos fora de campo, o principal contrato que daria força econômica à liga hoje está dividido entre os clubes, com cada um recebendo, muito provavelmente, mais individualmente do que estaria se houvesse um contrato coletivo, em que seria obrigatório ser mais democrático na divisão das receitas e no financiamento das demais competições menores, subordinadas à liga.

A boa notícia, porém, é que os clubes finalmente entenderam que, se for para criar uma liga, ela não pode representar apenas alguns clubes, mas uma competição. Esse já foi um primeiro grande passo para que não aconteça, numa eventual criação da liga, o mesmo erro de princípio que, em pouco tempo, acabou com a Copa União e, posteriormente, o Clube dos 13.


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