Negócios do Esporte

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Esporte amador x esporte de alto rendimento. Onde investir?
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Erich Beting

Matéria desta semana na Máquina do Esporte traz uma curiosa comparação. A Maratona de Nova York, realizada no último domingo, dia 1º, gera quase cinco vezes mais receita para a cidade americana do que o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, que será no próximo dia 15, acrescenta na economia paulistana (detalhes aqui).

A comparação é interessante. Durante décadas a Fórmula 1 sempre se vendeu como o supra-sumo do esporte. Vista como a mais glamourosa competição esportiva do mundo, a F1 sempre foi sinônimo de geração de riqueza para as cidades por onde ela passa. Mas, de uns tempos para cá, receber uma etapa de F1 não é lá um negócio tão fantástico para os municípios.

O automobilismo passa por uma crise de identidade que faz com que cada vez menos torcedores tenham o interesse de se deslocar para acompanhar a competição. E isso não tem relação alguma com o fato de que o campeonato deste ano já está decidido. A Fórmula 1, deliberadamente, envelheceu. Muito por conta de seu grande dirigente comercial, Bernie Ecclestone, que diversas vezes já declarou não ver sentido em a categoria olhar para o público jovem, que seu negócio é falar com senhores de 70 anos cheio de dinheiro, etc.

Há 30 anos que a transmissão da Fórmula 1 é exatamente a mesma. O máximo que evoluiu foi a inserção de uma ou outra câmera no carro do piloto, mas via de regra o telespectador não tem nenhuma novidade para auxiliar num melhor monitoramento da prova. Por que, então, ir a um autódromo?

Por outro lado, a Maratona de Nova York, em menos de 50 anos, é uma competição que não para de crescer. Apostando no aumento da prática de atividade física, a principal maratona do mundo fez, no ano passado, um acordo de naming right do evento que mostra bem para onde o evento quer caminhar. Fechou patrocínio com a empresa de consultoria em tecnologia Tata Consultancy Services.

No anúncio do acordo, um dos motivos celebrados pelos organizadores do novo contrato era o de que ele poderia possibilitar um incremento em soluções de tecnologia e uso de aplicativos para telefones para os mais de 50 mil participantes da prova. Até a data da corrida deste ano, o aplicativo oficial da prova contabilizava mais de 268 mil downloads…

É, como se vê, um caminho radicalmente oposto ao adotado pela F1, que ainda enxerga o esporte e o relacionamento entre as pessoas como nos anos 80.

E, aí é onde entra toda a questão. Quando se compara o resultado financeiro que gera para uma cidade a realização de um grande evento esportivo amador, incentivando a prática de atividade física das pessoas, o esporte de alto rendimento começa a perder de goleada.

A comparação Maratona de NY x GP Brasil de F1 é apenas um exemplo evidente de como, hoje, o esporte de alto rendimento se tornou algo caro e de retorno financeiro duvidoso. Ou, se não é duvidoso, com um retorno financeiro menor do que aquele que envolve um evento pensado para colocar o atleta amador em atividade.

O esporte de alto rendimento ainda é um melhor negócio para as marcas pelo alcance que ele gera a partir da exposição na mídia de massa. Mas, para uma cidade, não há dúvida que é mais rentável investir num grande evento para as pessoas praticarem esporte do que promover uma competição que envolva atletas de alto rendimento.


Corinthians pode ter mais um recorde: o “campeão do sofá”
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Erich Beting

A situação promete dar um novo capítulo à modorrenta discussão “pontos corridos x mata-mata”. No próximo domingo, o virtual campeão nacional Corinthians poderá bater outro recorde. Ser o primeiro campeão a ter celebrado o título “do sofá”.

A proeza do dia é mais uma obra de irresponsabilidade de quem pretensamente deveria comandar o futebol do país. A CBF dormiu no ponto, não percebeu onde poderia acabar essa história e deixou acontecer. Sem ter tempo hábil, pelo seu próprio regulamento, para mudar o horário do jogo do Corinthians, a entidade teve de manter a partida contra o Coritiba para o sábado às 19h30.

O clube paulista sairá dessa partida da mesma forma que terminou o jogo contra o Atlético Mineiro. Sabendo que será o campeão, só não se sabe quando. Poderá ser no dia seguinte, num churrasco entre os jogadores e seus familiares, o que seria legal exclusivamente do ponto de vista pessoal para os atletas.

E aí entra o ponto central dessa história. A CBF deveria ter pelo menos UM funcionário pensando exclusivamente na promoção de seu maior produto com periodicidade definida, que é o Campeonato Brasileiro. Já se sabia, há pelo menos 15 dias, que uma combinação de resultados poderia fazer do duelo contra o Coxa a decisão do título.

Não havia ninguém na CBF olhando a tabela, ou pelo menos acompanhando o noticiário (roda de debates na TV e simulador de classificação nos sites é o que não faltam hoje em dia no cotidiano do futebol) para já prever que seria de bom tom fazer o time estar em campo, ao lado da torcida, na hora do apito final em Belo Horizonte?

Geralmente a CBF guarda certa antecedência para promover todos os jogos nos mesmos dias e horários. Deixa para as três rodadas finais, impulsionada pela outra novela chatíssima do futebol nacional, a tal da “mala branca”. Foi assim que tudo funcionou bem até agora. Mas…

O episódio do Brasileirão que pode ter seu campeão pelo sofá é só mais um que deveria provocar indignação e mexer um pouco mais com o modelo de descaso com o qual é tratado o principal campeonato do país.

Não se trata de exigir muita coisa, apenas que a CBF esteja atenta para cuidar com um pouco mais de carinho do Brasileirão. Mas como parece que a entidade tem dificuldades até para renovar o passaporte de seu presidente poder viajar para o exterior, fica difícil acreditar que alguma mobilização virá dali…


Temos o nº 1 do mundo do tênis. E agora?
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Erich Beting

O Brasil voltou, após quase 15 anos, a ter um tenista no topo do ranking mundial. Agora nas duplas, Marcelo Melo conseguiu repetir o feito de Guga em dezembro de 2000 ao chegar no lugar mais alto da lista dos melhores do tênis.

Como bem escreveu Alexandre Cossenza em seu Saque e Voleio (leia aqui), o feito de Melo deveria significar algumas coisas. O duro é o uso do futuro do pretérito para explicar o tamanho da façanha conquistada pelo mineiro.

Talvez o mais claro a se pensar seja que Melo conseguiu igualar Guga, mas nas duplas, porque o Brasil não conseguiu acompanhar Guga. Não soubemos, há 15 anos, preparar o terreno para semear o topo do ranking.

Melo tinha 17 anos quando Guga alcançou o maior feito da história do tênis brasileiro. Desde então, os tenistas brasileiros se beneficiaram de um aumento de interesse pelo tênis em geral. A mídia deu muito mais espaço à bola amarela, os patrocinadores começaram a entender que poderiam tirar bom proveito do esporte em suas estratégias de exposição e construção de marca, os torcedores entenderam, de certo modo, o que é um ace, um forehand, um slice.

Mas, da mesma forma que a conquista de Guga foi possível graças principalmente à dedicação e talento de uma família e um treinador, a conquista de Melo agora é também muito mais fruto da perseverança de um núcleo duro formado em torno do jogador do que um processo natural de quantidade x qualidade.

Nos últimos 15 anos, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) não soube olhar nada além do que o alto rendimento. Não é apontar o dedo da culpa, mas é um fato. Tivemos muito mais torneios de base, buscamos encontrar novos talentos, mas efetivamente não soubemos propagar o tênis para além do profissional.

E isso é péssimo quando temos de desenvolver o esporte no país. Guga deu ao país uma oportunidade única. Nunca houve tanto interesse pelo tênis como quando ele chegou ao topo. Isso fez com que, naturalmente, surgisse uma geração de bons tenistas no país.

Melo, André Sá, Bruno Soares e Thomaz Bellucci são alguns exemplos. Foram caras que surgiram ou mantiveram a caminhada no esporte graças ao aumento de cobertura da mídia e de disponibilização de verba de patrocinadores. O caminho deles foi bem mais fácil do que os de Guga, Jaime Oncins e Fernando Meligeni, por exemplo. Não na competitividade de um esporte que passou a ser praticado em todo o mundo, mas sim no aumento do interesse do Brasil como um todo pela modalidade.

Só que esse movimento não foi acompanhado por quem deveria ter a preocupação de criar um estilo brasileiro de jogo. Não capacitamos treinadores, não criamos mais torneios de base, não procuramos ampliar a prática do esporte. Ficamos, passivamente, acompanhando tudo pela TV, esperando que o raio caísse duas vezes no mesmo lugar.

O Brasil nunca teve uma geração tão talentosa no tênis quanto a dos últimos 25 anos. Caras que deveriam ser chamados a todo instante para opinar, ajudar a propagar e desenvolver o esporte. Não apenas na mídia, mas no projeto social que ainda carece de ídolos para dar exemplos, no evento para empresas que precisam entender mais de que forma o tênis pode gerar benefícios para as marcas, no dia-a-dia para além do número 1 alcançado.

Guga foi fruto do acaso. Melo, em menor escala, também. Daqui a 15 anos, será que teremos um novo número 1? Isso provavelmente só será possível se usarmos os bons exemplos que surgiram em nossa vida para impulsionar novos fãs e, naturalmente, novos praticantes do tênis.

E, para isso, é preciso olhar mais do que o esporte no topo. Construir quadras e capacitar treinadores é uma missão bem menos dispendiosa de se realizar do que organizar torneios com os principais nomes do esporte.

O Brasil tem, novamente, um break point a seu favor…


Grana começa a impor mudanças no esporte
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Erich Beting

Na última quarta-feira foi apresentado o “Pacto Pelo Esporte” num evento em São Paulo. Pela primeira vez, empresas concorrentes decidiram se unir para exigir, do esporte, melhores práticas de gestão. Basicamente as marcas decidiram dar um “basta” na maneira como o esporte é gerenciado no país e passaram a pedir melhores condutas para poderem gastar dinheiro numa estratégia de patrocínio.

Entre os principais patrocinadores do esporte brasileiro, faltaram na assinatura do documento Ambev, Caixa e Petrobras. Os outros grandes investidores estão lá, iniciando um movimento que, se vingar, tem tudo para ser um divisor de águas dentro do que conhecemos como esporte no país.

O curioso é ver como o esporte, no Brasil, não consegue mudar por pernas próprias. Tivemos diversas alterações no cenário do país e, via de regra, o modelo segue antiquado. Foi-se a onda dos megainvestidores do futebol nos anos 90 (Parmalat, Hicks Muse, Nations Bank, ISL, etc.), veio a era do fomento ao esporte olímpico com a Lei Piva, nos anos 2000, estamos agora no momento dos megaeventos.

Fontes de financiamento para o esporte no Brasil sempre existiram, mas o mau uso dessa enorme verba aportada é que causa problemas estruturais no país.

Só em incentivo fiscal o esporte arrecadou R$ 1,5 bilhão em 9 anos (média de R$ 160 mi ao ano). Nos recursos da loteria, são cerca de R$ 100 milhões anualmente. Em patrocínios, privado e estatal, os valores são ainda maiores.

Com a Olimpíada chegando, os investidores decidiram dar uma espécie de ultimato às entidades. Com a verba cada vez mais vigiada dentro das empresas, cada centavo empregado no esporte conta. Por isso, as marcas passaram a exigir mais de seus parceiros comerciais.

E isso passa, necessariamente, pela melhoria na gestão do esporte. A força da grana pode erguer um belo legado para o esporte no país. Resta saber se o interesse de médio/longo prazo será mais forte do que a resposta imediata que a empresa precisa dar para seus acionistas/donos.

No Pacto Pelo Esporte, as entidades terão dois anos para se adaptarem e cumprirem as exigências feitas pelas empresas de transparência, boa governança e, no fim das contas, resultados. Mas será que a marca, vencido este prazo, apertada pela concorrência, terá a frieza de apostar no Pacto em vez de uma boa ação de marketing que traga, mesmo com uma entidade não tão boa, resultado financeiro para a empresa no curto prazo?

Os patrocinadores nunca cobraram tanto do esporte melhor uso de seu dinheiro. Mas o esporte é cada vez mais eficiente para estratégias diferentes das marcas. A grana começa a impor mudanças no esporte. Resta saber se o interesse monetário não falará mais alto e teremos, pela terceira vez, mais uma boa oportunidade perdida na história recente da gestão no esporte brasileiro.


Futuro do patrocínio é o fim da exclusividade
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Erich Beting

Principal consultoria de patrocínio no mundo, a americana IEG divulgou recentemente um estudo sobre o patrocínio das marcas de cerveja no mercado americano. O abrangente estudo envolve todos os tipos de plataformas passíveis de investimento, não apenas o esporte. Mas um detalhe nesse levantamento mostra que há uma tendência que começa a se consolidar nos EUA e que, por isso mesmo, deve virar regra num futuro um pouco distante ainda.

No esporte americano, na categoria de cervejas, começa a cair a exclusividade do patrocínio. Por se tratar de um bem de consumo das pessoas, as marcas têm começado a desistir de ter direitos únicos sobre uma propriedade para não ter de pagar, sozinha, uma conta que fica a cada dia mais pesada. Por outro lado, os clubes e eventos que abrem para mais marcas o patrocínio conseguem ampliar também o leque de produtos oferecidos a seus consumidores.

Pode-se concluir que, em breve, o mercado americano começará a colocar mais em prática o conceito de patrocínio não-exclusivo. Visto como erro no passado, ele tende a ser o caminho no futuro. É uma forma de dar mais opção para o cliente e, também, de deixar o custo do patrocínio menor.

Esse processo foi, de uma maneira um pouco diferente, o mesmo que aconteceu com os direitos de transmissão. É cada vez mais raro termos a exclusividade sobre uma determinada competição. No mercado americano, isso já é praticamente uma regra. Na Europa, está cada vez mais dividido e, por aqui, aos poucos, começa a ser assim.

Com o patrocínio, ainda dá para imaginar um cenário um tanto quanto longo até chegarmos a esse nível de maturidade e compreensão, tanto do esporte quanto das marcas, que é possível conviver lado a lado e, ao mesmo tempo, criar situações interessantes para o consumidor mesmo assim.

A profissionalização do esporte e o aumento do grau de exigência do fã tornam a conta de um evento esportivo muito mais alta a cada dia que passa. Se a solução, antes, era ter poucos patrocinadores pagando alto pela conta, esse modelo começa a ser cada vez mais difícil de ser implementado. É mais fácil dividir em diversas pequenas propriedades exclusivas o patrocínio e achar várias marcas, concorrentes ou não, para pagar a conta, do que tentar seguir com um modelo que funcionou nos últimos 30 a 40 anos, quando o esporte caminhava para a profissionalização que assistimos atualmente.

O futuro do patrocínio no esporte é deixar de ser exclusivo. Isso vai exigir, dos departamentos de marketing das marcas e das propriedades patrocinadas, muito mais criatividade para aproveitar bem o patrocínio.


Liga Sul-Minas já começa a perder negócio para a política
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Erich Beting

A declaração midiática de Alexandre Kalil anunciando o rompimento da Liga Sul-Minas com a “Casa do 7 a 1”, como divertidamente definiu a CBF, é o início do fim da liga como entidade que promete revolucionar o futebol brasileiro e criar um campeonato que seja realmente profissional e bem administrado.

Kalil está coberto de razão ao não ceder à pressão das federações estaduais, que preocupadas com o futuro de suas competições, foram à entidade-mãe pedir auxilio.

O erro da Sul-Minas é estratégico.

Acreditando na fragilidade do centro do poder da CBF, que talvez por conta da alta do dólar tenha desistido de fazer tantas viagens internacionais, os clubes decidiram partir para o ataque. Fizeram a Sul-Minas como um “protesto” contra o status quo, acreditando-se mais capazes de organizar um campeonato do que a CBF.

O problema é que os clubes perderam o timing para qualquer revolução quando abriram mão de exigir uma liga nacional na primeira reunião pós-27 de maio, a data em que o mundo encantado do futebol começou a ruir. Ali, quando aceitaram cadeiras num conselho de clubes e aumento do colégio eleitoral, eles deixaram de ter força para apenas comunicar à CBF que, a partir do ano que vem, deixariam a entidade preocupada só com a cotação do dólar e passariam a fazer eles mesmos as séries A, B, C e D do Nacional.

A Sul-Minas, já em seu discurso de “Primeira Liga”, tentou mostrar que estava ali para retomar esse projeto, num passo mais cadenciado. Isso colocou em alerta as federações, que ainda possuem maior força dentro da CBF. Como a preocupação com a cotação do dólar é maior do que qualquer outra coisa nos corredores da entidade, o tormento das federações traria outro problema à “Casa do 7 a 1”.

O não-reconhecimento da CBF para a competição é praticamente o início do fim da Sul-Minas. Quando anunciaram o torneio, os clubes disseram que, com cinco datas, gastariam cerca de R$ 1,3 milhão para fazer o campeonato. Nesse cenário estão apenas custos de deslocamento e taxas de arbitragem.

Numa hipótese de fazer o torneio nas mesmas 19 datas dos Estaduais, a conta começa a ficar mais salgada do que parece… Além disso, os clubes terão de encontrar árbitros dispostos a peitar a CBF e trabalharem numa liga “clandestina” e precisarão buscar um acordo de TV de quem não tenha, de certo modo, negócios com a CBF. Nesse cenário, precisarão achar, com menor exposição na TV, patrocinadores que queiram assumir o risco de bancar a competição.

Em 2005, um movimento parecido foi feito pelo basquete. A Nossa Liga de Basquetebol (NLB) surgiu com esse intuito de romper com os desmandos da CBB. O torneio aconteceu à parte do Nacional. Durou três anos até que, em 2008, chegou-se a um acordo político para que se fundasse o Novo Basquete Brasil (NBB), campeonato que conta com a chancela da CBB e que, sete anos depois, passou a ter a NBA como parceiro comercial estratégico.

O intuito da Sul-Minas era, no futuro, se transformar num torneio nacional, abrangendo as principais divisões do país. O problema dela, na partida, é conseguir fazer com que o negócio se sobreponha à briga política.

Após o “Casa do 7 a 1”, o cenário parece nebuloso nesse sentido. Se, como negócio, já era difícil sustentar a Sul-Minas em meio a um calendário já inchado, sem apoio político para ela acontecer é ainda mais complexo…


Os dois lados do acordo Santos e Kappa
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Erich Beting

Foram quase oito meses de negociação. Desde o início do ano, quando a SPR montou a estratégia para a volta da marca Kappa com força ao Brasil, que existe uma negociação com o Santos para que a empresa seja a nova fornecedora de material esportivo do clube, num modelo de negócios que pode vir a transformar o mercado no país.

A assinatura do contrato, ontem pela manhã, representa uma nova realidade dentro do ambiente de negócios dos contratos para fornecimento de material esportivo no futebol.

Até hoje, geralmente o modelo foi ditado pelas grandes marcas e pelos grandes clubes. A lógica é a seguinte. Uma marca paga um valor fixo para ter o direito de colocar seu logotipo na camisa para o clube. Além disso, ela é quem fica responsável por produzir e distribuir a camisa. Conforme forem acontecendo as vendas, a marca repassa um valor para o clube relativo ao sucesso do negócio.

O risco, num negócio desses, é quase que integralmente da marca esportiva. Se o clube não tiver boas vendas, ela simplesmente perde dinheiro com ele. O valor investido no negócio só compensa pela exposição que a marca consegue.

Por essa razão, esse é um modelo que atende bem os grandes clubes, que tem uma boa capacidade de vendas, e as grandes marcas, que tem mais fôlego para investir. É o que consagra times como Corinthians, Flamengo e Palmeiras, que conseguem vender entre 500 e 800 mil camisas por ano, mas que derruba outras marcas, que investem pesado sem ter o mesmo retorno em comercialização de peças, tornando o negócio deficitário na maioria das vezes.

Nos últimos anos, porém, o mercado inchou. Os valores pagos aos clubes tornaram-se maiores do que a capacidade deles em gerar vendas. Foi o que provocou grande mudança no cenário de um tempos para cá.

Os clubes basicamente passaram a comprar da empresa o material para jogo. Em troca, passaram a ter um percentual maior sobre as vendas realizadas. Isso gera um risco muito maior para o clube, que passa a depender do parceiro comercial para obter sucesso nas vendas.

O negócio entre Santos e Kappa pretende ser uma evolução dessas duas situações de mercado. E, se for bem realizado, poderá ser um grande divisor de águas no modelo praticado até hoje no mercado brasileiro.

No modelo fechado nesta quinta-feira, o Santos é o “dono” do negócio. É o clube quem, literalmente, detém todo o processo de fabricação, utilização e venda de camisa. Em tese, o Santos é quem negocia compra de tecido, fábrica que irá confeccionar as peças e, posteriormente, a negociação com as lojas para colocar o material no ponto de venda.

Como o Santos é um clube de futebol, não uma marca produtora de uniformes, a SPR Confecções, que é quem detém a licença de uso da Kappa no Brasil, auxilia o clube em todo esse processo. O ponto-chave disso é a palavra “auxilia”. Antes, o clube entregava toda essa gestão para o fornecedor. Agora, o Santos atua lado a lado da empresa nisso.

A receita será integralmente do Santos, assim como as despesas de produção do material. A SPR/Kappa, como intermediação do negócio, terá sua remuneração. A empresa, porém, investirá R$ 1,5 milhão ao ano para promover os lançamentos de camisa, aumentar vendas, etc.

E é isso o que pode vir a mudar muito a cara do mercado. Com um contrato de três anos, o Santos terá de profissionalizar o departamento que ficará responsável pela gestão desse negócio. Não dá mais para, a cada troca de presidência, mudarem as pessoas que gerenciam a produção e distribuição de material esportivo.

Da mesma forma, se o processo for bem implementado, com o clube entendendo melhor toda a cadeia que envolve planejamento, produção e venda de camisas, rapidamente os demais clubes e marcas vão querer alterar o modelo que vigora, seja ele o que gera maior risco para um ou para outro.

Esse é o copo meio cheio de toda a história.

O meio vazio é o que pode levar a um grande fracasso a iniciativa. O Santos ir mal dentro de campo, as peças encalharem nas lojas (o que pode ser agravado em tempos de crise e grana curta) e o resultado financeiro ser desastroso. Isso faria com que o mercado rejeitasse o novo modelo e tudo permanecesse como está, com apenas quem tem alta performance em vendas recebendo dinheiro, ou com os demais trocando de fornecedor a cada ano num negócio que geralmente faz com que o torcedor seja prejudicado, já que não encontra a camisa do time à venda em lojas.

O negócio é inédito e precisa de muito profissionalismo para prosperar. Não por acaso, clube e empresa levaram quase um ano para fechar o acordo. Mas a disposição em fazer esse negócio já é um passo inovador dentro do mercado. Resta saber se o mercado já está maduro o suficiente para assimilar essa inovação.

Para entender um pouco mais:
Com modelos distintos, Santos e Palmeiras fecham fornecedores de uniforme


Estádio novo já vira diferencial competitivo
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Erich Beting

Reportagem de hoje do diário “Lance!” mostra que o Corinthians deverá bater, em 50 jogos, a marca de R$ 100 milhões de arrecadação com venda de ingressos para o torcedor na Arena Corinthians. O número deve ser alcançado já no jogo contra o Flamengo, dia 25 de outubro, curiosamente também a partida de número 50 feita pelo clube no estádio.

Se for considerar que cerca de 40% da arrecadação se esvai em pagamento de taxas, custo de pessoal no dia de jogo e outras coisas mais, o Corinthians conseguiu, em um ano e meio, R$ 60 milhões, que é equivalente a dois anos do contrato de patrocínio máster que possui com a Caixa.

Os números revelam o quanto o estádio novo já se transformou num diferencial competitivo dentro do futebol. Os clubes que atuam nas novas arenas estão arrecadando como nunca em bilheteria.

Em 2013, quando publicou a lista anual de clubes que mais faturam no mundo, a consultoria inglesa Delloitte afirmou que era preciso olhar cada vez mais atentamente para os clubes do Brasil e da Rússia. Segundo os britânicos, os estádios erguidos para a Copa do Mundo fariam de brasileiros e russos clubes com faturamento próximo ao dos times médios da Europa, colocando-os entre os 20 maiores faturamentos do futebol mundial.

O único erro da Delloitte nessa conta foi ter imaginado que brasileiros e russos possuem mercados tão maduros quanto os alemães e os ingleses. Numa realidade em que ainda patinamos muito para entender o que um estádio pode gerar de potencial de receita, a bilheteria aparece timidamente como a única fonte de arrecadação para os clubes.

O Corinthians tem conseguido colocar 30 mil pessoas por jogo em seu estádio. Quanto isso gera a mais de arrecadação para o clube? Essa é a resposta que ainda falta ser respondida. Foram poucas, até agora, as ações de ativação de marcas feitas dentro da Arena Corinthians. Até agora, uma ou outra empresa usou o recurso do telão para criar alguma ação com o torcedor presente no estádio.

Mas ainda há um potencial inexplorado de faturamento com a venda de produtos dentro dos estádios e, mais ainda, de alimentação. No caso da Arena Corinthians, as lojas da praça de alimentação no Shopping Metrô Itaquera, vizinho ao estádio e parada obrigatória de quem usa o metrô, são as que estão sorrindo com um aumento substancial de faturamento nos dias de jogos.

Só na bilheteria, os clubes arrecadam como nunca antes com os novos estádios. Imagine quando o futebol começar a entender que o importante não é venda de ingressos, mas a receita que é possível conseguir num dia inteiro de jogo?


O futebol precisa de um Uber para quebrar a banca
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Erich Beting

A crise que sangra a Fifa há quatro meses começa a mostrar seus mais diferentes desdobramentos no universo do futebol, que por sua vez revelam a total falta de inovação que existe na cadeia de comando da modalidade.

A situação atual da principal entidade do futebol beira o ridículo. Um resumo da tragicomédia. Em 27 de maio, sete dirigentes ligados à Fifa são presos na Suíça por corrupção, em investigação feita pelos Estados Unidos. Dois dias depois, o presidente da entidade é reeleito para mais quatro anos à frente da entidade que comanda desde 1998. No discurso de posse, afirma que continuará sentado em seu trono para resgatar a imagem da entidade.

Quatro dias depois, o presidente afirma que não vai mais ficar na entidade. Mas que a renúncia não é imediata. Ela só vai acontecer dali a nove meses, literalmente para ter tempo de ser gerido o novo sucessor. Cerca de quatro meses depois, o secretário geral da Fifa se vê como principal ator de um esquema para revenda com ágio de ingressos da Copa do Mundo, em operação que lhe rendeu alguns milhões de dólares.

A Fifa, então, decide suspender o dirigente. Seu presidente, por sua vez, reitera que não há nada de errado nisso. Dias depois, é a vez de o presidente ser o alvo de investigação, acusado de má gestão e apropriação indevida de recursos. Nessa investigação, o principal candidato a sucessor do trono tem revelado um pagamento, com dez anos de atraso, de um serviço prestado para a Fifa. Pagamento feito sem qualquer ágio pelo atraso, numa data que coincidia com o período pré-eleitoral da entidade, em que o dirigente que recebeu o dinheiro era o principal candidato de oposição e, misteriosamente, desistiu da candidatura…

Passa-se mais uma semana e quem financia a Fifa decide falar. Os principais patrocinadores da entidade, alguns com mais de 60 anos de relacionamento com ela, pedem para o presidente renunciar, “pelo bem do jogo”, apropriando-se do slogan que a Fifa gosta de usar para justificar a imposição de seu “padrão” goela abaixo de quem recebe qualquer evento da entidade.

O que faz o presidente? Pede para sair? Não! Ele diz que continua no cargo… Agora, é o próprio comitê de ética da Fifa que decide propor o afastamento, por três meses, do presidente. Exatamente quatro meses antes da eleição, o que não lhe daria tempo para fazer muita coisa na preparação do sucessor. Aliás, sucessor esse que agora é uma grande incógnita, já que o favorito ao trono também tem o pedido de suspensão temporária após ter recebido esses tais de 2 milhões de francos suíços com dez anos de atraso.

E o que faz o restante do universo do futebol frente a tanto descalabro?

Até agora, o que se vê surgir são alguns projetos de criação de ligas de clubes. Baseados meramente na premissa de que “tem de se dar poder aos clubes”. Como acreditar que algo realmente diferente virá desses clubes, em sua maioria deficitários e sem apresentarem um modelo de gestão que seja diferente do status quo vigente?

Há 45 anos a Fifa criou o modelo de gestão de eventos baseado na venda dos direitos de transmissão e patrocínio, com o atleta se tornando uma espécie de figurante de um produto maior.

As propostas “inovadoras” que surgem até agora são meramente réplicas desse modelo com novos atores. Seja uma agência de mídia turbinada por dinheiro de parceiros (no caso da Liga dos Campeões das Américas), seja uma liga de clubes que de inovador só tem o discurso de que o clube é mais capaz do que a CBF para transformar o futebol num produto (no caso da Liga Sul-Minas-Fla-Flu).

O futebol precisa urgentemente de um Uber. Um modelo de negócios novo, que rompa com o paradigma vigente, que traga inovação e possibilite mudar o ecossistema. Só assim será possível acreditar que realmente poderá ter uma mudança para melhor na modalidade…


São Paulo vai demorar para resgatar imagem
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Erich Beting

O barraco político em que se meteu o São Paulo e que teve seu ápice nesta segunda-feira fará com que o clube demore a resgatar o prestígio no mercado, especialmente naquele interessado em patrocinar um time de futebol.

É impressionante como, em meia década, o São Paulo saiu de exemplo de gestão, clube três vezes campeão do mundo e único tricampeão nacional seguido para um clube com os mesmos vícios de política arcaica que predominam e destroem a reputação do futebol brasileiro.

A áurea de vanguarda que cercava o clube foi-se embora com a soberania que o São Paulo imaginou ter conquistado.

Não por acaso, dos 20 times que jogam a Série A do Nacional hoje, o Tricolor está ao lado de Santos e Goiás como os únicos sem um patrocinador principal na camisa. Não que ter o patrocínio máster seja sinônimo de eficiência na gestão do clube, mas a ausência dele muitas vezes indica que algo não corre bem.

Como já destacado aqui no blog, o São Paulo é um dos poucos clubes que estava trabalhando numa nova proposta a ser oferecida para o mercado. Ciente da dificuldade do momento econômico, o marketing são-paulino foi às empresas oferecendo alternativas que gerassem maior engajamento e retorno do que a simples exposição na camisa de jogo do clube.

Agora, porém, o marketing tricolor terá de recuar.

Se fosse um país, poderíamos dizer que as agências de análise de risco reduziram o “grau de investimento” no São Paulo. A forma como o clube tem ocupado o noticiário, antes mesmo do entrevero entre Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro, dificulta demais no convencimento das empresas de que vale a pena investir no clube.

O que amenizava, até então, era o desempenho esportivo do time, na disputa por vaga na Libertadores e na semifinal da Copa do Brasil. Mas, agora, a grave crise política se sobrepõe a esse cenário e interfere diretamente no negócio.

O trabalho que a nova diretoria são-paulina terá é de convencer o mercado de que o clube é seguro para se investir. E esse resgate de imagem é que é trabalhoso. O São Paulo tem, pela frente, o desafio de voltar a ser a referência, o modelo que deveria ser seguido pelos outros.

Os dois principais rivais do Tricolor, Corinthians e Palmeiras, passaram por semelhante problema na última década, tendo como desafio ainda maior o resgate de confiança também técnica, já que ambos foram rebaixados para a Série B nacional. O São Paulo precisará se espelhar nos rivais para entender como precisa tapar o buraco e estancar a crise política.

Mas o processo de resgate de imagem do clube para o mercado patrocinador deverá demorar, pelo menos, uns dois a três anos. Em tempos de concorrência cada vez mais acirrada pela verba das marcas, isso pode representar uma perda de desempenho esportivo muito grande.