Negócios do Esporte

Arquivo : Neymar

Por que o atleta não vira garoto-propaganda?
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Erich Beting

Neymar não renovou, após quatro anos, o contrato de publicidade que tinha com a Lupo. O astro do Barcelona, maior nome do futebol brasileiro na atualidade, foi substituído pelo ator global Cauã Reymond (veja aqui).

A troca de garoto-propaganda da marca é emblemática. Nos últimos cinco anos, a empresa investiu bastante na promoção de sua linha Lupo Sport, voltada para a prática de atividade física. Foi um movimento que chegou até mesmo a fazer da marca uma fabricante de material esportivo, tendo contrato, por exemplo, com o Atlético Mineiro campeão da Libertadores de 2013.

A mudança de rumo na comunicação da campanha é cercada de muitos fatores.

Neymar, hoje, vale muito mais do que em 2012, quando o acordo foi fechado. O próprio momento político-econômico do Brasil era completamente diferente do atual. E, ainda, havia uma perspectiva de crescimento da Lupo como marca esportiva.

Mas por que não optar por uma outra opção dentro do esporte, um pouco mais barata, ainda mais tendo o cenário de Jogos Olímpicos a caminho?

O fato é que, no Brasil, atleta não é a primeira opção quando se pensa num garoto-propaganda. Além da maior dificuldade em atuar diante das câmeras em relação a atores, os esportistas ainda são pouco familiares para a população em geral.

Outro agravante, especificamente este ano, é que o atleta está caro. Por conta das Olimpíadas, os cachês tiveram um aumento natural com a maior procura por atletas. Assim, a empresa acaba pensando ainda mais se vale a pena investir num rosto não tão conhecido para ter um hipotético bom resultado conforme a performance dele no Rio.

É perfeitamente compreensível uma marca substituir Neymar por Cauã Reymond. O que o esporte precisa fazer, urgentemente, é trabalhar melhor a imagem dos atletas para conseguir ocupar esse espaço. Ou, então, veremos papelões como o protagonizado por Rosângela Santos no atletismo. O atleta precisa de preparo. Do contrário, seguirá sempre à margem do filão do mercado publicitário.


Por que a unidade do futebol brasileiro é urgente
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Erich Beting

A discussão sobre os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para a TV paga de 2019 a 2024 tem feito o futebol, de certa forma, evoluir. Como já abordado por aqui, aos poucos os clubes vão percebendo o erro cometido em 2011, quando decidiu-se implodir o Clube dos 13, acabando com uma entidade que representasse as equipes de forma única.

O fim da negociação coletiva fez, também, com que o futebol deixasse de se unir em torno de causas iguais. Na correria por uma fatia maior do bolo da TV, os clubes não entenderam que é fundamental negociarem em bloco para obterem melhores receitas e, principalmente, para se fortalecerem como esporte.

 

Nesta terça-feira, temos na mídia mais um exemplo de como isso atrapalha o desenvolvimento do futebol e, aos poucos, vai afastando o torcedor dos clubes, levando-os para a Europa. Na estreia do Blog do Mauro Beting aqui no UOL (qualquer nepotismo é mera coincidência, mas aproveita e veja o blog dele aqui), foi publicada uma entrevista com Neymar Jr.

E a resposta que ele dá sobre jogar a Liga dos Campeões da Europa ou a Copa Libertadores é assustadora:

“É videogame, é a realização de um sonho de criança… Então escolho a Champions League.”

Neymar nasceu em 1992, mesmo ano em que a Libertadores voltou a ser objeto de desejo do torcedor brasileiro com a conquista inédita do São Paulo. Antes, nossos clubes eram quase sempre figurantes na principal competição do continente, muitas vezes por total desinteresse, já que tínhamos um Campeonato Brasileiro forte e desejado por torcida, mídia e atletas.

Mas Neymar cresceu vendo a melhor fase dos times brasileiros no torneio continental. Pegou a fase áurea da competição para o país, com times brasileiros campeões a pelo menos cada três anos. Mas o Brasil não tinha uma liga, a Libertadores era (e ainda é) uma zona e, assim, não nos preocupávamos com a bobagem de estar com nossos jogadores, times e competições presentes nos videogames.

E aí Neymar cresceu entortando zagueiros nos campos e sonhando em ser o que conseguia no videogame. Jogador do Barcelona, campeão da Liga dos Campeões, ouvindo o hino da competição ressoar dentro de um estádio lotado para aplaudir os melhores do mundo…

Quando Neymar nasceu, a criança no Brasil sonhava em ser Zico, Edmundo, Romário, Neto, Raí, Evair. Jogar no quintal de casa ou no Camp Nou era praticamente a mesma coisa. Não era preciso cruzar a fronteira para consumir um futebol dos sonhos.

Hoje, logicamente, a história é outra. Assim como estavam Romário e Ronaldo lá fora quando Neymar dava os primeiros passos com a bola, nossos craques estão fazendo o pé-de-meia vendendo seu pé-de-obra para o exterior. Mas existe um trabalho de marca gigantesco dos clubes e competições da Europa para que não sejam só os atletas os objetos de desejo do torcedor, mas os times e os torneios, vistos como estrelas de primeira grandeza.

O futebol no Brasil precisa se unir e discutir como fazer para evitar que nossas gerações cresçam querendo ser Neymar. Ou melhor. Querendo estar em Barcelona, em jogar a Champions, em fazer gol no Camp Nou lotado, e não no Maracanã semiocupado por torcedores raivosos de ver um futebol de quinta em plena quarta de madrugada.

No instante em que perdemos fãs para o universo virtual, é chegada a hora de criar um plano emergencial para resgatar a imagem do futebol brasileiro com o torcedor. Não o já formado, que assim como Neymar trocou o time daqui pelo Barcelona.

O resgate precisa vir de lá da base, criando elementos para o jovem se apaixonar pelo futebol no Brasil sem precisar do empurrão dentro de casa. E isso só vira quando o futebol se unir para deixar de perder fãs até pelo videogame…


Neymar e a delicada gestão de carreira de atletas
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Erich Beting

O que é gerenciar a carreira de um atleta? Essa pergunta já apareceu diversas vezes em cursos e palestras. A transformação do esporte num grande negócio provocou essa situação. Temos, hoje, um importante mercado à disposição. Mas o que especificamente ele representa?

A discussão judicial envolvendo Neymar (e que já teve grandes nomes da bola como atores principais, como Messi) é apenas mais um exemplo de quão complexa é a resposta para essa pergunta.

Desde que despontou e preferiu continuar por mais um tempo no Santos, Neymar teve exaltado o “plano de carreira” montado pelo clube em parceria com seu pai, figura tão onipresente na vida do craque do Barcelona que até deu ao filho o mesmo nome dele.

Boa parte da argumentação usada pelos Neymares na defesa das acusações de hoje é de que o gerenciamento de imagem do camisa 11 do Barcelona não é uma coisa fácil. É preciso muita gente para fazê-lo.

É verdade. Mas cuidar da imagem de um jogador significa, também, cuidar de todos os aspectos contábeis dos milhões que ele movimenta. É se preocupar, também, com as aparições públicas que ele faz, com as declarações que emite em redes sociais, com as ameaças, veladas ou diretas, que faz a seus críticos.

O que muitas vezes confundimos quando levantamos o tema “gestão de carreira” é de que Neymar não é, desde que montou o “plano de carreira” com o Santos, uma pessoa. Ele é uma marca, uma empresa. Por isso mesmo, a gestão de seus contratos, dos pagamentos de impostos, da negociação com empresas não pode ficar delegada a uma única pessoa, ainda mais com envolvimento sentimental ao dono da corporação.

Neymar, hoje, não é Neymar Jr. É Neymar Ltda.

Uma empresa que aparentemente tem ilimitado poder para gerar negócios. Tanto que, nesta semana, em meio ao furacão em que esteve metido, o museu Madame Trussard anunciou que finalizará uma réplica de cera do atacante do Barcelona para colocar na filial de Orlando do famosíssimo museu.

Mesmo com o mundo desabando sobre o jogador, ele ainda é capaz de gerar grandes negócios. E o que significa gerenciar essa carreira?

Neymar poderia dar um pulo até Florianópolis não para passar umas férias em Jurerê Internacional, mas para entender, com Gustavo Kuerten, como foi a decisão tomada, pela família, de transformar o ídolo Guga numa empresa, com desdobramentos nas áreas social, educacional e, claro, de negócios.

O estilo Jerry Maguire de gestão de carreira funciona. Mas apenas para o atleta que não virou Neymar…


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