O que o Rock In Rio ensina ao esporte. E o que precisa aprender
Erich Beting
O Rio de Janeiro viveu, na última semana, a euforia da realização de mais um Rock In Rio, festival de música que acontece bienalmente desde 2011 na Cidade Maravilhosa. Por algumas críticas que pude ver, o evento chamou a atenção dos analistas mais pela algazarra comercial em que se transformou do que pelo espetáculo em si (leia as opiniões de André Barcinski na Folha e de Alexandre Matias aqui no UOL).
Pelo que deu para ver neste fim de semana no Rio, pelas transmissões feitas pela TV e por um bocado de fotos espalhadas pelas redes sociais, realmente o Rock In Rio esteve mais para Everything In Rio. E os organizadores estão mais do que corretos em agir dessa forma.
Achar que o Rock In Rio deve se restringir aos shows de Rock, de preferência debaixo de chuva e pisando no barro, é ser nostálgico. É voltar a 1985 e achar que o jovem de 18 anos daquela época pensa da mesma forma e tem os mesmos anseios do jovem de hoje, com todas as transformações dos últimos 30 anos pelo caminho.
O que leva uma pessoa a um show (ou a um jogo de futebol, de basquete, de hóquei ou qualquer outra coisa) se não for pelos diferentes tipos de entretenimento disponíveis? Não basta ter um grande músico no palco, é preciso ter uma série de atrações que faça o cara desistir de acompanhar tudo online para decidir ir até lá compartilhar suas emoções online.
É preciso ter a tirolesa para tirar foto e mandar para os amigos. É preciso ter a loja oficial para comprar recordações (ok, a pretensa lama de 1985 passou do limite do bom senso). É preciso ter uma enorme praça de alimentação para que as pessoas se alimentem no local e continuem financiando uma reunião de diversos músicos, de diferentes estilos e gostos.
O Rock In Rio ensina para o esporte que, além do espetáculo, é preciso pensar na diversão de quem vai ao local. A maior revolução que tivemos de 1985 para cá é a de que a experiência de ver um show (ou uma competição qualquer) em casa, com todo o recurso tecnológico das transmissões, é muito mais rica do que estar no local ao vivo.
Sim, a emoção de poder dizer “eu fui” é muito mais valiosa do que esquentar a pipoca no microondas e tirar a cerveja da geladeira para ouvir uma música ou assistir a um jogo. Mas, por mais saudosistas que sejamos, é preciso entender que, para o público querer se deslocar e ver o evento ao vivo, é preciso oferecer muito mais do que o evento.
Há 30 anos, não havia como eu ver o Queen se não fosse indo ao show. Hoje, pelo celular, vejo todos os vídeos possíveis, os bastidores da gravação de um LP (naquela época era o “long play”), os erros e devaneios de um ensaio pré-show, etc. Por que, então, eu sair de casa para ver um show ao vivo?
Seja num estádio, ginásio ou espaço aberto como o do Rock In Rio, o evento de entretenimento precisa se transformar em vários eventos dentro de um só. Para atingir um público que vai além do fanático, para poder aumentar a receita com patrocínio, para poder dar retorno financeiro ao organizador.
No ano que vem o Rio passará pela experiência de receber os Jogos Olímpicos. De uma forma um pouco diferente, as Olimpíadas promovem diversas atrações para o torcedor que vão além do que só entrar na arena para acompanhar uma competição. São os espaços nos quais os patrocinadores podem fazer ações para o público e criar uma experiência exclusiva só para quem de fato foi ao Parque Olímpico.
Em todo o restante do espaço, a principal atração é a competição em si. Sem desvio de atenção, com a arena lotada e a preocupação de fazer do atleta o astro maior do evento. Se tem algo que o Rock In Rio pode aprender com as Olimpíadas é como fazer com que a sua marca e seus artistas sejam os principais elementos de uma grande festa para as pessoas.
O Rock In Rio pode ensinar muito para o esporte. Mas os organizadores também podem olhar com carinho como o COI trabalha a força da marca dos Jogos Olímpicos e dos seus atletas para fazer com que as lembranças de um dos maiores festivais de música do mundo sejam mais do que voltas numa montanha russa ou numa tirolesa…