A Sadia e a visão deturpada do que é patrocinar
Erich Beting
Em 2009, o mercado de patrocínio esportivo no Brasil entrou em ebulição. Com o país confirmado como sedes da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 e com a economia confirmando a “marolinha” da crise internacional, todas as marcas trataram de criar seus “projetos esportivos”.
O ano de 2010 foi marcado pela corrida rumo ao pote de ouro. Foi a época em que pipocaram patrocínios nas camisas de times, gerando os abadás de atualmente, e também foi o momento em que as confederações olímpicas, pela primeira vez, viraram o fio, deixando de depender exclusivamente de verba pública para ter patrocínios de empresas privadas.
A expressão “projeto olímpico” passou a ser conjugada pelos departamentos de marketing das empresas, ávidas para tentar marcar presença no Rio-2016 de algum jeito.
Em meio a essa euforia, a Sadia foi uma das marcas que se destacou. Fechou, de forma rápida, patrocínios às confederações de judô, ginástica e natação, três com alto potencial de medalha no Rio. Depois, anunciou acordo com os Jogos Olímpicos. E, por fim, já em 2013, ampliou a atuação no esporte com os patrocínios à Copa do Brasil e à CBF.
A festa não chegou nem até o Rio-2016. De todos os patrocínios, agora, só resta o das Olimpíadas. E, mesmo assim, só porque os danos que a empresa sofreria (em multa e imagem) se decidisse romper o contrato seriam maiores do que continuar com o status de patrocinador, mas não fazer rigorosamente nada durante o evento, que é o que deve acontecer.
Com o mercado em retração, o cenário de megaeventos não se concretizando tão bem quanto parecia e um futuro incerto, a saída da Sadia da CBF marca o fim de mais uma aventura da empresa no esporte. Nos anos 80, a marca era sinônimo de vôlei, abandonou essa história ao mudar a direção e tentou, sem o mesmo sucesso, retomar uma ligação com o esporte.
O erro maior da Sadia foi, como a maioria das empresas no país, o de acreditar que uma estratégia boa de patrocínio é aquela formada por uma amplitude de investimentos que garantam um mínimo de visibilidade para a marca. No fim das contas, a gastança da empresa, que chegava aos quase R$ 80 milhões ao ano com patrocínio ao esporte, era praticamente inútil.
Raramente as empresas olham os cases de sucesso antes de fazerem um investimento. Se o fizessem, perceberiam que, muito mais eficiente do que pulverizar investimentos é concentrar a verba em um ou dois esportes e, com o restante do dinheiro, comunicar constantemente esse patrocínio ao público. Só isso pode dar mais resultado do que o cada vez mais batido retorno de exposição à marca.
Foi essa, a grosso modo, a estratégia adotada também pela 99 Taxis. A marca entrou numa série de clubes e, assim, não teve fôlego para se comunicar com os torcedores de cada uma das equipes. O que ficou após um ano, além de um espaço vazio no uniforme e a chance de outra marca ocupar esse lugar de forma mais eficiente?
Do jeito que foi conduzida a política de patrocínios da Sadia, a saída da marca do esporte era tão natural quanto a entrada dela. O mais curioso é que tudo aconteceu antes do que seria o “grande momento” para a marca. Na lógica da empresa, porém, é mais eficiente investir em publicidade nos meios tradicionais do que procurar um jeito mais estratégico (e difícil!) de aproximar a marca do público.
No fim das contas, o episódio só gera danos a todos os envolvidos. Financeiro ao esporte e de marca para a empresa.