O que vale não é só o nome
Erich Beting
Ontem a Itaipava foi anunciada como detentora do ''nome'' da Arena Fonte Nova (leia a matéria aqui). Em meio ao debate sobre o acordo, um detalhe chamou bastante a atenção. As pessoas ainda acham que o patrocínio de naming right tem como grande benefício a mídia respeitar o nome do patrocinador. Quase todas as críticas eram na linha de ''pagou-se muito caro para a mídia não falar o nome''.
Sim, é fato que ainda temos muito a evoluir como indústria do esporte a ponto de a mídia entender a importância de valorizar o acordo de dar nome ao estádio. Mas também é tosco acharmos que o maior diferencial que uma empresa tem ao fechar um acordo desses é na exposição de sua marca.
O negócio Itaipava-Fonte Nova vai muito além do nome do estádio. Aliás, acho até que o nome escolhido para a arena já é um jeito de ''não pegar'', preservando-se o histórico apelido de Fonte Nova. Afinal, Itaipava Arena Fonte Nova é um nome longo e, mais do que isso, pouco sonoro. Arena Itaipava ou Itaipava Arena seriam nomenclaturas bem mais simples e ''apelidáveis''.
Para a Itaipava, essa publicidade é o menor dos benefícios ao fechar o acordo.
O fato é que a Cervejaria Petrópolis precisa entrar no mercado nordestino. Nos próximos anos, investirá meio bilhão de reais na construção de uma fábrica em Alagoinhas, na Bahia. O objetivo é consolidar-se como segunda cervejaria no mercado brasileiro, ultrapassando a Kirin, dona da Schincariol e uma das marcas reinantes no nordeste.
Nesse cenário, investir R$ 100 milhões por dez anos de acordo que lhe garanta exclusividade de vendas no principal estádio do maior mercado da região tem bastante sentido.
Com ele, a Itaipava finca um importante pé nessa estratégia de fortalecimento da marca localmente. Além disso, consegue travar um concorrente direto (a Brahma tem acordos com Bahia e Vitória) e forma um conceito importante para a marca, apoiando um estádio moderno, que faz parte da Copa, etc.
Outros benefícios que a marca passa a ter são a capacidade de usar o estádio para eventos próprios, fazer promoção de ingressos com os torcedores, usar camarotes e outras coisas que permitam criar experiências únicas para clientes e consumidores.
Em tempo, o pioneirismo do negócio, sendo o primeiro acordo das novas gerações de estádios, aqueles construídos para a Copa do Mundo, já garante também um grande retorno de exposição para a marca. Se a imprensa vai respeitar ou não o contrato assinado que muda o nome do estádio?
Historicamente a relação mídia e nome de praças esportivas sempre foi marcada por um princípio conflituoso e um futuro em que, quase sempre, o bom senso prevalece.
Como já dito por aqui ontem, entramos numa nova era de relação do público com as praças esportivas. Um acordo de naming right, definitivamente, não tem no fato de a mídia falar ou não o nome da empresa o seu maior retorno.