O fim do mito Anderson Silva pode levar ao fim do UFC?
Erich Beting
O nocaute sobre Anderson Silva pode ter acabado muito mais do que ''apenas'' com o mito em torno do multicampeão do UFC. Pelo menos para o torcedor comum, que segue o esporte não pela paixão a ele, mas muito mais pelo interesse social proporcionado quase sempre pela presença de um ídolo.
Foi em cima da imagem de Anderson Silva que o UFC ancorou sua proliferação no Brasil. Com a promoção do principal lutador do país, passamos a nos familiarizar com o tema desde o programa da Ana Maria Braga até as propagandas de automóveis, cursos de inglês e rede de fast food, entre outras.
Silva personificava o sucesso do UFC. Mas Chris Weidman colocou a nocaute toda essa imagem. Pelo menos para o torcedor distante da história do UFC, o que passou foi a ideia de um lutador arrogante que foi merecidamente levado à lona por alguém que o respeitou.
Assim, o mito de Silva beijou a lona junto com ele na madrugada do último sábado em Las Vegas. Sim, ele repetiu exatamente a mesma estratégia de outras lutas. Foi o showman que costumou nocautear seus rivais também fazendo uso da mesma artimanha. Mas dessa vez a história não teve o mesmo final feliz das outras vezes.
Como o público que acompanha o UFC é cada vez mais “novo”, não familiarizado pelo esporte, o nocaute de Anderson Silva pode ter levado a nocaute o próprio interesse das pessoas pelas lutas.
Hoje, no horário do almoço, deparei-me com duas situações que refletem bem essa situação. Uma mesa com três mulheres debatia sobre o assunto “nocaute de Anderson Silva”. Uma delas, entusiasmada, contava o quanto o brasileiro havia sido prepotente e beijado a lona por menosprezar o adversário. Pouco depois, o “Globo Esporte” fez uma extensa reportagem tentando mostrar exatamente que fazia “parte do jogo” a derrota da maneira como foi. Anderson não deixaria nunca de ser o grande campeão por ter sido derrotado, tanto que a matéria relembrava nocautes históricos do brasileiro usando a mesma estratégia que o derrubou no sábado.
A Globo tem um importante interesse ao mostrar esse lado da história. O fã do UFC na emissora não é o cara que sempre assistiu às lutas e assina o pay-per-view para acompanhar tudo o que acontece nesse universo. Pelo contrário. Prova disso é que a audiência deste sábado foi a maior da história do UFC no país, e a luta foi exibida com 30 minutos de atraso. Ou seja, Silva já estava na entrevista coletiva pós-nocaute quando a maior parte das pessoas no Brasil acompanhou o duelo.
Quando Mike Tyson mordeu a orelha de Evander Holyfield, em 1997, o boxe perdeu boa parte de sua atratividade e popularidade mundial. No Brasil, a derrota de Anderson Silva poderá ter o mesmo efeito para o torcedor que não é aficionado no UFC, mas que acompanhava as lutas por ter um grande ícone brasileiro do esporte.
O nocaute de Chris Weidman pode ter sido muito mais potente do que se imaginava…