Negócios do Esporte

E agora, Ituano?

Erich Beting

O Ituano conseguiu um feito raríssimo no futebol paulista. Foi o terceiro campeão do interior da competição quando ela envolveu também a participação de todos os clubes ''grandes'' na disputa. O time de Itu se une, agora, a Internacional de Limeira (1986) e Bragantino (1990), como as zebras interioranas que pintaram no futebol paulista.

Só que a pergunta que se faz no dia seguinte ao título é: E agora, Ituano?

Do time titular que conseguiu a proeza de derrubar Corinthians, Palmeiras e Santos, quatro jogadores já poderão procurar novo clube para trabalhar amanhã. Outro, fica só até o fim do mês. Outros cinco ficam, no máximo, até dezembro. E só um tem contrato até o fim de 2015.

A maravilhosa conquista dentro do campo não pode mascarar o óbvio. O Ituano alcançou o maior feito da sua história, mas não sabe o que fazer disso, literalmente, dois dias depois da conquista.

O Ituano fez, como quase todo clube que tem só os Estaduais para disputar no primeiro semestre, uma aposta. Contratou jogadores por um prazo mínimo, para conseguir chegar até o fim do torneio com o menor prejuízo possível. Os atletas, sem outra alternativa, tiveram de aceitar o risco desse negócio. Arranjar um emprego temporário, na esperança de que, ao mostrar serviço, conseguissem ir para outro clube, numa recolocação no mercado.

E agora qual é o futuro desse time que, no jargão futebolístico, ''deu liga''? Nenhuma novidade, o time será desfeito, os jogadores seguirão outros caminhos e, no fim das contas, alguns poderão ou não repetir esse trimestre de glória em outras praias. Quando as pessoas criticam os atletas que encabeçam o Bom Senso FC pelos pedidos de mudança que são feitos, simploriamente defendem que eles querem apenas trabalhar menos e continuar ganhando mais.

O caso do Ituano é a evidência de que, atualmente, os clubes menores vivem numa situação caótica. Precisam, para sobreviver, fazer uma aposta única durante três meses do ano. Se tudo dá certo, os atletas podem, talvez, ganhar uma sobrevida. O clube, porém, precisa recomeçar o ciclo. Afinal, o título não melhora em nada o status da instituição para quem quer trabalhar nela. Outro campeonato que dê visibilidade ao atleta e possibilidade de trabalho no longo prazo é só em janeiro do ano que vem…

É muito, mas muito legal, que o pequeno ainda consiga derrubar os grandes. Só que é muito, mas muito mais importante, que esse pequeno não deixe de existir dois dias depois de conquistar tal façanha. A vitória do Ituano pode servir como uma excelente reflexão para que se repense como dividimos as competições no futebol brasileiro. Não é necessário acabar com os Estaduais. Mas é preciso saber, e muito, o que fazer com os clubes que disputam o torneio.