Basquete opta pela TV e elimina finais de semana
Erich Beting
A opção do basquete brasileiro foi clara. Em vez de pensar em estratégias para levar as pessoas para o ginásio aos finais de semana, como geralmente acontece com as modalidades esportivas, o Novo Basquete Brasil (NBB) optou por buscar, primeiro, o torcedor que está no conforto de suas casas.
A decisão do NBB de fazer jogos apenas entre terça e sexta-feira, assegurando assim duas transmissões por semana no Sportv pode chocar quando pensamos puramente no esporte. Como pensar que o principal torneio de basquete do país abre mão de realizar partidas nos finais de semana? (detalhes da mudança podem ser lidos aqui)
A escolha tem lógica quando olhamos o cenário do esporte brasileiro. Grande parte dos ginásios do país está sucateada, o que torna o evento pouco atraente para o torcedor se deslocar até a quadra de jogo. Além disso, o basquete não tinha, até então, uma data fixa e certa para a transmissão de seus jogos na TV. Mesmo na fechada.
Ao estabelecer dia e horário fixos para os jogos, o NBB começa a entrar na rotina do torcedor. Essa foi a chave, há mais de 40 anos, da massificação dos esportes americanos na mídia. Por lá, os direitos de transmissão são pulverizados pelas redes de televisão, e cada uma delas passa a ter um horário fixo para seus eventos. Isso cria o hábito no consumidor. Mas, lá, esse foi o segundo passo de promoção do esporte, contando já com boa presença de público e patrocinadores para pagar a conta do ''ao vivo'', a expansão natural foi buscar o caminho da televisão.
Nesse sentido, o basquete do Brasil começa pelo caminho inverso. É preciso, pelas precárias condições existentes no país, tentar promover primeiro o esporte como um espetáculo de mídia para, então, atrair o público para dentro dos ginásios. O basquete não está inventando a roda. Repete exatamente a fórmula do vôlei no início dos anos 80, quando a liga nacional começou a vingar.
A diferença, agora, é que existe mais preocupação da própria TV em promover o esporte. Assim como foi dito aqui outro dia sobre o judô, quando a mídia se propõe a ajudar na promoção do esporte, o maior beneficiado é o consumidor.
É muito, mas muito ruim o basquete ter de abrir mão de jogar aos finais de semana, quando teoricamente o torcedor está no período de folga e tem a possibilidade de ir ao evento in loco. Mas, dadas as circunstâncias, é mais eficiente abrir mão do torcedor no ginásio para primeiro fisgar aquele que está em casa, mas não tem contato com o esporte de maneira regular.
O basquete indica para as outras modalidades um pouco do caminho que precisa seguir. Enquanto as diferentes modalidades esportivas no Brasil não entenderem que é preciso achar um espaço que não invada a outra e, assim, ela possa navegar ''sozinha'', continuaremos a achar que nada funciona no país que só pensa o futebol.
O primeiro passo que o esporte precisa fazer é conquistar o público. E ele, hoje, está muito distante da arena esportiva. Até mesmo no futebol…