Notáveis no futebol são mais risco que solução
Erich Beting
A presença de um comitê formados por executivos altamente qualificados dentro de um clube de futebol representa, quase sempre, mais risco do que solução para os clubes. Apontados por boa parte das pessoas como ''salvadores da pátria'', raramente esses comitês, sejam eles gestores ou consultivos, conseguem obter sucesso perene dentro de um clube de futebol no país.
A ideia é genial. Trazer profissionais consagrados no mercado para ajudar na profissionalização de um clube. Em tese, é isso que falta, muitas vezes, para o esporte no Brasil. Ter mais gente qualificada para trabalhar dentro dele. O problema, porém, é exatamente esse. Como não existe uma profissionalização dentro do esporte, quem vem de fora raramente consegue se enquadrar.
O esporte, no Brasil, é pautado pela informalidade. As quebras de contrato, mandos e desmandos e descumprimento de acordos são práticas relativamente comuns. Nem sempre isso acontece por má fé. É do mercado. É assim que ele é regido, e quem não está preparado para isso geralmente se assusta. Logicamente que a informalidade dá margem para muito desmando e desvio, mas essa, apesar de não parecer, não é a regra dentro do ambiente de esporte.
O primeiro problema que geralmente o profissional de mercado que vem de fora encontra, quando chega para trabalhar no esporte, é lidar com essa informalidade. Quase sempre ele não imagina que tudo funciona dessa forma.
O segundo problema é exatamente o que o motiva a ir trabalhar com esporte: a paixão. Quase sempre esses grupos de notáveis são marcados por um forte vínculo emocional com o clube. E isso faz com que o empresário, por mais qualificado que seja para o cargo, perca completamente a noção do real valor que possui o clube pelo qual ele, agora, está trabalhando.
A paixão está por trás de diversas reações explosivas, como aumentos substanciais de salários para jogadores sem tanta qualificação, contratação e demissão repentina de treinadores, brigas com potenciais patrocinadores por não ''valorizarem'' o time, etc.
Hoje, ter um grupo de notáveis atuando num clube de futebol representa, por mais inconcebível que possa parecer, mais risco do que solução. Na ânsia de querer implementar o que aprenderam no segmento em que atuam, ou na arquibancada onde torceram, esses profissionais perdem a capacidade de entender o meio no qual está inserido para triunfar.
O resultado, quase sempre, é o pior possível. Frustração. E a sensação de que ''o esporte não é sério''.
É possível ser sério e trabalhar com esporte no país. Mas é preciso, antes de qualquer outra coisa, ter a humildade de entender que, como em qualquer negócio, ele tem uma série de especificidades típicas daquele mercado. Quando importam toda sua bagagem para o esporte, geralmente esses notáveis esquecem desse princípio básico.