O sócio-torcedor segue sem achar o rumo no futebol
Erich Beting
O Palmeiras se tornou, em menos de 15 dias, o maior fenômeno dos programas de sócio-torcedor do país. Numa taxa de adesão de quase mil pessoas por dia neste mês, o programa Avanti conseguiu se tornar o quinto maior do país e, muito provavelmente, em breve pode tomar o posto do Corinthians como clube com maior adesão ao projeto no país.
O tsunami verde foi causado pela abertura do estádio Allianz Parque e pelo modelo de venda de ingressos que foi montado para o primeiro jogo, amanhã, contra o Sport. Nele, o sócio-torcedor teve acesso prévio à compra, com maior benefício a quem paga mais e para quem é mais assíduo às partidas.
O fenômeno não é exclusividade do Palmeiras. Já havia ocorrido de forma similar com o Corinthians nos meses anteriores à abertura da Arena Corinthians (detalhes aqui).
A questão é que o próximo jogo palmeirense no estádio é no dia 7 de dezembro, encerramento do Campeonato Brasileiro. Depois disso, só em fevereiro. E o programa de sócio-torcedor, o que terá a oferecer para os torcedores até lá?
A tendência é que, nos próximos meses, o clube assista a uma queda no número de associados. Sem o benefício do ingresso, o programa praticamente volta a ser o que era, um clube de desconto em alguns produtos e raríssimas ações de marketing para quem está lá dentro.
No ano passado, quando da decisão da Copa do Brasil, critiquei o crescimento vertiginoso do Flamengo no projeto capitaneado pela Ambev. Claramente as adesões se deram por causa da disputa da final do torneio. O Rubro-Negro conseguiu manter o número de associados no patamar alcançado naquela época até hoje, mas praticamente não viu crescer o projeto além disso.
Enquanto o programa de associados for uma forma camuflada de se obter ingressos para os jogos de alta demanda, o futebol seguirá sem conseguir explicar para que serve o projeto. Até hoje isso não está claro.
De um lado, claramente os clubes usam o programa para , de uma forma diferente, vender o ''carnê'' anual de ingressos. Do outro lado, porém, as empresas que fazem parte do ''Movimento por um futebol melhor'' travam uma árdua batalha para tentar fazer com que os clubes comecem a tratar o torcedor com uma lógica de consumo privilegiado.
São poucos os que perceberam, e enfatizaram em sua comunicação, que ser sócio-torcedor pode gerar benefícios intangíveis para o aficionado por um clube. Enquanto o futebol brasileiro não seguir por esse caminho, seguirá sem conseguir deixar claro na mente do torcedor que consumir o clube não é apenas algo para os momentos de alto grau de interesse.
O Palmeiras, tal qual já ocorreu com Corinthians e Flamengo, se beneficia do fato novo, que pode ser uma decisão de campeonato ou a inauguração de um estádio. O problema é que isso acontece, no máximo, uma ou duas vezes por ano. O que fazer nas outras 60 datas que o clube tem para lotar estádio e engajar o torcedor?