O Cruzeiro é o campeão. Mas e daí?
Erich Beting
Essa foi, mais ou menos, a síntese de diversas opiniões que captei nas redes sociais que acompanho. Logicamente por conta da questão geográfica de boa parte dos meus seguidos e seguidores, concentrada em São Paulo e no Rio, falou-se mais da penúria do Palmeiras, da choradeira de Felipão ou do xexelento San-São do que do justíssimo e competentíssimo campeão brasileiro de 2014. Ou melhor, bicampeão!
O Cruzeiro passeou nos gramados brasileiros pré e pós-Copa do Mundo. Soube, como ninguém, planejar 2013 e 2014. Foi pura sintonia e sinfonia aos pés de Everton Ribeiro e Ricardo Goulart. É paredão com Fábio, Dedé e cia. É enredo com começo, meio e fim sob a batuta de Marcelo Oliveira, técnico com 73% de aproveitamento dos pontos em quase dois anos de trabalho.
Mas a conquista celeste foi eclipsada pela incompetência brasileira em promover o evento esportivo.
Ontem seria um dia para que as pessoas ficassem grudadas na TV, no rádio, nos telefones celulares e em qualquer outro meio de comunicação existente ou que possa vir a existir.
Era dia de ficar acompanhando, par e passo, os desempenhos de Cruzeiro, Goiás, São Paulo e Santos. Com o radar ligado também na briga contra o rebaixamento, ou na disputa pela vaga na Libertadores-2015. Mas ninguém soube dizer que era essa a importância da 36ª rodada do Campeonato Brasileiro (ou Brasileirão Chevrolet, já que a montadora pagou uma grana sabe-se lá para que).
O Cruzeiro foi campeão, mas não se vibrou por isso para além das Minas Gerais. No Rio de Janeiro, o torcedor acompanhou um inútil Sport x Fluminense em vez de torcer para ou contra o bicho-papão dos últimos anos. Em São Paulo, a TV acompanhava, por dever de informar o torcedor são-paulino, como andavam as coisas no Mineirão. Poderia ter feito mais, mas não quis. Ou não deu…
O Brasileirão por pontos corridos chega a sua 12ª edição tendo a seguinte lista de conquistas: três títulos para São Paulo e Cruzeiro; duas taças para Corinthians e Fluminense; uma conquista para Santos e Flamengo. São apenas seis times que venceram 12 campeonatos. Só três estados, apenas a região Sudeste do país.
Sem a cultura de planejamento e visão de longo prazo, o futebol no Brasil torna-se menos emocionante e, mais ainda, menos imprevisível com a fórmula de disputa por pontos corridos. À exceção do Flamengo, em 2009, todos os outros anos foi campeão o time que começou o campeonato sabendo o que ele precisaria fazer.
Para ser atrativo para a maior parte do público, qualquer competição esportiva precisa ser o mais imprevisível possível. O mérito cruzeirense na conquista nacional é incontestável. O problema é que isso, literalmente, dá menos audiência.
A forma como vendemos o Brasileirão por pontos corridos precisa ser revista. Para fazer justiça a grandes campeões como esse Cruzeiro!