A final que deveria ser
Erich Beting
Hoje era dia para não apenas BH e as Minas Gerais estarem paradas. O futebol no país precisava estar estacionado, à espera do grande evento. Mas parte da atenção estará dividida esta noite na final mais espetacular da Copa do Brasil em 25 anos de história. No mesmo horário, o São Paulo recebe o Atlético Nacional por uma vaga na final da Copa Sul-Americana. Em outras partes do país, felizmente, só haverá espaço para a final nacional.
Mas não é só a incompetência dos gestores do calendário brasileiro que impede que só exista espaço para Cruzeiro x Atlético nesta quarta-feira.
Graças à truculência, ao jogo de cena e à intransigência, os dirigentes dos dois clubes conseguiram apequenar a discussão sobre a partida.
O clima pré-jogo não era sobre as táticas de cada treinador, mas sobre a divisão e a precificação dos ingressos para as duas torcidas. O torcedor, que poderia ser o segundo maior protagonista dessa grande final, virou o personagem principal. Não pela festa, mas pela exploração de sua paixão.
Quanto custa o bilhete? Quantas entradas estarão disponíveis? O jogo é no Independência para 20 mil pessoas ou no Mineirão para mais de 50 mil?
Um dos sucessos do futebol brasileiro nos anos 60 foi tornar-se uma manifestação nacional. O Santos e o Botafogo, que seriam os equivalentes a Atlético e Cruzeiro da atualidade, eram times que jogavam pelo Brasil adentro. Não importava a cidade, o povo queria ver os craques em campo. Não há melhor lugar que o Mineirão para receber a grande final da Copa do Brasil. Mas, infelizmente, a mentalidade pequena dos dirigentes fez com que nem isso fosse realmente um diferencial do duelo.
Era para estarmos falando de Diego Tardelli x Ricardo Goulart; São Victor x Fábio; Levir Culpi x Marcelo Oliveira. Era para falar do ''Eu acredito'' que mudou de lado. Para debater o porquê de Minas Gerais ser, há dois anos, o centro do futebol no Brasil.
Mas perdemos praticamente três semanas de pré-jogo discutindo quantos bilhetes cada time teria. Qual seria o preço do ingresso. Qual a intransigência da vez de um lado ou de outro.
Com tanta gente pedindo a volta do mata-mata para o Brasileirão, matamos a chance de curtir uma das melhores finais que já existiram no futebol do país. Belo Horizonte é uma cidade dividida em duas paixões. Elas vão se encontrar logo mais no melhor momento vivido pelos dois times desde o fim dos anos 60 e começo dos 70.
Dificilmente voltaremos a ver tão cedo Atlético e Cruzeiro na mesma situação. Vale lembrar que, há três anos, os dois times beiraram a Série B do Brasileirão, e o Cruzeiro só não caiu porque goleou o Galo na última rodada.
Essa é a final que deveria ser da Copa do Brasil. E que nossos dirigentes conseguiram depenar. Pelo menos durante os 90 minutos de bola rolando, o torcedor estará estático, acompanhando uma final épica para o nosso futebol.
Hoje, o futebol das Minas Gerais canta de galo em velocidade de cruzeiro.