A aula de gerenciamento de crise do UFC
Erich Beting
No dia 3 de janeiro, Jon Jones manteve, pela oitava vez, o título de campeão do UFC. A vitória sobre Daniel Cormier, em decisão unânime dos juízes, manteve uma hegemonia de quatro anos do lutador como detentor do cinturão da categoria meio pesado.
Três dias depois, Jon Jones foi à lona. Flagrado num teste antidoping com resquícios de cocaína no corpo, o campeão viu sua imagem tomar um golpe que poderia colocá-lo a nocaute.
Hoje, um dia depois, Jones e o UFC dão uma aula de como se faz o gerenciamento de uma crise. Seja um astro da mídia ou uma empresa, o fato é que a forma como o caso está sendo tratado merece ser vista como exemplo de como se comportar quando as coisas dão errado.
O primeiro a dar o exemplo foi Jon Jones. O lutador admitiu o vício e prontamente disse que se internaria numa clínica de reabilitação contra drogas. Depois, o UFC emitiu um comunicado apoiando a decisão do atleta e informando que lhe dará todo o suporte necessário para que ele consiga se recuperar, citando a própria ''força de campeão'' de Jones, mas ressaltando que ela existe dentro do octógono e precisa ser vista também fora dele.
Fama, poder e dinheiro giram em torno daqueles que conseguem atingir o status que Jones conseguiu. Fama, poder e dinheiro, muitas vezes, corrompem. Ou desviam as pessoas da rota. Quem nada tem e passa, de uma hora para outra, a ter tudo, tem tremenda dificuldade de administrar o novo status. Seja ele um lutador de MMA que quase foi zelador de prédio, seja ele um executivo que alcançou o topo mais alto da carreira.
Jones não conseguiu aguentar o tranco de virar estrela. Não deve ser nada fácil, como comprovam diversos casos desde que o ''glamour'' da mídia entrou em ação para aumentar o alcance do esporte e, consequentemente, o dinheiro envolvido dentro dele. O atleta é o grande centro do espetáculo do esporte. E precisa ter uma conduta que o transforme, literalmente, num semideus, a exemplo do que era o conceito da Grécia Antiga. Jones estava nesse patamar e voltou a ser um ''mero mortal'', por assim dizer.
Por isso mesmo, o que Jones e o UFC fizeram foi louvável. Não tentaram esconder o fato, ou transferir a culpa, como quase sempre acontece nesses casos. Assumiram o erro e seguiram em frente, dando mais uma vez o exemplo. Se Mike Tyson tivesse convivido com Dana White, provavelmente teria sido um atleta ainda mais espetacular…