Sem inovar, Fórmula 1 vai virar um ex-esporte
Erich Beting
A sucessão de trapalhadas do noticiário da Fórmula 1 às vésperas do início de mais uma temporada revela o quanto a falta de inovação é fatal para qualquer um. Chefiada desde sempre por Bernie Ecclestone, a F1 agoniza pela total falta de renovação em suas ideias.
Nos anos 80 e 90, a categoria alcançou seu ponto de maior prestígio no mundo. Ser piloto de Fórmula 1 era o máximo que um homem poderia querer na vida. Ela seria cercada de carros, mulheres e viagens. Era o status defendido e venerado nas páginas da Playboy levado a um nível ainda mais alto, já que envolvia jovens esportistas andando a 300 por hora.
Não por acaso, a F1 era uma categoria que circulava pelos lugares mais badalados da Europa, tinha patrocínio de marcas de bebida e cigarro e reunia algumas das marcas mais luxuosas do mundo entre seus parceiros comerciais.
O problema é que o mundo mudou. As páginas de Playboy já não são impressas em tão larga escala, os jovens mudaram bastante seus conceitos e, hoje, parece que o universo da F1 não faz tanto sentido assim.
A proibição à propaganda de cigarro na Europa obrigou a F1 a buscar novos mercados para expor seus parceiros comerciais. Foi, na primeira década do novo milênio, quando países asiáticos entraram na dança. Com o cerco cada vez mais fechado à exposição das propagandas de cigarro, as marcas começaram a desistir de patrocinar a F1.
Hoje, menos da metade das provas acontece na Europa. O que seria sinônimo de sucesso na expansão mundial da F1 é traduzido, na pele, por provas disputadas em locais onde o público local não tem interesse no evento e o público fanático não se interessa tanto assim em viajar e conhecer.
Para complicar, nesse mesmo período, surgiu o fenômeno Michael Schumacher, que estraçalhou recordes e transformou num samba de uma nota só a categoria. Não havia mais disputa, apenas um jogo para saber quem seria o segundo colocado. Isso fez os índices de audiência despencarem até mesmo na Alemanha, país de origem do heptacampeão.
No meio de todo esse processo, o que fez Bernie Ecclestone? Seguiu acreditando que a vida continua a ser aquilo que Hugh Hefner pregava, com muito sucesso, nas páginas da Playboy nos anos 60, 70 e 80. Não por acaso, os lugares onde a F1 consegue seus melhores contratos é em rincões dominados por ditadores. Ainda existe, logicamente, patrocínio milionários na categoria. Afinal, a Fórmula 1 é um dos poucos esportes que roda o mundo todo.
Recentemente, Ecclestone afirmou que não se interessava pelo público jovem:
“Eu não sei por que as pessoas querem se aproximar da chamada 'geração jovem'. Por que eles querem fazer isso? É para vendê-los algo? A maioria destas crianças não tem dinheiro. Eu prefiro me aproximar do cara de 70 anos que tem um monte de dinheiro. Não há razão para nos aproximarmos destas crianças, porque elas não vão comprar nenhum dos produtos aqui. Se os marqueteiros miram esta audiência, eles deveriam fazer propaganda com a Disney”.
Se Ecclestone fosse minimamente preocupado com o negócio que comanda, saberia que a Disney é um fenômeno mundial exatamente por saber falar com a criança de 2 anos e o “cara de 70 anos”. E, muito provavelmente, o neto de 2 anos fará o avô de 70 anos guardar dinheiro para levá-lo à Disney em vez de ocupar o domingo assistindo a um bando de carro dando volta dentro de um autódromo.
A ATP, associação de tenistas, percebeu há alguns anos que seria preciso inovar para ser a ''nova'' Fórmula 1. Olhou, bastante, como a Disney faz para promover entretenimento dentro de um evento esportivo. Diversificou calendário, fabricou ídolos e hoje já começa a aparecer no retrovisor. Mesmo com os carros mais potentes do mundo, a Fórmula 1 deverá ser rapidamente ultrapassada…