Memória de Portugal Gouvêa não merecia esse São Paulo
Erich Beting
O São Paulo acaba de levar um baile do Palmeiras como há muito não se via. Um time perdido, sem alma, sem lógica, completamente indolor. Um time que reflete, no campo, o que acontece nos bastidores do clube.
O que poderia ter acontecido com o São Paulo que saiu de primeiro tricampeão seguido do futebol brasileiro em 2008 a um clube sem rumo nos últimos três a quatro anos?
O problema do Tricolor paulista atual é, exatamente, a política conturbada do clube. Falta, no São Paulo, alguém que reúna os ''Cardeais'', como são chamados os conselheiros do clube, e mostrem aquilo que o clube sempre se gabou de ter como diferencial em relação aos demais, que era uma instituição imune às crises políticas.
Em 2001, quando Paulo Amaral concorria à reeleição, Marcelo Portugal Gouvêa conseguiu derrotá-lo por apenas dois votos de diferença. Na ocasião, o São Paulo vivia situação muito similar à de hoje. Crise política, debates acalorados pela mídia e uma tremenda bagunça dentro de campo. Para piorar, naquela época, o clube estava afastado da tão familiar Copa Libertadores havia 8 anos, desde a derrota para o Vélez na final de 1994.
Portugal Gouvêa foi eleito, recolocou o time na Libertadores, foi semifinalista em 2004 e campeão em 2005. Deixou a presidência em 2006, campeão brasileiro, sem modificar o estatuto para manter-se no poder. Fez o sucessor, Juvenal Juvêncio, e manteve-se próximo à política do clube até o momento em que a saúde debilitou-o. Em 29 de novembro de 2008, Portugal Gouvêa morreu. E o São Paulo, sem saber, começou a sua derrocada.
Falta ao São Paulo um articulador tão bom quanto se espera de Paulo Henrique Ganso. Ou quanto foi Kaká, no semestre passado. Falta alguém que consiga mostrar aos Cardeais o que Portugal Gouvêa conseguia fazer como poucos. As diferenças políticas precisam ser colocadas num segundo plano para o clube conseguir ser bem-sucedido.
O São Paulo de hoje é uma desonra a Portugal Gouvêa. E explica, pela política tumultuada que permeia o clube, a falta de competência dentro de campo. O problema do São Paulo está longe de ser apenas técnico. É político. Como quase sempre acontece na maioria dos clubes.