Negócios do Esporte

Clubes mostram como é difícil colocar preço em ingresso

Erich Beting

O Palmeiras conseguiu, na primeira final de campeonato disputada em seu estádio, exorbitantes R$ 4 milhões de renda e mais de R$ 100 por ingresso cobrado para o jogo contra o Santos no Allianz Parque. Depois das finais de Atlético-MG na Libertadores-2013 e Flamengo na Copa do Brasil daquele mesmo ano, é um dos melhores resultados na equação ocupação de estádio x arrecadação em bilheteria do futebol nacional.

Ao mesmo tempo, o São Paulo anunciou que reduzirá o ingresso mínimo para a partida das oitavas de final da Libertadores contra o Cruzeiro. De R$ 120, o bilhete cairá para R$ 60. Assim, o clube espera voltar a lotar o Morumbi no campeonato que é mais desejado por seu torcedor. Na semana passada, em entrevista ao ''Bolg do Boleiro'', de Luciano Borges, o vice são-paulino Douglas Schwartzmann admitiu que o clube errou na precificação dos ingressos (leia a conversa na íntegra clicando aqui).

As duas situações evidenciam a dificuldade que os clubes têm em se adequar à realidade dos novos estádios. A grande diferença que existe, agora, é que manter um estádio custa muito caro. Se, antes, o futebol estava acostumado a praticamente ter o local de graça (ou a baixíssimo custo) para jogar, agora a equação é mais complicada.

Ao mesmo tempo, aos poucos o futebol entende que é preciso tratar seu principal produto, que é o jogo ao vivo, com mais cuidado. É preciso fazer de cada partida um evento único, que leve as pessoas e possa entregar ao torcedor uma boa experiência. Esse são ingredientes fundamentais para que as pessoas queiram ir cada vez mais ao estádio.

O Palmeiras é, neste começo de ano, o ponto fora da curva. O estádio novo ainda causa muita curiosidade nas pessoas. Ao mesmo tempo, a torcida está empolgada com o time, o que faz com que a procura por ingressos seja alta. A arrecadação dos primeiros quatro meses do ano dificilmente se repetirá com frequência. Até por conta disso, o clube já percebeu que seria preciso reduzir a mão em alguns setores do estádio. Fez um estudo dos últimos oito anos de comportamento do torcedor na ida aos jogos e ponderou qual o melhor a ser feito (leia detalhes aqui).

Há dois anos que a Máquina do Esporte faz um acompanhamento do comportamento do público nos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro. O dado mais alarmante é o que mostra que a taxa de ocupação dos estádios raramente ultrapassa 50% durante todo o torneio.

Ao mesmo tempo que está mais caro manter os estádios, está desvalorizado, também, o produto que é apresentado nesses locais. Sendo assim, existe um enorme problema para o futebol no Brasil. É preciso encontrar, com base em estudo, tentativa e erro, o preço ideal para os ingressos.

A Série A do Brasileirão teve, em 2014, um ingresso médio de R$ 33,87. No ano anterior, o tíquete médio havia sido de R$ 29,05. Em campo, a média de público aumentou, mesmo com o bilhete mais caro. Mesmo assim, a taxa de ocupação dos estádios não chega a 50% do total de capacidade.

Em 2015, pela primeira vez todos os novos estádios estarão disponíveis, o que deve aumentar o número de público nos jogos e o custo médio do ingresso. Isso será fundamental para, em 2016, começarmos a ter mais ciência e menos chute na hora de decidir quanto cobrar pelo bilhete. Está claro, por enquanto, que o torcedor não está disposto a pagar mais de R$ 30 pelo ingresso na média.