Negócios do Esporte

Grana começa a impor mudanças no esporte

Erich Beting

Na última quarta-feira foi apresentado o ''Pacto Pelo Esporte'' num evento em São Paulo. Pela primeira vez, empresas concorrentes decidiram se unir para exigir, do esporte, melhores práticas de gestão. Basicamente as marcas decidiram dar um ''basta'' na maneira como o esporte é gerenciado no país e passaram a pedir melhores condutas para poderem gastar dinheiro numa estratégia de patrocínio.

Entre os principais patrocinadores do esporte brasileiro, faltaram na assinatura do documento Ambev, Caixa e Petrobras. Os outros grandes investidores estão lá, iniciando um movimento que, se vingar, tem tudo para ser um divisor de águas dentro do que conhecemos como esporte no país.

O curioso é ver como o esporte, no Brasil, não consegue mudar por pernas próprias. Tivemos diversas alterações no cenário do país e, via de regra, o modelo segue antiquado. Foi-se a onda dos megainvestidores do futebol nos anos 90 (Parmalat, Hicks Muse, Nations Bank, ISL, etc.), veio a era do fomento ao esporte olímpico com a Lei Piva, nos anos 2000, estamos agora no momento dos megaeventos.

Fontes de financiamento para o esporte no Brasil sempre existiram, mas o mau uso dessa enorme verba aportada é que causa problemas estruturais no país.

Só em incentivo fiscal o esporte arrecadou R$ 1,5 bilhão em 9 anos (média de R$ 160 mi ao ano). Nos recursos da loteria, são cerca de R$ 100 milhões anualmente. Em patrocínios, privado e estatal, os valores são ainda maiores.

Com a Olimpíada chegando, os investidores decidiram dar uma espécie de ultimato às entidades. Com a verba cada vez mais vigiada dentro das empresas, cada centavo empregado no esporte conta. Por isso, as marcas passaram a exigir mais de seus parceiros comerciais.

E isso passa, necessariamente, pela melhoria na gestão do esporte. A força da grana pode erguer um belo legado para o esporte no país. Resta saber se o interesse de médio/longo prazo será mais forte do que a resposta imediata que a empresa precisa dar para seus acionistas/donos.

No Pacto Pelo Esporte, as entidades terão dois anos para se adaptarem e cumprirem as exigências feitas pelas empresas de transparência, boa governança e, no fim das contas, resultados. Mas será que a marca, vencido este prazo, apertada pela concorrência, terá a frieza de apostar no Pacto em vez de uma boa ação de marketing que traga, mesmo com uma entidade não tão boa, resultado financeiro para a empresa no curto prazo?

Os patrocinadores nunca cobraram tanto do esporte melhor uso de seu dinheiro. Mas o esporte é cada vez mais eficiente para estratégias diferentes das marcas. A grana começa a impor mudanças no esporte. Resta saber se o interesse monetário não falará mais alto e teremos, pela terceira vez, mais uma boa oportunidade perdida na história recente da gestão no esporte brasileiro.