Pesquisar é preciso; interpretar, mais ainda!
Erich Beting
E estamos diante de uma nova polêmica em relação à ''maior torcida do Brasil''. Após alguns anos de clara tendência de que isso iria acontecer, o Corinthians finalmente empatou com o Flamengo como dono do maior contingente de torcedores no país.
Mas e daí?
O número divulgado pelo Ibope, de que os dois teoricamente têm 13% cada um dos torcedores brasileiros, pouco revela, de fato, sobre como tem sido o comportamento dos torcedores em relação a seus times.
O resultado do levantamento serve, apenas, para um torcedor querer tirar sarro do outro, nada além disso.
Longe de querer desmerecer o Ibope e o resultado chegado por ele nessa enquete. Ao ver o número de entrevistados (9 mil pessoas em 12 regiões metropolitanas) e a abrangência que ele representa (50 milhões de brasileiros acima de 10 anos), não tem como duvidar dos resultados apresentados.
Só que é preciso, para quem trabalha com o esporte, não se findar ao número de ''maior torcida'' na hora de planejar um trabalho relacionado ao clube.
Qualquer pesquisa é uma base fundamental para uma marca trabalhar. É importante saber quem somos, mas muito mais importante é saber o que o consumidor pensa a meu respeito.
Por isso costumo dizer que o fundamental não é ter a maior torcida, mas saber quem são os torcedores de um determinado clube. A que classe social ele pertence, onde ele está localizado, quais são os seus hábitos de consumo, quanto ele gasta por mês com o time…
A partir de todas essas informações, é possível um clube planejar, por exemplo, a realização de uma partida amistosa numa determinada região do país, ou então abrir uma loja oficial numa cidade onde há maior concentração de seus torcedores.
Essa grande pesquisa feita pelo Ibope foi além do tamanho das torcidas (o relato da Máquina do Esporte você confere clicando aqui), e pode servir de base para que o executivo que trabalha com o esporte em geral tenha uma excelente noção de como o consumidor enxerga as diferentes modalidades e os diferentes times.
Mas isso não é nenhuma novidade no esporte.
Da mesma forma que o Ibope fez isso agora, o instituto Sport Track já mapeia os hábitos de consumo ligados ao esporte desde 2006, e a Nielsen acabou de lançar sua primeira enquete relacionando o hábito do consumidor com o esporte.
Em vez de olhar para quem é maior, é preciso saber quem é melhor. A interpretação dos dados, o cruzamento de informações e o conhecimento pleno de quem é o torcedor é muito mais importante do que duelar por quem é maior que o outro.
É nesse sentido que o esporte passa a ter, agora, mais maturidade para atingir um novo patamar. Com dados concretos, ele pode se tornar um investimento muito mais interessante do que era antes, quando baseava-se apenas no tamanho da torcida.