Negócios do Esporte

Agora só faltam os aeroportos!

Erich Beting

A maior aberração prevista para a Copa do Mundo no Brasil foi eliminada para 2014. A Fifa colocou por terra o projeto de dividir o país em quatro regiões e, com isso, diminuir o trânsito das pessoas durante o Mundial. Ainda bem. Caso o projeto fosse mantido, o país perderia exatamente o maior trunfo de organizar o torneio, que é forçar o turista estrangeiro a passear por diferentes regiões, conhecendo mais lugares e dessa forma gastando mais e tendo maior interesse em voltar ao país depois da Copa.

O fim da divisão de grupos em sedes fixas é uma realidade desde 1994, quando os Estados Unidos decidiram aumentar o faturamento com o trânsito interno dos turistas e criou o sistema itinerante para as seleções, atendendo interesses locais e assim mostrando o melhor caminho para o país-sede turbinar a receita com o consumo.

O Brasil, felizmente, não deu o passo para trás. O problema, agora, é outro. Assim como na África do Sul, temos sérios problemas para atender a uma demanda de Copa do Mundo em nossas estruturas aeroportuária, ferroviária e rodoviária. Japoneses, coreanos e alemães tinham uma rede de diferentes meios de transporte para o torcedor ir de um lugar a outro.

Aqui, tal como na África, temos a infraestrutura de transportes baseada em rodovias e em aeroportos antigos e ultrapassados. Em 2010, Porth Elizabeth e Durban foram cidades que entraram em colapso nos dias de grandes jogos. Em solo africano, compensava, pelo menos, as excelentes condições das rodovias do país.

Por aqui, não é difícil imaginar que o projeto de uma Copa do Mundo em todo o território nacional, sem setorização, seja de difícil implementação. Enquanto tivermos a pífia infraestrutura de transportes do país, sem dúvida teremos muitos torcedores que serão prejudicados pela loucura de sair de São Paulo, ir a Manaus e voltar para Fortaleza, por exemplo.

Mas é preciso, para o marketing turístico do país, fazer o torcedor se deparar com as diversidades que existem entre São Paulo, Manaus e Fortaleza. Ou entre as 12 sedes da Copa.

Mas é absolutamente necessário, também, que o projeto de Copa do Mundo para o Brasil seja, urgentemente, definido. O que queremos com o Mundial? Ficou claro, com a divulgação da tabela da competição, que um dos objetivos é mostrar os diversos Brasis que existem aqui. O calor tropical com o frio gaúcho, a bagunça paulista e a paradisíaca Natal.

Só que falta, para que essa imagem de Brasil seja bem vendida para o turista, termos, pelo menos, aeroportos decentes. Do contrário, o Brasil vai mais uma vez querer dizer que é a quinta maior economia do país, mas com uma infraestrutura de quinta categoria.

Pelo menos o primeiro erro, que seria acabar com a chance de mostrarmos o Brasil por inteiro, foi corrigido a tempo. Resta saber se teremos tempo para o restante.

As disparidades das sedes

Brasília não precisa de sete jogos do Mundial, apesar de ser a capital do país, não há cultura futebolística e mesmo tanta atratividade turística que se justifique. Pior do que isso é saber que, por conta de tudo isso, o Novo Mané Garrincha terá de fato capacidade para 70 mil pessoas, que deverá ser cumprida apenas em seis ocasiões na vida da arena (ou em sete, no caso de o Brasil disputar o terceiro lugar do Mundial).

São Paulo como abertura foi um jogo de cartas marcadas. Belo Horizonte foi ''recompensada'' com a semifinal. O problema maior, porém, são os gastos abusivos para estádios acima de 40 mil lugares em locais como Manaus, Cuiabá e Natal. Curioso notar, também, que serão apenas nove jogos nos dois únicos estádios em que se prevê o uso de 100% de dinheiro privado (Curitiba e Porto Alegre).

A política, como costumo dizer por aqui, sempre atrapalha o negócio. Por isso mesmo, não há qualquer surpresa em tudo o que foi anunciado nesta quinta-feira pela Fifa.