Neymar e a “sorte” do Santos
Erich Beting
Neymar com garantia total no Santos até a próxima Copa do Mundo é algo que, até pouquíssimo tempo atrás, era impensável dentro do Brasil. Não tínhamos estrutura, tanto técnica quanto financeira, para conseguir bancar a permanência do maior talento que surgiu em diversos anos no futebol daqui.
Mas o Brasil de hoje bate com orgulho no peito e diz que pode, sim, ser um protagonista mundo afora. O que antes era visto como ''loucura'' hoje nada mais é do que a realidade brasileira. Não estamos com o país quebrado, temos uma economia sólida, as taxas de desemprego estão em níveis baixíssimos e receberemos em breve dois dos maiores eventos esportivos do mundo.
Tudo isso cria um cenário de absoluta confiança de que é possível mantermos Neymar por aqui. Se, em 2003, não vender Kaká para a Europa era uma ''loucura'', hoje absurdo é não pensar em continuar a ter Neymar por aqui.
O futebol entrou, como já falamos por aqui, num círculo virtuoso por aqui. Com a economia em alta, com cada vez mais ricos e menos pobres no Brasil, aumenta-se o poder aquisitivo da população e, consequentemente, sobra mais dinheiro para investir no lazer. E, assim, aumenta o gasto das pessoas com cinema, teatro, compras e, claro, esporte.
Os estádios estão cada vez mais cheios, as vendas de produtos oficiais dos clubes estão a cada dia mais altas, os patrocínios crescem na mesma proporção. Há dinheiro como nunca dentro dos clubes de futebol do país.
O Santos deu ''sorte'' de ter Neymar exatamente agora em atuação dentro do país. Se fosse há cinco anos, com certeza não haveria como segurar a vontade dos compradores da Europa. Não haveria, dentro do país, um nível de interesse em investir no futebol para segurar Neymar por aqui. Tentou-se algo similar com Robinho, mas não houve sucesso comercial em número de empresas e valores atingidos para que ele pudesse ganhar o tanto que receberia do Real Madrid.
Agora a situação é diferente. Há verba, há interesse e há PIB suficiente para que Neymar não precise ir para o exterior. O que precisa acontecer, agora, é uma união de esforços para que os Damiãos, Lucas e Oscares da vida sigam o mesmo caminho e não precisem deixar o país para ganhar mais dinheiro.
Nunca foi tão fácil fortalecer o futebol brasileiro como agora. A economia local está sólida, os clubes estão com mais dinheiro em caixa e há um sentimento coletivo de que é preciso valorizar os times daqui.
É a hora de o sempre tradicional exportador de pé-de-obra deixar de se ver como vitrine e passar a se enxergar como produto.