Negócios do Esporte

Arquivo : janeiro 2012

A soberba deve tirar o UFC do Morumbi
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Erich Beting

O São Paulo está muito próximo de perder a realização do UFC no estádio do Morumbi, como já havia praticamente sido sacramentado num acordo entre o clube e os gestores do principal evento de lutas. Um dos agravantes para a mudança nos planos e a ida do evento para o Pacaembu foi a intransigência do São Paulo com alguns aspectos exigidos pelo UFC (leia aqui).

A intransigência são-paulina tem gerado muito mais derrotas do que vitórias ao clube nos bastidores. A queda do Morumbi não é apenas fruto da não-compactuação da diretoria tricolor com a CBF, assim como agora uma das gotas d’água para a desistência de o UFC pelo Morumbi foi a recusa de Roberto Natel, vice-presidente social e de esportes amadores do São Paulo, em ir ao Rio de Janeiro acompanhar a montagem do evento ocorrido na semana passada.

“Não cheguei a ir. Fui convidado, mas aí saiu a notícia do UFC dizendo que estava 85% fechado com o Pacaembu. Eu estava indo para conhecer a estrutura e saber como seria. A partir do momento em que está 85% fechado para o Pacaembu, não vou lá só para assistir”, disse Natel ao UOL Esporte.

É a típica birra de criança que, nesse caso, mostra uma total falta de molejo do clube em negociar com o UFC. Obviamente que o São Paulo não seria o único “pretendente” a receber o evento. O show que o UFC promove a cada dia de evento mostra o quão preparados estão seus executivos para os mais diferentes planos.

No Pacaembu, além de reduzir os custos de confecção do evento, os americanos conseguem manter a promessa de fazer o maior UFC da história. Ao virar as costas para os dirigentes do UFC, possivelmente o São Paulo deixa de ser o principal candidato a receber eventos da modalidade.

A birra de Natel deve custar ao São Paulo pelo menos R$ 2 milhões em receita.

Um clube que adora bater no peito o fato de ser “diferenciado” peca, atualmente, por querer sempre mostrar-se superior a qualquer outro.


A disputa das montadoras chegou ao esporte
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Erich Beting

A Chevrolet anunciou na última terça-feira que será a detentora dos naming rights de três Estaduais que começam no final da semana: Paulista, Goiano e Paranaense (leia mais aqui e aqui).

O negócio pode significar uma mudança importante para o mercado de patrocínio esportivo nos próximos anos. A disputa entre as montadoras de carro pode vir a ficar mais acirrada daqui para a frente, aumentando a geração de receita para o esporte.

Até então o mercado contava com dois atores principais. A Volkswagen (com seleção brasileira, Brasil Open de tênis, surfe e outros acordos menores) e a Hyundai-Kia (com a Copa do Mundo e o naming right da Copa do Brasil da Kia).

Com a venda dos carros em alta no Brasil e a economia crescendo, a tendência é que as montadoras invistam cada vez mais no segmento esportivo para poder criar ações diferenciadas ao público, ainda mais as grandes fabricantes, que usam o esporte pelo apelo com o público.

A entrada da Chevrolet e possível confirmação da Nissan como patrocinadora dos Jogos Olímpicos mostram que o cenário está cada vez mais claro para uma disputa deflagrada das grandes montadoras pelas principais propriedades nos esportes de massa.

No final das contas, a Fiat, que até então estava declinando de patrocinar o Palmeiras, poderá se ver “obrigada” a não perder uma propriedade de muita visibilidade no mercado.

É só mais uma prova de que a força das montadoras poderá impulsionar ainda mais a lucratividade do esporte no Brasil na atualidade. E olha que as grandes empresas chinesas ainda não olharam o marketing esportivo como ferramenta para aumentar a lembrança de marca e, consequentemente, aumentar as vendas.

O que devemos assistir, nos próximos anos, é um movimento similar ao que viveu o mercado de eletrônicos há uma década, quando LG, Samsung e Panasonic entraram pesado no investimento em esporte por aqui.


A ética e o futebol
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Erich Beting

O tema voltou à pauta com a entrevista dada por Patrícia Amorim sobre o caso (mais um!!!!) envolvendo a negociação com Thiago Neves. A presidente do Flamengo reclama que seu colega de Fluminense, Peter Siemsen, não honra com a palavra, agindo de outra forma nos bastidores.

Em suma, voltamos a debater a ética na negociação envolvendo clubes de futebol. Recentemente ouvi de um graúdo dirigente do futebol de que é impossível pensarmos no modelo de liga, como funciona nos esportes americanos, por exemplo, se não existe um mínimo de ética na relação entre os clubes.

A frase desse dirigente mostra uma faceta bem complicada que o futebol vive não apenas no Brasil. Não existe o menor comportamento ético entre os clubes. Via de regra, os fins justificam os meios. A lógica é mais ou menos a que dita o comportamento de uma criança mimada. Os clubes, os atletas, os empresários, os árbitros, os dirigentes, todos decidem que vão fazer pressão e jogo de cena até conseguir aquilo que quer.

Por acaso isso fere a conduta moralmente aceitável? Pouco importa. Ou melhor, nem mesmo vem ao caso! É o exemplo mais banal que temos de um jogador que faz corpo mole para mudar de time. Quão antiético é esse comportamento? Infelizmente é raro vermos a demissão por justa causa no mundo da bola.

Nessa toada, não há nada de absurdo nesse triângulo amoroso entre Fla-Thiago-Flu. Ele apenas reflete o quão pouco ético é o meio do futebol. É por isso que não é possível colocar em prática conceitos como a adoção de um teto salarial, a divisão de receita por mérito esportivo do clube para aumentar a competitividade da competição, a busca de igualdade competitiva entre os clubes para não termos desníveis técnicos, etc.

Isso não significa que o modelo americano de gestão do esporte seja pautado pela ética. Muito pelo contrário, há muito jogo sujo, tentativa de trapaças e coisas do gênero (que o digam as recentes greves na NBA e na NFL). Mas o fato é que os dirigentes sabem que, para manter a competição em nível elevado e, dessa forma, ganhar mais dinheiro, é preciso ter um comportamento minimamente ético.

No futebol, o conceito do que é uma conduta ética é restrito ao imaginário de cada um, e não do ambiente como um todo. Carlitos Tevez que o diga…


Para que servem os amistosos de pré-temporada?
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Erich Beting

Palmeiras, Corinthians e Flamengo deram neste final de semana um aperitivo de como podem ser proveitosos os amistosos de pré-temporada dos clubes no Brasil. Esqueçam o aspecto técnico, vamos nos focar na questão mercadológica.

No sábado, o Palmeiras recebeu o Ajax, num amistoso promovido pela Aegon, patrocinadora do clube holandês. A empresa de seguros fez uma série de ações com o time holandês em terra brasileira. Os jogadores participaram de um evento fechado para colaboradores, além de a empresa ter tido direito a todas as placas publicitárias no estádio durante a partida, entre outros benefícios.

No domingo, diversas empresas que não estão regularmente presentes no futebol participaram da partida entre Corinthians e Flamengo com a compra da placa de publicidade estática do jogo. O destaque, nesse caso, foram para as multinacionais Adidas, Burger King e Panasonic, que estão fora do pacote de futebol da Globo e, com isso, não aparecem no gramado durante a maior parte do ano.

O que esses casos mostram é que existe um potencial muito grande ainda a ser explorado pelos clubes brasileiros nesses amistosos de pré-temporada. Com a economia do Brasil em alta, o interesse das multinacionais pelo consumidor tupiniquim é cada vez maior. Isso faz com que tenhamos a possibilidade de, com os amistosos, abrir o caminho para que clubes de outros países e seus respectivos patrocinadores venham jogar aqui.

O caso do Palmeiras com o Ajax é um claro exemplo disso. Se os clubes se prepararem para a janela de julho/agosto, podem faturar bastante com esses amistosos. Empresas dispostas a pagar a conta não faltam. O que precisa é ter um planejamento para aproveitar da melhor forma possível as oportunidades de mercado. E, claro, pensar também no benefício técnico de um jogo amistoso.


Interlagos e o drama do esporte privado no Brasil
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Erich Beting

A Confederação Brasileira de Automobilismo anunciou na última quinta-feira que fará uma reunião com a São Paulo Turismo para discutir o que o meio automobilístico tem considerado um “aumento abusivo” nos preços para a locação do autódromo de Interlagos, em São Paulo.

A questão revela um problema recorrente do esporte no Brasil, que é a cultura que temos de sempre querer pagar pouco, ou quase nada, para organizar um evento esportivo no país.

O acesso gratuito ao esporte foi uma prática recorrente desde o governo Vargas, quando investiu-se pela primeira vez na massificação do culto às atividades esportivas. Depois, na era militar, essa tornou-se ainda mais recorrente fazer do acesso ao esporte um dever de Estado.

Hoje, porém, o conceito de esporte profissional é completamente diferente daquele que tem de ser oferecido gratuitamente pelo governo. Sim, é função dos governantes garantirem o acesso da população à prática esportiva, mas não quando é para consumirmos o esporte de alto rendimento.

O aumento das taxas para locação de Interlagos tem um propósito claro. A cidade de São Paulo não quer mais ter de perder dinheiro com a gestão do autódromo. Ele precisa ser uma unidade lucrativa. Não há nada de mal nisso, até porque Interlagos é hoje um dos pouquíssimos autódromos existentes no país e em boas condições para a organização de um evento de automobilismo.

E o ponto é exatamente esse. Para que consiga ser bom, o autódromo tem de fazer manutenção, ter melhorias, investir em reformas, etc. Como isso pode ser feito sem que a taxa seja cobrada de quem utiliza esse espaço?

Aí que entra o problema cultural do esporte brasileiro. Não nos conformamos em ter de pagar para consumir esporte. Acostumamo-nos a ter tudo de graça, ou quase isso. E aí quando há uma mudança que vai encarecer a organização de um evento, começa a haver uma gritaria geral de que quem aumenta os valores só pensa em lucro.

Gritar contra a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos é fácil e correto. Mas como podemos de fato mudar alguma coisa se ainda continuamos a achar que, tirando esses grandes eventos, o governo tem de arcar com os custos de qualquer outro esporte?

Será que dá para pensar hoje em gestão do esporte sem fazer a conta fechar no final do mês? Em todo o mundo já se vão 30 anos, pelo menos, que a resposta para essa pergunta está bem clara.


A Kodak pode ensinar muito ao Palmeiras
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Erich Beting

Um dos maiores gigantes do mercado de fotografia hoje agoniza. Nos próximos meses, a Kodak estará diante de uma encruzilhada. Ou consegue vender mais de mil patentes que tem registradas em seu nome, ou possivelmente terá de pedir a falência e sair definitivamente de um mercado que é cada vez menos seu.

A derrocada da marca pioneira no serviço de fotografia serve de alerta também para um clube de futebol que já foi um dos maiores do país e que hoje vive uma situação muito parecida com a da empresa americana. As trapalhadas recentes da diretoria do Palmeiras, de contratar e descontratar jogadores, somam-se a uma série de insucessos recentes que tende a jogar para baixo um dos clubes mais tradicionais do país.

A “sorte” do Palmeiras é que não se cogita pedir a falência do clube. Mas o processo pelo qual atravessa hoje o clube lembra, e muito, aquele que levou para o buraco companhias que um dia foram gigantescas, mas que atualmente existem apenas na lembrança de seus milhões de consumidores do passado.

O Palmeiras passa por uma crise gerencial que afeta todo o clube. O reflexo disso, agora claro, é na desordem que se transformou o departamento de futebol. No esporte, o último sinal de alerta que reflete a bagunça de um clube é dentro de campo. Mas, fora dele, o processo de derrocada palmeirense vem desde o não-planejamento para a saída da co-gestão com a Parmalat, em 2000.

Desde aquela época, o clube não inova, não tem programas de detecção e retenção de talentos, não tem cargos administrativos com pouca rotação, etc. Sim, a maior parte dos clubes tem trabalhado sempre dessa forma e aparentemente não sofrem o mesmo mal do Verdão. Mas hoje a crise parece não ter fim no Palestra Itália.

O Palmeiras pode usar a Kodak como um estudo de caso. A empresa que foi a pioneira na criação do filme fotográfico e, também, no desenvolvimento da máquina digital, mas que não apostou na revolução digital que vivemos nas últimas décadas, hoje está próxima de ir para a falência.

O problema palmeirense hoje é a falta de controle dentro do clube. O presidente não consegue trabalhar, assolado por dívidas adquiridas em gestões anteriores, e da mesma forma não tem capacidade política para inovar, buscar novas soluções, governar. Isso se reflete dentro de campo, reforçado pelos fracassos recentes e pela ira do consumidor, cada vez mais exigente.

A solução no mundo corporativo seria abrir um pedido de falência, ou encontrar um investidor disposto a comprar a empresa e recolocá-la nos eixos. No esporte, a primeira hipótese é pouco provável. A segunda é um tabu dentro dos clubes brasileiros e raramente consegue ser executada (tanto que Palmeiras e Parmalat formam um exemplo de ponto fora da curva até hoje).

Para a casa voltar a ficar em pé, gestão é fundamental. Pulso firme, autonomia para as diferentes áreas de atuação do clube e muito, mas muito trabalho de gerenciamento de crise são primordiais. A má notícia para o torcedor palmeirense é que nenhuma dessas características parecem estar presentes hoje dentro do clube.

A falta de um plano para o adeus de Marcos, a pataquada das não-contratações de Richarlyson e Carlos Alberto e a apresentação do reforço peso-pesado de Daniel Carvalho são sintomas mais do que claros do pesadelo que ronda esse começo de ano do Palmeiras. O negócio agora é olhar com carinho para o caso da Kodak e tentar, desesperadamente, achar uma maneira de recolocar a casa em pé.


A mudança que finalmente virá em 2012
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Erich Beting

O mercado esportivo começará a viver dias intensos em 2012.

FINALMENTE!

Com os Jogos Olímpicos, naturalmente vão crescer as ações de patrocínio a atletas que são potenciais vitoriosos em Londres. Mas a grande mudança se dará no segundo semestre, depois que acabarem as competições na Inglaterra.

O fio vai virar, finalmente, para o país. Até 2016, seremos a capital do esporte mundial, com a realização dos dois maiores eventos esportivos do planeta. As ações das empresas, que ainda estavam numa espécie de estado de dormência, finalmente vão brotar aos montes.

Patrocinadores oficiais vão começar a comunicar melhor os seus patrocínios, atletas que tiverem bons resultados em Londres vão colher os frutos da fama adquirida pensando no Rio-2016, o futebol continuará a receber altos investimentos.

Não, caro leitor, não é apenas um devaneio de uma mente ainda perturbada pela ressaca de Ano Novo. Pelo contrário. O texto foi escrito antes mesmo de o Natal começar…

Mas é o caminho natural do crescimento da indústria do esporte no Brasil. As empresas vão acordar para o processo de amadurecimento da indústria. Terão de investir mais e cada vez melhor, do contrário suas marcas não vão se sobressair.

E, aos poucos, a entrada de mais dinheiro no esporte forçará uma profissionalização, ainda que não completa, da gestão do esporte no país. Essa é a parte mais lenta de todo processo, mas será a mais importante para garantirmos outros anos bons para a indústria esportiva brasileira. Essa, sim, é mais uma esperança do que uma certeza de Ano Novo.

Feliz 2012 a todos!