O que o Superbowl tem de tão especial
Erich Beting
Domingo teremos a realização do Superbowl, a final da temporada do futebol americano. Ou, do ponto de vista de gestão e marketing esportivo, o maior evento de apenas um dia de duração do mundo.
O que faz do Superbowl algo tão diferente assim? Se formos levar em consideração que ele se resume a apenas um jogo de uma modalidade que praticamente só existe em um país, é realmente um fenômeno o que acontece.
Mas, se formos ver que ele é o jogo decisivo do esporte mais popular do país que tem a cultura do consumo na veia, que mais sabe tratar um evento esportivo como um festival de entretenimento e que, além disso, tem na mídia uma grande parceira do esporte, não é de se estranhar o tamanho do Superbowl.
E talvez seja exatamente a junção de todos esses componentes que faz com que o jogo de domingo em Indianápolis seja o grande evento esportivo do ano. Só a atenção que a mídia brasileira tem dado para o Superbowl, especialmente a ESPN, que detém os direitos de transmissão, é um indicador da força global que tem hoje o futebol americano.
Além disso, nos EUA, o evento é tão forte que conseguiu transformar o dia do jogo decisivo na principal data para o mercado publicitário americano. Todas as empresas preparam seus principais lançamentos para a época do Superbowl. Os grupos de mídia, preparados para isso, disputam desesperadamente os direitos de exibição da partida para, dessa forma, conseguir vender o famoso ''espaço publicitário mais caro do mundo''.
E, por mais estranho que pareça, a própria crise americana ajuda ainda mais para que o Superbowl se transforme num fenômeno. Com menos dinheiro em caixa, o americano gasta hoje mais tempo em frente à TV do que em outras atividades de lazer.
Isso tem feito com que a audiência do Superbowl esteja em crescimento desde 2008, quando a crise estourou. Assim, o mercado publicitário não vê a hora de usar todos os diversos intervalos comerciais durante as horas de jogo para mostrar seus produtos. Até nisso o futebol americano consegue ser inteligente, já que é formatado pensando na transmissão da TV.
O esporte, como um todo, é formatado para ser um show para a TV. O resultado dentro de campo, no final das contas, é o que menos importa. Vale o espetáculo, a promoção do evento e, também, a entrega de mídia que ele terá.
Hoje, a NFL fatura US$ 4 bilhões por ano em direitos de transmissão, com o novo contrato, a partir do ano que vem, elevando pelo menos para US$ 6 bi o montante arrecadado. Durante os jogos, tudo é feito pensando no bem do torcedor, independentemente de onde ele esteja, no estádio ou em casa.
No Superbowl, temos a condensação de todo o conceito americano de como o esporte deve ser gerenciado em um único evento. Um espetáculo para o torcedor e para a mídia, alimentando toda uma indústria de entretenimento.
A ideia de decidir o campeonato em um jogo único, por exemplo, é para deixar tudo imprevisível, tal qual uma final de Copa do Mundo de futebol. Por aqui, ainda continuamos a olhar o futebol europeu como exemplo. E, se formos olhar o melhor campeonato de futebol da Europa, que é a Liga dos Campeões da Europa, veremos que o grande exemplo para a Uefa é exatamente o gerenciamento americano do esporte.
Não seria ruim que os dirigentes esportivos brasileiros olhassem o Superbowl com muito carinho neste domingo. Dependendo de como for, poderíamos começar a pensar em como, de fato, revolucionar o mercado esportivo brasileiro. Não é preciso inventar nada. Só olhar o que é bem feito em outros lugares.