Negócios do Esporte

A meritrocacia às avessas do esporte brasileiro

Erich Beting

Uma reportagem desta quarta-feira da ''Folha de S. Paulo'' mostra que a Confederação Brasileira de Vela e Motor estuda diminuir o repasse de verba para as modalidades que não têm grande desempenho em Jogos Olímpicos e priorizar aquelas que possuem melhores resultados. Na semana passada, na tentativa de justificar mais uma re-re-re-re-re-reeleição, Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, disse que o problema é que não formamos novos gestores esportivos no país.

Os dois casos mostram claramente uma das maiores dificuldades em promover o crescimento do esporte no Brasil e a nossa transformação em uma nação esportiva. Nuzman perpetuou uma lógica de gestão nas confederações que é absolutamente contrária ao que é feito em países vitoriosos em Olimpíadas. Para o COB, o importante não é formar uma nação que pratica mais esporte, mas sim uma nação que colecione pódios.

Esse pensamento, que é personificado pela distribuição dos recursos da Lei Piva (quem é melhor ganha mais, quem é pior ganha menos), é o que faz a CBVM, por exemplo, optar por tirar dinheiro de quem ainda tenta qualificação e deixá-lo apenas para quem já consegue obter resultado. É esse o pensamento que o COB exige de suas confederações. Produzamos medalhistas, mas sem nos preocuparmos em investir no desenvolvimento da prática do esporte.

Quando Nuzman clama pela falta de novos gestores para o esporte brasileiro, ele toca numa ferida que deveria ser cada vez mais aberta e discutida no país. Mas qual é a função do COB? Cuidar apenas da formação de atletas ou também se preocupar com a metodologia de trabalho aplicada nas confederações?

O COB fornece para as confederações um curso de gestão, que teoricamente serviria para melhorar a qualidade de quem está à frente das entidades. Mas e o que isso significa na prática? O gestor está sendo preparado para dar mais dinheiro a quem já consegue ter desempenho ou a resolver as deficiências de formação de outras categorias?

A meritrocacia no esporte, para uma confederação, não significa dar dinheiro a quem já tem bom desempenho. O que precisa fazer é desenvolver as áreas onde há deficiência de formação para podermos nos considerar uma nação esportiva. Dar dinheiro a quem já é bom e não a quem precisa crescer é não entender a função de uma entidade esportiva. Não precisamos apenas levantar medalhas, temos de praticar mais esporte. A partir disso, naturalmente, o país vai figurar mais no pódio.

O atleta ou a modalidade que, hoje, tem maior destaque, naturalmente consegue maior atenção da mídia e mais patrocínios. A meritrocacia funciona nesses casos. Não é preciso dar mais dinheiro aos que se destacam É preciso buscar formar mais atletas para termos mais destaques.

Infelizmente parece não existir um gestor capaz de fazer isso nas confederações esportivas brasileiras. Nem mesmo no COB.