O oásis olímpico invade as confederações
Erich Beting
“Projeto Olímpico”. A combinação dessas duas palavras parece mágica para o mercado de esporte no Brasil. Desde que o Rio foi eleito sede dos Jogos Olímpicos de 2016, passou a ser uma necessidade para as empresas pensar em ter algum projeto para o esporte. E isso mudou substancialmente a cara dos investimentos nas confederações.
Antes, apenas com a Copa assegurada no país, a cabeça das empresas estava no futebol. Os anos de 2008 e 2009 foram de grande fartura, principalmente para a CBF, que conseguiu angariar Itaú, Gillette, Volks e Extra para o patrocínio da instituição. Nos clubes, a venda de diversas propriedades nas camisas tornou-se uma realidade até mesmo para os times de maior torcida.
Mas aí veio a eleição, em outubro de 2009, do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. E agora quem vive um período abastado são as confederações. Até então, as entidades tinham como fonte de receita, basicamente, a esfera pública. Seja por meio dos aportes pouco técnicos e muito políticos das empresas estatais, seja pela Lei Piva, que destina os recursos das loterias para o COB que, por sua vez, repassa para as instituições filiadas.
Hoje, o cenário tem se alterado. Desde 2010, uma enxurrada de novos patrocinadores começou a tomar conta das confederações que fazem parte do programa dos Jogos Olímpicos. Com destacada atuação do Bradesco, a fila agora é puxada pelas empresas privadas, que tomam a decisão baseada muito mais em detalhes técnicos do que políticos.
É o oásis olímpico invadindo as confederações. O problema, porém, é o cenário que fica para além dos Jogos no Rio de Janeiro. Boa parte desse apoio às confederações tem origem na Lei de Incentivo ao Esporte. Outra parte tem como meta clara um prazo de validade, que é o evento de 2016.
Como o esporte pode sobreviver para além disso? A pergunta deveria estar hoje na cabeça das confederações. Elas precisam, claramente, se preparar para não viver apenas cinco ou seis anos de prestígio com o mercado. Esssa necessidade fica clara quando analisamos a origem dos recursos das entidades.
A CBF é, de longe, a instituição com mais patrocinadores. O futebol, com a popularidade que tem, consegue atrair recursos sem esforço. Depois disso, a lista conta com a Confederação Brasileira de Judô e a Confederação Brasileira de Rugby. São as duas que possuem o maior número de patrocinadores e a menor dependência de verba do setor público dentro de seu orçamento.
Não é difícil perceber que a gestão de marketing dessas entidades tem feito a diferença. O judô, desde 2007, vem conseguindo atrair parceiros do setor privado, modificando a cara e os resultados do esporte. No caso do rúgbi, a mudança veio especialmente com a volta do esporte para o programa olímpico e com a bem-sucedida campanha de mídia da Topper. Ao brincar com a situação da modalidade no Brasil (o “isso ainda vai ser grande”), conseguiu cativar as pessoas. Mérito dos gestores, que souberam aproveitar a aceitação do público para vender realmente o projeto de “ser grande” para as marcas.
O problema é saber o que será depois de 2016 para as outras confederações. Até mesmo os populares vôlei e basquete hoje dependem muito do apoio estatal para ter receita. O futuro do esporte no Brasil para além de 2016 depende, muito, de como os gestores enxergam suas modalidades hoje. Se não souberem explicar o motivo de estar mais fácil conseguir patrocínio, com certeza o oásis passa a ser uma miragem assim que os Jogos acabarem.