Adidas e Fla podem ser a nova ordem do futebol
Erich Beting
O acordo entre Adidas e Flamengo para o fornecimento de material esportivo do clube carioca por dez anos a partir de 2015 pode representar uma nova ordem no mercado do futebol no Brasil (leia a reportagem aqui). Não interessa aqui o valor do contrato (um recorde de R$ 35 milhões anuais, entre fornecimento de material esportivo, premiação e um valor fixo por mês), mas sim o conceito por trás da proposta.
A Adidas não quer romper o acordo atual do Fla com a Olympikus (por conta da multa rescisória alta e pela relação que existe entre a empresa e a Vulcabras/Azaleia). Sendo assim, já colocou as cartas na mesa um ano e meio antes do término do acordo. Isso, por si só, já é um avanço. Se, em setembro, a Olympikus disser que está fora a partir de 2015, a Adidas começa, desde já, a preparar material esportivo e toda a complexa operação que envolve patrocinar um clube de futebol.
Isso é um tremendo avanço para a relação até então existente. O clube, quase sempre, terminava o ano ainda em negociação com uma nova marca ou, então, esperando para anunciar o acordo com um novo fabricante, para não prejudicar as vendas daquela camisa vigente. Isso quando não havia o rompimento traumático de contrato ou de relacionamento, como foi exatamente o fim do acordo Nike-Flamengo em 2008/2009 para a entrada da Olympikus.
Da mesma forma, o tempo de duração do contrato previsto pela Adidas mostra um amadurecimento do mercado brasileiro. Antes, raramente uma empresa apostava num acordo com mais de três anos com um clube. Agora, com um prazo mais longo, abre-se a possibilidade de criar mais ações de relacionamento entre o fabricante e o clube, o que aumenta a possibilidade de os dois lados faturarem mais com a relação. O papo de que isso engessa o clube, porém, é descabido. Nada impede que seja feito um aditivo no contrato alterando o valor a ser pago, como acontece, por exemplo, no contrato dos próprios times de futebol com seus atletas.
É irônico, porém, perceber que o futebol pouco esforço faz para que essa evolução parta do próprio esporte. É muito mais a situação de aumento dos investimentos das empresas no esporte que leva a essa profissionalização do que o contrário. Afinal, se estivéssemos em qualquer outro segmento da economia, raramente uma empresa com tanta briga entre seus sócios e polêmicas divulgadas na imprensa conseguiria aumentar sensivelmente seu valor.
O esporte, realmente, é capaz de alguns milagres. E, quem sabe, o Flamengo consegue puxar a fila para um novo tipo de relacionamento no futebol, que é o carro-chefe das ações no esporte no Brasil. Até setembro devemos saber a resposta.