O naming right que não vai pegar. E pagar
Erich Beting
A notícia está na capa do UOL desta terça-feira (leia mais aqui). A WTorre acredita que vá receber mais do que o Corinthians com a venda da cota de naming right do novo estádio do Palmeiras.
No mundo ideal, é lógico que o Palmeiras receba mais do que o Corinthians pelo direito de dar o nome a seu novo estádio. O primeiro e principal motivo para isso é a localização das arenas.
Em região mais central da cidade, o estádio palmeirense é mais atrativo para a realização de eventos e, também, de ações de relacionamento de empresas. Por mais que não receba jogos da Copa do Mundo, é bem melhor para quem quiser levar clientes, realizar eventos corporativos ou mesmo se deslocar até o estádio para uma reunião de negócios (sim, os estádios servem para isso também!).
E o outro motivo para essa disparidade tem mais a ver com a cultura brasileira.
O estádio do Corinthians já foi batizado de Itaquerão, por mais que agora Corinthians e Odebrecht tentem fazer com que o apelido deixe de ser utilizado. E isso é péssimo para que uma empresa tenha interesse em dar nome ao estádio. Por mais que uma cota de naming right seja bem mais do que apenas batizar uma propriedade no esporte, interfere muito o fato de que a arena já tenha um nome ''popular''.
O caso do Itaquerão é emblemático. Por mais que sejam feitos vários esforços, é difícil acreditar que o naming right vá pegar. Temos uma nação que adora colocar apelido em tudo. É o time de Pelé, Ronaldinhos, Robinhos, Gansos e Patos. É a nação do Itaquerão, Pacaembu, Morumbi, Maraca, Mineirão, etc.
Querer que uma empresa tenha o nome atrelado ao estádio é exigir uma quebra de paradigma muito grande, que provavelmente nenhuma corporação tenha o interesse em pagar para ver. Além disso, a mídia ainda não respeita e não dá bola para a questão de respeitar os direitos adquiridos pelo patrocinador. E isso também atrapalha numa eventual negociação.
Além de o Itaquerão representar um estádio cujo naming right não vá pegar, claramente também não vai pagar o valor proposto pelo Corinthians. Da mesma forma que o Palmeiras não conseguirá chegar aos valores que diz que pode alcançar.
O motivo, para os dois casos, é o próprio mercado de naming rights no mundo. O maior contrato de um estádio de futebol é o alemão Allianz Arena, em Munique, casa do Bayern de Munique. A companhia de seguros paga 6,5 milhões de euros ao ano para dar nome à arena. Nos Estados Unidos, o melhor acordo é o do Gillette Stadium, em Massachusetts, com US$ 20 milhões ao ano, num mercado muito mais maduro e preparado do que em todo o restante do planeta.
É impossível achar, com todo o cenário brasileiro de patrocínio esportivo, quem pague uma conta de R$ 20 milhões ao ano. Por melhor que seja o ponto ou o momento do esporte no Brasil, esse é o valor máximo para a cota mais valiosa que existe, que seria o patrocínio de uma camisa.
Racionalmente, não há quem pague essa conta. Se houver, com certeza a motivação não será técnica.