Negócios do Esporte

O enfraquecimento do esporte no longo prazo

Erich Beting

O esporte brasileiro tem, na euforia do crescimento pleno, se enfraquecido aos poucos. Muitos acharão que discutir isso agora é prematuro. Até seria, não fossem as notícias de que os clubes de futebol negociam novos contratos de televisão, além de algumas outras negociações em curso com a TV de outras modalidades.

Mais uma vez, o poder econômico da televisão tem feito sucumbir o interesse do esporte em trabalhar coletivamente. Sim, em termos de valores absolutos é inegável que os clubes (e outras instituições também) têm feito acordos com valores nunca antes alcançados.

O problema é que isso tem gerado a falta do fortalecimento do esporte como produto. A pergunta básica é a seguinte. O que significa para o futebol, no longo prazo, a extensão, em 2012, de um acordo até 2018 com a televisão? Afinal, é muita coisa que está envolvida, ainda mais quando tratamos de uma negociação individual dos direitos de transmissão.

Por necessidade de sobrevivência no curto prazo, os clubes têm se desesperado para recorrer ao dinheiro da TV. Como a torneira fechou desde que os empréstimos do Clube dos 13 acabaram, a saída agora é antecipar a renovação do acordo com a Globo e, assim, conseguir uma quantia considerável para conseguir reforçar o clube e/ou pagar as dívidas.

Mas muitas perguntas deveriam ser feitas antes disso. E isso vale, também, para as confederações e/ou ligas que veem, na Globo, a única alternativa para seu crescimento e popularização. São questões ligadas apenas ao dia a dia de gestão racional do dinheiro e planejamento de longo prazo. Elas se referem, especificamente, ao mercado mundial de transmissões esportivas e ao mercado de mídia brasileiro.

Quanto esse mercado nacional das mídias irá mudar nos próximos anos? Como será que ficará com a entrada da internet 4G? E a popularização do acesso à internet? O que será da TV aberta daqui a seis anos, se há dez anos sua audiência só têm caído? E o crescimento dos clubes nesse segmento, com a criação de seus próprios canais de mídia e uso da internet para propagar sua mensagem?

No caso do futebol, o ocaso do Clube dos 13 criou um grave problema. Como cada clube negocia individualmente seus contratos, ele precisa recorrer diretamente à TV quando fica sem dinheiro. E isso implica, necessariamente, em amarrar-se por mais tempo com ela, como agora com essas renovações até 2018. Antes, o Clube dos 13 tinha a verba e, então, cobrava do associado. Agora, não há qualquer intermediário, o que faz com que a necessidade crie a facilidade.

Isso, lá na frente, causa um grave problema. Qualquer tentativa de organização dos clubes numa entidade superior é sufocada pelos interesses comerciais de cada um no contrato mais valioso e que deveria uni-los da forma mais sólida possível, que é o acordo para a transmissão do torneio. Isso sem falar na falta de questionamento das diferentes possibilidades que podem existir quando uma entidade organiza uma competição.

Um exemplo banal vem do pay-per-view. Por que não se cria um pacote mais barato para quem quiser comprar a transmissão pela internet desses eventos? Isso é o que movimenta o UFC no mundo inteiro, fazendo do circuito de lutas uma das marcas mais poderosas do esporte na atualidade.

No caso das demais modalidades, o problema é até outro. No vôlei, no basquete e no handebol, quase sempre os clubes não estão falidos, mas precisam do alcance de audiência que a TV pode dar para tornarem-se mais atrativos para o torcedor. Em vez de as equipes tomarem para si o controle e a gestão da negociação dos direitos de TV, deixaram nas mãos das confederações, que por sua vez negociam, num mesmo balaio, a TV das seleções nacionais e das competições. É, mais ou menos, o que acontece no futebol com a Copa Kia do Brasil. A grana entra diretamente nas mãos da CBF, dentro de um bolo maior de contrato de transmissão.

O basquete, que poderia ser o ponto fora da curva, assinou lá atrás, em 2009, o acordo com a Globo para que ela se tornasse sócia do NBB, o torneio organizado pelos clubes e que, naquele momento, precisava muito de projeção para voltar a ter credibilidade no mercado.

Ou seja. Quando a marca é forte, o produto é deficiente, como no caso do Campeonato Brasileiro de futebol. Já quando o produto começa a ser mais forte, a marca só busca na televisão a alternativa para o crescimento.

Na próxima semana tem início os Jogos Olímpicos de Londres. O maior evento esportivo do mundo teve, no passado, os mesmos desafios que o esporte no Brasil enfrenta: rombo financeiro, baixo interesse do público, patrocínios esporádicos e dependência extrema  da televisão. Hoje, a percepção sobre a Olimpíada e a dimensão de seu negócio são totalmente diferentes.

Mas o projeto para fortalecimento da marca foi feito dentro de casa e sem esperar um resultado imediato. No longo prazo, hoje, no Brasil, o esporte caminha para um processo de enfraquecimento de suas marcas e de seus produtos. Enquanto cada um resolver correr para um lado, nada vai mudar.